Conheça a cidade de Itambacuri MG e sua Historia....-01

Itambacuri em outras cidades

O nome Itambacuri aparece em logradouros por todo o país, como mostra a tabela abaixo. A fonte de consulta foi o portal dos Correios.

Clique na imagem para vê-la ampliada.

TERÇA-FEIRA, 19 DE JUNHO DE 2012


Xavantinho - Humor

Quadrinho publicado no jornal O Itambacuri, edição do dia 10 de agosto de 1979.

Notícia - Jornal O Pojichá

Notícia do segundo número do jornal O Pojichá, publicada no dia 13 de abril de 1989 (aniversário da cidade) sobre visita do governador a Itambacuri. À época, o campo de aviação ainda estava ativo, de acordo com o contexto da notícia.

Saiba mais sobre o campo de aviação de Itambacuri em outro artigo da Itypédia!
Link: Campo de Aviação de Itambacuri -1973




TERÇA-FEIRA, 19 DE JUNHO DE 2012

TERÇA-FEIRA, 5 DE JUNHO DE 2012

Propaganda da boate Hi-Fi, 1979

A propaganda da boate Hi-Fi foi publicada no jornal O Itambacuri, edição do dia 10 de agosto de 1979.




Reza de Caboclo - FICAN 2011

E por que não? É minha história e história dos Festivais da Canção de Itambacuri, então faz sentido o registro aqui. Este foi em 2011, organizado pelo Movimento Cultural Jovem de Itambacuri - MOCUJOI (estou devendo um texto sobre o Movimento). A música foi vencedora do festival Canta Cidade (regional) e conquistou o segundo lugar no FICAN (nacional).




Reza de Caboclo - Thiago Marques

O caboclo seguia esmorecido 
Pobre homem descrente de tudo
Sozinho na lavra, louvado seja
A mão calejada do esforço absurdo 
O chão não dá mais nem pedra, nem planta
Nesse julho seco é ainda pior
O riacho parece uma trilha de espinhos
A criação de tão magra faz dó

O sol castiga a moleira do pobre
Que cai de joelhos sem o que dizer
O nó na garganta é pior do que fome
  A prece sai muda pro santo entender

Refrão - O caboclo reza com fé
Reza com fé o caboclo
Que a fé vai tirar o sufoco
E a penumbra nunca vai voltar

Caboclo é da cor do cobre
De barro, terra, poeira e suor
Na luz alaranjada da tarde que morre
Fogo de lamparina é fumaça e pó

As sombras assuntam o começo do sono
No descanso inquieto, a revelação
Uma mulher dizia para ter esperança
O sonho nascia como oração

Refrão

Na novena caboclo virou romeiro
Que segue descalço a procissão
Que tira o chapéu e coloca no peito
Tem rosário e vela pingando na mão

No 2 de agosto o momento sagrado
Fogos brilhantes clareavam o céu
Reconhece a Senhora do sonho nas nuvens
Pelo azul do manto e o branco do véu

E o caboclo chora
Chora e olha pro andor
Agradece ao nosso Senhor
E à Senhora dos Anjos no Altar

E o caboclo ora
Ora e sente a vida
Que ressurge depois das feridas
Esperança não há de faltar

Porque o caboclo reza com fé
Reza com fé o caboclo
Que a fé vai tirar o sufoco
E a penumbra nunca vai voltar

Quem foi que disse
Que a fé do caboclo é crendice
Que reza devota é mesmice
Não tem fé ou não sabe rezar
Pois o caboclo reza com fé

Apresentação no FICAN
Apresentação no Canta Cidade


DOMINGO, 31 DE MAIO DE 2015

Clipe - Montanhas e Recordações

Vídeo produzido pelo itambacuriense Mivard Knupfer. O clipe foi editado com fotos da cidade de Itambacuri (ou relacionadas a ela) ao som da música Montanhas e Recordações, de autoria de Mivard Knupfer e Elizeu Pêgo.

Esta música concorreu em uma das edições mais marcantes do FICAN - Festival Itambacuriense da Canção, produzido pelo Movimento Cultural Jovem de Itambacuri - MOCUJOI. 

Fica o registro na Itypédia desta bela homenagem a nossa cidade.

Segue descrição do autor:  

"Música que fiz com o grande amigo Elizeu Pego. Cantamos no festival da canção da nossa querida ‪‎Itambacuri‬-MG. As fotos postadas foram encontradas em websites públicos, ou amigos que me deram a permissão. Agradeço especialmente ao amigo de infância Feliciano Calmon por ter se empenhado imensamente em me ajudar com as fotos. Mate a saudade dessa cidade linda! Principalmente você que já morou lá e hoje vive longe da nossa"princesinha do vale".


SEGUNDA-FEIRA, 7 DE JANEIRO DE 2013

II Amostra Cultural - 1984

Esta postagem inaugura o tópico sobre os movimentos culturais em Itambacuri. Neste primeiro momento, a Itypédia divulga o folheto da II Amostra Cultural - de 1984. Porém, mais adiante, participantes e organizadores da Amostra terão suas opiniões publicadas aqui, explicando sobre as intenções e todo o contexto que marcou este importante acontecimento cultural itambacuriense. Vale conferir os nomes dos autores dos textos e dos organizadores do evento: certamente você conhece alguém.

Clique nas imagens para vê-las ampliadas.
 
 




Objetos de Frei Inocêncio

Frei Inocêncio é, sem dúvida, um dos personagens mais importantes da história religiosa de Itambacuri. Figura bastante conhecida, especialmente pelos casos de exorcismo, frei Inocêncio estará em breve entre os biografados da Itypédia. No momento, publicamos uma foto que reúne alguns objetos relacionados a ele, conservados no acervo do Convento em Itambacuri.



DOMINGO, 19 DE MAIO DE 2013

Frei Agostinho


Ramiro Francisco (Frei Agostinho) nasceu em  22/01/1932 no município de Teófilo Otoni - MG, na localidade de São Miguel do Pita.

Seu registro de nascimento ocorreu somente em 1937 em Itambacuri - MG,  quando seus familiares já moravam nesta cidade.

Fez o curso primário nas Escolas Reunidas Frei Gaspar de Módica com as professoras Dona Lília, Dona Silvia Timo e Dona Maria Luzia Esteves Lima. Sua preparação para o sacerdócio começou no Seminário Seráfico São Francisco de Assis em Santa Teresa, ES, onde estudou de 22/01/1945 a 1949. 


Para lá foi enviado por Frei Daniel Maria de Mineo junto com Lulu, Geraldo Dias, (Frei Angélico, que depois  passou a chamar-se padre Geraldo, como secular). Professores: Dario Cozer, Guilherme Guisen, Frei Frederico, Frei Tarcísio, Frei Querubim, Frei Jamaria, Frei Afonso.

Prestou o Noviciado em 1950 em Taubaté, São Paulo, com o mestre Frei Epifânio. Cursou Filosofia em Itambacuri de 1951 a 1954, com os professores Frei Fernando, Frei Vital, Frei Geraldo de Sortino, Frei Sisto.

Convite para a ordenação de frei Agostinho.
Cursou Teologia de 1954 a 1957. Os professores foram Frei Fernando, Frei Vital, Frei Gabriel, Frei Sisto, Frei Estêvão. Transferido para o Rio de Janeiro, lá foi Vigário Paroquial. E cursou o bacharelado em Filosofia na Universidade do Distrito Federal (atualmente UERJ).

Frei Agostinho acompanhando procissão no Rio de Janeiro.
Cronologia

- 1961 – Professor de Filosofia no Seminário de Itambacuri. Professor de Filosofia e de Psicologia no Colégio Santa Clara. Professor de Estudos Sociais no Colégio Pio XII e no Colégio Estadual Professor Mendonça.
- 1962 – Trabalho nas comunidades Vila Pedreira e Vila Formosa. Estudos de Problemas Brasileiros, na PUC do Rio de Janeiro, RJ.
- 1963 e 1964 –  Escolas Radiofônicas do Movimento de Cultura Popular. Sua ligação com este movimento,  o MCP, foi o principal motivador de sua prisão em 1964. 
- 1964 – Início da construção do prédio da Escola de Vila Formosa. Preso pela ditadura , ainda nos tempos do Governo Castelo Branco, acusado de subversão. Trabalhar para melhorar a vida dos pobres era perigoso naqueles tempos. Ficou confinado  durante uma semana em Governador Valadares, sem visitas e sem quaisquer notícias de familiares ou de outras pessoas.
- 1964 a 1972 – Dedicou-se a melhorar as escolas da periferia, inclusive nelas disponibilizando a merenda escolar.
- 1965 – Licenciatura plena em Filosofia pela Universidade Católica de Belo Horizonte (PUC). Início das aulas da Escola Vila Formosa e Vila Pedreira. Curso de Psicologia, na  PUC do Rio de Janeiro, RJ.
- 1966 – início do ensino chamado de  Curso Complementar,  com aulas de Corte e Costura, Puericultura, Culinária, Carpintaria, Cerâmica, Comércio, Horticultura – curso depois  denominado de  madre Serafina.
- 1966 a 1972 – Professor de Sociologia e Psicologia da Faculdade de Teófilo Otoni.
- 1970 e 71 – Organizador e Professor da Faculdade de Filosofia de Governador Valadares,
- 1972 – Rio de Janeiro – Diretor do Serviço Social de São Sebastião no Morro do Turano – Curso de Carpintaria, Pintura de parede, Instalação Elétrica e Hidráulica. Presidente da Cooperativa Habitacional São Sebastião e Frei Cassiano, por meio das quais, entre 1972 e 1982 foram construídos cerca de 1500 apartamentos.
- 1972 a 1975 – Fundação da Faculdade de Administração de Empresas em Governador Valadares, hoje UNIVALE.
- 1975 a 1982 – Professor de Estudos Sociais na Escola Superior são Francisco de Assis, ESFA.
- 1982 – Definidor da Província do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Leste Mineiro. Professor de Filosofia no Seminário de Itambacuri.
- 1986 – Congresso de Filosofia em Monterey, México.
- 1990 –  Coadjutor em Conceição do Mato Dentro, MG. Viagem à Itália.
- 1995 – Santa Teresa – Criação da Faculdade de Ciências Biológicas na ESFA.
- 1999 a 2000 – Professor de Filosofia no Seminário de Itambacuri.

Falecimento

Frei Agostinho faleceu em 9 de maio de 2007 no Rio de Janeiro e seu corpo foi levado para Itambacuri, onde, após uma emocionante cerimônia religiosa, foi enterrado no cemitério local.

Fotos - Momentos Diversos

Frei Agostinho com os pais: Augusta e Domingos.

Reinstalação da cruz no Morro do Cruzeiro.
Celebração no Morro do Cruzeiro.
Reunião com políticos em Brasilia.
Homenagem concedida pela FAGV.
Cerimônia de Ordenação.
Livro Civilização e Revolta - de Izabel Missagia de Mattos - do qual foi um grande colaborador.

DOMINGO, 28 DE OUTUBRO DE 2012

Dr. Pedro Autran

Dr. Pedro Autran foi um dos principais responsáveis pela elevação de Itambacuri à categoria de Vila, o primeiro chefe do Executivo municipal (de 1924 a 1926), o primeiro médico a fixar residência na cidade, o responsável pela oficialização da Conferência Vicentina e pela fundação do Hospital São Vicente de Paulo.

 
 

Primeiro chefe do Executivo municipal

Quando foi criado o município de Itambacuri, no ano de 1924, era preciso organizar o poder Legislativo – que seria o responsável pela administração e nova organização política. O decreto estadual 6541, de 14 de março de 1924, estabeleceu os dias 20 de abril e 18 de maio para que fossem realizadas, respectivamente, a eleição dos vereadores e a instalação do novo município.

Procedendo de acordo com a determinação legal, Itambacuri elegeu como seus primeiros vereadores:

Vereadores Gerais: Cel. Pedro Avelino Pinheiro, Pedro Autran e Marcelo Esteves Guedes;
Vereador pela sede: Manoel José de Magalhães;
Vereador pelo distrito de Frei Serafim: Júlio Esteves Lopes;
Vereador pelo distrito de Igreja Nova: farmacêutico João Antônio da Silva Pereira;
Vereador pelo distrito de Aranã: Amadeu Onofre.

Em seguida, no dia 18 de maio, foi realizada a instalação da Câmara Municipal de Itambacuri, que teve como seu primeiro presidente o Dr. Pedro Autran. O cargo era o de Presidente da Câmara e Agente Executivo, o mais alto na esfera municipal – que hoje seria equivalente ao cargo de prefeito. A gestão aconteceu de 1924 a 1926.

Na “Ata da sessão solene da instalação da Câmara Municipal do Itambacuri” tem-se o registro do discurso de Dr. Pedro Autran, onde consta o juramento proferido: “Juro por Deus cumprir lealmente o meu dever de Presidente da Câmara e Agente do Município de Itambacuri, promovendo, quando em mim couber, seu bem-estar e prosperidade”.

Na mesma ocasião, foram eleitos como vice-presidente Pedro Avelino Pinheiro e como secretário João Antônio da Silva Pereira.

Dr. Pedro Autran contou com a importante colaboração do professor José Vicente de Mendonça, que ajudou na organização jurídica do município e foi o 1º Diretor da Secretaria do Poder Executivo.

Conferência Vicentina – Hospital São Vicente

Dr. Pedro Autran presidiu a Conferência Vicentina na segunda diretoria, que teve início em 14 de janeiro de 1917. Em sua gestão, a Conferência ganhou personalidade jurídica, com organização e registro de seus estatutos.

No dia 25 de novembro de 1917 a Conferência Vicentina Nossa Senhora dos Anjos recebia a Carta de Agregação, que correspondia ao reconhecimento de legitimidade pelo grau máximo internacional da Sociedade de São Vicente de Paulo.

A 6 de abril de 1918, Pedro Autran lançou a pedra fundamental do Hospital São Vicente de Paulo – o primeiro de Itambacuri.

Faleceu na cidade de Rio Vermelho – MG, onde também prestou relevantes serviços como médico, político e inspetor escolar.

Rua Dr. Pedro Autran

Em Itambacuri há uma rua que leva seu nome, uma singela homenagem a este cidadão que figura na nossa história. Na foto abaixo, pode-se identificar melhor a localização.


Fontes

- PEREIRA, Serafim Ângelo da Silva. Itambacuri e sua História, volume II, 1990.
- PALAZZOLO, Frei Jacinto de. Nas Selvas dos Vales do Mucuri e do Rio Doce, 1973.
- Revista Itambacury Ano 100.

DOMINGO, 26 DE AGOSTO DE 2012

Rua Dr. Carlos Prates

Dr. Carlos Prates foi um engenheiro, professor e funcionário público mineiro. Teve grande importância para Itambacuri desde a época do aldeamento indígena,  que acompanhou até que se tornasse colônia agrícola e, em seguida, distrito. Atualmente, há na cidade uma rua que leva seu nome, em homenagem aos serviços prestados.
Vista da Rua Dr. Carlos Prates no ano de 1938.
Rua Dr. Carlos Prates é uma das mais tradicionais de Itambacuri. Era conhecida como rua do “footing”: uma atividade na qual as pessoas faziam um tipo diferenciado de caminhada e tinham a oportunidade de conhecer (ou simplesmente ver) outras pessoas – servindo também como pretexto para uma modalidade antiga de flerte. Os passeios eram onde os jovens da época podiam se mostrar e até paquerar um pouco.

A Rua abrigava um dos cinemas que já existiram na cidade. O prédio, anos depois, se tornou a Danceteria New Graphitte – que fez sucesso por muitos anos, mas não está mais em atividade.

Mas sem dúvida um dos locais mais famosos era a Boate Hi-Fi, que fez história na sociedade itambacuriense.

Algumas famílias muito conhecidas na cidade ainda têm representantes por lá. Como exemplo, podemos citar os descendentes de libaneses das famílias Ali, Bessa e Abu Kamel; os Marques (filhos do senhor José Marques ou “Zé de Teófilo”), os Lamari, os Lopes, entre outros.

Tão importante quanto saber sobre a rua é saber por que ela tem o nome do Dr. Carlos Prates. Abaixo, um texto que associa o nome à historia de Itambacuri.

Biografia - Dr. Carlos Prates

Carlos Leopoldo Prates nasceu em Montes Claros, no dia 21 de dezembro de 1864. Formou-se Engenheiro Civil e de Minas pela Escola de Minas de Ouro Preto (EMOP) em 1890, assumindo em seguida o cargo de Químico da Comissão de Estatística, no primeiro mandato de João Pinheiro da Silva como Presidente do Estado de Minas Gerais. Desenvolveu atividades industriais e dirigiu uma empresa de mineração em Caeté - MG. 

Atuou como professor de matemática no Liceu de Artes e Ofícios de Ouro Preto na virada do século.

Foi engenheiro do Estado, Inspetor Geral de Terras e Colonização e, em 1907, assumiu a direção da recém-criada diretoria de Agricultura, Comércio, Terras e Colonização, organizada por João Pinheiro da Silva – onde trabalhou também com Francisco Sá. 

Foi um dos fundadores da Escola Livre de Engenharia de Belo Horizonte e professor de Química Teórica e Prática na instituição. A Escola Livre viria a se tornar a Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais – EEUFMG. 

Além de Carlos Prates, são lembrados por esta iniciativa: Agostinho de Castro Porto, Álvaro Astolfo da Silveira, Antônio do Prado Lopes, Arthur da Costa Guimarães, Benjamim Franklin Silviano Brandão, Benjamim Jacob, Cipriano de Carvalho, Fidelis Reis, Joaquim Francisco de Paula, Joaquim Júlio de Proença, José Gonçalves de Souza, Lourenço Baêta Neves, Pedro Demóstenes Rache e Pedro da Nóbrega Sigaud.


Fundadores da EEUFMG. Ainda não foi possível indentificar qual deles é o Dr. Carlos Prates.
Faleceu em 6 de fevereiro de 1914, em Belo Horizonte, quando ainda exercia o cargo de diretor de Agricultura.

Inspetoria de Terras - Itambacuri

No ano de 1893, Carlos Prates ocupava a Inspetoria de Terras e Colonização – que funcionava sob a coordenação da Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas - esta sob a direção do Dr. Francisco Sá.

Em 1894 Carlos Prates realizou uma visita de inspeção ao aldeamento de Itambacuri. A visita deu origem a um relatório de grande importância para a história da cidade e para os objetivos dos frades colonizadores, uma vez que ajudou a rebater denúncias feitas contra os fundadores e calúnias sobre o estado em que se encontrava o aldeamento.

