Na aldeia Krenak, em MG, idosos dão aulas para os mais novos e são chamados de mestres de tradição

 A oralidade e as histórias dos antepassados ajudam a reforçar a identidade cultual da tribo

26/11/2014 - 10:46

Por: Catraca Livre

Situada às margens do Rio Doce, em Minas Gerais, a aldeia Krenak tem uma população de 500 habitantes, a maior parte deles abaixo dos 20 anos. Como os casais costumam ter filhos cedo, crianças de até 12 anos correspondem a 70% da população. Apesar desses dados, por lá,  os mais velhos é que são valorizados. Guardiões e propagadores da história da tribo, os idosos são chamados de mestres de cultura e tradição e são convidados, uma vez por semana, a ensinar alunos nas escolas baseadas na própria tribo.

Sabrina Abreu
O amor pela cultura krenak e seu estilo de vida faz jovens desejarem permanecer na tribo

O currículo escolar inclui o conteúdo estipulado pelo Ministério da Educação (MEC) para todo o país e também disciplinas específicas sobre a identidade desse povo. As aulas são ministradas em português e  também no idioma da tribo, que é a usado pelos mestres de cultura para compartilhar seu conhecimento com mais de 350 estudantes. Há cinco anos, estas aulas têm sido filmadas e transcritas e oacervo, em vídeos e textos, está à disposição dos moradores e de quem visita a aldeia.

“É a oralidade, na própria língua krenak, a única janela pela qual as novas gerações conhecerão os testemunhos de seus avós e é o veiculo de transmissão de memória que faz com que elas saibam que têm uma herança cultural. Isso não está nos livros”, explica o jornalista Ailton Krenak, pesquisador e colaborador do curso de história e cultura indígena na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Arquivo pessoal/ Ailton Krenak
O estudioso Ailton Krenak conta que os mais velhos são reconhecidos como guardiões das tradições locais

Assim como o aprendizado não se limita aos livros, ele também não fica restrito às salas de aula. “Toda a reserva é um lugar para aprender. A escola também é o ambiente a céu aberto, inclui o rio, a serra e as estações do ano”, conta Ailton. Neste mês de novembro, as árvores estão cheias de manga, os alunos podem ver que os animais e as aves são atraídos pela fartura de alimento. É uma época fácil para tomar banho de rio ou transitar pelo seu leito. Quando for tempo de enchente,  essas atividades ficam mais perigosas e não são estimuladas pelos professores, que se amparam na natureza local para ampliar o repertório dos estudantes.

Ainda na grade curricular, hábitos antigos doskrenak, como caça e  pesca, ajudam os jovens índios a entender melhor sobre o passado, ao mesmo tempo em que usam smartphones e computadores, como crianças e adolescentes que vivem fora da tribo. “Nossos estudantes estão interessados em reinterpretar o mundo ou o que existe ao redor do seu território, a partir da perspectiva dos antepassados, mas, como em qualquer outra comunidade, os krenak fazem um intercâmbio direto entre o que está do lado de fora e o que está do lado de dentro”, compara Ailton, ressaltando o fato da  maior parte dos jovens adultos continuar querendo viver na tribo, apesar das pressões por trocá-la por um estilo de vida mais urbano. O  jornalista arrisca uma razão para a permanência das novas gerações na reserva: “Acho que tem a ver com os valores familiares.  Na tribo, não existe criança abandonada. E quem vai querer viver num mundo de crianças abandonadas?”.

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