A Saga dos Irmãos Leite.
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Categoria: Décadas e História
PARTE I
I CAPÍTULO- A
REGIÃO DO VALE DO MUCURI
O Vale do Mucuri
Geraldo Horta conta os crimes de Idelson Lima.
Emboscada e Morte do Deputado Nacip Raydan
As Mangas e as Surras
II CAPÍTULO- O IMPÉRIO
DAS MORTES
A Morte pelas Terras
A Tentativa de Homicídio contra Aldécio Leite
A tentativa de morte de Williamar Ferreira Seixas
A morte de Vander Campos
As barbaridades contra Emídio Gonçalves
Galileu, a Emboscada no Aeroporto de Capelinha
A Chacina do Maranhão. Família Juca Peão.
Os assassinatos de José Izac de Souza e Edil Geraldo de
Souza
Os filhos do Joaquim do Ó
A morte do ex-soldado João Batista dos Santos e seu filho
A tentativa de assassinato de Acir Caldeira
A morte de Bino Monteiro
Morte no Hospital
III CAPÍTULO- A
CHACINA DE MALACACHETA
A Prisão dos Militares no banheiro do Ginásio de Malacacheta
Origem dos Atritos
Preparação
A carnificina
IV CAPÍTULO. PÓS
CHACINA. AS MORTES CONTINUAM
O Êxodo da Família Cordeiro e os Novos Assassinatos.
O Desaparecimento de Maria Aparecida Machado
O Sequestro e Morte de Humberto Cordeiro
O Sequestro e Morte de Humberto Cordeiro
O Assassinato de Helvécio Cordeiro
As Fazendas das Vítimas
A Busca da Verdade
Revanche. A Emboscada e Morte de Toninho Leite
Vingança. A Morte de João Pego
O Vale.
A região
denominada geograficamente Vale do Mucuri, está entre as cidades de Governador
Valadares, Diamantina e Teófilo Otoni para melhor noção de localização. Fazem
parte as cidades de Capelinha, Água Boa, Santa Maria do Suaçui, Malacacheta
dentre outras que não vão trazer interesse para nossos registros ou que se
emanciparam após os fatos aqui narrados. Região de predominância da
agropecuária e seus derivados com agricultura de pouca relevância no contexto
econômico. Terra do bom queijo mineiro. Até cerca de 1985 era uma região sem
asfalto e de difícil acesso. No período das chuvas ficava totalmente isolada,
causando grandes perdas de leite e queijos pela falta de escoamento da
produção. Para se chegar mais facilmente a região, segue-se a BR 262 até o
trevo de Itabira, passando pela terra de Carlos Drumond de Andrade, Santa Maria
de Itabira, Guanhães e São João Evangelista. Peçanha está à direita, em seguida
São José do Jacuri e São Pedro do Suaçui. Percorrendo mais cerca de sessenta
quilômetros começamos a entrar no palco dos acontecimentos que tentaremos
retratar, a partir de Santa Maria do Suaçui, Viajando mais quinze quilômetros
até Água Boa e depois outros trinta aproximadamente para se chegar pela direita
à Malacacheta e pela esquerda à cidade de Capelinha. Terra de cachoeiras, rios,
córregos e muitas montanhas. De um povo hospitaleiro, amigo e trabalhador, mas
que em razão dos crimes de pistolagem ocorridos em grande número a mando de
fazendeiros e políticos inescrupulosos, ganhou a pecha de violento. Povo
sofrido pelo abandono político de décadas passadas, quando o único interesse
naquela região, era o voto de um grande curral eleitoral. E é nesse cenário
que, buscamos registros de fatos a partir dos anos 50, viajando pela saga de
crimes violentos que assolaram aquela região, culminando com o desfecho da
Chacina de Malacacheta no principio da década de 90, que mudou radicalmente a
vida dos cidadãos do Vale.
Geraldo Horta conta crimes na região.
Geraldo
Horta é uma pessoa falante, remanescente daquela região e que migrou para a
capital mineira fugindo da violência, nos procurando em meados de 2007 para
contar alguns casos e causos do Mucuri. Ao nos visitar no antigo DEOESP, da
Avenida Afonso Pena, descreveu, com seu jeito matuto de homem do interior das
Gerais, algumas particularidades da cultura e crimes de morte em Santa Maria do
Suaçui, Malacacheta e cidades do Vale do Mucuri.
Santa Maria do
Suaçui, 1942.
Na campanha do ex-presidente Tancredo Neves para deputado
federal por Minas, na década de 60, quando ainda ocupava o cargo de Primeiro
Ministro do governo de João Goulart no regime parlamentarista. Santa Maria do
Suaçuí se preparou para receber o ilustre candidato, sendo
"Geraldinho" Lima e seus filhos, fervorosos cabos eleitorais de
Tancredo Neves. Idelson Lima, um dos filhos organizou uma comitiva com
bandeirolas para saudá-lo, treinando o pessoal para levantar e abaixar as
bandeiras a seu comando. Idelson era conhecido como homem bravo na região, ao
mesmo tempo perigoso, com má fama na cidade onde tinha até dado tiros na porta
da delegacia. Totalmente diferente de seu pai, pessoa influente, porém
respeitado pela população de Santa Maria do Suaçuí por sua integridade. Nas
proximidades do aeroporto, Idelson posicionou o pessoal e começou o ritual de
saudação a Tancredo Neves. Na cadência do “comandante” Idelson, sobe bandeira,
desce bandeira, sobe e desce.
“Idelson era o mandão, mandava em tudo”.
Enquanto
Idelson controlava o povo do alto de seu cavalo cotó e campeiro, Tancredo
Neves, o deputado estadual Nacip Raydan e outros políticos da região passavam
pelo local. No entanto, no sobe e desce das bandeiras, Idelson percebeu que um
dos participantes não obedeceu a sua ordem de abaixar, permanecendo com a
bandeira em pé. Idelson viu que era um dos dois filhos de Dorval, pistoleiro de
Nacip Raydan, que gostava de encrenca.