Após a publicação do referido relatório, uma das primeiras medidas tomadas pela Inspetoria de Terras e Colonização foi conferir o título de diretor efetivo do aldeamento a Frei Serafim, e o de vice-diretor a Frei Ângelo – por meio do ato nº 20, de 27 de outubro de 1894. 

A relação entre Carlos Prates, Francisco Sá e os diretores do aldeamento trouxe benefícios para a região. Para ali foram sendo canalizados recursos com vistas à realização de obras de infra-estrutura, dada a necessidade de impulsionar a lavoura, para o que seria necessário atrair mão-de-obra para Itambacuri e adjacências, o que viria a ser mais facilmente obtido se Itambacuri deixasse de ser enquadrado pelo Estado como  aldeamento, passando a ser colônia agrícola. 

Mais uma vez, foi um relatório produzido por Carlos Prates que deu suporte a essa transformação. O relatório também recomendava a manutenção de frei Serafim e frei Ângelo nos respectivos cargos de diretoria.

Carlos Prates foi um dos principais responsáveis pela elevação de Itambacuri ao status de “distrito de paz”, o que se deu pela lei 556 de 30 de agosto de 1911, conferindo a Itambacuri maior autonomia política e administrativa, e demarcando os limites do novo distrito. 

Sua atenção com o aldeamento ajudou na consecução de recursos fundamentais para o desenvolvimento da região. Através dos relatórios produzidos nas visitas do Dr. Carlos Prates a situação em Itambacuri pôde ser mais acompanhada pelos  políticos da época.

Como engenheiro também teve reconhecimento na capital de Minas, Belo Horizonte, onde há um bairro e um aeroporto que levam seu nome. 

Fontes

- Arquivo - 100 Anos de História da Escola de Engenharia da UFMG. Texto disponível AQUI
- PALAZZOLO, Frei Jacinto de. Nas Selvas dos Vales do Mucuri e do Rio Doce. Editora Nacional, 1973.
- VERSIEUX, Daniela Pereira. Modernização e Escolarização do Trabalho Agrícola: as fazendas-modelo em Minas Gerais (1906-1915). Cefet - MG, 2011.

QUINTA-FEIRA, 14 DE JUNHO DE 2012

Bessa Ali

Bessa Ali - 1944.
Bessa Ali, também conhecido como "Bessinha", teria sido o único itambacuriense a integrar a Força Expedicionária Brasileira, a FEB, na Segunda Guerra Mundial, tendo, inclusive, recebido pensão do Exército Brasileiro na qualidade de ex-combatente.

Para saber mais sobre a FEB, clique AQUI.

SÁBADO, 25 DE FEVEREIRO DE 2012

Dr. Vital Salvino Ottoni

Pouco ainda se sabe sobre a vida pessoal do ilustre brasileiro Vital Salvino Ottoni. Entre as valiosas informações, consta que ele nasceu em Setubinha, Minas Gerais, no dia 28 de abril de 1897.

Engenheiro civil, empresário e político, teve forte presença em Itambacuri – cidade onde fez história. Era casado com Dulce de Albuquerque Werneck. Morreu em Belo Horizonte no dia 23 de setembro de 1972. Anos depois, também Dona Dulce viria a falecer.

História

Tendo se formado engenheiro pela Escola de Engenharia de Belo Horizonte, Dr. Vital exerceu sua profissão na capital mineira, onde chegou a constituir uma empresa sediada na avenida Amazonas. A firma prestou serviços de engenharia na capital e em outras regiões do país. Há registros de trabalhos seus, feitos para empresas como Vale do Rio Doce e Cemig, por exemplo.

Dr. Vital teria chegado a Itambacuri na época da construção da rodovia hoje denominada BR-116, para supervisionar o trecho entre as cidades de Figueira (atual Governador Valadares) e Teófilo Otoni, na qualidade de engenheiro civil responsável pelas obras.

Posteriormente ele se destacou na cidade como empresário, proprietário da Itambacury Industrial Ltda – empresa que atuava no beneficiamento de produtos agrícolas da região, como o arroz e o café. Em gleba no entorno da cidade desenvolveu o plantio de cana-de-açúcar para a produção de rapadura e o fabrico de aguardente, atividades depois transferidas para sua fazenda no município de Campanário, MG. A aguardente era da marca Indígena, muito apreciada pelos consumidores desse tipo de produto. 

Ao centro, a cachaça Indígena, produzida por Dr. Vital
Em Itambacuri Dr. Vital atuou na instalação de luz elétrica, dando início à dispensa pelos moradores dos lampiões de querosene.  Foi confrade na Conferência Vicentina de Itambacuri, instituição da qual se tornou presidente no dia 19 de junho de 1949, para a quarta diretoria. No mesmo período, Dr. Firmato foi escolhido diretor do Hospital São Vicente de Paulo. A gestão de Dr. Vital frente à instituição durou até o dia 24 de junho de 1951.

Imagens do engenho de Dr. Vital
Administração em Itambacuri

A administração de Dr. Vital é considerada uma das mais importantes da história de Itambacuri. Personagem famoso pelo carisma, é também muito lembrado pela competência na administração pública, sendo o articulador de muitos projetos e obras que beneficiaram a comunidade itambacuriense. Foi prefeito da cidade entre 1951 e 1955.

Familiares contam que Dr. Vital era amigo de Juscelino Kubitschek (que foi governador de Minas na mesma época em que Dr. Vital foi prefeito) e até teria sido convidado por ele para trabalhar na nova capital do país, Brasília, em cargo político. Vital declinara do convite.

Como administrador público, são creditados a Dr. Vital a ampliação da cidade através da abertura de loteamentos – como o do bairro Várzea; e a construção de estradas de rodagem para São José do Divino, Guarataia, Frei Serafim e São José do Fortuna.

Foi o prefeito da inclusão de Itambacuri nos planos do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) – responsável por melhorias na saúde e pela realização do tratamento de água na cidade. Os méritos deste trabalho são atribuídos a uma ação conjunta com Dr. Firmato e com o vereador Wilson Lago Pinheiro.

Recorte de telegrama enviado por Dr. Vital ao presidente Getúlio Vargas, publicado no Diário Oficial da União do dia 3 de outubro de 1953
 Foi Dr. Vital quem tomou todas as providências para a aquisição do terreno onde viria a ser construído o Campo de Aviação no município. Foi ele também quem trabalhou firme para  obter a necessária autorização do Governo do Estado para o início das obras desse aeroporto, que depois de concluído servia a Itambacuri, Teófilo Otoni, Governador Valadares e cidades próximas.

A esposa de Dr. Vital, Dona Dulce Werneck, também foi  figura bastante conhecida em Itambacuri, principalmente em razão de suas ações sociais em benefício dos mais necessitados. Ela desempenhava bem as funções normalmente incumbidas à esposa de um executivo municipal à época, como atividades de filantropia.

Nos períodos de férias escolares Dona Dulce costumava abrir sua casa para propiciar alguns momentos de lazer a crianças de famílias de trabalhadores conhecidos dela. A meninada ficava fascinada com as grandes árvores, os bem cuidados jardins da casa e  com a companhia da cadela Aloma nos folguedos.

As itambacurienses Delza, Rosely e Glorinha entre meninas de BH. Ao chão, a cadela Aloma
Dona Dulce tocava piano muito bem e costumava ensinar canções infantis à criançada. Nalgumas dessas vezes, lá se juntavam nas brincadeiras também algumas crianças parentas de Dona Dulce, vindas de Belo Horizonte para passar férias na casa, e elas se divertiam bastante.  

Fontes

- Entrevista realizada com Marta Werneck, sobrinha de Dr. Vital, em 2011.
- PALAZZOLO, Frei Jacinto de. Nas Selvas dos Vales do Mucuri e do Rio Doce. Capítulo XXVIII - Novos Tempos. Editora Brasiliana, 1973.
- Revista Itambacury Ano 100. Publicação independente, 1973. 

Agradecimento

A Itypédia agradece à Dra. Romy Cristhine Soares Valadares pelas informações prestadas.

QUARTA-FEIRA, 9 DE NOVEMBRO DE 2011

Professor Mendonça

José Vicente de Mendonça (Rio Vermelho, 19 de julho de 1897 – Itambacuri, 19 de junho de 1965) foi um professor, escritor e jornalista mineiro.

Trajetória: Rio Vermelho, Diamantina e Belo Horizonte

José Vicente de Mendonça nasceu na cidade de Rio Vermelho, interior do estado, no dia 19 de julho de 1897. Seus pais eram Eustáquio Fernandes Mendonça e Idalina Rosa de Jesus.

Ingressou na escola primária no ano de 1903. Em 1908, após terminar o curso, foi para o Seminário Episcopal de Diamantina, onde ficou por 3 anos e concluiu o colegial. Foi colega de classe do general Olímpio Mourão Filho e contemporâneo do ex-presidente Juscelino Kubitschek.

Depois deste período, deu seqüência aos estudos em Belo Horizonte no Instituto Claret (hoje Colégio Claretiano Dom Cabral), sob a direção dos padres Salesianos. Ao término dos estudos na capital, voltou para Rio Vermelho.

Na cidade, trabalhou como professor em escola primária. Foi o criador do jornal “O Rio Vermelho”. Em 1914, fundou a Biblioteca Pública Padre Câmara.

Sempre envolvido em atividades culturais, o professor era também poeta e fundou o Grêmio Literário em junho de 1917. Neste mesmo ano, no dia 26 de agosto, foi encenada a primeira peça teatral escrita por ele.

É o autor da letra do hino da cidade de Rio Vermelho e escreveu um livro intitulado Minha Terra.

No dia 21 de abril de 1918 casou-se com Raimunda Augusta da Cunha, com quem teve os filhos Antônio Augusto de Mendonça (Tó de Mendonça) e Maria Aparecida da Cunha Mendonça

Em 1920 fundou o Clube Tiradentes. Criou a Comissão Pró-Vida em Rio Vermelho e a Comissão Pró-Distrito em Serra Azul de Minas.


Itambacuri

Professor José Vicente de Mendonça chegou a Itambacuri no ano de 1924, a convite de Dr. Pedro Autran - então chefe do executivo municipal. O objetivo era que ele ajudasse na organização jurídica e administrativa do recém-criado município.

Tornou-se o primeiro funcionário nomeado para a Câmara Municipal, através da Portaria nº 01 de 18 de maio de 1924. Em seguida, foi nomeado membro do Conselho Escolar – Diretor da Secretaria da Câmara e Professor.

No ano de 1925 foi para a cidade de Paulistas, onde trabalhou como professor e farmacêutico, voltando para Itambacuri em 1926.

Professor Mendonça trabalhou por mais de 15 anos no Colégio Santa Clara, onde lecionou Português, Latim, Francês e História. Além do magistério, atuou em várias outras áreas – incluindo participações importantes na administração da cidade. 
Prof. Mendonça no Colégio Santa Clara.
Era também músico, foi Sub-Coletor, Escrivão de Paz e Tabelião de Notas. Foi presidente da primeira mesa preparadora para a fundação da União Operária de Itambacuri e secretário da Junta de Alistamento Militar.

Foi o fundador dos jornais O Itambacuri e A Sentinela. O primeiro circulou quinzenalmente entre 1927 e 1938, sendo o único veículo noticioso da cidade na época. Anos depois, o jornalista Guira Marques retomou a produção do jornal. Já A Sentinela começou a circular a partir de 1º de março de 1951 e teve curta duração. Foi criado com o apoio de Ildeu Esteves Guedes e Serafim Ângelo da Silva Pereira.

Presidiu a Terceira Diretoria da Conferência Vicentina Nossa Senhora dos Anjos, cargo que exerceu de 6 de março de 1927 a 19 de junho de 1949.

O professor José Vicente de Mendonça faleceu no dia 19 de junho de 1965, aos 67 anos. 

Homenagens

Uma das homenagens ao Professor Mendonça foi prestada através da lei nº 54/61, de 11 de julho de 1961, que deu seu nome a uma rua de Itambacuri. A proposta foi apresentada pelo prefeito Dr. Firmato, na primeira gestão. Informalmente a via também é conhecida como “Rua das Sete Casas”.

O antigo Ginásio também registrava uma homenagem. Tinha o nome de Pio XII, mas depois passou a ser Escola Estadual Professor José Vicente de Mendonça. No entanto o Ginásio foi fechado há alguns anos, dando lugar a uma escola particular.

Fontes

- Jornal O Itambacuri, Ano I, edição nº 3, de 11 de outubro de 1978.
- PEREIRA, Serafim Ângelo da Silva. Itambacuri e Sua História – Volume II. Edição Independente. Belo Horizonte, 1991.
- PEREIRA, Serafim Ângelo da Silva. Itambacuri e Sua História – Volume III. Líthera Maciel Editora Gráfica Ltda. Contagem, 1999.
- Revista Itambacury Ano 100. Edição comemorativa independente. Itambacuri, 1973.
Benfeitores de Rio Vermelho. Página da Prefeitura Municipal de Rio Vermelho.
Disponível em: http://www.pmriovermelhomg.com.br/index.php?pg=historia&pgn=4. Visitado no dia 8 de novembro de 2011.

SEXTA-FEIRA, 28 DE OUTUBRO DE 2011

Paulão

Paulo César Batista dos Santos, Paulão, é um ex-futebolista brasileiro. É o único itambacuriense que já jogou pela Seleção Brasileira de Futebol.

Nasceu no dia 25 de março de 1967. Seus pais são Manoel José Batista e Maria Ferreira Batista. A família tinha um restaurante bastante conhecido na cidade e dona Maria, mãe de Paulão, era a cozinheira responsável pelo preparo de pratos típicos.
 

Início da carreira

Paulão iniciou sua carreira no time do Vitória, em Itambacuri. Em 1983, o Vitória disputou em casa uma partida comemorativa contra o Cruzeiro. Paulão chegou a marcar gol e foi um dos destaques do jogo.

Percebendo as habilidades do rapaz, a equipe técnica do Cruzeiro fez um convite para que ele se juntasse ao time e fosse treinar em Belo Horizonte. Na época, Paulão tinha apenas 16 anos e trabalhava no restaurante da família. Muito apegado aos parentes, acabou recusando o convite.

No Cruzeiro

Tempos depois, resolveu tentar a sorte no clube que o despertara para a possibilidade de se tornar profissional. Assim, em 1985 Paulão estava nas categorias de base do Cruzeiro, onde ficou por 3 anos.
Em 1988, foi emprestado ao América do Recife, time que disputava a segunda divisão do campeonato local.

Com boas atuações, Paulão chegou a ser artilheiro do campeonato, ajudando o time a subir para a categoria principal. Após a passagem pelo América, voltou para o Cruzeiro em agosto de 1988.

Paulão era um zagueiro central com características importantes: marcava bem; tinha boa cobertura; ótima impulsão – o que lhe ajudava a marcar gols de cabeça; e chutava forte, tornando-se batedor de faltas em várias situações. Além disso, era considerado um jogador “raçudo”, porém disciplinado.

Disputou 114 partidas pelo Cruzeiro, saindo apenas no segundo semestre do ano de 1992. Suas principais conquistas no clube foram o Campeonato Mineiro de 1990 e a Supercopa dos Campeões da Libertadores da América, em 1991.

Paulão jogou também pelo Grêmio, Vasco e Benfica (Portugal).

Na Seleção
Quadro de convocados para a Seleção em 1990
Jogando pelo Cruzeiro, Paulão foi convocado pelo técnico Paulo Roberto Falcão, em 1990, para integrar a Seleção Brasileira. Estreou em um amistoso contra a Espanha no dia 12 de setembro do mesmo ano. Na época, o ex-treinador do Cruzeiro, Adílson Batista, também era jogador da seleção.

No total, Paulão disputou 8 partidas com a camisa amarelinha, sendo 7 enquanto jogador do Cruzeiro. Também entrou em campo na partida comemorativa dos 50 anos de Pelé, em Milão, na Itália.

Paulão integra a lista dos jogadores cruzeirenses que mais vezes entraram em campo pela Seleção Brasileira na década de 90, ficando atrás apenas do goleiro Dida (15 partidas) e do lateral direito Evanílson (8 partidas).


 Na comissão técnica

Paulão retornou para o Cruzeiro em 2007, como auxiliar do técnico Dorival Júnior. Ficou no cargo até a chegada do treinador Adílson Batista. Em seguida, foi exercer a mesma função no time do Vila Nova, em Nova Lima.

Homenagem

Foto da partida realizada pelo time de veteranos do Vitória em homenagem a Paulão
Em pé: Carlim (goleiro), Paulão, Zé Maria, Pregador, Gerinha Magalhães e Mauro.
Agachados: Jaime, Neném, Roberto de Zé de Adão, Gerinha e Cezinha.
 

SÁBADO, 22 DE OUTUBRO DE 2011

Dr. Firmato

Antonio Firmato de Almeida (Canavieiras, 15 de agosto de 1900 – Belo Horizonte, 30 de janeiro de 1992) foi um médico e político que fez carreira em Itambacuri.

Ajudou a controlar uma epidemia de doenças tropicais que assolavam a região de Itambacuri e atuou na elaboração de importantes estudos científicos sobre tais doenças.

Foi o único prefeito eleito por três mandatos na cidade.


História

Antonio Firmato de Almeida nasceu na fazenda Seis Irmãos, próximo à cidade de Canavieiras, na Bahia. Seus pais, Manoel Firmato de Almeida e Francisca de Deus Almeida, faleceram quando ele tinha 10 anos de idade. Firmato e os irmãos passaram então aos cuidados do tio Melquíades.

Melquíades colocou os sobrinhos na Escola Primária em Canavieiras. Firmato concluiu os estudos nessa escola aos 14 anos de idade, mas foi trabalhar com o tio na roça. Anos depois, Melquíades convidou-o para retomar os estudos. Ele aceitou e foi para um colégio interno em Salvador – BA.

Ao fim do curso preparatório, Firmato ingressou na Faculdade de Medicina de Salvador. Formou-se médico, diplomado no dia 8 de dezembro de 1926, aos 26 anos, defendendo tese (então pré-requisito para o exercício da medicina) sobre a Doença de Nicolas-Favre.

Início da carreira

Começou sua carreira profissional em Canavieiras, substituindo um colega que havia entrado em férias. Ao final do período, mudou-se para Jequitinhonha. Dr. Firmato sonhava trabalhar em São Paulo e veio traçando um caminho sempre rumo ao sul. De Jequitinhonha foi para Araçuaí.

Em Araçuaí foi vitimado por uma grande enchente no ano de 1927, na qual perdeu tudo o que tinha. A cheia do rio Araçuaí arrasou toda a cidade. De Araçuaí seguiu então para Teófilo Otoni, de onde iria telegrafar à família para pedir dinheiro para comprar algumas roupas e continuar viagem.

Para chegar a São Paulo precisaria pegar o trem na Estrada de Ferro Bahia-Minas, em Teófilo Otoni, até a cidade de Caravelas, no sul da Bahia. Então deveria seguir de navio para a cidade de Santos, já no estado de São Paulo.

Chegada a Itambacuri

Nesse período, Itambacuri tinha aproximadamente 2 mil habitantes. Não existia rede de distribuição de água nem energia elétrica e havia muitos problemas de cunho estrutural. Além disso, uma séria epidemia de tifo e outras doenças tropicais castigavam a região.

Itambacuri não tinha médico, ficando a saúde a cargo dos farmacêuticos João Antonio e Joviano Antonio da Silva Pereira. A população, assustada com a epidemia, exigia um profissional da medicina. Os farmacêuticos foram então a Teófilo Otoni para tentar resolver a situação.

Por indicação de conhecidos em Itambacuri, eles chegaram ao Dr. Firmato com a missão de convencê-lo a aceitar o convite de ir para a cidade. Dr. Firmato não aceitou de imediato. Para tentar convencê-lo, fizeram uma oferta para que ele fosse, em princípio, apenas para ajudar a controlar a epidemia. Depois disso ele seguiria para São Paulo, podendo realizar seu sonho com a missão cumprida. Dessa forma, Dr. Firmato chegou a Itambacuri no dia 13 de Fevereiro de 1928.

Medicina e Pesquisa

Chegando na cidade, Dr. Firmato encontrou um cenário preocupante envolvendo doenças tropicais. As moléstias mais comuns eram: bouba, malária, tifo e leishmaniose. Além dessas, algumas verminoses também tinham grande incidência, como a esquistossomose.

O médico ajudou a controlar a epidemia e fez mais do que isso. Conseguiu chamar a atenção de autoridades sanitárias e políticos da época para a situação da saúde na região, fazendo com que Itambacuri fosse cenário de estudos premiados internacionalmente.

Entre os serviços de pesquisa realizados está a organização de um fichário onde ele registrou mais de 5 mil casos observados em sua clínica, com fotografias e anotações sobre as referidas doenças.

Com a atuação de Dr. Firmato, seus relatórios e correspondências, a situação do município foi chamando a atenção em grandes centros como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, atraindo também os olhares da comunidade científica de outros países.

Pesquisadores como o peruano Hugo Pesce, professor de Dermatologia na Universidade de Lima; e Percy C. C. Garnham, professor de Medicina Tropical da Universidade de Londres, viajaram à Itambacuri para aprofundar seus conhecimentos.

No ano de 1967, o cientista sueco Dr. Sven Christiansen esteve na região, como representante da Organização Mundial de Saúde, para pesquisar sobre a bouba. O cientista constatou a erradicação total da doença em terras mineiras. Na época, o Dr. Christiansen foi auxiliado por profissionais locais da saúde, como o laboratorista José Marques de Oliveira.

Além desses, professores das Universidades Federais de Minas Gerais, São Paulo e de outros estados estiveram pela região. Entre eles, Amílcar Vianna Martins (Parasitologia), Oswaldo Costa (Dermatologia), Josefino Aleixo (Leprologia), Mauro Pereira Barreto (Parasitologia), Dr. Oliveira Castro (Biologia), o malariologista José Pelegrino, e os microbiologistas José Aroeira e Dr. César Pinto - do Instituto Instituto Oswaldo Cruz.

Dr. Firmato foi um importante colaborador do Dr. César Pinto na elaboração de um estudo de 247 páginas sobre vários subtipos de esquistossomose. A obra foi condensada pelo cientista inglês H. Harold Scott no volume 47 do Tropical Diseases Bulletin, editado em Londres no ano de 1950.

Vida Política

Com o prestígio adquirido como médico ativista nas áreas política e social, Dr. Firmato acabou entrando para a vida pública. Foi o único eleito por 3 vezes prefeito de Itambacuri.

Antes disso, foi indicado ao cargo durante a ditadura da Era Vargas, mas se recusou a tomar posse nessa condição. Candidatou-se pela primeira vez nas eleições de 1954, mas não conseguiu se eleger. Dr. Firmato foi prefeito nas gestões: 1959 – 1963, 1967 – 1971, 1973 – 1977.
Em pé: Dr. José Vasconcellos e Dr. Firmato. Sentados: padre Vidigal e o presidente JK.
Algumas realizações

Instalou, no ano de 1930, o primeiro Posto de Saúde e Higiene de Itambacuri, incluindo a cidade nos planos de melhoramentos do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP). O feito, que se realizou durante a gestão de Dr. Vital e com o auxílio do vereador Wilson Lago Pinheiro, foi considerado uma grande conquista pelo fato da cidade não estar incluída nos planos do convênio com o SESP. O Posto foi ampliado no ano de 1962, já na gestão de Dr. Firmato.

Trabalhando em conjunto com o prefeito Dr. Vital, conseguiu mudar para a cachoeira do rio Poquim a rede condutora de água utilizada no consumo urbano. Posteriormente, em seu governo, inaugurou a Estação de Tratamento de Água, sob direção do SESP.

Nas suas administrações foram fundados o Grupo Educacional Prof. Tangrins e o Grupo Educacional de São José do Fortuna. Construiu o Mercado Municipal, a praça Farmacêutico João Antônio, a praça Tenente Lages e ampliou a rede elétrica urbana. Foi Diretor do Hospital São Vicente de Paula por mais de 20 anos. Construiu a Cadeia Municipal e remodelou o Aprendizado Carlos Prates. Várias outras conquistas aconteceram sob sua influência ou diretamente nas suas administrações.

Referências bibliográficas / Links para outras páginas

- PALAZZOLO, Frei Jacinto de. Nas Selvas dos Vales do Mucuri e do Rio Doce. 3ª Edição. Companhia Editora Nacional. São Paulo - 1973.

- PEREIRA, Serafim Ângelo da Silva. Homenagem do povo de Itambacuri ao ilustre amigo Dr. Firmato. Edição Independente. Itambacuri - 1990.

Revista Itambacury Ano 100. Edição Comemorativa Independente - 1973.

- VIDIGAL, Pedro Maciel. Ação Política Volume II – Memorial. Editora Del Rey. Belo Horizonte - 1997.

- Palavras com links para ligações a outras páginas: Canavieiras, Belo Horizonte, doenças tropicais, Doença de Nicolas-Favre, Estrada de Ferro Bahia-Minas, Instituto Oswaldo Cruz, Era Vargas.

Domingos Pacó

Domingos Ramos Pacó (Itambacuri – 1867, Campanário – 1935) foi um intérprete e professor indígena bilíngüe.

Foi o primeiro professor indígena do aldeamento de Itambacuri. No seu legado, merece destaque a elaboração de um manuscrito onde ele apresenta um parecer sobre a origem das cidades de Itambacuri e Igreja Nova (atual Campanário).

História

Domingos Pacó é filho de Félix Ramos da Cruz e Umbelina Ramos da Cruz. O pai, Félix, já se encontrava estabelecido na região onde hoje é Itambacuri antes mesmo da chegada dos padres fundadores da cidade. A mãe, Umbelina, era uma índia filha do Capitão Pahóc.

Capitão Pahóc

Capitão Pahóc foi um chefe indígena que teve grande importância para o sucesso do aldeamento de Itambacuri. A missão dos fundadores não teria sido possível sem a negociação e conquista do apoio das lideranças indígenas que estavam sob o comando de Pahóc.

O grupo sob sua liderança era formado por 800 guerreiros, além de outros 100 homens localizados em regiões de limites, em pontos estratégicos, para a defesa contra possíveis incursões de inimigos.

Pahóc costumava se relacionar com os não-índios. Nessas ocasiões era acompanhado por um número considerável de membros da tribo e do língua (intérprete) Félix Ramos da Cruz – com quem já havia estabelecido parceria antes mesmo da chegada dos fundadores.

Félix Ramos da Cruz

Félix Ramos da Cruz tinha relações de amizade com o Capitão Pahóc e era um grande conhecedor da região. Além disso, era também um importante língua. Os línguas gozavam de reconhecido prestígio, advindo de sua habilidade em intermediar, por meio de simultânea tradução oral, aquela que era considerada uma difícil (e às vezes perigosa) comunicação entre indivíduos de diferentes culturas.

Os línguas não dispunham de livros para a aprendizagem do idioma, até porque, ao que se sabe, o primeiro registro do falar daqueles índios foi publicado apenas em 1909, na Alemanha, graças ao esforço de Bruno Rudolph - imigrante que elaborou dicionário em alemão da língua botocuda. Assim, a comunicação com os índios era orientada tão somente pelo esforço constante e habilidade dos línguas.

Félix casou-se com Umbelina, uma índia filha do Capitão Pahóc. A união inaugurou o livro de registros dos diretores do aldeamento, sendo o primeiro casamento oficializado em Itambacuri pelos fundadores Frei Serafim e Frei Ângelo, um ano após instalada a missão.
Dessa forma, Félix reunia não apenas a figura de um “nacional” que guardava profundos conhecimentos sobre a região e domínio da comunicação com os índios, mas também representava um elo ainda mais importante no trato de confiança com estes, sendo um importante mediador político.

Do relacionamento de Félix com Umbelina nasceu Domingos Ramos Pacó.

O Professor

Domingos Pacó foi o primeiro professor de origem indígena da região do aldeamento de Itambacuri.

Pacó foi alfabetizado pelos padres fundadores (diretores do aldeamento) e atuava como sacristão. Em seguida passou a exercer o cargo público de secretário, ecônomo e professor. Recebeu o título do magistério a 3 de janeiro de 1882, iniciando imediatamente suas atividades. Na época, Pacó tinha apenas 15 anos de idade.

O professor Pacó lecionava para filhos de indígenas e de não-indígenas em uma escola feita de pau a pique – localizada nas proximidades do convento da cidade.  Permaneceu no cargo por 19 anos, até ser substituído, em 1901, pelo professor Manuel Pereira Tangrins.

Manuel Pereira era um músico casado com uma índia. A alcunha Tangrins, que lhe foi dada pelos índios e é apresentada como sobrenome, significa “músico” na língua dos nativos.

A substituição de Pacó teria sido motivada pela negligência com o cargo. O professor havia se tornado alcoólatra, o que comprometia, além da saúde, as atividades como educador. Além disso, pode-se inferir que a demissão do professor tenha se imposto sob um novo conjunto de regras relativas à administração escolar dos índios, adotada nos primórdios da República pelos diretores da então colônia indígena.

O Manuscrito de Pacó

Uma das realizações de Domingos Ramos Pacó foi a redação de um manuscrito de grande valor histórico, considerado um dos raros documentos escritos por um índio brasileiro no século XIX.

O trabalho é apresentado em 22 páginas de papel almaço, redigido com bela caligrafia, e apresenta, entre outras impressões, uma visão particular sobre a origem das cidades de Itambacuri e Igreja Nova. A obra é intitulada “Pequena narração ou origem de como foi descoberto o Itambacuri – 1873”.

O manuscrito apresenta notícias históricas e é também interessante pelo expresso amor à raça e língua indígenas, contendo várias passagens escritas no idioma original de Pacó. Em uma dessas passagens, Pacó traça um auto-retrato e se coloca entre os primeiros professores de Itambacuri.

Ele fala também sobre os padres fundadores afirmando que eles, conhecendo sua inteligência e aproveitamento nas letras, pediram ao Governo Provincial autorização para incluí-lo no ensino do aldeamento indígena de Itambacuri.

Pacó aproveita para registrar que sua escola chegou a ter o maior número de matrículas de filhos de indígenas. No texto, também fica clara a mágoa com ex-alunos que tiveram com ele “conhecimentos úteis a respeito da instrução primária e, agora que ocupam cargos, sentem vergonha de dizer que foram educados por um professor indígena”. E segue, reprovando os que se envergonham da descendência indígena.

No seu relato, Pacó descreve uma visão da selva diferente da dos colonizadores. Para ele, a selva era um local de recreação, idéia que contrasta com os medos e perigos descritos pelos missionários. Pacó ressaltava que todos aqueles córregos, rios e serras já possuíam um nome em língua indígena antes mesmo da chegada dos colonizadores.

Segundo Izabel Missagia de Mattos, a memória da fundação da missão em Itambacuri, escrita pelo professor, pode ser lida não apenas como crítica, mas, no limite, como uma verdadeira denúncia da pedagogia excludente e da invisibilidade gerada sobre a participação do indígena no trabalho realizado pelos capuchinhos.

Fim da vida

Após deixar o magistério, Pacó retirou-se para as matas. Tempos depois, mudou-se para Igreja Nova (atual Campanário) onde, a pedido de moradores, chegou a abrir uma escola e lecionar.

Pacó foi casado com uma indígena de nome Zulmira Jupeti, com quem teve filhos.
O professor bilíngüe, figura de importância além da história itambacuriense, viveu seus últimos anos na cidade de Campanário, onde faleceu no ano de 1935.

Referências bibliográficas

- MATTOS, Izabel Missagia de. Civilização e Revolta – Os Botocudos e a Catequese na Província de Minas. EDUSC. Bauru – 2003.
- MATTOS, Izabel Missagia de. Domingos Ramos Pacó, professor bilíngüe e intérprete do aldeamento missionário do Itambacuri, MG. XXIV Simpósio Nacional de História, São Leopoldo - 2007. Seminário Temático Os Índios na História: Fontes e Problemas.
- PALAZZOLO, Frei Jacinto de. Nas Selvas dos Vales do Mucuri e do Rio Doce. 3ª Edição. Companhia Editora Nacional. São Paulo - 1973.
- BRASILEIRO, Danielle Moreira. O Aldeamento Indígena Nossa Senhora dos Anjos - 
PACÓ: Memória e indigenismo no Vale do Mucuri – MG. Associação Nacional de História – ANPUH. XXIV Simpósio Nacional de História. São Leopoldo – 2007.

Fundadores de Itambacuri

Frei Serafim de Gorizia (Gorizia, 29 de maio de 1829 – Itambacuri, 3 de dezembro de 1918) e Frei Ângelo de Sassoferrato (Sassoferrato, 10 de abril de 1846 – Itambacuri, 2 de junho de 1926) foram padres missionários da Ordem dos Capuchinhos e fundadores da cidade de Itambacuri, Minas Gerais.


Frei Serafim e Frei Ângelo entre outros missionários.

Biografia - Frei Serafim

Frei Serafim nasceu na cidade de Gorizia, então território austríaco, mas que passou a integrar a Itália. Foi batizado como João Batista Madon. Seus pais eram Antônio Madon e Anna Maria Gomesck. Sua família pertencia ao alto escalão do governo austríaco.

Formou-se Engenheiro aos 20 anos de idade destacando-se, principalmente, em áreas como Ciências Sociais, Letras Filosóficas e Matemáticas. Com essas habilidades, venceu concurso para chefe de uma seção no Império Austro-Húngaro. Em um lugar de destaque e com sua competência, acabou despertando o respeito do Imperador Francisco José. O Imperador, ao tomar decisões importantes, costumava consultar a João Batista.

Em janeiro de 1858 foi enviado à Lombardia como chefe de uma comissão do império. João Batista conheceu então Giuseppe Garibaldi e foi por ele convidado a integrar a Carbonária, mas recusou. Foi na Lombardia que ele pôde conhecer de perto alguns membros da ordem criada por São Francisco e também refletir sobre a vocação religiosa, já manifestada.

Ainda em 1858, no dia 4 de maio, ingressou na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, na província de São Carlos, recebendo assim o nome de Frei Serafim de Gorizia.

Ao saber da decisão de João Batista, agora Frei Serafim, o imperador ordenou o envio de um médico ao convento do noviciado para que avaliasse se o jovem estava sofrendo das faculdades mentais. Se assim fosse, determinou o imperador, que o tirassem de lá e dessem o devido tratamento.

Após a realização de exames, foi considerado que Frei Serafim estava em perfeitas condições. O frei disse ao médico: “agradeço penhorado os cuidados do soberano, a quem dirá que estou gozando perfeita saúde e a paz, que só Deus sabe dar. Lamento, apenas, não ter conhecido antes este tesouro”.

No dia 30 de maio de 1859 fez a profissão simples e, decorridos os três anos prescritos, em 31 de maio de 1862, fez a profissão de votos solenes – por meio da qual o religioso consagra seu compromisso com a Ordem.

Por ser poliglota, Frei Serafim foi enviado a Trieste e incumbido da pregação para as minorias que ali existiam. O frei falava alemão, italiano, francês, esloveno, espanhol e, mais tarde, aprendeu também o português.

Teve início assim o seu ministério. Com o sucesso alcançado, Frei Serafim foi enviado como pregador e confessor à província dos Capuchinhos da Stíria-Ilíria, no Vale do Danúbio, na Áustria, com a carta obediencial de 1868.

Ficou neste posto por alguns anos. Suas atividades o tornaram apóstolo de todas as classes, bastante admirado, mas o sonho do Frei não era este. Ele queria ir além das fronteiras da Europa e levar seu apostolado onde fosse mais necessário.

Assim, em 18 de janeiro de 1871, chega a Roma com o objetivo de fazer parte das missões. Na cidade ele dispunha de meios para se preparar e seguir em missão ao Chile, como pretendia. E foi nessa situação que ele e Frei Ângelo se conheceram. 
Biografia - Frei Ângelo

Frei Ângelo nasceu em Colle della Noce, um povoado que pertencia à cidade de Sassoferrato, na Província de Ancona, Itália.
Foi batizado como Afonso Censi. Seus pais eram Lourenço Censi e Balduína Garofali. Afonso era de família pobre. Recebeu desde cedo educação cristã e freqüentava a igreja diariamente.
Gostava do ar místico dos conventos, onde ia constantemente em visita a dois tios: um Franciscano Observante e outro Capuchinho. Nessas visitas, o jovem Afonso começou a admirar o modo de vida daqueles filhos de São Francisco.
Aos 16 anos ingressou na ordem dos Menores Capuchinhos, vestindo o burel de São Francisco no dia 21 de novembro de 1863. Iniciou o noviciado no convento de Camerino com o nome de Frei Ângelo de Sassoferrato.

