terça-feira, 6 de outubro de 2020

A ameaça do 'novo cangaço', que causa terror no interior de SP...

Durante assalto em Botucatu, bandidos trocaram tiros com a polícia durante cerca de três horas - Reprodução

Durante assalto em Botucatu, bandidos trocaram tiros com a polícia durante cerca de três horasImagem: Reprodução

Felipe Souza e Leandro Machado

Da BBC News Brasil em São Paulo


 A cidade de Botucatu, a 235 km de São Paulo, viveu cenas de terror durante um violento assalto ocorrido no município na madrugada de ontem.

Um grupo de cerca de 40 bandidos armados e mascarados atacou pelo menos três agências bancárias da cidade — uma delas foi destruída por explosivos —, fez moradores reféns e por mais de três horas trocou tiros com policiais, ferindo dois deles. Um dos suspeitos também foi atingido e morreu.

Publicados nas redes sociais, vídeos gravados por moradores da cidade mostram cenas de intenso tiroteio pelas ruas do centro de Botucatu. Em alguns deles, os bandidos aparecem de máscaras e também munidos de armas de grosso calibre.

Ataques como esse se tornaram mais frequentes nos últimos anos, principalmente em cidades pequenas e médias do Sudeste. Investigações indicam que as ações são planejadas e também executadas por membros de facções criminosas, principalmente do PCC (Primeiro Comando da Capital.

No ano passado, o estado de São Paulo registrou 21 roubos a bancos, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública. Até junho deste ano, a pasta contabilizou novos 14 ataques.

Para especialistas em segurança pública, o modus operandi desse tipo de ação em SP se assemelha ao chamado 'novo cangaço' - Getty Images - Getty Images
Para especialistas em segurança pública, o modus operandi desse tipo de ação em SP se assemelha ao chamado 'novo cangaço'
Imagem: Getty Images

Esses ataques vêm sendo chamados pela mídia de "novo cangaço", pelas táticas usadas pelos criminosos. O termo foi cunhado no início deste século, para se referir aos grupos de dezenas de bandidos que invadiam municípios do sertão nordestino para assaltar bancos e carros-fortes. Essas ações eram semelhantes ao modus operandi dos cangaceiros que aterrorizaram o Nordeste no início do século 20, como o bando de Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião.

Esse tipo de grandes assaltos chegou ao Sudeste "há cerca de cinco anos", explica Guaracy Mingardi, analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. "Esses grupos escolhem cidades pequenas e médias, com poucas vias de acesso e efetivo policial pequeno", diz.

Normalmente, os alvos são agências bancárias ou transportadoras de valores. Em sua maioria, os assaltos ocorrem durante a madrugada, quando as ruas e o comércio estão vazios, além da presença policial ser menor. Vias de acesso ao local do roubo são fechadas com barricadas, e membros da quadrilha ocupam locais estratégicos para impedir a aproximação de policiais ou da população.

Explosões, vias fechadas e armamento pesado

Em maio deste ano, uma ação semelhante ocorreu em Ourinhos, outra cidade média do interior paulista. Na ocasião, criminosos armados explodiram uma agência bancárias e destruíram uma base da Polícia Militar.

Em 2016, outro grande assalto noturno amedrontou moradores de Ribeirão Preto, também no interior de São Paulo. Na ação, os bandidos usaram um caminhão e uma retroescavadeira para fechar ruas, e atiraram em transformadores para deixar a região sem energia elétrica. Também houve intenso tiroteio com a polícia.

Esse tipo de ação foi usada por bandidos brasileiros inclusive fora do país, em um assalto a uma transportadora de valores em Ciudad del Este, na fronteira do Paraguai com o Brasil, em abril de 2017.

PCC usou armamento capaz de derrubar helicópteros durante ação para tomar controle do tráfico no Paraguai - Reprodução - Reprodução
PCC usou armamento capaz de derrubar helicópteros durante ação para tomar controle do tráfico no Paraguai
Imagem: Reprodução

Na ocasião, um bando de 30 homens se aproximou da seguradora Prosegur e, durante três horas, tentou entrar no prédio onde havia milhões de reais — a empresa não revelou quanto foi roubado, mas, na época, a polícia local chegou a falar em até US$ 40 milhões.