“Era aqueles cara pegado a laço pra virar pistoleiro”.
Ao ser
questionado por Idelson, o rapaz falou em tom desafiador:
“Isso é um desaforo, eu não vô ficá levantando bandeira toda
hora não”.
Idelson
mandou que abaixasse a bandeira e diante da negativa falou:
“Vai baixar não? Então toma”.
Sacou de seu
revólver que estava na cintura e desferiu um tiro que atingiu mortalmente
aquele indivíduo. Correria geral. No tumulto avisaram o outro filho de Dorval
que Idelson tinha matado seu irmão. Idelson arrancou com seu cavalo, jogando o
animal em cima das pessoas que estavam à frente, pois tinha que passar por duas
porteiras e um mata-burro para fugir do local. Quando se aproximou da segunda
porteira e pôs a mão para abri-la tomou dois balaços mortais de calibre 22, um
na nuca e outro “debaixo do braço”, caindo pesadamente ao solo. Nos comícios e
festividades políticas, Nacip Raydan proibia o uso de armas, mas tal proibição
não se aplicava a Idelson, nem aos filhos de Dorval que lhes faziam a
segurança. A arma que matou Idelson estava acondicionada entre a sela e o
cavalo utilizado por seu assassino, o outro pistoleiro. Após tomarem
conhecimento da morte de Idelson, as famílias Jardim e Lima, parentes entre si,
reuniram-se em torno de 12 homens e foram até a casa de Dorval para vingarem
Idelson Lima. Ao chegarem a casa, não encontraram o autor do homicídio que
havia fugido. Então alegaram para Dorval deixar sua arma em casa e
acompanhá-los até a cidade, onde um Sargento da PM estava aguardando para
ouvi-lo sobre o crime. No caminho, os doze homens mataram Dorval, “que não
tinha nada a ver com o crime do filho”, com mais de quarenta e cinco tiros pelo
corpo. Os doze homens voltaram para Santa Maria do Suaçuí contando e festejando
a covardia que fizeram.
Em seguida a
este episódio ocorreu a morte do Deputado Nacip Raydan, político majoritário na
região, cujos candidatos que apoiava para a prefeitura municipal não perdiam
eleições. Os oponentes políticos de Nacip, reuniram e convenceram Alírio,
dentista da cidade de Santa Maria do Suaçuí, que só com a morte do deputado ele
poderia ser eleito prefeito da cidade. Alírio era casado com Maria Regis, viúva
do "Chico" Lima, irmão do "Geraldinho" Lima, que aceitou a
proposta. Viajou à Galiléia/MG, onde buscou seu irmão, conhecido por
"Munheca" que teria intermediado ou participado diretamente do crime.
O pistoleiro Ozasif Lopes permaneceu por cerca de uma semana nas proximidades
da casa de Nacip Raydan, carregando um alforje onde estava a arma. Nacip chegou
de Belo Horizonte em uma Rural e parou em frente à sua casa, na parte alta do
centro da cidade, com o veículo carregado de remédios para doação aos pobres. O
criminoso aproximou-se e desferiu os tiros que o mataram instantaneamente. O
crime causou grande comoção na cidade e no meio político do estado, tendo o
governador Magalhães Pinto determinado a presença do então capitão Pedro,
militar de Governador Valadares, respeitado e temido por sua valentia e meios
um tanto quanto ortodoxos para o combate ao crime. Ao chegar à cidade mandou
prender todos os Jardim e os Lima para apurar os crimes. Na entrada de Santa
Maria do Suaçuí, fazendeiros, homens velhos e políticos da região, pertencentes
às duas famílias, passaram diversos constrangimentos por parte dos policiais
militares que acompanhavam Capitão Pedro. Foram colocados nus por ordem do
oficial.
“Era tempo de ditadura e os sordados enfiava os pés nos homi
nôvo e véios, depois de pô eles pelado, acertando aqueles botinões na trasêra
deles”.
Alírio ao
ser preso, acusou "Geraldinho" de ter fornecido a arma do crime,
esperando que com o envolvimento de pessoa influente, pudesse se safar. No
entanto, essa acusação gerou uma série de arbitrariedades por parte dos
policiais. "Geraldinho" Lima teria sido submetido à tortura, quando
colocaram um peso de cerca de cinco quilos amarrados em sua genitália para
confessar participação na morte do deputado Nacip Raydan. Durante as buscas nas
casas e fazendas, o Capitão Pedro utilizava varas compridas de bambu, que eram
enfiadas entre as tábuas dos assoalhos das casas e várias vezes ouviram-se
gritos de homens escondidos sob o piso de madeira.
“O cara tomava uma estrepada na bunda e gritava, carma que
eu vô sai”.
Após as
investigações do Capitão Pedro, Alírio foi processado e ficou preso por alguns
anos no Departamento de Investigações, de onde saiu direto para Santa Maria do
Suaçuí, não acreditando que poderia ocorrer vingança pelos constrangimentos,
espancamentos e tortura a que vários moradores da cidade foram submetidos por
sua causa, principalmente "Geraldinho" Lima. Segundo contam os moradores
da cidade, Capitão Pedro encheu um tambor de bosta com pequenas perfurações, no
alto de um cômodo e ali vários suspeitos, das famílias Jardim e Lima, foram
colocados, enquanto resquícios de fezes caíam sobre suas cabeças.
“Todos ficavam piados e não adiantava tentar tirar a cabeça
do lugar, pois saía de uma merda para cair em outra”.
