M�dico cubano recebido com vaias se casa com brasileira e quer ficar no pa�s


Arquivo pessoal
RI Rio de janeiro (RJ) 16/09/2017 Guerra de traficantes no morro do Juramento. Grupos de traficantes rivais entram em confroto no morro do Juramento deixando v�rios mortos. Foto Domingos Peixoto / Ag�ncia o Globo
Hoje no Maranh�o, Juan Melquiades Delgado casou-se com brasileira e se diz adaptado ao pa�s
FERNANDA CANOFRE

Recebido com vaias e chamado de "escravo" pouco ap�s a chegada a Fortaleza em agosto de 2013, o m�dico cubano Juan Melquiades Delgado, 53, s� pensava em caminhar at� o �nibus e escapar dali. Planejava passar tr�s anos trabalhando no "gigante sul-americano" pelo programa Mais M�dicos e, ent�o, voltar para casa.

Hoje, quatro anos depois, ele est� casado com uma brasileira, vive no munic�pio de Z� Doca (no interior do Maranh�o) e n�o tem planos de ir embora. "Eu conheci minha mulher, ent�o quis ficar. Aqui, me sinto muito bem", diz o "doutor cubano", como � chamado na cidade.

Delgado est� entre os 1.500 m�dicos cubanos que pediram para permanecer no Brasil, segundo o Minist�rio da Sa�de. Destes, apenas 38 foram aprovados para manter a atua��o, ainda com conv�nio ligado a Cuba. O governo federal diz que a meta � substituir mais 4.000 postos ocupados por cubanos nos pr�ximos tr�s anos.

Juan virou s�mbolo do programa ao estampar capas de jornais em sua chegada, quando foi hostilizado em protesto de m�dicos cearenses -na ocasi�o, na gest�o Dilma (PT), associa��es m�dicas fizeram fortes cr�ticas ao programa.

Jarbas Oliveira - 26.ago.2013/Folhapress
RI Rio de janeiro (RJ) 16/09/2017 Guerra de traficantes no morro do Juramento. Grupos de traficantes rivais entram em confroto no morro do Juramento deixando v�rios mortos. Foto Domingos Peixoto / Ag�ncia o Globo
O m�dico Juan Delgado � vaiado por manifestantes em chegada a Fortaleza (CE)

Um m�s depois, chegou a Z� Doca, munic�pio com pouco mais de 50 mil habitantes, a 302 km de S�o Lu�s, e se tornou um dos dois m�dicos respons�veis por mais de dez aldeias ind�genas da regi�o.

No primeiro dia de trabalho, Juan encontrou o posto de sa�de ocupado por protestos contra a escassez de medicamentos e alimentos e problemas na entrega do Bolsa Fam�lia. Vestindo uma camiseta com a frase "somos escravos da sa�de", ele explicou aos ind�genas que "queria trabalhar em harmonia".

"Tudo foi pac�fico, eles n�o estavam armados. Me apresentaram �s lideran�as, n�s conversamos, eu disse que era um m�dico cubano que havia chegado ao Brasil para trabalhar e me acolheram muito bem", afirma Juan.

IDIOMA

A maior dificuldade at� aqui, segundo ele, � a barreira do idioma -mas n�o entre o portugu�s e o espanhol. No distrito que atende, Delgado tem pacientes das etnias ka'apor, aw�-guaj� e tenetehara-guajajara. A maioria s� se comunica pelo dialeto pr�prio. Para fazer as consultas, o m�dico precisa de tradutor.

H� ainda os problemas de estrutura. "Falta comida, faltam rem�dios, s� uma das aldeias tem um posto com toda a infraestrutura necess�ria. Nos outros lugares � uma casa, sem nada de equipamento. Quando temos alguma emerg�ncia, tem que trazer para Z� Doca, para o hospital", conta. O que, no caso de algumas aldeias, significa viagens de at� tr�s horas.

Antes da chegada dos cubanos, a cidade estava sem m�dicos havia dois anos. O atendimento era feito pelas equipes de enfermagem e agentes de sa�de.

CASAMENTO

Uma das agentes, Ivanilde Lopes Silva casou-se com o m�dico em novembro do ano passado. Os dois se conheciam de vista pelo trabalho no posto de Z� Doca desde 2013. O namoro, no entanto, s� engrenou no final de 2015, quando se encontraram trabalhando nas aldeias, onde Ivanilde costuma ficar por per�odos de 20 dias consecutivos.

"O namorico partiu de olhares", conta ela, que diz admirar o marido "calmo, tranquilo e inteligente".

O pedido de casamento, poucos meses depois, a pegou de surpresa. "Eu tinha 56 anos, era solteira, ainda n�o tinha casado. Jamais ia pensar que ele me pediria em casamento. Mas foi muito bom."

Com 17 anos de experi�ncia em �reas ind�genas, Ivanilde diz que viu a situa��o da regi�o melhorar com os cubanos. O trabalho de preven��o e mais tempo de atendimento ajudaram a diminuir os �ndices de tuberculose e DSTs na regi�o, diz.

O cubano afirma que pretende continuar. Juan n�o parece se intimidar -viu de perto a guerra civil de Angola, em 1985, e ajudou o Haiti durante a epidemia de c�lera e o terremoto de 2010.

"Tem pobreza aqui, mas em todo pa�s tem pobreza. A gente trabalha para ajudar a sa�de de outro povo. Eu gosto de morar aqui, j� estou acostumado", afirma o m�dico.

M�dico cubano recebido com vaias se casa com brasileira e quer ficar no pa�s - 17/09/2017 - Cotidiano - Folha de S.Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário