Uma declaração da advogada Doris Denise Neumann contra o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, acabou virando caso de polícia. Em um vídeo gravado na rua, ela usou a expressão em alemão "Arbeit macht frei" que significa "o trabalho liberta".
Durante o período nazista, a frase foi afixada nos portões de campos de concentração, inclusive em Auschwitz, considerado o maior deles.
O procedimento policial foi aberto com base no artigo 20 da lei 7716, segundo a delegada Andrea Mattos, responsável pela investigação. O trecho da legislação estabelece que configura crime "praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional", que pode resultar em prisão de um a três anos, além de multa.
O vídeo tem 24 segundos e circula nas redes sociais. Nele a advogada diz a seguinte frase:
"Os alemães vão entender a frase que eu vou falar: Arbeit macht frei. Não foi isso que a gente aprendeu? Que o trabalho nos faz ser livre. Pois aqui nós estamos reivindicando o trabalho. Se o governador que foi posto por nós no poder para a decisão não decidir que nós possamos trabalhar, a gente tira ele", disse Doris.
Ontem, a advogada participava de protesto contrário ao fechamento de atividades consideradas não essenciais, o que foi determinado por decreto estadual como forma de conter o contágio do coronavírus. Desde 26 de fevereiro, todo o estado passou a ser classificado como em situação gravíssima para covid-19. Houve aglomeração na manifestação que durou cerca de três horas.
Doris pode ainda ser enquadrada dentro da lei da segurança nacional, por "fazer em público a propaganda de processos violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social", observa a delegada, referindo-se à legislação. Neste caso, o crime pode resultar em prisão de um a quatro anos.
A polícia já recebeu "diversas denúncias" devido a fala da advogada. Entre elas do vereador Leonel Radde, que também é policial. Em boletim de ocorrência, o político destacou que "claramente a suspeita realiza apologia ao nazismo, fazendo comentário elogioso a uma prática xenófoba, em um contexto em que defende a quebra democrática através de atos violentos".
A advogada deve ser intimada ainda hoje pela polícia para prestar depoimento, observou a delegada. Testemunhas também devem ser ouvidas na investigação. O UOL tenta contato com a advogada, mas ainda não obteve uma posição.
No ano passado, Doris disputou pelo Patriotas a prefeitura de Nova Petrópolis, a 86 km de distância de Porto Alegre. A advogada recebeu 1.347 votos e ficou em último lugar na disputa, que contava com outros três candidatos.
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