Alírio
envolveu "Geraldinho" Lima com a falsa acusação do empréstimo da arma
e causou a revolta dos filhos "Dico" Lima e Cirilo Lima. Não adiantou
ficar cerca de sessenta dias na “moita”, em uma fazenda na zona rural de Santa
Maria. No primeiro dia que foi à cidade, esteve na feira, parando seu Jipe para
ver o movimento, quando Cirilo aproximou-se por um lado do veículo, enquanto
"Dico" Lima foi abaixado pelo outro. Enquanto Alírio estava atento a
Cirilo, "Dico" Lima disparou vários tiros com projéteis envenenados,
matando-o na hora.
“E para enterrar esse homem? Ninguém queria aceitar o corpo.
Nem Santa Maria, nem Cristais, nem Folha Larga. Ninguém”.
Fotos de Santa Maria do Suaçui e Jardineira, de Igor Drumond
Soares. Década de 50.
Neném do Gentio
Antes do assassinato de Nacip Raydan, ocorreu uma outra
tentativa contra o político, no princípio dos anos 60, envolvendo seu sobrinho
conhecido por "Neném do Gentio". Segundo depoimentos colhidos de
pessoas que moraram em Santa Maria do Suaçuí, "Neném do Gentio" era
fazendeiro na zona rural e teria contratado um pistoleiro de Governador
Valadares para matar Nacip Raydan. O pistoleiro esteve na cidade para fazer
levantamentos e constatou que o deputado era pessoa querida da população e
ajudava os pobres com remédios e alimentos, angariando enorme simpatia na
região, onde não perdia eleição. O pistoleiro teria pensado, “este homem é bom
demais, eu não vou matar este homem não”. Procurou o deputado que percebeu que
ele estava armado, mas aceitou a conversa.
“Era homem que não tinha medo de nada”.
O pistoleiro
contou a história e a oferta de uma grande importância em dinheiro, pelo seu
sobrinho “Neném”, para matá-lo. Nacip teria dito:
“Se ofereceram quinhentos mil, minha cabeça vale um milhão e
eu te ofereço o dobro para você voltar e matar o mandante”.
O homem
aceitou a proposta e voltou à fazenda de “Neném do Gentio” que veio recebê-lo
de cuecas e perguntou se tinha feito o serviço. O pistoleiro sacou sua arma e
matou “Neném do Gentio”. Contam que Nacip, após o fato, teria dito na cidade
que realmente mandou matar o sobrinho. Era questão de sobrevivência. Ou ele ou
o sobrinho.
Os crimes da família Leite na visão de Geraldo Horta
Um dos
primeiros crimes narrados por Geraldo foi o de José Alves Afonso, o “Zeca da
Lia”, assassinado em 1956 com tiros pelas costas, quando se encontrava na
barbearia do “Dito”, em Santa Maria do Suaçui. Este crime seria o primeiro de
José Leite, sendo a vítima seu cunhado, casado com a irmã Lia. Nas décadas de
60, 70, 80 e 90 inúmeras pessoas morreram vítimas das balas assassinas
encomendadas pela família Leite, dentre elas os dois filhos do Joaquim do Ó,
crime empreitado para o pistoleiro Joel Moreira Alves, que por sua vez
subempreitou para os pistoleiros “Peba" e "Deca”. Assassinaram
Sálvio, "Carlinho", "Bedeu", "Santinho Pego" e um
fazendeiro conhecido como Joel, por ser considerado valente e “peitudo”, temido
pelos irmãos Leite. Ivan Pimenta, fazendeiro da região, vendeu uma fazenda para
Adalberto, avaliada em torno de cem milhões de cruzeiros nos anos 70, foi
cercado na estrada pelos Leite que lhe ofereceram vinte e dois milhões de cruzeiros.
Caso contrário, comprariam da viúva.
O pistoleiro
"Sebastião do Arciso", autor da morte de "João Pego", foi
também responsável pelo crime que vitimou uma proprietária de terras na
localidade denominada Catequese. A mulher foi enforcada e enterrada em uma cova
aberta por Mário, vaqueiro de Zé leite ou Alírio. Segundo contam, as terras
atualmente são fazendas dos Leite em Catequese, onde o vaqueiro Mário
trabalhava. Joaquim Ferreira da Costa, um dos companheiros de Albino, foi morto
por Antônio "Roseteiro" e depois assassinado pelo pistoleiro Albino,
a mando dos Leite, por vingança. Foram citados os homicídios de Ademir Quintino
Santos e Geraldo do Crispim (1968), Emídio Gonçalves, Galileu, e Stael.
"Geraldo de Sérgio Alegre" era pistoleiro e foi morto por José
Antônio, filho de Artur Eustáquio Leão, como queima de arquivo, por que sabia
demais sobre os Leite. "João da Donata", morto por Hélio
"Tizilim", com arma e munição fornecidas por Toninho Leite e Albino,
sendo o último, pivô da chacina de Malacacheta. Vicente Matias, também
pistoleiro dos irmãos, foi assassinado pelo “Zinho” e seu irmão, dentro de um
bar, quando ia receber dinheiro de Aldécio.
Pedrelino
está na lista de assassinatos, cujo corpo foi jogado em frente à cadeia de
Malacacheta. Juca Peão e família também foram mortos, crime que teve seu início
em Capelinha, com a morte de Antônio Campeiro. Mesmo fugindo para Imperatriz,
Maranhão, a família foi perseguida e dizimada naquele estado. São também
computadas a família as mortes de Joel, pistoleiro morto no hospital de Poté.
João "Bundão", Benedito "Preto", "Zé Pretinho" e
Davi Campeiro, cuja fazenda de Jacutinga foi tomada com o uso de violência.