Nessa época, a Itália aspirava à sua independência e unificação. Aproveitando-se desse ensejo, seitas secretas desencadearam perseguição às ordens religiosas. Frei Ângelo fez os votos perpétuos no dia 21 de novembro de 1864 e, no ano seguinte, devido às convulsões revolucionárias e à supressão das ordens religiosas, foi obrigado a deixar sua pátria, indo para a França e, mais tarde, para a Suíça.

Durante seis anos continuou seus estudos aprofundando-se nas ciências filosóficas e teológicas, sob a direção do capuchinho italiano Frei José Fidélis, ex-definidor da ordem.

No dia 2 de abril de 1870 recebeu a unção sacerdotal. Mudou-se, então, para Grenoble, na França, e depois para Lucerna, na Suíça. No pouco tempo em que ficou em Lucerna, Frei Ângelo aprendeu elementos da língua alemã.

Nesse período, a Itália ainda enfrentava séria crise. Os religiosos se defrontavam com litígios que envolviam política e organizações como a maçonaria. Foi nesse ambiente que nasceu em Frei Ângelo a vontade de servir em missões. O próprio diretor, Frei Fidélis, reconhecendo suas qualidades, incentivou-o neste propósito. E ele assim fez.

Antes de seguir viagem para Roma, para tentar se inserir em alguma missão, Frei Ângelo passou por Sassoferrato e Colle della Noce, onde pôde rever sua mãe. Ele não a encontrava fazia oito anos, desde que se tornou sacerdote. A visita foi também uma despedida. Ele sabia que, indo para alguma missão, de lá não retornaria.

Sendo assim, no ano de 1871 estava em Roma, no Colégio São Fidélis, onde os futuros missionários se preparavam para partir. Frei Ângelo se apresentou com apenas uma carta de seu mestre.

O Encontro dos Missionários

Frei Serafim e Frei Ângelo se conheceram no Colégio São Fidélis enquanto se preparavam para as missões.

Frei Serafim pediu aos superiores para ser incorporado aos missionários que partiriam para o Chile, mas foi determinado seu embarque para o Brasil. Frei Ângelo não tinha preferências com relação ao destino.

Frei Serafim tinha então 43 anos e era um sacerdote experiente. Frei Ângelo tinha 27 e não conhecia muito além dos conventos.

Já em janeiro de 1872, Frei Serafim passeava pelo claustro do Colégio São Fidélis quando Frei Ângelo veio a seu encontro. Os dois não se conheciam e Frei Serafim perguntou-lhe o nome. Frei Ângelo respondeu e foi questionado se tinha algum país de preferência para o trabalho nas missões.

Ao responder que não, Frei Serafim o convidou a seguir com ele para o Brasil, pois procurava um companheiro que lhe ajudasse nas atividades missionárias. Frei Ângelo, que aguardava uma indicação do destino (ou divina), respondeu que sim.

Em 6 de fevereiro de 1872 eles receberam do superior-geral as “letras obedienciais”, estando assim nomeados como missionários apostólicos para o Brasil.
Partida para o Brasil

Antes de saír de Roma, os futuros missionários, cientes da responsabilidade que acabavam de assumir, prostraram-se em oração diante do túmulo de São Pedro e São Paulo, pedindo a Deus as graças necessárias ao êxito da missão.

Em seguida, o Papa Pio IX os recebeu para dar a bênção apostólica. O três conversaram por alguns minutos e o Papa se despediu com as palavras que Frei Ângelo registrou em seu caderno de anotações: “Ide, filhos caríssimos, evangelizai os indígenas e trazei-os ao aprisco do Senhor. A bênção de Deus e a Nossa Apostólica vos anime, vos fortaleça e vos ampare”.

No dia 19 de fevereiro os dois missionários partiram para Civitavecchia, onde embarcaram num pequeno navio costeiro que os levaria a Gênova. No porto da cidade encontraram o vapor Poitou, da companhia francesa Société Générale des Transports Maritimes à Vapeur, e a 10 de março seguiram para o Brasil.

O navio chegou ao Brasil após 25 dias de viagem. Os missionários seguiram para o convento do Morro do Castelo, no Rio de Janeiro, onde chegaram de surpresa. Eles foram recebidos com alegria pelo então comissário-geral Revmo. Frei Caetano de Messina e pelos demais religiosos da comunidade.

A Missão

Frei Serafim e Frei Ângelo ficaram no Rio de Janeiro apenas pelo tempo necessário para se orientarem acerca da missão e aprenderem os primeiros elementos da língua do país.

O governo tinha pressa em enviar missionários para ajudar a resolver uma séria situação que envolvia os índios da região do Mucuri, em Minas Gerais. Os missionários seriam responsáveis por chamar os índios da mata ao convívio da civilização e acabar com os repetidos massacres e incursões que espalhavam o terror.

O Ministro dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas – Barão de Itaúna – através da portaria baixada em 7 de junho de 1872, encarregou Frei Serafim de Gorízia da catequese dos indígenas nas colônias do Mucuri.

Ao mesmo tempo o Ministro comunicou ao Revmo. Comissário-geral dos missionários capuchinhos, Frei Caetano de Messina, a nomeação e requisição dos dois novos missionários. Por sua vez, Frei Caetano entregou-lhes as cartas obedienciais, discriminando as respectivas atribuições e confortando-os com sua bênção.

Alguns dias depois os missionários seguiram para Ouro Preto, então capital de Minas Gerais, onde receberiam instruções do diretor-geral de proteção aos índios, Sr. Brigadeiro Antônio Luís de Magalhães Mosqueira.

Para chegar a Ouro Preto seguiram até Juiz de Fora por estrada de ferro. Lá, foram recebidos pelo sargento Torquato Donato de Sousa Bicalho que, por ordem do diretor-geral, os levou a Ouro Preto. Esta parte da viagem foi feita a cavalo.

Frei Serafim e Frei Ângelo permaneceram em Ouro Preto por dois meses. Durante este período puseram-se a par da situação envolvendo índios e governo. Também aproveitaram para obter os conhecimentos indispensáveis ao bom desempenho da missão.

Providos de boa cavalhada e do necessário para a viagem, seguiram rumo a Filadélfia, hoje Teófilo Otoni, acompanhados pelo Sargento Torquato e por mais dois mestres. O itinerário a ser seguido era: Mariana – Morro do Pilar – Santa Maria de São Félix - Capelinha – Filadélfia.

Nasce Itambacuri

A viagem a cavalo durou 20 dias. A época do ano não era a melhor para uma incursão como aquela e as chuvas tornaram o caminho ainda mais penoso. Chegando a Filadélfia os freis tinham a missão de procurar o lugar ideal para instalar o aldeamento, desbravando as matas do Vale do Mucuri.

O povo de Filadélfia saudou com alegria a chegada dos franciscanos, na esperança de que ali ficassem. Mas não foi assim. Os missionários cumpriram as ordens recebidas ao saírem da capital do Império e deixaram o povoado de Filadélfia, retirando-se para a fazenda do Capitão Leonardo Esteves Otoni, distante de lá cerca de 25 quilômetros.

Capitão Leonardo se relacionava com algumas tribos de índios. Os Freis ficaram na fazenda por seis meses aprendendo, colhendo informações, fazendo observações, elaborando projetos e explorando a floresta à procura do melhor lugar para estabelecerem o aldeamento. Este lugar deveria servir como ponto estratégico para reunir diversas tribos de índios que vagavam nas imensas matas.

A floresta na região era densa, de mata fechada. Domingos Pacó[1] , filho das florestas da região, descrevia desta forma: “Era esta zona um lugar intransitável. Percorriam-no somente índios como: Crakeatan, Mucurim, Nhanhã, Catolés, Potão, Nacrechés, Aranãs e as feras bravias”.

Para se achar um local conveniente e de acordo com as instruções recebidas dos órgãos governamentais, era preciso estudar a região e percorrer a floresta bruta, tarefa difícil principalmente para dois freis – ainda mal aclimatados e nada familiarizados com semelhante empreitada. E ainda se deve levar em conta os grandes perigos que a selva oferecia.

Aos freis foram sugeridos alguns sítios como Potão, cujos terrenos ótimos estavam ocupados pelo Capitão Leonardo Esteves Otoni, a quem seria preciso indenizar. Os sítios Saudade, Planície e Cana Brava também apareceram como opção, mas não possuíam os requisitos exigidos e recomendados pelo governo Imperial. Tais sugestões partiam de interessados que, mais tarde, se revelaram inimigos da catequese.

O tempo passava e Frei Serafim se preocupava em encontrar logo o tal lugar. Na margem do rio São Mateus, o Frei mandou fazer uma derrubada, ajudado nesta tarefa pelos índios Potões, com os quais tinha estabelecido certa relação. Esses índios informaram a Frei Serafim da existência de um lugar muito melhor, não muito distante dali, rico em águas e com abundante caça e pesca.

O que os índios disseram seria exatamente o tipo de lugar procurado por Frei Serafim e seu grande auxiliar Frei Ângelo. O local ficava a 25 quilômetros de onde eles estavam. Frei Serafim abandonou então o rio São Mateus e seguiu com os índios tomando o caminho indicado por eles.

Na tarde do dia 19 de fevereiro de 1873, Frei Serafim, Frei Ângelo e o grupo que os acompanhavam chegaram ao alto da serra que divide as águas dos rios Itambacuri e Córrego d’Areia. Do alto dava pra ver o soberbo vale que lhes extasiava a vista. Era um panorama imponente de beleza selvagem. O Frei compreendeu ser aquele o lugar indicado pela vontade de Deus para plantar o marco da fundação do aldeamento e a tenda do seu apostolado.

Na ocasião, Frei Serafim profetizou: “Daqui não sairei jamais!”
A notícia de que os frades já se encontravam em Itambacuri, centro das matas virgens, onde nenhum não-índio havia chegado, correu longe e os índios começaram a afluir.

Nestes tempos já corria o mês de março. Com a aproximação da Páscoa, que nesse ano cairia no dia 13 de abril, os freis resolveram então celebrar uma Missa em comemoração. O lugar escolhido para a celebração foi a encosta do morro próximo ao Córrego dos Engenhos, onde foi feita a primeira derrubada e foram erguidos os primeiros ranchos. A missa foi celebrada em companhia de civilizados e selvagens.

Assim, o dia 13 de abril de 1873 é considerado o dia da fundação da cidade de Itambacuri. A partir daí seguiu-se uma série de trabalhos orientados sempre pela vocação e perseverança dos frades para a instalação da catequese. Foram muitas as dificuldades enfrentadas desde o início, mas eles sabiam que o projeto era maior que os problemas - como de fato acontece nas grandes obras.

Referências bibliográficas

- BRASILEIRO, Danielle Moreira. O Aldeamento Indígena Nossa Senhora dos Anjos - PACÓ: Memória e indigenismo no Vale do Mucuri – MG. Associação Nacional de História – ANPUH XXIV Simpósio Nacional de História. São Leopoldo - 2007.

- PALAZZOLO, Frei Jacinto de. Nas Selvas dos Vales do Mucuri e do Rio Doce. 3ª Edição. Companhia Editora Nacional. São Paulo - 1973.

- PEREIRA, Teodolindo A. Silva. Entre os Selvagens. Traduzido de Fra i Selvaggi – Samuele Cultrera. BDMG Cultural. Belo Horizonte – 2001.

Dr. Pedro Autran

Dr. Pedro Autran foi um dos principais responsáveis pela elevação de Itambacuri à categoria de Vila, o primeiro chefe do Executivo municipal (de 1924 a 1926), o primeiro médico a fixar residência na cidade, o responsável pela oficialização da Conferência Vicentina e pela fundação do Hospital São Vicente de Paulo.

 
 

Primeiro chefe do Executivo municipal

Quando foi criado o município de Itambacuri, no ano de 1924, era preciso organizar o poder Legislativo – que seria o responsável pela administração e nova organização política. O decreto estadual 6541, de 14 de março de 1924, estabeleceu os dias 20 de abril e 18 de maio para que fossem realizadas, respectivamente, a eleição dos vereadores e a instalação do novo município.

Procedendo de acordo com a determinação legal, Itambacuri elegeu como seus primeiros vereadores:

Vereadores Gerais: Cel. Pedro Avelino Pinheiro, Pedro Autran e Marcelo Esteves Guedes;
Vereador pela sede: Manoel José de Magalhães;
Vereador pelo distrito de Frei Serafim: Júlio Esteves Lopes;
Vereador pelo distrito de Igreja Nova: farmacêutico João Antônio da Silva Pereira;
Vereador pelo distrito de Aranã: Amadeu Onofre.

Em seguida, no dia 18 de maio, foi realizada a instalação da Câmara Municipal de Itambacuri, que teve como seu primeiro presidente o Dr. Pedro Autran. O cargo era o de Presidente da Câmara e Agente Executivo, o mais alto na esfera municipal – que hoje seria equivalente ao cargo de prefeito. A gestão aconteceu de 1924 a 1926.

Na “Ata da sessão solene da instalação da Câmara Municipal do Itambacuri” tem-se o registro do discurso de Dr. Pedro Autran, onde consta o juramento proferido: “Juro por Deus cumprir lealmente o meu dever de Presidente da Câmara e Agente do Município de Itambacuri, promovendo, quando em mim couber, seu bem-estar e prosperidade”.

Na mesma ocasião, foram eleitos como vice-presidente Pedro Avelino Pinheiro e como secretário João Antônio da Silva Pereira.

Dr. Pedro Autran contou com a importante colaboração do professor José Vicente de Mendonça, que ajudou na organização jurídica do município e foi o 1º Diretor da Secretaria do Poder Executivo.

Conferência Vicentina – Hospital São Vicente

Dr. Pedro Autran presidiu a Conferência Vicentina na segunda diretoria, que teve início em 14 de janeiro de 1917. Em sua gestão, a Conferência ganhou personalidade jurídica, com organização e registro de seus estatutos.

No dia 25 de novembro de 1917 a Conferência Vicentina Nossa Senhora dos Anjos recebia a Carta de Agregação, que correspondia ao reconhecimento de legitimidade pelo grau máximo internacional da Sociedade de São Vicente de Paulo.

A 6 de abril de 1918, Pedro Autran lançou a pedra fundamental do Hospital São Vicente de Paulo – o primeiro de Itambacuri.

Faleceu na cidade de Rio Vermelho – MG, onde também prestou relevantes serviços como médico, político e inspetor escolar.

Rua Dr. Pedro Autran

Em Itambacuri há uma rua que leva seu nome, uma singela homenagem a este cidadão que figura na nossa história. Na foto abaixo, pode-se identificar melhor a localização.


Fontes

- PEREIRA, Serafim Ângelo da Silva. Itambacuri e sua História, volume II, 1990.
- PALAZZOLO, Frei Jacinto de. Nas Selvas dos Vales do Mucuri e do Rio Doce, 1973.
- Revista Itambacury Ano 100.

DOMINGO, 6 DE MAIO DE 2012

Matosinhos de Castro Pinto

Matosinhos de Castro Pinto é um político do estado de Minas Gerais. Foi prefeito da cidade de Itambacuri entre os anos de 1963 e 1966. 

Foi também deputado estadual pelo partido da Arena na 6ª legislatura (1967-1971). Foi cassado no dia 29 de abril de 1969 por efeito do Ato Institucional nº5 (AI-5).

Matosinhos de Castro foi o responsável pelo início do serviço de tratamento de água em Itambacuri. Entre outros feitos, conseguiu o asfaltamento do trecho que liga o centro da cidade à BR-116. A via é denominada  avenida Farmacêutico Joviano, mas é popularmente conhecida como "Reta". Também são atribuídos a Matosinhos a ampliação do calçamento de ruas e a assinatura de convênio para 35 escolas municipais.

Fontes

- PALAZZOLO, Frei Jacinto de. Nas Selvas dos Vales do Mucuri e do Rio Doce. Capítulo XXVIII - Novos Tempos. Editora Brasiliana, 1973.
- Revista Itambacury Ano 100. Publicação independente, 1973.
- Wikipédia - Matosinhos de Castro Pinto (clique aqui para ler).

SÁBADO, 25 DE FEVEREIRO DE 2012

Dr. Vital Salvino Ottoni

Pouco ainda se sabe sobre a vida pessoal do ilustre brasileiro Vital Salvino Ottoni. Entre as valiosas informações, consta que ele nasceu em Setubinha, Minas Gerais, no dia 28 de abril de 1897.

Engenheiro civil, empresário e político, teve forte presença em Itambacuri – cidade onde fez história. Era casado com Dulce de Albuquerque Werneck. Morreu em Belo Horizonte no dia 23 de setembro de 1972. Anos depois, também Dona Dulce viria a falecer.

História

Tendo se formado engenheiro pela Escola de Engenharia de Belo Horizonte, Dr. Vital exerceu sua profissão na capital mineira, onde chegou a constituir uma empresa sediada na avenida Amazonas. A firma prestou serviços de engenharia na capital e em outras regiões do país. Há registros de trabalhos seus, feitos para empresas como Vale do Rio Doce e Cemig, por exemplo.

Dr. Vital teria chegado a Itambacuri na época da construção da rodovia hoje denominada BR-116, para supervisionar o trecho entre as cidades de Figueira (atual Governador Valadares) e Teófilo Otoni, na qualidade de engenheiro civil responsável pelas obras.

Posteriormente ele se destacou na cidade como empresário, proprietário da Itambacury Industrial Ltda – empresa que atuava no beneficiamento de produtos agrícolas da região, como o arroz e o café. Em gleba no entorno da cidade desenvolveu o plantio de cana-de-açúcar para a produção de rapadura e o fabrico de aguardente, atividades depois transferidas para sua fazenda no município de Campanário, MG. A aguardente era da marca Indígena, muito apreciada pelos consumidores desse tipo de produto. 

Ao centro, a cachaça Indígena, produzida por Dr. Vital
Em Itambacuri Dr. Vital atuou na instalação de luz elétrica, dando início à dispensa pelos moradores dos lampiões de querosene.  Foi confrade na Conferência Vicentina de Itambacuri, instituição da qual se tornou presidente no dia 19 de junho de 1949, para a quarta diretoria. No mesmo período, Dr. Firmato foi escolhido diretor do Hospital São Vicente de Paulo. A gestão de Dr. Vital frente à instituição durou até o dia 24 de junho de 1951.

Imagens do engenho de Dr. Vital
Administração em Itambacuri

A administração de Dr. Vital é considerada uma das mais importantes da história de Itambacuri. Personagem famoso pelo carisma, é também muito lembrado pela competência na administração pública, sendo o articulador de muitos projetos e obras que beneficiaram a comunidade itambacuriense. Foi prefeito da cidade entre 1951 e 1955.

Familiares contam que Dr. Vital era amigo de Juscelino Kubitschek (que foi governador de Minas na mesma época em que Dr. Vital foi prefeito) e até teria sido convidado por ele para trabalhar na nova capital do país, Brasília, em cargo político. Vital declinara do convite.

Como administrador público, são creditados a Dr. Vital a ampliação da cidade através da abertura de loteamentos – como o do bairro Várzea; e a construção de estradas de rodagem para São José do Divino, Guarataia, Frei Serafim e São José do Fortuna.

Foi o prefeito da inclusão de Itambacuri nos planos do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) – responsável por melhorias na saúde e pela realização do tratamento de água na cidade. Os méritos deste trabalho são atribuídos a uma ação conjunta com Dr. Firmato e com o vereador Wilson Lago Pinheiro.

Recorte de telegrama enviado por Dr. Vital ao presidente Getúlio Vargas, publicado no Diário Oficial da União do dia 3 de outubro de 1953
 Foi Dr. Vital quem tomou todas as providências para a aquisição do terreno onde viria a ser construído o Campo de Aviação no município. Foi ele também quem trabalhou firme para  obter a necessária autorização do Governo do Estado para o início das obras desse aeroporto, que depois de concluído servia a Itambacuri, Teófilo Otoni, Governador Valadares e cidades próximas.

A esposa de Dr. Vital, Dona Dulce Werneck, também foi  figura bastante conhecida em Itambacuri, principalmente em razão de suas ações sociais em benefício dos mais necessitados. Ela desempenhava bem as funções normalmente incumbidas à esposa de um executivo municipal à época, como atividades de filantropia.

Nos períodos de férias escolares Dona Dulce costumava abrir sua casa para propiciar alguns momentos de lazer a crianças de famílias de trabalhadores conhecidos dela. A meninada ficava fascinada com as grandes árvores, os bem cuidados jardins da casa e  com a companhia da cadela Aloma nos folguedos.

As itambacurienses Delza, Rosely e Glorinha entre meninas de BH. Ao chão, a cadela Aloma
Dona Dulce tocava piano muito bem e costumava ensinar canções infantis à criançada. Nalgumas dessas vezes, lá se juntavam nas brincadeiras também algumas crianças parentas de Dona Dulce, vindas de Belo Horizonte para passar férias na casa, e elas se divertiam bastante.  

Fontes

- Entrevista realizada com Marta Werneck, sobrinha de Dr. Vital, em 2011.
- PALAZZOLO, Frei Jacinto de. Nas Selvas dos Vales do Mucuri e do Rio Doce. Capítulo XXVIII - Novos Tempos. Editora Brasiliana, 1973.
- Revista Itambacury Ano 100. Publicação independente, 1973. 

Agradecimento

A Itypédia agradece à Dra. Romy Cristhine Soares Valadares pelas informações prestadas.

SÁBADO, 22 DE OUTUBRO DE 2011

Dr. Firmato

Antonio Firmato de Almeida (Canavieiras, 15 de agosto de 1900 – Belo Horizonte, 30 de janeiro de 1992) foi um médico e político que fez carreira em Itambacuri.

Ajudou a controlar uma epidemia de doenças tropicais que assolavam a região de Itambacuri e atuou na elaboração de importantes estudos científicos sobre tais doenças.

Foi o único prefeito eleito por três mandatos na cidade.


História

Antonio Firmato de Almeida nasceu na fazenda Seis Irmãos, próximo à cidade de Canavieiras, na Bahia. Seus pais, Manoel Firmato de Almeida e Francisca de Deus Almeida, faleceram quando ele tinha 10 anos de idade. Firmato e os irmãos passaram então aos cuidados do tio Melquíades.

Melquíades colocou os sobrinhos na Escola Primária em Canavieiras. Firmato concluiu os estudos nessa escola aos 14 anos de idade, mas foi trabalhar com o tio na roça. Anos depois, Melquíades convidou-o para retomar os estudos. Ele aceitou e foi para um colégio interno em Salvador – BA.

Ao fim do curso preparatório, Firmato ingressou na Faculdade de Medicina de Salvador. Formou-se médico, diplomado no dia 8 de dezembro de 1926, aos 26 anos, defendendo tese (então pré-requisito para o exercício da medicina) sobre a Doença de Nicolas-Favre.

Início da carreira

Começou sua carreira profissional em Canavieiras, substituindo um colega que havia entrado em férias. Ao final do período, mudou-se para Jequitinhonha. Dr. Firmato sonhava trabalhar em São Paulo e veio traçando um caminho sempre rumo ao sul. De Jequitinhonha foi para Araçuaí.

Em Araçuaí foi vitimado por uma grande enchente no ano de 1927, na qual perdeu tudo o que tinha. A cheia do rio Araçuaí arrasou toda a cidade. De Araçuaí seguiu então para Teófilo Otoni, de onde iria telegrafar à família para pedir dinheiro para comprar algumas roupas e continuar viagem.

Para chegar a São Paulo precisaria pegar o trem na Estrada de Ferro Bahia-Minas, em Teófilo Otoni, até a cidade de Caravelas, no sul da Bahia. Então deveria seguir de navio para a cidade de Santos, já no estado de São Paulo.

Chegada a Itambacuri

Nesse período, Itambacuri tinha aproximadamente 2 mil habitantes. Não existia rede de distribuição de água nem energia elétrica e havia muitos problemas de cunho estrutural. Além disso, uma séria epidemia de tifo e outras doenças tropicais castigavam a região.

Itambacuri não tinha médico, ficando a saúde a cargo dos farmacêuticos João Antonio e Joviano Antonio da Silva Pereira. A população, assustada com a epidemia, exigia um profissional da medicina. Os farmacêuticos foram então a Teófilo Otoni para tentar resolver a situação.

Por indicação de conhecidos em Itambacuri, eles chegaram ao Dr. Firmato com a missão de convencê-lo a aceitar o convite de ir para a cidade. Dr. Firmato não aceitou de imediato. Para tentar convencê-lo, fizeram uma oferta para que ele fosse, em princípio, apenas para ajudar a controlar a epidemia. Depois disso ele seguiria para São Paulo, podendo realizar seu sonho com a missão cumprida. Dessa forma, Dr. Firmato chegou a Itambacuri no dia 13 de Fevereiro de 1928.

Medicina e Pesquisa

Chegando na cidade, Dr. Firmato encontrou um cenário preocupante envolvendo doenças tropicais. As moléstias mais comuns eram: bouba, malária, tifo e leishmaniose. Além dessas, algumas verminoses também tinham grande incidência, como a esquistossomose.

O médico ajudou a controlar a epidemia e fez mais do que isso. Conseguiu chamar a atenção de autoridades sanitárias e políticos da época para a situação da saúde na região, fazendo com que Itambacuri fosse cenário de estudos premiados internacionalmente.

Entre os serviços de pesquisa realizados está a organização de um fichário onde ele registrou mais de 5 mil casos observados em sua clínica, com fotografias e anotações sobre as referidas doenças.

Com a atuação de Dr. Firmato, seus relatórios e correspondências, a situação do município foi chamando a atenção em grandes centros como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, atraindo também os olhares da comunidade científica de outros países.

Pesquisadores como o peruano Hugo Pesce, professor de Dermatologia na Universidade de Lima; e Percy C. C. Garnham, professor de Medicina Tropical da Universidade de Londres, viajaram à Itambacuri para aprofundar seus conhecimentos.

No ano de 1967, o cientista sueco Dr. Sven Christiansen esteve na região, como representante da Organização Mundial de Saúde, para pesquisar sobre a bouba. O cientista constatou a erradicação total da doença em terras mineiras. Na época, o Dr. Christiansen foi auxiliado por profissionais locais da saúde, como o laboratorista José Marques de Oliveira.

Além desses, professores das Universidades Federais de Minas Gerais, São Paulo e de outros estados estiveram pela região. Entre eles, Amílcar Vianna Martins (Parasitologia), Oswaldo Costa (Dermatologia), Josefino Aleixo (Leprologia), Mauro Pereira Barreto (Parasitologia), Dr. Oliveira Castro (Biologia), o malariologista José Pelegrino, e os microbiologistas José Aroeira e Dr. César Pinto - do Instituto Instituto Oswaldo Cruz.

Dr. Firmato foi um importante colaborador do Dr. César Pinto na elaboração de um estudo de 247 páginas sobre vários subtipos de esquistossomose. A obra foi condensada pelo cientista inglês H. Harold Scott no volume 47 do Tropical Diseases Bulletin, editado em Londres no ano de 1950.

Vida Política

Com o prestígio adquirido como médico ativista nas áreas política e social, Dr. Firmato acabou entrando para a vida pública. Foi o único eleito por 3 vezes prefeito de Itambacuri.

Antes disso, foi indicado ao cargo durante a ditadura da Era Vargas, mas se recusou a tomar posse nessa condição. Candidatou-se pela primeira vez nas eleições de 1954, mas não conseguiu se eleger. Dr. Firmato foi prefeito nas gestões: 1959 – 1963, 1967 – 1971, 1973 – 1977.
Em pé: Dr. José Vasconcellos e Dr. Firmato. Sentados: padre Vidigal e o presidente JK.
Algumas realizações

Instalou, no ano de 1930, o primeiro Posto de Saúde e Higiene de Itambacuri, incluindo a cidade nos planos de melhoramentos do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP). O feito, que se realizou durante a gestão de Dr. Vital e com o auxílio do vereador Wilson Lago Pinheiro, foi considerado uma grande conquista pelo fato da cidade não estar incluída nos planos do convênio com o SESP. O Posto foi ampliado no ano de 1962, já na gestão de Dr. Firmato.

Trabalhando em conjunto com o prefeito Dr. Vital, conseguiu mudar para a cachoeira do rio Poquim a rede condutora de água utilizada no consumo urbano. Posteriormente, em seu governo, inaugurou a Estação de Tratamento de Água, sob direção do SESP.

Nas suas administrações foram fundados o Grupo Educacional Prof. Tangrins e o Grupo Educacional de São José do Fortuna. Construiu o Mercado Municipal, a praça Farmacêutico João Antônio, a praça Tenente Lages e ampliou a rede elétrica urbana. Foi Diretor do Hospital São Vicente de Paula por mais de 20 anos. Construiu a Cadeia Municipal e remodelou o Aprendizado Carlos Prates. Várias outras conquistas aconteceram sob sua influência ou diretamente nas suas administrações.

Referências bibliográficas / Links para outras páginas

- PALAZZOLO, Frei Jacinto de. Nas Selvas dos Vales do Mucuri e do Rio Doce. 3ª Edição. Companhia Editora Nacional. São Paulo - 1973.

- PEREIRA, Serafim Ângelo da Silva. Homenagem do povo de Itambacuri ao ilustre amigo Dr. Firmato. Edição Independente. Itambacuri - 1990.

Revista Itambacury Ano 100. Edição Comemorativa Independente - 1973.

- VIDIGAL, Pedro Maciel. Ação Política Volume II – Memorial. Editora Del Rey. Belo Horizonte - 1997.

- Palavras com links para ligações a outras páginas: Canavieiras, Belo Horizonte, doenças tropicais, Doença de Nicolas-Favre, Estrada de Ferro Bahia-Minas, Instituto Oswaldo Cruz, Era Vargas.


Produções Científicas na Itypédia

A Itypédia inaugura um espaço chamado Produções Científicas, dedicado a publicação de trabalhos acadêmicos de itambacurienses ou pessoas ligadas à cidade. 

Não necessariamente estas pessoas são nascidas em Itambacuri, mas sua história de vida e os laços criados com a região são mais que suficientes para que elas sejam consideradas como peças da construção histórica e cultural, que é infindável.

A idéia foi lançada com a publicação parcial da obra de Dr. Firmato intitulada Schistosomiases Mansoni no Brasil.

A proposta é ajudar na disseminação do conhecimento produzido por gente ligada à Itambacuri e dar maior visibilidade aos trabalhos, bem como facilitar o uso como referencial bibliográfico para quem se interessar. Certamente, muitos ficarão entusiasmados com a qualidade e a variedade do conteúdo apresentado. 


Quando houver possibilidade, o conteúdo será disponibilizado na íntegra e com opção de download, uma vez que os trabalhos já foram publicados como pré-requisito para sua validação científica. Quem precisar fazer uso do material deve conhecer as regras necessárias para citar fontes e não incorrer em plágio ou ter outros problemas relacionados aos direitos de criação e uso.  

Itypédia - A Enciclopédia de Itambacuri.

Trabalhos Acadêmicos - Max Rothe-Neves

A postagem de abertura do tópico Produções Científicas da Itypédia é dedicada aos trabalhos de Max Rothe-Neves, o último dos quais foi elaborado como requisito para a conclusão do curso de Direito na UNAMA - Universidade da Amazônia.

Max é filho de Antonio Francisco das Neves e Rosa Marga Rothe. Além de graduado em Direito, Max é formado em  Engenharia Eletro-Eletrônica pela Universidade Federal do Pará; e é Mestre em Metrologia pela Universidade Federal de Santa Catarina. 

O título da monografia de Direito, foco desta publicação, é "Introdução às Compras Públicas Sustentáveis e às Dificuldades Práticas de Implementação na Administração Pública Federal", cujo resumo pode ser lido abaixo.


"O objetivo deste estudo é dar claridade ao tema 'compras públicas sustentáveis' e às dificuldades práticas de implementação na Administração Pública Federal. As compras públicas sustentáveis são fruto de uma necessidade ambiental internacional na busca de implementação do desenvolvimento sustentável, reduzindo-se os padrões insustentáveis de produção e de consumo. 

Defesa do TCC em Belém - PA.
Partindo da introdução desse tema abrangente, o estudo focaliza na normatização sobre os critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição de bens, contratação de serviços ou obras pela Administração Pública Federal direta, autárquica ou fundacional. Analisa as modalidades e tipos de licitações, com base na legislação vigente, e estuda a importância que o controle externo tem nessa atividade, tanto contribuindo para a mudança nas normas a partir de suas decisões, como também, punindo servidores por condutas contrárias aos princípios, leis e normas vigentes. 

De forma introdutória, apresenta algumas dificuldades práticas de implementação das compras públicas sustentáveis no âmbito federal, a partir dos aspectos divergentes encontrados na norma em comento com outras normas, leis, princípios e outros julgados do TCU, tudo isso à sombra do medo adquirido pelo agente público que atua nas atividades licitatórias".

Outros Trabalhos Acadêmicos

Já a dissertação de mestrado foi intitulada como "Técnica Opto-Eletrônica de Medição de Geometria 3D com Interferometria de Luz Não-Coerente"; e o trabalho de conclusão do curso de Engenharia Eletro-eletrônica, defendido na UFPA em 1999, serviu de base para outros trabalhos do autor, realizados em conjunto com colegas, como visto em "Metodologia para a Construção de Protótipos Didáticos para os Cursos de Controle e Automação de Sistemas".
Abaixo, os links para leitura e download de alguns dos trabalhos de Max Rothe-Neves.



Frei Agostinho


Ramiro Francisco (Frei Agostinho) nasceu em  22/01/1932 no município de Teófilo Otoni - MG, na localidade de São Miguel do Pita.

Seu registro de nascimento ocorreu somente em 1937 em Itambacuri - MG,  quando seus familiares já moravam nesta cidade.

Fez o curso primário nas Escolas Reunidas Frei Gaspar de Módica com as professoras Dona Lília, Dona Silvia Timo e Dona Maria Luzia Esteves Lima. Sua preparação para o sacerdócio começou no Seminário Seráfico São Francisco de Assis em Santa Teresa, ES, onde estudou de 22/01/1945 a 1949. 


Para lá foi enviado por Frei Daniel Maria de Mineo junto com Lulu, Geraldo Dias, (Frei Angélico, que depois  passou a chamar-se padre Geraldo, como secular). Professores: Dario Cozer, Guilherme Guisen, Frei Frederico, Frei Tarcísio, Frei Querubim, Frei Jamaria, Frei Afonso.

Prestou o Noviciado em 1950 em Taubaté, São Paulo, com o mestre Frei Epifânio. Cursou Filosofia em Itambacuri de 1951 a 1954, com os professores Frei Fernando, Frei Vital, Frei Geraldo de Sortino, Frei Sisto.

Convite para a ordenação de frei Agostinho.
Cursou Teologia de 1954 a 1957. Os professores foram Frei Fernando, Frei Vital, Frei Gabriel, Frei Sisto, Frei Estêvão. Transferido para o Rio de Janeiro, lá foi Vigário Paroquial. E cursou o bacharelado em Filosofia na Universidade do Distrito Federal (atualmente UERJ).

