Ao discursar em homenagem ao Dia da Mulher em 1998, o então presidente Fernando Henrique Cardoso indagou: “Quem sabe um dia” não estaria acompanhado também por ministras, e não só pelos “ministros e vice-ministras” ali presentes?
Aproveitou a ocasião para lançar um programa que dava prioridade às mulheres no financiamento imobiliário.
Além da futurologia sobre a participação feminina na Esplanada, FHC trocou as bolas ao dizer que muitas mulheres eram “cabeça de cavalo”, em vez de “cabeça de casal” na vida doméstica.
O então presidente declarou que havia poucas mulheres exercendo cargos públicos, anunciou que orientaria governadores e ministros a combater a discriminação no funcionalismo e criaria cursos para habilitar servidoras a ocupar cargos de chefia.
Com uma ressalva: que elas não assumissem, de todo, o poder, mas o dividissem com os homens. “Essa diretriz é para que se busque um equilíbrio nessa matéria e para que, havendo qualificações iguais, as mulheres assumam, não o poder [risos], mas participem, coparticipem do poder, possam, efetivamente, ter uma posição que não seja simplesmente a de número.” FALE COM ELAS Um chefe de Estado é o representante máximo de seu país e precisa acompanhar a sociedade, afirma a linguista Zilda Gaspar, coordenadora do Grupo de Estudos do Discurso da USP. Ela explica que pronunciamentos preveem dois resultados: persuadir e envolver. Nesses pontos, diz a estudiosa, Temer falhou.
“Ele não apresenta um discurso com respaldo em dados concretos, mas com estereótipos.” Para Gaspar, apesar de o presidente falar dos espaços que as mulheres têm conquistado na sociedade, o discurso soou retrógrado por repetir a imagem “do lar” que atribuiu a elas.
FHC foi o primeiro governante depois da redemocratização a se pronunciar sobre o Dia da Mulher. Os presidentes anteriores —José Sarney, Fernando Collor e Itamar Franco— ignoraram a data.
O hábito foi retomado por Luiz Inácio Lula da Silva a partir de seu primeiro mandato, em 2003. Naquele 8 de março, disse que quem achava que a mulher ainda se via como dona de casa “conformada e satisfeita” com a de- pendência financeira do marido “enganava-se bastante”.
Outros políticos cometeram gafes que se tornaram memoráveis. Na eleição de 2002, Ciro Gomes, então candidato à Presidência, falou, sobre sua então mulher, a atriz Patrícia Pillar: “A minha companheira tem um dos papéis mais importantes, que é dormir comigo”.
Em 1981, quando governador de São Paulo, Paulo Maluf relacionou reivindicação salarial de professores a casamento. “Professora não é mal paga, é mal casada”, disse.
Corta para 2016. O ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou que homens vão menos ao médico do que mulheres porque eles “trabalham mais, são os provedores da maioria das famílias e não acham tempo para se dedicar à saúde preventiva”.
José Serra, ex-ministro de Relações Exteriores, achou que o México parecia um “perigo” porque descobriu que lá metade do Senado era composto por mulheres.
KELLY MANTOVANI
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