José Bernardino Pereira (1983), Santos Ferreira de Araújo (1984), José augusto
de Andrade e família (1990), João Ferreira de Araújo (1990), Djalma Alves dos
Santos, Elvércio Alexandrino Augusto (1992), João Batista dos Santos e seu
filho de sete anos (1981), Wander Campos (1974), Antônio Benedito dos Santos, o
Benedito "Preto", em 6 de maio (1969), Felisberto Monteiro Silva
(90), Galileu Vidal de Oliveira (1980), José Isac de Souza e seu filho Edil
Geraldo de Souza (1987), João Maria Pereira de Souza (1985), José Antônio de
Souza, Humberto Cordeiro (1990) e inúmeros outros crimes que não foram citados,
talvez por terem caído no esquecimento, ou simplesmente por que foram
enterrados em cemitérios clandestinos, carbonizados ou de alguma forma os
corpos não foram encontrados ou identificados. Um detalhe interessante que se
constata na vida dessa família é que vários nomes são citados primeiramente
como matadores e depois surgem como vítimas. A explicação é simples. Os irmãos
leite usavam e sugavam o que podiam dos pistoleiros, em seguida como queima de
arquivo ou para o não pagamento de empreitadas, mandavam outros matadores
exterminá-los, como mercadoria descartável.
Em vários
crimes, como o assassinato de Joel no hospital, a chacina de Malacacheta, a
morte de Nicolau em Peçanha e de um casal de velhos fazendeiros em Conselheiro
Pena, os pistoleiros dos irmãos Leite usaram documentos, fardas ou coletes para
se passarem por policiais e facilitar a consumação de seus crimes. As vítimas,
em todos os casos receberam seus algozes acreditando serem policiais, sendo
surpreendidos pelos assassinos através da simulação.
Emboscada e Morte do Deputado Nacip Raydan
A morte de Nacip Raydan também é registrada na reportagem de
50 anos de sua morte pelo repórter Arnaldo Viana, do Jornal Estado de Minas.
Há 50 anos, o médico e deputado estadual Nacip Raydan
Coutinho foi assassinado na porta de sua casa, em Santa Maria do Suaçuí, numa
trama que envolveu política, inveja e traição
Arnaldo Viana - Estado de Minas
Publicação: 14/04/2012
Há exatos 50 anos, um assassinato fez tremer o mundo
político de Minas Gerais, pois acirrou ainda mais a grande rivalidade que havia
entre os dois partidos mais fortes do estado, a União Democrática Nacional
(UDN) e o Partido Social Democrático (PSD). Foi no entardecer de 14 de abril de
1962 que o médico e deputado estadual Nacip Raydan Coutinho tombou diante da
garagem de sua casa, em Santa Maria do Suaçuí, Vale do Rio Doce, com três balas
calibre 38 no corpo. Um crime de mando só esclarecido porque entrou em cena um
personagem legendário das páginas policiais mineiras, o coronel PM Pedro
Ferreira dos Santos. Mesmo assim, ele só chegou aos mandantes e ao executor
depois de meses de diligências, pistas falsas, mentiras, intrigas,
interrogatórios e prisões na então conturbada Região Leste, na época dominada por
homens ganaciosos e pistoleiros de aluguel barato.
Nacip Raydan pertencia ao antigo PSD e o governador na época
era Magalhães Pinto, da UDN. O deputado era, portanto, um representante da
oposição. E não era um opositor qualquer. Era ferrenho ousado, autoritário,
audacioso e persuasivo. Do tipo que a legenda precisava na sua luta ferrenha
contra os adversários. Esclarecer o assassinato tornou-se prioridade para o
palácio do governo, para, principalmente, dissolver o falatório, satisfazer as
cobranças da imprensa e tirar dos ombros do governador qualquer tipo de
suspeita. As investigações começaram com o delegado Newton Nogueira Campos, da
Delegacia Especializada de Segurança Pública, mas não avançava.
A imprensa fazia seu papel: exigia a imediata apuração,
diante das especulações que sacudiam a comunidade política. Os partidos de
oposição na Assembleia Legislativa se uniram e formaram uma comissão para
acompanhar o caso, que continuava incomodando o udenista Magalhães Pinto.
Então, alguém soprou nos ouvidos do governador que só havia um homem capaz de
esclarecer a emboscada e botar os assassinos na cadeia. Era o coronel Pedro
Ferreira dos Santos. O governador encarregou o então secretário de Segurança
pública, Faria Tavares, de chamar o militar, famoso por desvendar crimes nas
regiões Leste e Nordeste de Minas.
Jornal Estado de Minas - Nacip Raydan Jornal Última Hora-29 de agosto de 1963. Coronel Pedro Ferreira e reportagem sobre o jaguncismo
Saga
Pedro Ferreira já estava na reserva, mas resolveu aceitar o
desafio. Só a citação de seu nome fazia a bandidagem do Leste mineiro tremer e
escapulir para outras bandas. O coronel pediu verba de Cr$ 1,5 milhão (dinheiro
da época) para custear as diligências. Sabia que teria de fazer muitas viagens.
Nada lhe foi negado pelo palácio. E em 21 de abril de 1962 o legendário coronel
desembarcou em Santa Maria do Suaçuí para iniciar o desembaraço da rumorosa
execução.
A repercussão era tão grande que o Estado de Minas destacou
o repórter Fialho Pacheco, que se tornou notável por ter ganhado três vezes o
Prêmio Esso de Reportagem, para não só acompanhar os passos de Pedro Ferreira
como também se antecipar às investigações. No livro Um certo delegado de
capturas, o também coronel Klinger Sobreira de Almeida narra toda a saga de
Pedro Ferreira, com quem trabalhou na espinhosa missão de botar na cadeia os
assassinos de Nacip Raydan. Klinger descreve muito bem como a violência reinava
no Leste mineiro naquela ocasião:
“Os caminhos percorridos por certos chefes da política
regional não são sempre os indicados pela decência e lealdade para com os
adversários. As dezenas de cruzes espalhadas por suas ermas estradas,
salpicadas de sangue do inimigo descuidado, retratam a mentalidade de
ultrapassados grupos políticos, que, naquelas paragens, digladiam pelo
mandonismo municipal. Não há lugar para os que discordam, para os que ousam
quebrar as falsas unanimidades das convenções, para os que sobressaem da
mediocridade geral. Os que assim agem e os que assim pensam são sumariamente
afastados, por bem ou por mal.”
Era esse cenário que Pedro Ferreira iria percorrer, o que
não era novidade para ele.
Os acusados
Depois de muitas pistas falsas, prisões equivocadas ou não,
Pedro Ferreira chegou aos mandantes e ao executor. Em 16 de novembro apresentou
seu relatório com os nomes dos acusados.
De acordo com o livro Um certo delegado de capturas, o corajoso coronel
relacionou sete nomes: Rodolpho da Silva Lima e seu irmão Geraldo Benigno Lima
como mandantes, João Alves de Oliveira e Alírio Bastos, como articuladores, com
a colaboração de José Ferraz Salgado e Wantuil de Paula Neves; e Ozacife Lopes
de Carvalho, o pistoleiro que emboscou em atirou em Nacip Raydan.
De acordo com o relato de Pedro Ferreira, contido no livro,
Nacip, enquanto estudava medicina no Rio de Janeiro, perdeu o pai, José Nacip
Raydan, assassinado em uma emboscada. Como a polícia não deu conta de
esclarecer o crime, ele fez justiça com as próprias mãos, ordenando a morte de
mandantes e executores. Apesar da fama de durão, quem chegou a Santa Maria foi
um homem cativante, educado, de sorriso fácil, simpático, que inspirava
confiança, audacioso e corajoso. Era a pessoa certa para a direção política do
município e escolheu o PSD, partido de oposição ao governo estadual até o
início da década de 1950. E Nacip tornou-se um líder político respeitado em
toda área de influência do município. Em 1951, seu partido chegou ao governo do
estado. Em 1954, foi eleito prefeito de Santa Maria. E, em 1959, deputado
estadual, mandato que não terminou. “Sua vontade era única e soberana. não
admitia réplicas nem contestação. Os aliados o temiam e fingiam aceitar tudo”,
escreveu Klinger. Em 1960, com a saída do PSD do governo, os adversários de
Nacip tentavam se fortalecer para enfrentá-lo nas urnas. Um deles, Geraldo
Lima, que ocupara o cargo de prefeito por duas vezes, tentou se candidatar
novamente, pelo PSD, mas Nacip, com forte influência no partido, impediu.
Geraldo, era acusado de ter mandado matar um dos empregados da fazenda do
médico, que, por isso, não confiava nele.
Vingança
Geraldo tentou o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), mas
Nacip, amigo da cúpula petebista, conseguiu barrá-lo novamente. Geraldo tentou
a UDN, que o recusou. Vaidoso e ganancioso, Geraldo sentiu-se ofendido e se
aproximou de Alírio Bastos, um aventureiro, que aceitou a empreitada de tramar
a morte de Nacip Raydan por 400 mil cruzeiros (dinheiro da época). Rodolpho da
Silva Lima, irmão de Geraldo, financiaria a maior parte: 300 mil. Aliou-se ao
grupo o escrivão de polícia João Alves, que pagaria o restante, e José Ferraz
Salgado, para ajudar Alírio na coordenação do crime. João era amigo,
companheiro de política e compadre do médico e deputado, mas o odiava porque
nunca era ouvido nas decisões e o invejava. Alírio ofereceu 100 mil cruzeiros
ao pistoleiro Wantuil de Paula Neves para atirar em Nacip, mas ele recusou a
oferta e indicou Ozacife Lopes de Carvalho, morador de Galiléia, para a tarefa.
Ozacife foi levado a Santa Maria e ganhou de Geraldo um revólver calibre 38 e
balas envenenadas com formicida. Por vários dias, vestido quase como mendigo e
com um alforje pendurado nos ombros, rondou a casa de Nacip. No dia 14 de
abril, Alírio, seguindo o planejamento, bateu na porta do médico e deputado e
pediu a ele que fosse atender a sua adoentada sogra. Nacip foi e, na volta, o
pistoleiro Ozacife o esperava. Foram três tiros e as balas envenenadas causaram
hemorragia interna, matando-o. Um crime cometido por disputa política, inveja,
ganância e ódio. Mas, o trabalho do coronel Pedro Ferreira não acalmou de
imediato a imprensa e o mundo político. A insinuações continuaram por um bom
tempo. A viúva de Nacip, Idelze Petrucelli Raydan, de 77 anos, cansada de tanto
falar e de escrever sobre o caso, não quis fazer comentários sobre os 50 anos
da morte do marido.
II Capítulo - O Império das Mortes
"O Império do medo se instalou em Malacacheta". Padre Francisco Esteves Pimenta
As Surras e as"Mangas".
"Zé
Guaxe" foi empregado dos irmãos Leite desde pequeno e quando tinha 13 anos
foi chamado por Toninho Leite que lhe falou para lhe encomendar uma surra em
Lúcia Matias que estaria fazendo intrigas com o nome de sua mulher:
“Ocê vai dar uma surra na Lúcia Matias pra ela aprendê a
cunversá fiado cum nome da minha muié”.
Toninho
disse mais:
“Se ela triscar, a Noélia vai dá um tiro na cara dela”.
“Zé Guaxe”
deu a surra, batendo bastante na mulher, enquanto Toninho, sua esposa Noélia e
outros empregados assistiam. Zé Guaxe alegou que o fez por medo dos irmãos
Leite, caso não cumprisse, ele é quem
apanharia. Lúcia saiu da sede da fazenda bastante debilitada e capengando pelos
chutes que tomou, prometendo veladamente que iria se vingar. Realmente, tempos
depois, Lúcia Matias contratou Antônio Muladeiro ou "Morenito" para
matar “Zé Guaxe”, mas não conseguiu levar a termo a empreitada por terem
descoberto antes que o crime fosse consumado. Esse tipo de surra era comum nas
fazendas dos irmãos Leite contra empregados e pequenos desafetos.