Frei Agostinho acompanhando procissão no Rio de Janeiro.
Cronologia

- 1961 – Professor de Filosofia no Seminário de Itambacuri. Professor de Filosofia e de Psicologia no Colégio Santa Clara. Professor de Estudos Sociais no Colégio Pio XII e no Colégio Estadual Professor Mendonça.
- 1962 – Trabalho nas comunidades Vila Pedreira e Vila Formosa. Estudos de Problemas Brasileiros, na PUC do Rio de Janeiro, RJ.
- 1963 e 1964 –  Escolas Radiofônicas do Movimento de Cultura Popular. Sua ligação com este movimento,  o MCP, foi o principal motivador de sua prisão em 1964. 
- 1964 – Início da construção do prédio da Escola de Vila Formosa. Preso pela ditadura , ainda nos tempos do Governo Castelo Branco, acusado de subversão. Trabalhar para melhorar a vida dos pobres era perigoso naqueles tempos. Ficou confinado  durante uma semana em Governador Valadares, sem visitas e sem quaisquer notícias de familiares ou de outras pessoas.
- 1964 a 1972 – Dedicou-se a melhorar as escolas da periferia, inclusive nelas disponibilizando a merenda escolar.
- 1965 – Licenciatura plena em Filosofia pela Universidade Católica de Belo Horizonte (PUC). Início das aulas da Escola Vila Formosa e Vila Pedreira. Curso de Psicologia, na  PUC do Rio de Janeiro, RJ.
- 1966 – início do ensino chamado de  Curso Complementar,  com aulas de Corte e Costura, Puericultura, Culinária, Carpintaria, Cerâmica, Comércio, Horticultura – curso depois  denominado de  madre Serafina.
- 1966 a 1972 – Professor de Sociologia e Psicologia da Faculdade de Teófilo Otoni.
- 1970 e 71 – Organizador e Professor da Faculdade de Filosofia de Governador Valadares,
- 1972 – Rio de Janeiro – Diretor do Serviço Social de São Sebastião no Morro do Turano – Curso de Carpintaria, Pintura de parede, Instalação Elétrica e Hidráulica. Presidente da Cooperativa Habitacional São Sebastião e Frei Cassiano, por meio das quais, entre 1972 e 1982 foram construídos cerca de 1500 apartamentos.
- 1972 a 1975 – Fundação da Faculdade de Administração de Empresas em Governador Valadares, hoje UNIVALE.
- 1975 a 1982 – Professor de Estudos Sociais na Escola Superior são Francisco de Assis, ESFA.
- 1982 – Definidor da Província do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Leste Mineiro. Professor de Filosofia no Seminário de Itambacuri.
- 1986 – Congresso de Filosofia em Monterey, México.
- 1990 –  Coadjutor em Conceição do Mato Dentro, MG. Viagem à Itália.
- 1995 – Santa Teresa – Criação da Faculdade de Ciências Biológicas na ESFA.
- 1999 a 2000 – Professor de Filosofia no Seminário de Itambacuri.

Falecimento

Frei Agostinho faleceu em 9 de maio de 2007 no Rio de Janeiro e seu corpo foi levado para Itambacuri, onde, após uma emocionante cerimônia religiosa, foi enterrado no cemitério local.

Fotos - Momentos Diversos

Frei Agostinho com os pais: Augusta e Domingos.

Reinstalação da cruz no Morro do Cruzeiro.
Celebração no Morro do Cruzeiro.
Reunião com políticos em Brasilia.
Homenagem concedida pela FAGV.
Cerimônia de Ordenação.
Livro Civilização e Revolta - de Izabel Missagia de Mattos - do qual foi um grande colaborador.

QUARTA-FEIRA, 9 DE NOVEMBRO DE 2011

Professor Mendonça

José Vicente de Mendonça (Rio Vermelho, 19 de julho de 1897 – Itambacuri, 19 de junho de 1965) foi um professor, escritor e jornalista mineiro.

Trajetória: Rio Vermelho, Diamantina e Belo Horizonte

José Vicente de Mendonça nasceu na cidade de Rio Vermelho, interior do estado, no dia 19 de julho de 1897. Seus pais eram Eustáquio Fernandes Mendonça e Idalina Rosa de Jesus.

Ingressou na escola primária no ano de 1903. Em 1908, após terminar o curso, foi para o Seminário Episcopal de Diamantina, onde ficou por 3 anos e concluiu o colegial. Foi colega de classe do general Olímpio Mourão Filho e contemporâneo do ex-presidente Juscelino Kubitschek.

Depois deste período, deu seqüência aos estudos em Belo Horizonte no Instituto Claret (hoje Colégio Claretiano Dom Cabral), sob a direção dos padres Salesianos. Ao término dos estudos na capital, voltou para Rio Vermelho.

Na cidade, trabalhou como professor em escola primária. Foi o criador do jornal “O Rio Vermelho”. Em 1914, fundou a Biblioteca Pública Padre Câmara.

Sempre envolvido em atividades culturais, o professor era também poeta e fundou o Grêmio Literário em junho de 1917. Neste mesmo ano, no dia 26 de agosto, foi encenada a primeira peça teatral escrita por ele.

É o autor da letra do hino da cidade de Rio Vermelho e escreveu um livro intitulado Minha Terra.

No dia 21 de abril de 1918 casou-se com Raimunda Augusta da Cunha, com quem teve os filhos Antônio Augusto de Mendonça (Tó de Mendonça) e Maria Aparecida da Cunha Mendonça

Em 1920 fundou o Clube Tiradentes. Criou a Comissão Pró-Vida em Rio Vermelho e a Comissão Pró-Distrito em Serra Azul de Minas.


Itambacuri

Professor José Vicente de Mendonça chegou a Itambacuri no ano de 1924, a convite de Dr. Pedro Autran - então chefe do executivo municipal. O objetivo era que ele ajudasse na organização jurídica e administrativa do recém-criado município.

Tornou-se o primeiro funcionário nomeado para a Câmara Municipal, através da Portaria nº 01 de 18 de maio de 1924. Em seguida, foi nomeado membro do Conselho Escolar – Diretor da Secretaria da Câmara e Professor.

No ano de 1925 foi para a cidade de Paulistas, onde trabalhou como professor e farmacêutico, voltando para Itambacuri em 1926.

Professor Mendonça trabalhou por mais de 15 anos no Colégio Santa Clara, onde lecionou Português, Latim, Francês e História. Além do magistério, atuou em várias outras áreas – incluindo participações importantes na administração da cidade. 
Prof. Mendonça no Colégio Santa Clara.
Era também músico, foi Sub-Coletor, Escrivão de Paz e Tabelião de Notas. Foi presidente da primeira mesa preparadora para a fundação da União Operária de Itambacuri e secretário da Junta de Alistamento Militar.

Foi o fundador dos jornais O Itambacuri e A Sentinela. O primeiro circulou quinzenalmente entre 1927 e 1938, sendo o único veículo noticioso da cidade na época. Anos depois, o jornalista Guira Marques retomou a produção do jornal. Já A Sentinela começou a circular a partir de 1º de março de 1951 e teve curta duração. Foi criado com o apoio de Ildeu Esteves Guedes e Serafim Ângelo da Silva Pereira.

Presidiu a Terceira Diretoria da Conferência Vicentina Nossa Senhora dos Anjos, cargo que exerceu de 6 de março de 1927 a 19 de junho de 1949.

O professor José Vicente de Mendonça faleceu no dia 19 de junho de 1965, aos 67 anos. 

Homenagens

Uma das homenagens ao Professor Mendonça foi prestada através da lei nº 54/61, de 11 de julho de 1961, que deu seu nome a uma rua de Itambacuri. A proposta foi apresentada pelo prefeito Dr. Firmato, na primeira gestão. Informalmente a via também é conhecida como “Rua das Sete Casas”.

O antigo Ginásio também registrava uma homenagem. Tinha o nome de Pio XII, mas depois passou a ser Escola Estadual Professor José Vicente de Mendonça. No entanto o Ginásio foi fechado há alguns anos, dando lugar a uma escola particular.

Fontes

- Jornal O Itambacuri, Ano I, edição nº 3, de 11 de outubro de 1978.
- PEREIRA, Serafim Ângelo da Silva. Itambacuri e Sua História – Volume II. Edição Independente. Belo Horizonte, 1991.
- PEREIRA, Serafim Ângelo da Silva. Itambacuri e Sua História – Volume III. Líthera Maciel Editora Gráfica Ltda. Contagem, 1999.
- Revista Itambacury Ano 100. Edição comemorativa independente. Itambacuri, 1973.
Benfeitores de Rio Vermelho. Página da Prefeitura Municipal de Rio Vermelho.
Disponível em: http://www.pmriovermelhomg.com.br/index.php?pg=historia&pgn=4. Visitado no dia 8 de novembro de 2011.

SÁBADO, 22 DE OUTUBRO DE 2011

Domingos Pacó

Domingos Ramos Pacó (Itambacuri – 1867, Campanário – 1935) foi um intérprete e professor indígena bilíngüe.

Foi o primeiro professor indígena do aldeamento de Itambacuri. No seu legado, merece destaque a elaboração de um manuscrito onde ele apresenta um parecer sobre a origem das cidades de Itambacuri e Igreja Nova (atual Campanário).

História

Domingos Pacó é filho de Félix Ramos da Cruz e Umbelina Ramos da Cruz. O pai, Félix, já se encontrava estabelecido na região onde hoje é Itambacuri antes mesmo da chegada dos padres fundadores da cidade. A mãe, Umbelina, era uma índia filha do Capitão Pahóc.

Capitão Pahóc

Capitão Pahóc foi um chefe indígena que teve grande importância para o sucesso do aldeamento de Itambacuri. A missão dos fundadores não teria sido possível sem a negociação e conquista do apoio das lideranças indígenas que estavam sob o comando de Pahóc.

O grupo sob sua liderança era formado por 800 guerreiros, além de outros 100 homens localizados em regiões de limites, em pontos estratégicos, para a defesa contra possíveis incursões de inimigos.

Pahóc costumava se relacionar com os não-índios. Nessas ocasiões era acompanhado por um número considerável de membros da tribo e do língua (intérprete) Félix Ramos da Cruz – com quem já havia estabelecido parceria antes mesmo da chegada dos fundadores.

Félix Ramos da Cruz

Félix Ramos da Cruz tinha relações de amizade com o Capitão Pahóc e era um grande conhecedor da região. Além disso, era também um importante língua. Os línguas gozavam de reconhecido prestígio, advindo de sua habilidade em intermediar, por meio de simultânea tradução oral, aquela que era considerada uma difícil (e às vezes perigosa) comunicação entre indivíduos de diferentes culturas.

Os línguas não dispunham de livros para a aprendizagem do idioma, até porque, ao que se sabe, o primeiro registro do falar daqueles índios foi publicado apenas em 1909, na Alemanha, graças ao esforço de Bruno Rudolph - imigrante que elaborou dicionário em alemão da língua botocuda. Assim, a comunicação com os índios era orientada tão somente pelo esforço constante e habilidade dos línguas.

Félix casou-se com Umbelina, uma índia filha do Capitão Pahóc. A união inaugurou o livro de registros dos diretores do aldeamento, sendo o primeiro casamento oficializado em Itambacuri pelos fundadores Frei Serafim e Frei Ângelo, um ano após instalada a missão.
Dessa forma, Félix reunia não apenas a figura de um “nacional” que guardava profundos conhecimentos sobre a região e domínio da comunicação com os índios, mas também representava um elo ainda mais importante no trato de confiança com estes, sendo um importante mediador político.

Do relacionamento de Félix com Umbelina nasceu Domingos Ramos Pacó.

O Professor

Domingos Pacó foi o primeiro professor de origem indígena da região do aldeamento de Itambacuri.

Pacó foi alfabetizado pelos padres fundadores (diretores do aldeamento) e atuava como sacristão. Em seguida passou a exercer o cargo público de secretário, ecônomo e professor. Recebeu o título do magistério a 3 de janeiro de 1882, iniciando imediatamente suas atividades. Na época, Pacó tinha apenas 15 anos de idade.

O professor Pacó lecionava para filhos de indígenas e de não-indígenas em uma escola feita de pau a pique – localizada nas proximidades do convento da cidade.  Permaneceu no cargo por 19 anos, até ser substituído, em 1901, pelo professor Manuel Pereira Tangrins.

Manuel Pereira era um músico casado com uma índia. A alcunha Tangrins, que lhe foi dada pelos índios e é apresentada como sobrenome, significa “músico” na língua dos nativos.

A substituição de Pacó teria sido motivada pela negligência com o cargo. O professor havia se tornado alcoólatra, o que comprometia, além da saúde, as atividades como educador. Além disso, pode-se inferir que a demissão do professor tenha se imposto sob um novo conjunto de regras relativas à administração escolar dos índios, adotada nos primórdios da República pelos diretores da então colônia indígena.

O Manuscrito de Pacó

Uma das realizações de Domingos Ramos Pacó foi a redação de um manuscrito de grande valor histórico, considerado um dos raros documentos escritos por um índio brasileiro no século XIX.

O trabalho é apresentado em 22 páginas de papel almaço, redigido com bela caligrafia, e apresenta, entre outras impressões, uma visão particular sobre a origem das cidades de Itambacuri e Igreja Nova. A obra é intitulada “Pequena narração ou origem de como foi descoberto o Itambacuri – 1873”.

O manuscrito apresenta notícias históricas e é também interessante pelo expresso amor à raça e língua indígenas, contendo várias passagens escritas no idioma original de Pacó. Em uma dessas passagens, Pacó traça um auto-retrato e se coloca entre os primeiros professores de Itambacuri.

Ele fala também sobre os padres fundadores afirmando que eles, conhecendo sua inteligência e aproveitamento nas letras, pediram ao Governo Provincial autorização para incluí-lo no ensino do aldeamento indígena de Itambacuri.

Pacó aproveita para registrar que sua escola chegou a ter o maior número de matrículas de filhos de indígenas. No texto, também fica clara a mágoa com ex-alunos que tiveram com ele “conhecimentos úteis a respeito da instrução primária e, agora que ocupam cargos, sentem vergonha de dizer que foram educados por um professor indígena”. E segue, reprovando os que se envergonham da descendência indígena.

No seu relato, Pacó descreve uma visão da selva diferente da dos colonizadores. Para ele, a selva era um local de recreação, idéia que contrasta com os medos e perigos descritos pelos missionários. Pacó ressaltava que todos aqueles córregos, rios e serras já possuíam um nome em língua indígena antes mesmo da chegada dos colonizadores.

Segundo Izabel Missagia de Mattos, a memória da fundação da missão em Itambacuri, escrita pelo professor, pode ser lida não apenas como crítica, mas, no limite, como uma verdadeira denúncia da pedagogia excludente e da invisibilidade gerada sobre a participação do indígena no trabalho realizado pelos capuchinhos.

Fim da vida

Após deixar o magistério, Pacó retirou-se para as matas. Tempos depois, mudou-se para Igreja Nova (atual Campanário) onde, a pedido de moradores, chegou a abrir uma escola e lecionar.

Pacó foi casado com uma indígena de nome Zulmira Jupeti, com quem teve filhos.
O professor bilíngüe, figura de importância além da história itambacuriense, viveu seus últimos anos na cidade de Campanário, onde faleceu no ano de 1935.

Referências bibliográficas

- MATTOS, Izabel Missagia de. Civilização e Revolta – Os Botocudos e a Catequese na Província de Minas. EDUSC. Bauru – 2003.
- MATTOS, Izabel Missagia de. Domingos Ramos Pacó, professor bilíngüe e intérprete do aldeamento missionário do Itambacuri, MG. XXIV Simpósio Nacional de História, São Leopoldo - 2007. Seminário Temático Os Índios na História: Fontes e Problemas.
- PALAZZOLO, Frei Jacinto de. Nas Selvas dos Vales do Mucuri e do Rio Doce. 3ª Edição. Companhia Editora Nacional. São Paulo - 1973.
- BRASILEIRO, Danielle Moreira. O Aldeamento Indígena Nossa Senhora dos Anjos - 
PACÓ: Memória e indigenismo no Vale do Mucuri – MG. Associação Nacional de História – ANPUH. XXIV Simpósio Nacional de História. São Leopoldo – 2007.

Relíquias de Frei Ângelo - 1950

Relíquias de Frei Ângelo recolhidas na ocasião do traslado dos seus restos mortais para o Santuário de Nossa Senhora dos Anjos, em 1950.

Imagens do cômodo onde ficavam abrigadas as relíquias do antigo Museu de Itambacuri, criado e conservado por Frei Agostinho, até onde ele teve condições. Leia mais sobre o Frei clicando neste link: Frei Agostinho.

Hoje, algumas das peças encontram-se na Casa de Cultura da cidade. Porém a Igreja manteve artigos de maior interesse histórico-religioso. Cabe o registro e o desabafo: muitas peças de valor histórico "se perderam" na mudança do Museu para a Casa de Cultura. Não se sabe em qual etapa do processo.



SEGUNDA-FEIRA, 15 DE JULHO DE 2013

Objetos de Frei Inocêncio

Frei Inocêncio é, sem dúvida, um dos personagens mais importantes da história religiosa de Itambacuri. Figura bastante conhecida, especialmente pelos casos de exorcismo, frei Inocêncio estará em breve entre os biografados da Itypédia. No momento, publicamos uma foto que reúne alguns objetos relacionados a ele, conservados no acervo do Convento em Itambacuri.



DOMINGO, 19 DE MAIO DE 2013

Frei Agostinho


Ramiro Francisco (Frei Agostinho) nasceu em  22/01/1932 no município de Teófilo Otoni - MG, na localidade de São Miguel do Pita.

Seu registro de nascimento ocorreu somente em 1937 em Itambacuri - MG,  quando seus familiares já moravam nesta cidade.

Fez o curso primário nas Escolas Reunidas Frei Gaspar de Módica com as professoras Dona Lília, Dona Silvia Timo e Dona Maria Luzia Esteves Lima. Sua preparação para o sacerdócio começou no Seminário Seráfico São Francisco de Assis em Santa Teresa, ES, onde estudou de 22/01/1945 a 1949. 


Para lá foi enviado por Frei Daniel Maria de Mineo junto com Lulu, Geraldo Dias, (Frei Angélico, que depois  passou a chamar-se padre Geraldo, como secular). Professores: Dario Cozer, Guilherme Guisen, Frei Frederico, Frei Tarcísio, Frei Querubim, Frei Jamaria, Frei Afonso.

Prestou o Noviciado em 1950 em Taubaté, São Paulo, com o mestre Frei Epifânio. Cursou Filosofia em Itambacuri de 1951 a 1954, com os professores Frei Fernando, Frei Vital, Frei Geraldo de Sortino, Frei Sisto.

Convite para a ordenação de frei Agostinho.
Cursou Teologia de 1954 a 1957. Os professores foram Frei Fernando, Frei Vital, Frei Gabriel, Frei Sisto, Frei Estêvão. Transferido para o Rio de Janeiro, lá foi Vigário Paroquial. E cursou o bacharelado em Filosofia na Universidade do Distrito Federal (atualmente UERJ).