O grupo utilizou metralhadoras e fuzis, como a .50, capaz de derrubar aeronaves. Bombas foram lançadas para ultrapassar as paredes blindadas do edifício. À época, delegados brasileiros e paraguaios afirmaram que o crime fora organizado pela facção PCC.

"A tática é mais ou menos a mesma nessas ações: o grupo fecha os acessos, obriga a polícia a ficar parada e impede a aproximação de reforço usando armamento muito potente", diz Mingardi.

Segundo ele, investigações demonstraram que nem sempre todos os membros da quadrilha são filiados ao PCC — a rede criminosa ajuda a planejar as ações e fornece armamentos. "Dois ou três membros do PCC planejam o assalto, mas o grupo é formado pelos chamados 'primos', que são parceiros da facção e agem em conjunto com ela. Quando conseguem o dinheiro, ele é repartido", diz Mingardi.

De acordo com o supervisor do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos), Eduardo Brotero, a ação planejada e repentina dos criminosos em cidades menores dificulta a atuação policial.

"É muito difícil o combate (a esse tipo de assalto), porque eles têm a vantagem de ter uma divisão de tarefas. Há arrombadores, seguranças e piloto de fuga. As quadrilhas estudam rotas de fuga, fazem reconhecimento do local, têm uma logística especializada e atacam à noite. Fica muito difícil para a polícia, mesmo que chegue num tempo exímio", afirmou.

O supervisor da tropa de elite da Polícia Civil de São Paulo disse que as quadrilhas estudam inclusive o comportamento dos policiais que atuam na região onde pretendem atacar.

"Eles sabem onde estão os batalhões, quando acontecem as trocas de turno e sabem até onde é a casa de alguns policiais e as rotinas deles. Sem contar que eles não trabalham com a lei, então fazem pessoas reféns, usam como escudo. Isso dificulta muito o combate", disse Brotero.

O supervisor do Garra afirmou que as quadrilhas costumam atacar bancos de cidades com menos de 50 mil habitantes. Dessa maneira, eles conseguem ter uma superioridade numérica em relação aos policiais da região. O armamento, afirma, também é poderoso: utilizam calibre .50 e .30.

Segundo Brotero, esses grandes e violentos assaltos traumatizam pequenas e médias cidades do interior. "Imagine uma cidade mais pacata, onde mal existem roubos, mas que é atacada por uma quadrilha disposta a tudo. O trauma que essas ações causam nas pessoas é muito grande", afirma.

'Novo cangaço'

Esse tipo de assalto — quando um grupo criminoso toma o controle de uma pequena cidade para roubar — não é novo no Brasil. No início do século passado, Lampião e seu bando de cangaceiros ganhavam a vida praticando saques semelhantes.

No final dos anos 1990, surgiu o chamado "novo cangaço", quando grupos de criminosos passaram a invadir cidades do sertão nordestino (municípios carentes de efetivo policial) para saquear bancos e carros-fortes. As ações, bastante violentas, terminavam em tiroteios e mortes de policiais e civis inocentes.

Assaltante mascarado faz homem refém durante ação de quadrilha no interior de São Paulo - Reprodução - Reprodução
Assaltante mascarado faz homem refém durante ação de quadrilha no interior de São Paulo
Imagem: Reprodução

O principal líder do "novo cangaço" era José Valdetário Benevides Carneiro, que comandou dezenas de ações cinematográficas pelo Rio Grande do Norte — ele morreu em 2003 durante um confronto com a polícia.

Em um dos roubos comandados por Valdetário, na cidade de Macau, o delegado Antonio Teixeira Jr. sentiu na pele a violência do grupo. "Soubemos que haveria um ataque. O grupo de Valdetário roubou três bancos. Quando saímos do batalhão da PM, ouvimos os tiros. Levei três tiros: um no braço, um na perna e outro de raspão no rosto", diz Teixeira Jr, delegado há 23 anos — na época ele era o titular da delegacia regional de Macau.

