Mulher é resgatada depois de 16 anos em cárcere privado

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A vítima apontou seu irmão como suspeito pelo crime que teria sido motivado por uma gravidez indesejada




Legenda: O quarto onde Maria Lúcia Braga foi encontrada ficava em um sítio. O local era protegido por diversos cadeados. O irmão da vítima, acusado do crime, disse que a alimentava duas vezes ao dia. Ele foi ouvido pela Polícia e está preso
Foto: Fotos: divulgação



Com dificuldades de andar, falar ou escrever, visivelmente debilitada e sofrendo maus-tratos. Assim foi encontrada Maria Lúcia de Almeida Braga, de 36 anos, após denúncias de sua situação chegarem à Polícia, no Dia Internacional da Mulher. A mulher foi mantida 16 anos em cárcere privado por duas gerações da sua família: pai e irmão, porque engravidou aos 20 anos e a família não aceitou.

Conforme informações do titular da Delegacia Regional de Itapipoca, Harley Filho, a vítima estava em um sítio, na Zona Rural de Uruburetama, a aproximadamente 150Km de Fortaleza. No último dia 9, Maria foi localizada sozinha dentro do cômodo fechado com cadeado, onde era mantida afastada do mundo.

Nessa terça-feira (28), a Polícia cumpriu mandado de prisão e deteve João de Almeida Braga, 48, irmão de Maria Lúcia, sem antecedentes criminais, apontado por ela como responsável por dar continuidade às ações do pai e mantê-la trancada pelos últimos seis anos. Segundo o suspeito, o início do cárcere se deu por vontade do pai, que se envergonhou da filha ter engravidado.

"Recebemos a denúncia no dia 8 de março que tinha uma pessoa mantida dentro de uma casa. Empreendemos diligência e a localizamos sozinha. Dias depois, ela conseguiu dizer quem é seu irmão. Agora João está preso temporariamente e deve responder pelos crimes de maus-tratos e cárcere privado", contou o delegado Harley Filho.

Vizinha da família há muitos anos, Maria Braga Feitosa conta que pediu diversas vezes para que a vítima fosse solta e o irmão alegava que Maria Lúcia era bem cuidada. "Dizia que ia soltar e voltava a prender. Na cabeça da família era normal, achavam que faziam a coisa certa".

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De acordo com a Polícia, diversos cadeados separavam a vítima da parte externa do sítio. Já no início do terreno havia dois cadeados, outro na entrada da casa e mais um quarto obstáculo no quarto onde era mantida Maria Lúcia, assim como em todas as janelas do cômodo. A Polícia afirma que a vítima foi achada em condições precárias, com o telhado do quarto em que era mantida prestes a cair, despida dentro de uma rede suja de urina, fezes e sangue.

As condições de precariedade em que a vítima era mantida surpreenderam até mesmo a Polícia. O filho da mulher que foi dado à outra família já foi identificado

Em outra casa do terreno foram encontrados os pais da mulher. O delegado ressalta que o casal de idosos estava aparentemente desnorteado e alheio ao que acontecia nos arredores. "O pai ficou velho e o irmão cresceu vendo aquilo e deu continuidade. Disse que colocava refeição para ela duas vezes por dia e chamava alguém para higieniza-la". Em depoimento, a vítima diz que tinha uma vida normal antes da gravidez. "Ela contou que estudava, teve um relacionamento conturbado e começou a apresentar problemas psicológicos. Engravidou e os pais a trancafiaram no quarto desde a gestação e ainda deram o bebê".

Quando encontrada, a mulher foi encaminhada ao Hospital Municipal de Uruburetama, onde teve ganho de peso e recebeu alta. Com 15 anos, o filho da vítima foi localizado e deve ser ouvido, nos próximos dias. Com relação aos pais, o delegado ressalta que devem ser indiciados, mas não presos, pois necessitam de acompanhamento especializado. Maria Lúcia e seus pais foram acolhidos por abrigos sociais e passarão por tratamento no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) da região.

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