Frei Agostinho acompanhando procissão no Rio de Janeiro.
Cronologia

- 1961 – Professor de Filosofia no Seminário de Itambacuri. Professor de Filosofia e de Psicologia no Colégio Santa Clara. Professor de Estudos Sociais no Colégio Pio XII e no Colégio Estadual Professor Mendonça.
- 1962 – Trabalho nas comunidades Vila Pedreira e Vila Formosa. Estudos de Problemas Brasileiros, na PUC do Rio de Janeiro, RJ.
- 1963 e 1964 –  Escolas Radiofônicas do Movimento de Cultura Popular. Sua ligação com este movimento,  o MCP, foi o principal motivador de sua prisão em 1964. 
- 1964 – Início da construção do prédio da Escola de Vila Formosa. Preso pela ditadura , ainda nos tempos do Governo Castelo Branco, acusado de subversão. Trabalhar para melhorar a vida dos pobres era perigoso naqueles tempos. Ficou confinado  durante uma semana em Governador Valadares, sem visitas e sem quaisquer notícias de familiares ou de outras pessoas.
- 1964 a 1972 – Dedicou-se a melhorar as escolas da periferia, inclusive nelas disponibilizando a merenda escolar.
- 1965 – Licenciatura plena em Filosofia pela Universidade Católica de Belo Horizonte (PUC). Início das aulas da Escola Vila Formosa e Vila Pedreira. Curso de Psicologia, na  PUC do Rio de Janeiro, RJ.
- 1966 – início do ensino chamado de  Curso Complementar,  com aulas de Corte e Costura, Puericultura, Culinária, Carpintaria, Cerâmica, Comércio, Horticultura – curso depois  denominado de  madre Serafina.
- 1966 a 1972 – Professor de Sociologia e Psicologia da Faculdade de Teófilo Otoni.
- 1970 e 71 – Organizador e Professor da Faculdade de Filosofia de Governador Valadares,
- 1972 – Rio de Janeiro – Diretor do Serviço Social de São Sebastião no Morro do Turano – Curso de Carpintaria, Pintura de parede, Instalação Elétrica e Hidráulica. Presidente da Cooperativa Habitacional São Sebastião e Frei Cassiano, por meio das quais, entre 1972 e 1982 foram construídos cerca de 1500 apartamentos.
- 1972 a 1975 – Fundação da Faculdade de Administração de Empresas em Governador Valadares, hoje UNIVALE.
- 1975 a 1982 – Professor de Estudos Sociais na Escola Superior são Francisco de Assis, ESFA.
- 1982 – Definidor da Província do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Leste Mineiro. Professor de Filosofia no Seminário de Itambacuri.
- 1986 – Congresso de Filosofia em Monterey, México.
- 1990 –  Coadjutor em Conceição do Mato Dentro, MG. Viagem à Itália.
- 1995 – Santa Teresa – Criação da Faculdade de Ciências Biológicas na ESFA.
- 1999 a 2000 – Professor de Filosofia no Seminário de Itambacuri.

Falecimento

Frei Agostinho faleceu em 9 de maio de 2007 no Rio de Janeiro e seu corpo foi levado para Itambacuri, onde, após uma emocionante cerimônia religiosa, foi enterrado no cemitério local.

Fotos - Momentos Diversos

Frei Agostinho com os pais: Augusta e Domingos.

Reinstalação da cruz no Morro do Cruzeiro.
Celebração no Morro do Cruzeiro.
Reunião com políticos em Brasilia.
Homenagem concedida pela FAGV.
Cerimônia de Ordenação.
Livro Civilização e Revolta - de Izabel Missagia de Mattos - do qual foi um grande colaborador.

SEGUNDA-FEIRA, 11 DE JUNHO DE 2012

Frei Dimas


Dimas de Castro Neves nasceu em Itambacuri no dia 11 de junho de 1934. É filho de Augusta de Castro Neves e Domingos Francisco das Neves.

Ingressou no Seminário no ano de 1950. Enquanto seminarista estudou em Santa Teresa (1950) e Itambacuri (1951-1953) no Seminário Nossa Senhora dos Anjos.

Fez o noviciado em Taubaté - SP, sendo recebido ao hábito com o nome de Frei Adauto de Itambacuri. Professou, porém, como Frei Celestino de Itambacuri. Fez os votos perpétuos em Itambacuri.

Ordenou-se sacerdote no Rio de Janeiro, na Igreja Nossa Senhora das Graças, Paróquia de São Sebastião. Diante da permissão da Ordem no pós-concílio, retornou o nome de batismo. Integrou as Fraternidades:

Rio de Janeiro (1961-1962): curso de pastoral; Itambacuri (1963-1968): vigário cooperador e em 1966-1968, guardião e pároco; Conceição (1969-1974): guardião e pároco, cursando espiritualidade franciscana em Petrópolis, no CEFEPAL, em 1974; Petrópolis (1975-1983): guardião e pároco e, em 1979-1981, diretor dos Estudantes; Rio de Janeiro (1984-1986): Ministro Provincial; Conceição (1987-1995): guardião e pároco e, em 1990-1995, também ecônomo local; Santa Teresa (1995): vigário paroquial;São Gonçalo (1996): guardião e vigário paroquial; Petrópolis (1997-1999): diretor dos estudantes e vigário paroquial.

Em 2011, frei Dimas comemorou 50 anos de vida sacerdotal, quando já se passavam mais de 60 anos de vida religiosa. Abaixo, segue a autobiografia do frei Dimas, escrita em 2012. O texto foi dividido em 2 partes, sendo esta a primeira.

Biografia

Nasci em Itambacuri no ano de 1934, oriundo de família pobre e com muitos problemas. Dos oito filhos eu era o quarto, em ordem decrescente. Desde cedo precisei ajudar aos meus pais. Dividia assim o meu dia entre apanhar lenha no mato (para mamãe cozinhar), e freqüentar a escola.


Quando as aulas eram pela manhã, subia a montanha à tarde; quando as aulas eram à tarde, subia a montanha pela manhã. Assim, conheço todas as montanhas que circundam a cidade.

Aos 12 anos fui trabalhar no armazém de um amigo nosso e, ao mesmo tempo, comecei a aprender com ele o ofício de latoeiro.

Senhor Domingos e Dona Augusta
Mamãe, uma pessoa muito fervorosa, assistia missa todos os dias às 5h30 da manhã, porque não havia missa vespertina. Mesmo a missa sendo celebrada em latim pelo padre, que ficava de costas para o povo, era edificante o fervor de mamãe rezando e comungando.

Influenciado pelo meu irmão Ramiro (frei Agostinho), que já estava no Seminário em Santa Teresa - ES, e porque acompanhava mamãe às celebrações, fui convidado para ser coroinha. 

Assim, a minha convivência com os Padres me proporcionou novos horizontes, e convidado por eles fui preparado para ingressar no Seminário Capuchinho em Santa Teresa, ES.

Fui para o Seminário no final do ano de 1950, onde cursei o primeiro ano ginasial em 1951. Voltei a Itambacuri onde continuei cursando o ginasial durante os anos de 1952 e 1953. Em 24/12/1953 ingressei no Noviciado em Taubaté - SP, recebendo o nome de Frei Adauto de Itambacuri. 

Lá permaneci durante todo o ano de 1954. Aceito na Ordem Capuchinha, emiti os votos temporários em 24 de dezembro de 1954, recebendo o nome de Frei Celestino de Itambacuri, a pedido de uma madrinha que eu ainda nem conhecia (mais tarde apresentaram-na a mim e soube que seu nome era Cordélia).

Frei Dimas com os pais
Voltando a Itambacuri, cursei Filosofia no Seminário Nossa Senhora dos Anjos. Terminados os três anos de votos temporários e o curso de Filosofia, emiti os votos perpétuos em 25/12/1957.

Para melhorar e aperfeiçoar os cursos de Filosofia e Teologia, as Custódias do Rio de Janeiro e de Minas Gerais se uniram, ficando o curso de Filosofia em Itambacuri e o curso de Teologia em Belo Horizonte.

Em razão desta mudança, no início de 1958 fui transferido para a Capital mineira onde permaneci durante três anos, cursando do primeiro ao terceiro ano de Teologia. Na época os estudos eram realizados nos nossos conventos, com professores capuchinhos. Não só tínhamos muitos feriados, mas também com muita facilidade éramos tirados da sala de aula para ajudarmos a solucionar algumas dificuldades nas áreas de hidráulica, elétrica e outros trabalhos manuais.

Em Itambacuri eu ajudava os mais experientes; em Belo Horizonte passei a ser o mais solicitado para essas tarefas. Até hoje, quando visito o Convento dos Capuchinhos em BH, vou olhar o trabalho que realizei na Igreja, que na época estava em construção.
Com idade canônica para ser ordenado sacerdote um ano antes de terminar os estudos, fui transferido para o Rio de Janeiro no final de 1960 para cursar o quarto ano de Teologia no Seminário São José, no Bairro do Rio Comprido.

No Rio, sendo nosso superior (ou custódio, como dizíamos)  o frei Sixto, um linha dura, eu não tinha nenhum momento de folga ou lazer. Além da freqüência às aulas, no convento eu estava sempre ocupado com trabalhos. Encontrava um pouco de diversão ao lado de Frei José, ouvindo os sucessos musicais nacionais e internacionais após o almoço e à noite. 

Iniciado o ano de 1961, os superiores começaram a pensar no Presbiterado. Dom José Maria Pires, Bispo de Araçuaí, estaria em Itambacuri em visita Pastoral, e poderia fazer os procedimentos para minha Ordenação Sacerdotal.

Assim, foi marcada minha Ordenação para o dia 11/03/1961 e a primeira missa para o dia seguinte, domingo. Esta data consta no fundo do cálice, doado por minha madrinha, Cordélia Monte.

Tudo certo, pensado e aprovado, foi pedido no Seminário São José os documentos de praxe para a transferência da Ordenação do candidato para outro domicilio e outro Bispo ordenante, Dom José Maria Pires.

Com os documentos em mãos embarquei no ônibus da São Geraldo e, pela rodovia Rio Bahia, que não era asfaltada, viajei para Itambacuri. Ali chegando, entreguei a documentação ao superior local, Frei Henrique (cujo nome de batismo era Laudelino) e iniciei o retiro de oito dias. 

Absorto em orações, percebia o barulho e a movimentação de Frei Henrique com seus auxiliares montando o tablado, da mesa de comunhão até o altar mor, para a ordenação. 

Os tais documentos que entreguei a frei Henrique, parece que somente teriam sido entregues ao Bispo na sexta-feira à tarde, na véspera da Ordenação. Verificando os papéis, Dom José Maria Pires não os aceitou, alegando que eles não continham o nome do bispo do Rio comprovando minha idoneidade e, em razão disso, a ordenação não poderia ocorrer.

A partir desta afirmação do bispo travou-se uma grande batalha: de um lado Frei Sixto, Frei Cassiano, Frei Henrique e outros mais; do outro lado Dom José. 

Com argumentos dos mais renomados canonistas do passado e do presente, tentaram convencer ao Bispo de que a presença do Frei Sixto, meu superior, seria o suficiente para atestar minha idoneidade de modo a que minha ordenação pudesse ocorrer.

Não aceitando os argumentos, o Bispo foi dormir à meia-noite, deixando a batata quente nas mãos do superior. Nós, Capuchinhos, não dormimos nada. Às 5 horas da manhã do dia seguinte, dia da ordenação, o Bispo estava de pé querendo saber das providências tomadas. 

Como não foi possível obter o documento que o Bispo queria, devido à distância e a precariedade dos meios de comunicação entre Itambacuri e Rio, o Bispo bateu o martelo dizendo que não haveria ordenação. 

(Continua na próxima postagem)

Frei Dimas (continuação)

Os frades ficaram revoltados, e eu às 5h30 fui para a casa de meus pais dar essa notícia. Mamãe, que estava tirando do forno o último pedaço de leitoa assada para a festa que se seguiria à ordenação, me respondeu: Deus sabe o que faz! Fiquei por ali, transmitindo a notícia aos irmãos e parentes, de que não seria ordenado naquele dia.

Os frades silenciaram, nada informando pelo auto-falante à população da cidade, fundamentados no fato de que se culpassem o Bispo, o povo se voltaria contra ele. 

Na hora prevista, 10 horas da manhã, a população com roupas festivas lotou a Igreja Matriz N. S. dos Anjos para a cerimônia. Todo mundo assistiu a missa do bispo sem entender nada, já que não houve a ordenação prevista. Uns comentavam que o candidato a padre desistira; outros diziam que ele não teria sido aceito pelo Bispo. Ao meio-dia os padres me levaram para o salão nobre do Ginásio Pio XII para o banquete festivo sob o argumento de que a festa não teria como ser cancelada.

Jovens da sociedade itambacuriense vestidas como garçonetes serviam as mesas; a banda de música tocava marchinhas; e o Dr. José Transfiguração Figueiredo teve de improvisar, no discurso que preparara previamente, dizendo que naquele dia eu estava sendo "eleito", e na semana seguinte seria “empossado”. 

Frei Sixto, com crise de choro, foi levado para passear em Teófilo Otoni; eu, aplaudido, fui para a casa de meus pais participar da recepção do povo em festa, comendo e bebendo. Assim terminou o dia da ordenação que não aconteceu!

No dia seguinte, no avião Douglas, de 36 passageiros, da Lóide Aéreo Nacional, viajei com Frei Sixto para o Rio, para ser ordenado padre. Lá chegando, nova dificuldade!

No sábado dia 18, às 10 horas, no altar-mor, já estava marcada a celebração de uma missa, e a pessoa  que havia solicitado esta missa não  foi encontrada para remarcá-la para outro dia, e assim a ordenação não poderia acontecer  em nossa Igreja.

As irmãs do Hospital São Vicente, na Rua do Matoso, emprestaram a capela, hoje Santuário da Medalha Milagrosa, e assim às 10 horas do dia 18 de março de 1961 fui ordenado padre. 

Estavam presentes os frades Frei Sixto de Cássaro, Frei Jamaria de Sortino, Frei Gaspar de Módica, Frei Geraldo de Sortino, Frei José de Santa Teresa, uma prima com a filha, que moravam no Rio; e também a madrinha Cordélia que substituiu mamãe na cerimônia de descobrir as mãos, e muitos paroquianos amigos. Em seguida houve um almoço só para os mais próximos, no convento.

Com alguns pertences em uma pasta de mão, no dia seguinte pela manhã parti com Frei Sixto no avião da Nacional de volta a Itambacuri, desta vez para a primeira missa.

Para a época, a recepção foi calorosa! Ao descer do avião, vislumbrei através da poeira provocada pelo pouso, muita gente e muitos carros. Fiquei emocionado!

Na carreata até a Capela do Sagrado Coração de Jesus, contavam-se uns 30 jipes que acompanhavam o único automóvel pertencente a Dr. Firmato, no qual eu me encontrava. 


Da capela caminhamos até a matriz N. S. dos Anjos, onde celebrei minha primeira missa ás 10 horas da manhã de domingo, 19 de Março. Voltando ao Rio, não só encarei aulas e trabalhos manuais, mas também  missas, batizados e casamentos.

O ano de 1961 passou rápido; 1962 chegou trazendo novidades: recebi autorização para atender confissões, fui colocado como Capelão do Colégio Maria Raythe, e ingressei no curso de Pastoral no Convento Santo Antônio no Largo da Carioca. Não me lembro qual o mês e nem por quanto tempo, sei que foi uma experiência maravilhosa estar junto de Frei Felix, irmão leigo de quase 90 anos e cego dos dois olhos. Dormia no mesmo quarto ao lado dele cuidando da alimentação, do banho, dos medicamentos e da limpeza do quarto. 

Acordado, de dia ou de noite, frei Felix estava sempre rezando. Era um religioso manso, humilde, muito calmo e que parecia aceitar muito bem a cruz da cegueira; aprendi muito com ele! Terminado o curso de Pastoral, fui transferido para Itambacuri como Vigário Cooperador, juntando-me a Frei Sixto no atendimento às comunidades do interior.

Chamado às pressas ao Rio, por Frei Agatângelo, frei Sixto deixou Itambacuri para ser Pároco da Paróquia N. S. das Graças, no Bairro Porto Velho, em São Gonçalo, RJ. Fiquei sozinho como vigário, auxiliado por Frei Antonio (hoje, bispo).

No início de 1964 levei Frei Boaventura ao Rio para tratar de um câncer na orelha. Ele ficou no Rio e eu me hospedei com Frei Sixto em São Gonçalo, e foi por isto que não me encontrava em Itambacuri quando Frei Agostinho foi preso por ocasião do início do golpe de estado, em março de 1964.

Permanecendo em Itambacuri, assumi como guardião e pároco de 1966 a 1968 o Convento e a paróquia N. S. dos Anjos. No início de 1969 me transferiram para Conceição do Mato Dentro, MG, substituindo Frei Agatângelo de Sortino nas funções de guardião e pároco.

Apesar de ele ter anunciado a chegada de Frei Celestino, uma lei eclesial nos levara a readotar o nome de batismo e, portanto, lá cheguei como Frei Dimas. 1972 me trouxe uma surpresa agradável: fui escolhido para representar a Custódia na eleição do Provincial de Siracusa, Itália, juntamente com o Custódio Frei Sixto. Fomos então para a Europa, tendo conhecido a Itália e outros países, durante três meses.

Em 1974 fui escolhido para fazer um curso de franciscanismo no CEFEPAL durante nove meses, em Petrópolis, na Rua Monsenhor Bacelar. Voltando para Conceição do Mato Dentro no final de novembro, fui transferido no início de 1975 para Petrópolis como Pároco da Paróquia São Sebastião do Indaiá e guardião da nossa residência na Capela N. S. Aparecida.

Repetindo o triênio em Petrópolis, assumi também o encargo de diretor dos estudantes que lá se preparavam para o sacerdócio, de 1979 a 1981. No carnaval de 1982, depois de duas cirurgias por causa de uma apendicite não diagnosticada, passei 29 dias no CTI do hospital da Providência, das irmãs Vicentinas.

Da esquerda para a direita: frei Henrique, padre Lauro, frei Jair, frei Agostinho, frei Dimas e frei Roberto.
Eleito Provincial, fui para o Rio de Janeiro, onde fiquei de 1984 a 1986. Alguns meses depois voltei para Conceição do Mato Dentro, onde em 1993 recebi a dolorosa incumbência de preparar a Paróquia para ser devolvida à Diocese de Guanhães. Depois de tudo resolvido, dia cinco de Fevereiro de 1995 deixei Conceição do Mato Dentro com o coração partido, em direção ao Rio de Janeiro.

No Rio demorei pouco tempo, e ainda em 1995 fui para São Gonçalo, RJ, Paróquia N. S. das Graças. De 1997 a 1999 novamente fiquei em Petrópolis como diretor dos nossos estudantes de filosofia e teologia. Do final de 1999 até  2002 permaneci em Niteról como Pároco da Paróquia de Santo Cristo dos Milagres.

No ano 2000, pedi e me foi concedido fazer a experiência de Assis dirigida pela Família Franciscana, ex-CEFEPAL, durante um mês, em Assis e nos lugares onde Francisco esteve; no final do curso, fui à terra Santa.