A certeza de
impunidade dos irmãos Leite pelos crimes praticados é facilmente constatada, ao
verificarmos em uma certidão da secretaria do Juízo da comarca de Malacacheta,
o registro de Zé Américo, em 26/06/70, como um dos membros do conselho de
sentença, em um julgamento, que Alírio, José Leite e João Belchior dos Santos
foram acusados da morte de Ademir Quintino dos Santos e outros. Apesar de
"Zé Américo" ter sido processado e investigado em vários crimes com
os irmãos Leite, participou desse julgamento. Todos os acusados foram
absolvidos.
Dentre os
hábitos dos irmãos Leite, um era sádico, principalmente de "Toninho"
e Aldécio Leite que espancavam os vaqueiros e empregados. Geralmente mandavam
"Giramundo" ou outro pistoleiro praticarem as agressões. “Zé Guaxe”
era vítima das violências e maus tratos e de certa feita foi espancado por
recusar colocar o gado de Aldécio Leite na “manga” de um fazendeiro conhecido
por Maurício Campos, sendo obrigado a fazer o procedimento ilegal, temendo ser
assassinado. O hábito dos irmãos Leite consistia em roubar as “mangas” dos
outros, que em outras palavras significa colocar o gado de suas propriedades
nas fazendas de seus vizinhos, usando seus pastos sem autorização. Os irmãos
Leite mandavam arrombar porteiras, cortavam cercas e colocavam seu gado para
pastar por vários dias. Segundo “Zé Guaxe” o objetivo em relação a Maurício
Campos era o de provocar a reação do mesmo para posteriormente o matarem e
ficarem com sua fazenda, já que tinham inveja do curral e da organização
daquele fazendeiro. "Zé Guaxe", antigo vaqueiro dos Leite, afirmou
que os irmãos Leite tinham envolvimento com furto de gado, “misturavam o seu
gado com o dos outros, fazendo retornar todos juntos depois para que fossem
carimbados em sua fazenda”. Ocorreu o caso de um boi de cor preta, de
"Nô" Barroso, abatido e colocado em uma caminhonete para presentear
"ôtoridades" que gostavam muito dos “meninos”(irmãos Leite)”. Os
Leite mandavam matar gado das propriedades vizinhas e faziam fartas
churrascadas para autoridades diversas.
A Morte pelas Terras
"É mais
fácil comprar terras de uma viúva apavorada do que dos legítimos
proprietários". Delegado Nilton Ribeiro de Carvalho.
A ideia de
registrar os fatos envolvendo o jaguncismo no Vale do Mucuri e os irmãos Nunes
Leite surgiu a partir da chacina de Malacacheta, cuja repressão, à época, foi
liderada pelo delegado Nilton Ribeiro de Carvalho e José Resende de Andrade,
respectivamente chefe do Departamento de Investigações e Secretário de
segurança. Durante as diversas diligências realizadas, aflorou uma enorme gama
de acontecimentos que iniciaram na década de 50 com envolvimento de membros da
família Nunes Leite e outras em crimes diversos e prosseguiram nas décadas
seguintes. Falava-se muito dos crimes e atrocidades, mas achávamos que existia
muito folclore nas histórias contadas até começar a entranhar na vida daquela
família, buscando trazer à luz da justiça, os criminosos envolvidos nos
bárbaros crimes durante algumas operações realizadas. Buscamos através de
pesquisas em documentos, testemunhos e reportagens diversas, trazer a realidade
do que aconteceu, sem buscar emitir opiniões ou julgamentos pessoais sobre essa
história de sangue.
No rosário de
mortes atribuídas a família Leite, a grande maioria se deu por pistolagem e o
móvel era a ganância pelas terras alheias, onde a vida daqueles que não se
submetiam às suas vontades não valia um vintém furado. Caminhando pelas bandas
de Água Boa, Malacacheta, Capelinha e Santa Maria do Suaçui, conversamos com
pessoas simples, comerciantes, fazendeiros, enfim, com o povo da região,
pessoas que antigamente os temiam e hoje se atrevem a narrar os casos, mesmo
sabendo que as conversas eram gravadas para esse registro. Relatam seus crimes,
suas vitimas e as circunstancias em que ocorreram. Como uma memória de
computador as pessoas armazenaram em seus cérebros todas as informações e
guardaram durante muitos anos com uma senha que os impedia de sequer comentar o
assunto, esperando o momento seguro para se manifestarem e “abrir o programa”.
Conquista de Terra e Política
"... Eles apoiaram e elegeram vários políticos na
região, disse o delegado Raul Moreira, lembrando do assassinato do candidato a
deputado Vander Campos, ocorrido em 1974... Mas, as terras, são, sem dúvida, o
principal motivo que faz os Leite envolverem-se em assassinatos, de acordo com
o delegado Moreira. Basta observar os inquéritos que passaram pela Divisão de
Crimes Contra a Vida. A maioria das vítimas são pequenos e médios fazendeiros,
cujas terras são cobiçadas pelo clã dos Leite. Segundo o delegado Otto Teixeira
, os Leite alimentam uma briga antiga com a família Augusto Cordeiro, também
proprietária de terras na região."
Trecho do livro SÓ OS FORTES SOBREVIVEM, do detetive
"Paulo Maloca".
"Era público que os Leite adotaram um esquema de
pistolagem para se apossarem de propriedades, aumentando em muito, aumentando o
medo e impondo seus desejos de cada vez terem mais terras. Muitas delas não
eram legalizadas por terem assassinado os legítimos donos ou simplesmente os
terem expulsado. Todos sabiam e diziam na região que assim fizeram com o
fazendeiro "Zeca da Baiana", após mandarem matá-lo no centro da
cidade de Santa Maria do Suaçui, em uma barbearia, apossando-se de suas terras.
Da mesma forma agiram com outros fazendeiros na região, adquirindo mais terras
em situações obscuras, tais como a fazenda Plataforma, na região do Bomfim,
distrito de Água, de Telvino da Luz; a fazenda dos Peões, de Juca Peão e D.