Segundo ele, que hoje trabalha na delegacia de Mossoró, interior do Rio Grande do Norte, esse tipo de ação "saiu de moda" na região. "Hoje vivemos um conflito de facções criminosas, algumas delas vindas do Sudeste e outras locais. Elas brigam pelo controle do tráfico de drogas", afirma.

Para Thadeu Brandão, coordenador do Obvio (Observatório da Violência do Rio Grande do Norte) e professor de sociologia da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, existem semelhanças entre o "novo cangaço" e os recentes assaltos a cidades do Sudeste, embora elas sejam mais sobre procedimentos do que a respeito do perfil dos criminosos.

"O novo cangaço era mais ligado a um ciclo de vinganças, conflitos familiares e de justiçamento em relação à atuação da polícia. Valdetário chegava a distribuir dinheiro para algumas pessoas. Hoje, apesar do modus operandi dos roubos ser parecido, o tipo de criminoso e o objetivo do assalto são bem diferentes daquela época", explica.

"O criminoso de agora pensa principalmente no dinheiro, quer roubar para ficar rico e andar de carro de luxo. É diferente do novo cangaço, quando havia até uma espécie de busca da honra por meio dos crimes. Hoje, o matador é mais profissional: mata mais pelo dinheiro."

Nas raízes do cangaço original, que consagrou figuras como Lampião na história do país, também estava um elemento de revolta contra o coronelismo, o descaso do poder público e as injustiças sociais no Nordeste. Apesar de terem deixado um rastro de morte e terror em várias cidades, eram vistos por parte da população, como heróis.

Assalto em Botucatu: A ameaça do 'novo cangaço', que causa terror no interior de SP


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Facebook reage a críticas no documentário O Dilema das Redes

Para Facebook, documentário O Dilema das Redes oferece “visão distorcida” das plataformas de mídias sociais

Emerson AlecrimPor 

Emerson Alecrim

Por Emerson Alecrim

05/10/2020 às 18:49

Se você assistiu ao documentário O Dilema das Redes, na Netflix, talvez tenha sentido o ímpeto de sair das redes sociais — se é que você já não o fez. Sem nenhuma surpresa, o Facebook não gostou do que foi mostrado ali. A companhia diz em um manifesto (PDF) que a obra oferece uma “visão distorcida” de como as plataformas de mídias sociais funcionam.


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O Dilema das Redes

Com duração de aproximadamente uma hora e meia, O Dilema das Redes entrevista desenvolvedores, executivos e outros profissionais (aparentemente arrependidos) que ajudaram Facebook, InstagramTwitter e Pinterest a se tornarem o que são hoje: plataformas que conectam milhões de pessoas de várias partes do mundo, todos os dias.


Há um lado positivo nesses ecossistemas. Você pode manter contato facilmente com parentes e amigos que moram longe ou trocar experiências com desconhecidos, por exemplo.

 

A contrapartida é justamente o ponto mais abordado no documentário: o de que as redes sociais “hackeiam” o cérebro do usuário para mantê-lo o maior tempo possível dentro delas. Isso seria feito, por exemplo, explorando as pequenas doses de prazer que recebemos com uma curtida ou quando nos sentidos parte de um grupo.

 

Vídeos

Mas, para o Facebook, a obra não condiz com a realidade. A companhia afirma que os produtores não incluíram no documentário as opiniões de funcionários atuais das plataformas mencionadas.

 

“Eles também não reconhecem — de modo crítico ou de outra forma — os esforços já realizados pelas companhias para enfrentamento dos vários problemas levantados. Em vez disso, eles contam com comentários daqueles que estão fora das plataformas há vários anos”, diz um trecho do manifesto.