Quando foi eleito Provincial em 2003, Frei João Carlos me transferiu para Itambacuri como provedor do Santuário N. S. dos Anjos e administrador da fazenda. Lá permaneci em 2004 e 2005. De 2006 a 2007  trabalhei  em Teresópolis, RJ.

Em 2008 fui transferido para o Rio, mas logo em seguida a Ordem me mandou para Niterói, onde me encontro até hoje.

Celebrar é reviver, e foi assim que vivi esses últimos meses voltando ao passado e revivendo as etapas desses 50 anos, revigorando o meu SIM.

Como começou minha vocação? Não sei quando foi, como foi, e porque foi. Sei que, no avançar da caminhada, o horizonte longínquo foi se aproximando, e a resposta “quero” da pergunta você quer ir para o seminário?, encontrou terreno fértil onde pôde germinar, florescer e produzir bons frutos até os dias de hoje. 

“Me chamastes para caminhar na vida Convosco”, não porque eu mereço, mas porque Vós quereis.” E porque Sua graça nunca falta para aquele que escuta seu chamado, “Decidi para sempre segui-lo, e não voltar atrás”.

Segui-Lo é caminhar no seu passo e no seu compasso, e não ficar na montanha olhando para o alto e contemplando-o  transfigurado, junto a Moisés e Elias, mas é descer para a planície e socorrê-lo na pessoa do irmão necessitado ou aliviá-lo na “Criação que geme em dores de parto”.

Não posso esquecer que Jesus também sofreu pela fidelidade à vocação, para a qual o Pai O havia chamado. Isto tem me ajudado muito, no meu levantar quando cair; humilhar-me quando o orgulho me domina; pedir perdão quando ofendo.

A responsabilidade de Jesus em cumprir a missão de pregar a doutrina do amor num meio adverso até levou-o a ser morto como um malfeitor. Ele me ensina que a felicidade verdadeira está em carregar a cruz com constância, humildade e amor. Daí o convite para deixar a montanha e descer para a planície da vida diária.

Aqui não só a cruz das minhas necessidades e fragilidades é pesada e me angustia como também os sofrimentos dos irmãos sem voz e sem vez. Esta é a cruz mais pesada! Foi ela que provocou as três quedas de Jesus no caminho do Calvário e o levou à morte. 

Foi ela que o levou a gritar do alto da cruz: Pai, se possível, afasta de mim este cálice! É ela que nos leva a fugir para a montanha, porque é penoso, estressante, e causa revolta conviver com ela na planície. 

É doloroso querer mudar o que não se consegue; salvar o que  aparentemente está perdido. Ser discípulo é trilhar os caminhos do Mestre, e é isto que busco há 50 anos. Obrigado Senhor porque és meu amigo, e nenhum caminho é longo demais, quando um amigo nos acompanha; por isso estou aqui.

Frei Dimas de Castro Neves.

SÁBADO, 22 DE OUTUBRO DE 2011

Fundadores de Itambacuri

Frei Serafim de Gorizia (Gorizia, 29 de maio de 1829 – Itambacuri, 3 de dezembro de 1918) e Frei Ângelo de Sassoferrato (Sassoferrato, 10 de abril de 1846 – Itambacuri, 2 de junho de 1926) foram padres missionários da Ordem dos Capuchinhos e fundadores da cidade de Itambacuri, Minas Gerais.


Frei Serafim e Frei Ângelo entre outros missionários.

Biografia - Frei Serafim

Frei Serafim nasceu na cidade de Gorizia, então território austríaco, mas que passou a integrar a Itália. Foi batizado como João Batista Madon. Seus pais eram Antônio Madon e Anna Maria Gomesck. Sua família pertencia ao alto escalão do governo austríaco.

Formou-se Engenheiro aos 20 anos de idade destacando-se, principalmente, em áreas como Ciências Sociais, Letras Filosóficas e Matemáticas. Com essas habilidades, venceu concurso para chefe de uma seção no Império Austro-Húngaro. Em um lugar de destaque e com sua competência, acabou despertando o respeito do Imperador Francisco José. O Imperador, ao tomar decisões importantes, costumava consultar a João Batista.

Em janeiro de 1858 foi enviado à Lombardia como chefe de uma comissão do império. João Batista conheceu então Giuseppe Garibaldi e foi por ele convidado a integrar a Carbonária, mas recusou. Foi na Lombardia que ele pôde conhecer de perto alguns membros da ordem criada por São Francisco e também refletir sobre a vocação religiosa, já manifestada.

Ainda em 1858, no dia 4 de maio, ingressou na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, na província de São Carlos, recebendo assim o nome de Frei Serafim de Gorizia.

Ao saber da decisão de João Batista, agora Frei Serafim, o imperador ordenou o envio de um médico ao convento do noviciado para que avaliasse se o jovem estava sofrendo das faculdades mentais. Se assim fosse, determinou o imperador, que o tirassem de lá e dessem o devido tratamento.

Após a realização de exames, foi considerado que Frei Serafim estava em perfeitas condições. O frei disse ao médico: “agradeço penhorado os cuidados do soberano, a quem dirá que estou gozando perfeita saúde e a paz, que só Deus sabe dar. Lamento, apenas, não ter conhecido antes este tesouro”.

No dia 30 de maio de 1859 fez a profissão simples e, decorridos os três anos prescritos, em 31 de maio de 1862, fez a profissão de votos solenes – por meio da qual o religioso consagra seu compromisso com a Ordem.

Por ser poliglota, Frei Serafim foi enviado a Trieste e incumbido da pregação para as minorias que ali existiam. O frei falava alemão, italiano, francês, esloveno, espanhol e, mais tarde, aprendeu também o português.

Teve início assim o seu ministério. Com o sucesso alcançado, Frei Serafim foi enviado como pregador e confessor à província dos Capuchinhos da Stíria-Ilíria, no Vale do Danúbio, na Áustria, com a carta obediencial de 1868.

Ficou neste posto por alguns anos. Suas atividades o tornaram apóstolo de todas as classes, bastante admirado, mas o sonho do Frei não era este. Ele queria ir além das fronteiras da Europa e levar seu apostolado onde fosse mais necessário.

Assim, em 18 de janeiro de 1871, chega a Roma com o objetivo de fazer parte das missões. Na cidade ele dispunha de meios para se preparar e seguir em missão ao Chile, como pretendia. E foi nessa situação que ele e Frei Ângelo se conheceram. 
Biografia - Frei Ângelo

Frei Ângelo nasceu em Colle della Noce, um povoado que pertencia à cidade de Sassoferrato, na Província de Ancona, Itália.
Foi batizado como Afonso Censi. Seus pais eram Lourenço Censi e Balduína Garofali. Afonso era de família pobre. Recebeu desde cedo educação cristã e freqüentava a igreja diariamente.
Gostava do ar místico dos conventos, onde ia constantemente em visita a dois tios: um Franciscano Observante e outro Capuchinho. Nessas visitas, o jovem Afonso começou a admirar o modo de vida daqueles filhos de São Francisco.
Aos 16 anos ingressou na ordem dos Menores Capuchinhos, vestindo o burel de São Francisco no dia 21 de novembro de 1863. Iniciou o noviciado no convento de Camerino com o nome de Frei Ângelo de Sassoferrato.

Nessa época, a Itália aspirava à sua independência e unificação. Aproveitando-se desse ensejo, seitas secretas desencadearam perseguição às ordens religiosas. Frei Ângelo fez os votos perpétuos no dia 21 de novembro de 1864 e, no ano seguinte, devido às convulsões revolucionárias e à supressão das ordens religiosas, foi obrigado a deixar sua pátria, indo para a França e, mais tarde, para a Suíça.

Durante seis anos continuou seus estudos aprofundando-se nas ciências filosóficas e teológicas, sob a direção do capuchinho italiano Frei José Fidélis, ex-definidor da ordem.

No dia 2 de abril de 1870 recebeu a unção sacerdotal. Mudou-se, então, para Grenoble, na França, e depois para Lucerna, na Suíça. No pouco tempo em que ficou em Lucerna, Frei Ângelo aprendeu elementos da língua alemã.

Nesse período, a Itália ainda enfrentava séria crise. Os religiosos se defrontavam com litígios que envolviam política e organizações como a maçonaria. Foi nesse ambiente que nasceu em Frei Ângelo a vontade de servir em missões. O próprio diretor, Frei Fidélis, reconhecendo suas qualidades, incentivou-o neste propósito. E ele assim fez.

Antes de seguir viagem para Roma, para tentar se inserir em alguma missão, Frei Ângelo passou por Sassoferrato e Colle della Noce, onde pôde rever sua mãe. Ele não a encontrava fazia oito anos, desde que se tornou sacerdote. A visita foi também uma despedida. Ele sabia que, indo para alguma missão, de lá não retornaria.

Sendo assim, no ano de 1871 estava em Roma, no Colégio São Fidélis, onde os futuros missionários se preparavam para partir. Frei Ângelo se apresentou com apenas uma carta de seu mestre.

O Encontro dos Missionários

Frei Serafim e Frei Ângelo se conheceram no Colégio São Fidélis enquanto se preparavam para as missões.

Frei Serafim pediu aos superiores para ser incorporado aos missionários que partiriam para o Chile, mas foi determinado seu embarque para o Brasil. Frei Ângelo não tinha preferências com relação ao destino.

Frei Serafim tinha então 43 anos e era um sacerdote experiente. Frei Ângelo tinha 27 e não conhecia muito além dos conventos.

Já em janeiro de 1872, Frei Serafim passeava pelo claustro do Colégio São Fidélis quando Frei Ângelo veio a seu encontro. Os dois não se conheciam e Frei Serafim perguntou-lhe o nome. Frei Ângelo respondeu e foi questionado se tinha algum país de preferência para o trabalho nas missões.

Ao responder que não, Frei Serafim o convidou a seguir com ele para o Brasil, pois procurava um companheiro que lhe ajudasse nas atividades missionárias. Frei Ângelo, que aguardava uma indicação do destino (ou divina), respondeu que sim.

Em 6 de fevereiro de 1872 eles receberam do superior-geral as “letras obedienciais”, estando assim nomeados como missionários apostólicos para o Brasil.
Partida para o Brasil

Antes de saír de Roma, os futuros missionários, cientes da responsabilidade que acabavam de assumir, prostraram-se em oração diante do túmulo de São Pedro e São Paulo, pedindo a Deus as graças necessárias ao êxito da missão.

Em seguida, o Papa Pio IX os recebeu para dar a bênção apostólica. O três conversaram por alguns minutos e o Papa se despediu com as palavras que Frei Ângelo registrou em seu caderno de anotações: “Ide, filhos caríssimos, evangelizai os indígenas e trazei-os ao aprisco do Senhor. A bênção de Deus e a Nossa Apostólica vos anime, vos fortaleça e vos ampare”.

No dia 19 de fevereiro os dois missionários partiram para Civitavecchia, onde embarcaram num pequeno navio costeiro que os levaria a Gênova. No porto da cidade encontraram o vapor Poitou, da companhia francesa Société Générale des Transports Maritimes à Vapeur, e a 10 de março seguiram para o Brasil.

O navio chegou ao Brasil após 25 dias de viagem. Os missionários seguiram para o convento do Morro do Castelo, no Rio de Janeiro, onde chegaram de surpresa. Eles foram recebidos com alegria pelo então comissário-geral Revmo. Frei Caetano de Messina e pelos demais religiosos da comunidade.

A Missão

Frei Serafim e Frei Ângelo ficaram no Rio de Janeiro apenas pelo tempo necessário para se orientarem acerca da missão e aprenderem os primeiros elementos da língua do país.

O governo tinha pressa em enviar missionários para ajudar a resolver uma séria situação que envolvia os índios da região do Mucuri, em Minas Gerais. Os missionários seriam responsáveis por chamar os índios da mata ao convívio da civilização e acabar com os repetidos massacres e incursões que espalhavam o terror.

O Ministro dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas – Barão de Itaúna – através da portaria baixada em 7 de junho de 1872, encarregou Frei Serafim de Gorízia da catequese dos indígenas nas colônias do Mucuri.

Ao mesmo tempo o Ministro comunicou ao Revmo. Comissário-geral dos missionários capuchinhos, Frei Caetano de Messina, a nomeação e requisição dos dois novos missionários. Por sua vez, Frei Caetano entregou-lhes as cartas obedienciais, discriminando as respectivas atribuições e confortando-os com sua bênção.

Alguns dias depois os missionários seguiram para Ouro Preto, então capital de Minas Gerais, onde receberiam instruções do diretor-geral de proteção aos índios, Sr. Brigadeiro Antônio Luís de Magalhães Mosqueira.

Para chegar a Ouro Preto seguiram até Juiz de Fora por estrada de ferro. Lá, foram recebidos pelo sargento Torquato Donato de Sousa Bicalho que, por ordem do diretor-geral, os levou a Ouro Preto. Esta parte da viagem foi feita a cavalo.

Frei Serafim e Frei Ângelo permaneceram em Ouro Preto por dois meses. Durante este período puseram-se a par da situação envolvendo índios e governo. Também aproveitaram para obter os conhecimentos indispensáveis ao bom desempenho da missão.

Providos de boa cavalhada e do necessário para a viagem, seguiram rumo a Filadélfia, hoje Teófilo Otoni, acompanhados pelo Sargento Torquato e por mais dois mestres. O itinerário a ser seguido era: Mariana – Morro do Pilar – Santa Maria de São Félix - Capelinha – Filadélfia.

Nasce Itambacuri

A viagem a cavalo durou 20 dias. A época do ano não era a melhor para uma incursão como aquela e as chuvas tornaram o caminho ainda mais penoso. Chegando a Filadélfia os freis tinham a missão de procurar o lugar ideal para instalar o aldeamento, desbravando as matas do Vale do Mucuri.

O povo de Filadélfia saudou com alegria a chegada dos franciscanos, na esperança de que ali ficassem. Mas não foi assim. Os missionários cumpriram as ordens recebidas ao saírem da capital do Império e deixaram o povoado de Filadélfia, retirando-se para a fazenda do Capitão Leonardo Esteves Otoni, distante de lá cerca de 25 quilômetros.

Capitão Leonardo se relacionava com algumas tribos de índios. Os Freis ficaram na fazenda por seis meses aprendendo, colhendo informações, fazendo observações, elaborando projetos e explorando a floresta à procura do melhor lugar para estabelecerem o aldeamento. Este lugar deveria servir como ponto estratégico para reunir diversas tribos de índios que vagavam nas imensas matas.

A floresta na região era densa, de mata fechada. Domingos Pacó[1] , filho das florestas da região, descrevia desta forma: “Era esta zona um lugar intransitável. Percorriam-no somente índios como: Crakeatan, Mucurim, Nhanhã, Catolés, Potão, Nacrechés, Aranãs e as feras bravias”.

Para se achar um local conveniente e de acordo com as instruções recebidas dos órgãos governamentais, era preciso estudar a região e percorrer a floresta bruta, tarefa difícil principalmente para dois freis – ainda mal aclimatados e nada familiarizados com semelhante empreitada. E ainda se deve levar em conta os grandes perigos que a selva oferecia.

Aos freis foram sugeridos alguns sítios como Potão, cujos terrenos ótimos estavam ocupados pelo Capitão Leonardo Esteves Otoni, a quem seria preciso indenizar. Os sítios Saudade, Planície e Cana Brava também apareceram como opção, mas não possuíam os requisitos exigidos e recomendados pelo governo Imperial. Tais sugestões partiam de interessados que, mais tarde, se revelaram inimigos da catequese.

O tempo passava e Frei Serafim se preocupava em encontrar logo o tal lugar. Na margem do rio São Mateus, o Frei mandou fazer uma derrubada, ajudado nesta tarefa pelos índios Potões, com os quais tinha estabelecido certa relação. Esses índios informaram a Frei Serafim da existência de um lugar muito melhor, não muito distante dali, rico em águas e com abundante caça e pesca.

O que os índios disseram seria exatamente o tipo de lugar procurado por Frei Serafim e seu grande auxiliar Frei Ângelo. O local ficava a 25 quilômetros de onde eles estavam. Frei Serafim abandonou então o rio São Mateus e seguiu com os índios tomando o caminho indicado por eles.

Na tarde do dia 19 de fevereiro de 1873, Frei Serafim, Frei Ângelo e o grupo que os acompanhavam chegaram ao alto da serra que divide as águas dos rios Itambacuri e Córrego d’Areia. Do alto dava pra ver o soberbo vale que lhes extasiava a vista. Era um panorama imponente de beleza selvagem. O Frei compreendeu ser aquele o lugar indicado pela vontade de Deus para plantar o marco da fundação do aldeamento e a tenda do seu apostolado.

Na ocasião, Frei Serafim profetizou: “Daqui não sairei jamais!”
A notícia de que os frades já se encontravam em Itambacuri, centro das matas virgens, onde nenhum não-índio havia chegado, correu longe e os índios começaram a afluir.

Nestes tempos já corria o mês de março. Com a aproximação da Páscoa, que nesse ano cairia no dia 13 de abril, os freis resolveram então celebrar uma Missa em comemoração. O lugar escolhido para a celebração foi a encosta do morro próximo ao Córrego dos Engenhos, onde foi feita a primeira derrubada e foram erguidos os primeiros ranchos. A missa foi celebrada em companhia de civilizados e selvagens.

Assim, o dia 13 de abril de 1873 é considerado o dia da fundação da cidade de Itambacuri. A partir daí seguiu-se uma série de trabalhos orientados sempre pela vocação e perseverança dos frades para a instalação da catequese. Foram muitas as dificuldades enfrentadas desde o início, mas eles sabiam que o projeto era maior que os problemas - como de fato acontece nas grandes obras.

Referências bibliográficas

- BRASILEIRO, Danielle Moreira. O Aldeamento Indígena Nossa Senhora dos Anjos - PACÓ: Memória e indigenismo no Vale do Mucuri – MG. Associação Nacional de História – ANPUH XXIV Simpósio Nacional de História. São Leopoldo - 2007.

- PALAZZOLO, Frei Jacinto de. Nas Selvas dos Vales do Mucuri e do Rio Doce. 3ª Edição. Companhia Editora Nacional. São Paulo - 1973.

- PEREIRA, Teodolindo A. Silva. Entre os Selvagens. Traduzido de Fra i Selvaggi – Samuele Cultrera. BDMG Cultural. Belo Horizonte – 2001.

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