Geralda, família esta, dizimada no Estado de Minas e em Imperatriz, no Estado
do Maranhão, em situações nebulosas..."
Iniciado o
império dos irmãos Leite naquela região afastada de tudo e todos, onde a lei
era predominantemente dos mais fortes, os assassinatos passaram a acontecer
através de emboscadas noturnas nas traiçoeiras estradas de terra e depois em
plena luz do dia, à vista de todos, que se calavam cada vez mais, com medo de
ser o próximo da lista. Os irmãos Leite deixaram de ter inimigos ou desafetos.
Todos eram eliminados e pistoleiros de aluguel ou simplesmente jagunços da
região, criados em suas fazendas, assumiam os crimes sem denunciar seus
“patrões”. Em São João Evangelista, outros irmãos, os "Curió", também
cometiam uma série de assassinatos. No Vale do Mucuri e Rio Doce, os crimes de
pistolagem cresciam, assim como, a impunidade daqueles que matavam ou mandavam
matar.
A tentativa de homicídio contra Aldécio Leite
No final da década de 70 e princípio dos anos 80, a situação
na região do Vale do Mucuri estava insuportável pela série de assassinatos de
proprietários rurais e pessoas residentes nas cidades de Água Boa, Malacacheta,
Santa Maria do Suaçuí e Capelinha, crimes atribuídos à família Leite, que
compravam as terras na região e não saldavam as dívidas, determinando a morte
daqueles que ousavam cobrá-los. A família Leite para atingir seus objetivos
mandava bater, sequestrar e matar, ou mantinha em cárcere privado, como fizeram
com Djalma Alves dos santos em 1972.
Neste clima,
na virada da década, ocorreu uma reunião com fazendeiros da região, dentre eles
Juca Peão e Emídio Gonçalves que resolveram enfrentar os Leite, utilizando os
mesmos meios que seus oponentes, a pistolagem. Por se tratar de pessoas
trabalhadoras no meio rural, que viviam de suas atividades agrícolas e
pecuárias, os fazendeiros deram com os burros n’água pela inexperiência com o
crime. Contrataram um pistoleiro para matar primeiramente Aldécio Leite,
dando-lhe todas as instruções para a emboscada e a promessa do pagamento após
trazer a orelha de Aldécio. O pistoleiro dirigiu-se para o lugar denominado
Urupuca, próximo a uma lagoa onde existia uma vasta cultura nativa de taboas, e
ficou a espreita. Com a chegada de Aldécio naquele local, o pistoleiro efetuou
disparos em sua direção, atingindo-o na perna, que ato contínuo, em sua defesa,
sacou de sua arma, um revólver calibre 38, efetuando cinco disparos e
enfurnando-se no meio do taboal, onde a água se misturava ao barro e lodo,
formando uma camada espessa. Aldécio afundou-se no meio da lama, com apenas
parte de sua cabeça para o lado de fora, coberta pela vegetação e uma das mãos
com a arma que tinha apenas uma cápsula no tambor. O pistoleiro, na cegueira de
cumprir sua empreitada e receber seu dinheiro, não tomou as precauções devidas
para a ocasião e iniciou a procura do corpo de Aldécio para arrancar-lhe a
orelha, julgando-o morto. Ao se aproximar de Aldécio, não percebeu que ele
estava a poucos passos e camuflado, recebendo um único tiro na cabeça, tendo
morte instantânea. A partir daí os irmãos Leite acirraram a sua sede de sangue,
transformando a vida dos fazendeiros e familiares daquela região, conforme
vamos verificar nos próximos registros.
Tentativa de morte de
Williamar Ferreira Seixas
Williamar
era empregado de Idalmo, um comerciante de queijo e frequentemente ia às
fazendas dos irmãos Leite para comprar o produto que era levado até
Malacacheta, onde seu patrão providenciava as embalagens para posterior venda
do em Belo Horizonte. Por esta razão, Williamar conhecia todas as pessoas que
conviviam naquelas fazendas, dentre elas uma mulher conhecida por Ednamara, que
residia nas terras de Zé Leite e segundo comentários seria sua filha com uma
lavradora conhecida por “Nega”, moradora do morro do cipó, em Malacacheta. Com
as idas e vindas à fazenda de Zé Leite, Williamar passou a se relacionar com
Ednamara e os comentários começaram a incomodá-lo, que não aceitava a boataria
envolvendo o nome de sua filha, que Williamar estaria “fazendo mal” a sua
filha. Zé Leite contratou os serviços de Israel e lhe deu um revólver calibre
38 para dar cabo a empreitada. Israel, utilizando uma máscara, tentou matar
Williamar na casa dele, mas apesar de baleá-lo não conseguiu matá-lo, ficando
apenas na tentativa. Após o crime, Israel foi para a Fazenda Urupuca, quando
Toninho Leite lhe chamou a atenção com as seguintes palavras:
“O Zé Leite mandou matá o homem e não relá ele”.
Jornal Diário da Tarde-21/1/1992 - Mais uma dos Leite
Queijeiro Baleado
Insatisfeito porque a filha mantinha um romance com o
queijeiro Williamar Ferreira Seixas que era casado, José Nunes Leite chamou
Israel Ferreira Paulino, pistoleiro da família e ordenou que ele matasse o
homem... Acostumado a manejar seu revólver calibre 32, Israel, na tarde de
29/9/1987, recebeu de José Leite, um revólver calibre 38, conforme disseram as
testemunhas ouvidas pela polícia. O pistoleiro escondeu-se em Malacacheta e
quando o queijeiro chegou na Rua José Luiz Pego 111, às 21:30 e guardou o carro
na garagem, foi baleado. O pistoleiro o atingiu no peito. A bala atravessou seu
corpo e Williamar ficou em estado grave. Levado inicialmente para o Hospital de
Malacacheta, ele foi transferido para Teófilo Otoni, onde recuperou-se ... O
irmão de José Leite, Antonio Nunes Leite, ou Toninho Leite, mandou a camionete
apanhar o pistoleiro e levá-lo para a fazenda Urupuca, de propriedade da
família Nunes Leite. Lá uma testemunha ouviu o diálogo bastante elucidativo
para a polícia, quando Toninho Leite disse para Israel: O Zé mandou você matar o homem e não
arranhá-lo... O delegado Otto Teixeira disse que as provas são inquestionáveis.