 

De modo geral, o documento visa rebater os principais problemas apontados em O Dilema das Redes. Em um dos pontos, o Facebook nega que a sua rede social tenha sido desenvolvida para “viciar”. A companhia explica que oferece, por exemplo, ferramentas que permitem ao usuário controlar o tempo gasto no serviço, como painel de atividades e opções de desativação de notificações.

Facebook

 

Outro ponto negado pela empresa é a afirmação “se o serviço é gratuito, o produto é você”. O Facebook explica que é uma plataforma suportada por anúncios, mas que não compartilha com anunciantes informações que possibilitam a identificação do usuário, exceto mediante autorização. Nesse sentido, a companhia também reforça que não vende informações dos usuários.

 

No penúltimo ponto do manifesto, o Facebook reconhece que cometeu erros que permitiram que a rede social fosse usada para manipulação política, principalmente na eleição dos Estados Unidos em 2016. No entanto, a companhia reclama que o documentário não menciona os esforços anunciados desde então para evitar que o serviço seja usado novamente para interferência em eleições.

https://tecnoblog.net/372545/facebook-rebate-documentario-dilema-redes-sociais/

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Cidade de MG investigada por gastar mais de R$ 500 mil em itens hospitalares nunca entregues

CGU e PF apuram irregularidades na saúde em Fronteira dos Vales, no Vale do Mucuri

 

Estado de Minas

06/10/2020 08:43 - atualizado 06/10/2020 09:50

(foto: Google Street View/ Reprodução)

Uma operação conjunta entre a Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) nesta terça-feira (6) apura supostas irregularidades na utilização de recursos do Fundo Nacional de Saúde (FNS) destinados à aquisição de equipamentos e materiais permanentes para unidades de saúde do município de Fronteira dos Vales, no Vale do Mucuri.

A Operação Rasuras consiste no cumprimento de sete mandados de busca e apreensão nos municípios de Fronteira dos Vales (MG) e Itaobim (MG). Os trabalhos contam com a participação de 15 policiais federais e de seis auditores da CGU.

 

A CGU verificou que parte significativa dos equipamentos hospitalares adquiridos não foi entregue ao município pelas empresas contratadas. Também foram identificadas condições restritivas à competitividade nos editais dos procedimentos licitatórios.

 

De um total de R$ 998.975,00 repassados ao município pelo FNS, R$ 911.429,65 foram pagos às empresas fornecedoras. Deste valor, R$ 514.696,67 (56,47%) foram gastos em equipamentos que não foram localizados nas unidades de saúde beneficiadas durante os trabalhos de fiscalização realizados pela CGU.

 

Os recursos transferidos pelo FNS, no âmbito do Programa de Estruturação da Rede de Serviços de Atenção Básica de Saúde, destinam-se à aquisição de equipamentos e material permanente para às unidades do SUS existentes em um município. Segundo os órgãos, as irregularidades praticadas pela Prefeitura de Fronteira dos Vales (MG) podem ter afetado a qualidade do atendimento da população da localidade, que possui cerca de 4,7 mil habitantes. 

 

Durante a deflagração, foram apreendidos documentos, mídias computacionais e telefones celulares. De acordo com a PF, os envolvidos responderão por fraude a licitação e fraude a licitação em prejuízo da Fazenda Pública, podendo cumprir até 10 anos de prisão, se condenados.

   

O nome da operação faz alusão à origem dos recursos, viabilizados por meio de três emendas parlamentares que, em vez se mostrarem emendas ao orçamento público federal, revelaram-se rasuras.

   

Denúncias

 

A CGU, por meio da Ouvidoria-Geral da União (OGU), mantém o canal Fala.BR%u202Fpara o recebimento de denúncias. Quem tiver informações sobre esta operação ou sobre quaisquer outras irregularidades, pode enviá-las por meio de%u202Fformulário eletrônico.

 

A denúncia pode ser anônima, para isso, basta escolher a opção "Não identificado".

 

(Com informações de CGU*)

https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2020/10/06/interna_gerais,1192014/cidade-mg-investigada-r-500-mil-itens-hospitalares-nunca-entregues.shtml

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