Ponto Dos Volantes - MG
Histórico*:
Ponto dos Volantes fica na região do Vale do Jequitinhonha e é um município recente, emancipado em 1995 e que agrega o distrito de Santana do Araçuaí e diversos povoados. A economia da cidade é baseada na pecuária de leite e na atividade agrícola. O artesanato em cerâmica também é uma marca regional. O período de maior crescimento da região foi em 1940, com a construção da BR 166 Rio-Bahia, no governo Getúlio Vargas.
Desde o início do século 19 a região era um ponto de apoio para viajantes. O primeiro nome do povoado foi “Terra Viamão”. Posteriormente também se chamaria Barra dos Pilões em referência a confluência dos Córregos do Pilão, São João, São Joanico, Anta Podre e Cardoso, que contavam as imediações do lugarejo. A denominação atual de Ponto dos Volantes é devido ao ponto de apoio a caminhoneiros que se formou no local, que concentrava grande número de veículos.
Projeto:
Durante o diagnóstico foi percebido que a comunidade ficou muito abalada com o falecimento de Dona Isabel, grande liderança local. Foi realizado então um trabalho de resgate da produção de moringas – algumas artesãs nunca haviam feito este produto. O trabalho começou com o envolvimento da comunidade escolar local, com um programa realizado em parceria entre as artesãs e a escola. Foram realizadas diversas atividades: os alunos fizeram uma pesquisa sobre o artesanato regional e descobriram que a cerâmica do Vale do Jequitinhonha e Dona Isabel são reconhecidos internacionalmente. As crianças conheceram o trabalho das artesãs, modelaram barro e ficaram muito interessadas, o que contribuiu para a elevação da autoestima e o envolvimento com o projeto. Foram realizadas capacitações para manter a elaboração de plano estratégico, a reorganização interna da associação, desenvolver o protagonismo feminino e o trabalho conjunto, bem como o aprimoramento dos produtos, com uma nova coleção que contempla a cultural local.
*com informações de IABS.
Execução: ArteSol, Raízes DS, Universidade de Girona e S. Talk.
A gênese do objeto brasileiro
Fotos: Theo Grahl/ Mombak / * Objetos de cena: Acervo Casa da Vila
Um país em estado bruto de onde brotam da terra, frutos da nossa natureza criativa. Cerrado, Caatinga, Amazonia, Mata Atlântica, Pampas, Pantanal - os seis biomas que nos desenham, nos delimitam. E nos expandem. Em uma revelação de cores, texturas e matérias-primas plurais, abundantes e miscigenadas tão e qual o povo que os preenche - também fruto - da mestiçagem de diferentes matizes: indígena, africana, europeia. Que insinuam a potência da capacidade criativa brasileira.
Um país feito do encontro. Do rio com o mar, da mata com o sertão, do índio com o branco. Vasto, potente e singular. Um território multifacetado em busca de acomodar sua diversidade de homens, mulheres, paisagens, vegetações, elementos, técnicas, saberes, modos de fazer e de criar. Como imaginar que surgiria daqui uma arte acanhada? Jamais.
Sofisticados processos de trabalho herdados por transmissão oral conduzem as mãos pacientes e os espíritos inquietos dos nossos mestres, artesãos e artistas populares, na direção do inédito. Para onde a natureza os inspire e sustente seus objetos sagrados.
Pó de caroço de açaí. Banquinho miniatura da Ilha do Ferro (AL)
A biodiversidade transformada é denunciada pela origem, pelo material primitivo: o barro, a madeira, as fibras, os pigmentos. Por meio deles, o design brasileiro se manifesta, entranhado de diversidade, de textura, de paletas cromáticas emprestadas da matéria-prima que o objeto artesanal celebra em sua intima relação com o bioma.
São muitos os caminhos do artesanato brasileiro para fundir seu valor cultural, artístico e estético. Nessa travessia, o artesão põe em prática habilidades legadas há gerações, práticas presentes em nossa cultura material de tempos imemoriais, com inegável sofisticação simbólica e estética. Antigas linguagens, grafismos milenares. Tudo o que reúne tempo e significado. Que traduz o que temos de cotidiano e mais espontâneo.
Almofada redonda trançada à mão em palha de palmeira Indaiá (Associação Cultural Indaiá). Ouriço de castanha do pará (semi-polido) usado para a produção de esferas decorativas e porta-objetos.
Nesse ensaio ousamos propor o exercício de olhar o Brasil que a gente não vê, exercitar a construção de um repertório de brasilidade que nos aproprie de nossa própria identidade em um movimento de autoconhecimento e re-descoberta. Que nos reposicione e nos requalifique para nós mesmos até nos darmos conta de que buscamos tanto, para, enfim nos re-encontrar em nossa própria casa.
Caroço seco de açaí em almofada de palmeira IndaiáDetalhe de pó de murumuru usado como pigmento natural. À direita, Banco Waurá e cerâmica da etnia Tukano (AM).
Escultura do artesão Ednaldo José da Silva de Caruau- PE
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