Universidade federal abriu caminhos em Teófilo Otoni
24/10/2017 07:28
Lula no campus de Teófilo Otoni. Imagem: Reprodução NBR
O legado do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Teófilo Otoni abrange diversas áreas como moradia e saúde, mas é na educação que os maiores impactos são sentido e se propagam por mais tempo.
Terceira parada do ex-presidente na etapa mineira do projeto Lula Pelo Brasil, a cidade abriga um campus da Universidade dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), criado no ano de 2006.
O sonho de se criar uma universidade na região era antigo, mas só veio com a parceria entre dois governos petistas: Lula, na Presidência, e Maria José Hauesein Freire, na prefeitura. Maria José, que também foi deputada estadual antes de assumir a prefeitura, conta que muitas vezes tento pedir apoio dos governos, mas só com Lula o projeto começou.
A ex-prefeita de Teófilo Otoni, Maria José Hauesein Freire. Foto: Kamilla Ferreira/Agência PT
“A vida inteira eu sempre sonhava que precisávamos ter aqui uma universidade gratuita. Havia uma escola superior, mas era paga e os alunos mais pobres não tinham a menor condição de estudar”, conta ela.
“Um dia fui a uma reunião em Montes Claros e uma pessoa perguntou se eu era a Maria José de Teófilo Otoni. Ela disse que eu não conseguiria levar a universidade porque alguns políticos da cidade não queriam concorrência com a escola que tinham aqui”, relata.
“Quando Lula foi eleito presidente, pensei: ‘agora ninguém atravessa o nosso caminho, agora vamos conseguir’. A primeira vez que encontrei Lula depois disso foi em Belo Horizonte. Ele disse que quando chegasse em Brasília veria a possibilidade e na mesma semana uma secretária dele me telefonou e disse que o presidente Lula já estava encaminhando o pedido para a universidade”, relembra Maria José.
“Com pouco tempo a universidade foi criada, e começou a construção. Hoje não só alunos de Teófilo Otoni chegam lá, mas de toda a região, de cidades menores que não tem escola superior, vem terminar estudando aqui na cidade”, comemora.
Entregue por Dilma Rousseff em 2013, o campus da UFVJM em Teófilo Otoni tem 10 cursos e mais de 2 mil alunos matriculados, sendo que mais de 300 já se formaram na cidade. Cerca de 60% dos estudantes são da região do Vale do Mucuri, que abrange 27 municípios e 670 comunidades de agricultura familiar.
Katia Maria da Silva é estudante do bacharelado em Ciência e Tecnologia. Foto: Kamilla Ferreira/Agência PT
Umas dessas estudantes é Katia Maria da Silva, de 23 anos, que cursa o Bacharelado em Ciência e Tecnologia, primeira etapa para a graduação em engenharia.
Natural da pequena comunidade de Canjuru, na zona rural de Itamarandiba, ela é filha de agricultores familiares e conta que estudou os primeiros anos do ensino básico na roça.
“A gente caminhava em torno de 45 minutos até a escola, no fundamental tive que ir para a cidade e a rotina era acordar pelas 4h da manhã, a estrada era difícil, no trajeto tinha que atravessar dois rios, não tinha ponte”, relembra.
“A gente tinha que levar roupa para se vestir após a travessia, então a gente pegava um ônibus, estudava e chegava em casa por volta de 2h da tarde. Eu fazia as tarefas e ajudava meus pais na lida rural, lá eles trabalham com plantação de frutas e verduras”.
Katia relata que a energia elétrica só chegou a sua residência aos 14 anos e antes disso nem pensava na possibilidade de fazer um curso superior.
“Até o momento que eu cheguei na UFVJM para fazer minha matrícula, eu nunca tinha visto uma universidade, eu não sabia nem como era”, conta emocionada.
Inicialmente ela ingressou no curso de administração, mas conheceu um professor que apresentou o Grupo de Extensão e Pesquisa em Agricultura Familiar.
“Foi onde eu realmente me senti em casa, senti que aqui também era lugar para mim e que ainda mais era um lugar que eu deveria muito estar”.
“Nesse grupo de pesquisa a gente trabalha com os agricultores familiares do Mucuri e em cada visita de campo eu vejo muito o papel da universidade para a comunidade. Eu me vejo dos dois lados, tanto como universidade, como comunidade de agricultura familiar”.
Juliana Leme se formou na primeira turma de Assistência Social. Foto: Kamilla Ferreira/Agência PT
Outra filha da região que tem orgulho da universidade federal trazida pelos governos petistas é Juliana Leme, de Itambacuri. Ela se formou na primeira turma de assistência social e hoje já está no mestrado, planejando seguir com um doutorado.
“Para a gente da região, para mim especificamente que sou de família de classe baixa, foi uma realização. Porque eu sempre quis estudar e meu pai não tinha condições de pagar uma universidade privada para mim, então eu ficava no dilema do que ia fazer. Ou eu trabalhava e gastava o salário inteiro com a universidade, ou eu não estudava”.
“Fui mãe aos 17 anos, na adolescência, então era mais uma dificuldade, e encontrei uma oportunidade do vestibular, não era o Enem ainda, fiz o primeiro vestibular da UFVJM, em 2006”, relembra.
Juliana diz que até a criação do campus de Teófilo Otoni, a maioria dos alunos que estudavam em universidades federais era de família com capacidade de pagar um cursinho pré-vestibular.
“Para mim foi uma realização porque eu aprendi o que é uma universidade. A gente que é do interior de Minas, não entende bem o que é uma universidade federal”.
“Nessa época, conseguir entrar em uma universidade foi um orgulho enorme para a família e também para as cidades. Os filhos aqui das cidades da região, quando tinham ingressantes na universidade, era um marco”.
Formada em 2011, Juliana afirma que sentiu uma grande mudança na vida. “Passei a enxergar as coisas de forma diferente, passei a enxergar minha região em uma perspectiva socioeconômica e na perspectiva de realidade das pessoas, das desigualdades que tinham aqui e não tinham visibilidade”.
Até hoje ela relembra a fala de um professor na primeira aula de economia: “É a primeira vez que eu vejo uma universidade federal composta por pessoas do povo, pelo povo de verdade”.
“Ou seja, as pessoas daqui estavam na universidade, não eram pessoas de fora, não eram pessoas com poder aquisitivo muito além da região. Hoje com Enem já mudou a configuração, já vem pessoas de todos os lugares, mas são também batalhadores, que vão fazer a diferença em suas regiões quando retornarem”, avalia.
Anderson Soares da Silva diz que sua trajetória é ligada às políticas públicas dos governos progressistas. Foto: Kamilla Ferreira/Agência PT
Aluno de Administração, Anderson Soares da Silva também é funcionário concursado da UFVJM em Teófilo Otoni. “Minha história é muito ligada às políticas públicos do presidente Lula, da presidenta Dilma e do PT de forma geral”, afirma.
Criado em Belo Horizonte, ele conta que prestou duas vezes o vestibular para a universidade federal da capital mineira, mas não conseguiu passar. Então, chegou o Enem e abriram-se possibilidades.
“Mesmo sendo bons alunos naquela época, na escola pública era muito difícil, porque matérias que cobravam naqueles vestibulares, a gente nunca tinha visto na vida. Com a criação e o fortalecimento do Enem, a gente teve a possibilidade de chegar de igual para igual nas provas, porque era uma prova mais de raciocínio, uma prova mais voltada para conhecimentos gerais, e aí a gente teve a possibilidade de concorrer em pé de igualdade com outros grupos”.
Com uma boa nota no Enem de 2005, ele ingressou na primeira graduação em Recursos Humanos em uma faculdade privada e depois de formado passou a prestar concursos, ingressado no serviço púbico.
“Comecei a trabalhar aqui a partir de 2011 e a partir disso a minha vida mudou, tive a possibilidade de adquirir até um carro na época. Era uma felicidade enorme por parte dos meus pais, que tiveram uma situação muito difícil, de ver a progressão que eu tive”.
“A minha formatura mesmo é uma emoção quando eu lembro. A formação no primeiro curso, aquela cena dos meus pais presentes, vendo o filho deles, eu fui o primeiro a formar na minha família, ver aquela família é algo magnífico, a gente via o orgulho estampado no rosto do meu pai e no rosto da minha mãe, e por uma política pública”, relembra.
Anderson defende que “quando se tem uma oportunidade a gente corre atrás, e pobre também pode chegar em qualquer lugar, basta ele ter oportunidade de chegar nesses locais, e isso é através de políticas públicas, se não tiver oportunidade, não tem outro jeito de chegar a determinados lugares”.
A Paulista Beatriz Garcia Toledo realiza o sonho da universidade na UFVJM. Foto: Kamilla Ferreira/Agência PT
Vinda de Guarulhos, na grande São Paulo, a aluna de medicina Beatriz Garcia Toledo realiza o sonho de cursar uma universidade em Teófilo Otoni.
Ela conta que apesar de ser uma aluna esforçada e ter bons professores, teve um ensino muito defasado na escola pública, além de matérias que não foram dadas por falta de docentes.
“Eu me vi no terceiro ano do ensino médio e não sabia nem como fazer em onde fazer. Nem tinha ideia de que haviam universidades públicas, nem passava pela minha cabeça. Eu comecei a pesquisar o que eu ia fazer da minha vida e aí que eu descobri que existia universidade pública e que eu podia estudar”.
Ela entrou em cursinho popular e após quatro anos de muito esforço, conquistou a nota necessária para cursar medicina. “Até então eu não tinha essa visão da medicina e até entrar na UFVJM eu não acreditava que podia entrar. Nesse sentido as políticas afirmativas, as cotas ajudaram muito”.
“Por mais que a gente estude, eu nunca concorria de igual para pessoas que não precisavam se preocupar, com pessoas que não tinham os pais pressionando porque estava fazendo cursinho, ter que arrumar emprego, diversas coisas que a gente de periferia sofre a pressão”.
Hoje Beatriz diz que tenta retribuir com a cidade, cumprindo seu papel na universidade, participando do Movimento Estudantil e das reuniões do Conselho de Saúde Local. A próxima decisão difícil é sobre o local onde vai atuar após formada.
“Agora fico na dúvida, se fico em Teófilo Otoni ou se volto para Guarulhos, porque também venho de uma região periférica que precisa de assistência”, conta a futura médica.
Lula pelo Brasil
A viagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Minas Gerais, que acontece em outubro, é a segunda etapa do projeto que ainda deve alcançar as demais regiões do Brasil.
Em agosto e setembro, Lula pegou a estrada e percorreu os nove estados nordestinos, visitou inúmeras cidades, ouviu e conversou com o povo.
Por Pedro Sibahi, da redação da Agência PT de notícias
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