A Morte de Wander Campos
Wander Campos era um homem de estatura avantajada que se
impunha pelo seu físico, sendo arrebanhado nos anos da ditadura, por volta de
1964 a 1965, pelo General Bragança, para trabalhar a serviço do governo.
Naquela época pessoas comuns eram recrutadas como voluntárias para servirem nas
“Brigadas dos Civis”, que na realidade eram compostas de homens alcunhados de
“bate-paus”, que usavam de violência e arbitrariedades para conter os revoltosos
ou opositores do regime. Muitas pessoas foram assassinadas e as mortes
atribuídas ao pessoal de Wander Campos, sob as vistas grossas de Coronel Pedro,
delegado especial na região de Governador Valadares. Em um de seus crimes
Wander chegou a ser preso e levado para o Dops, onde servia café, enquanto
cumpria seu mandado de prisão. Como era ligado ao governo, conseguiu através do
governador Rondon Pacheco, o indulto presidencial, voltando para o Vale do
Mucuri. Nessa ocasião conheceu Stael, filha do Gabi Campeiro com quem amasiou.
A partir do relacionamento com Stael, Wander Campos passou a ser cobrado pela
mulher, em relação a uma vingança contra os Leite pelo assassinato de um
parente de seu pai, Gabi Campeiro, cuja morte era atribuída a "Zé Leite".
Como Wander Campos era um homem de valentia inquestionável, se propôs a acabar
com os irmãos Leite, atendendo ao desejo de vingança da mulher, chegando a
comentar com pessoas ligadas ao coronel Pedro a sua intenção. Em meados de
1974, Wander compareceu em uma audiência cível no fórum de Peçanha, quando
chamou os irmãos Leite de “cagões e ladrões de terra”, com eles presentes na
audiência. Os irmãos ficaram ressabiados com os xingamentos e a raiva se
acirrou quando tomaram conhecimento através do amigo coronel Pedro, que Wander
Campos estaria contratando pistoleiros para acabar com sua raça. Apesar de
temê-lo pelas suas mortes e o estreito relacionamento com os militares, os
irmãos Leite começaram a arquitetar seu assassinato. Naquele ano Wander
candidatou-se a deputado estadual e começou suas viagens de campanha política
pelo Vale do rio doce e Mucuri. Mesmo
advertido pelos seus correligionários a não andar pelos lados de Água Boa,
Wander não acreditou e foi tentar conseguir alguns votos naquela região. No dia
sete de outubro de 1974, por volta das 13.00 horas, quando entrava em Água Boa,
foi interceptado por Aldécio, Alírio e "Zé Pretim", quando esboçou a
reação de sacar seus dois revólveres Magnum que trazia na cintura, mas foi
abatido pelos tiros certeiros de Alírio Leite. Apesar de todas as provas contra
eles, foram julgados e absolvidos em Capelinha, quando atuou na defesa o
advogado Marcelo Linhares e na assistência de acusação Rogério Augusto de
Souza. Dois baluartes de júri da capital mineira dos anos 70 e 80.
"Como plataforma eleitoral, pelo menos na violenta
região do Vale do Rio Doce, onde a maioria das cidades tem sequer delegado ou
escrivão e as tocaias e os tiros de Winchester costumam acontecer na frente da
justiça, as promessa de Wander Campos, de 42 anos, candidato a deputado
estadual pela Arena de Minas Gerais, carregava um indisfarçável tom de desafio.
Ele garantia, que se eleito, passaria a exigir providências da Secretaria de
Segurança Pública do Estado pra acabar com o banditismo e pôr na cadeia todos
os criminosos da região..."
Na
reportagem completa da Revista Veja, página 30, de 16 de outubro de 1974
registra o crime e repercussão nacional na íntegra. Existem pequenas distorções
entre as versões do www.cyberpolicia.com.br, obtidas através do conteúdo de
processos, Inquéritos Policiais, reportagens e outros documentos com o registro
da VEJA.
http://veja.abril.com.br/acervodigital/home.aspx
As Barbaridades Contra Emídio Gonçalves
Conforme
registrado em artigo anterior, no final dos anos 70, os irmãos Leite tomaram
conhecimento que um grupo de fazendeiros formado por Galileu Vidal, Gabi
Campeiro, Sidalvo Chaves, Emídio Gonçalves e seu filho José Chaves estariam
arquitetando suas mortes, como vingança pelos inúmeros crimes contra outros
fazendeiros, temendo serem assassinados por causa de suas terras. Naquele
período, agosto de 1979, Aldécio Leite foi emboscado e levou um tiro, enquanto
seu empregado “Braulinho”, pai de “João Bundão” morria em razão de tiros
recebidos. Os Leite não esperaram para saber se as informações tinham
procedência e iniciaram a ofensiva, contratando os militares Sargento Gomes e
Edésio, além dos soldados Zé Henrique, Jader e um garçon conhecido por Joel
para consumar os crimes contratados. No caso da morte de Emídio Gonçalves,em
janeiro de 1980, as notícias dão conta que "Toninho" Leite,
"Ofenir Soldado", Aldécio, "Zé Pretim" e o coronel Rui
foram até a fazenda da vítima com uniformes da Polícia Militar, invadiram a
propriedade onde dominaram Emídio e o conduziram a força para uma estrada onde
Aldécio os aguardava. Emídio foi levado para o mato, suas pernas e seus braços
foram quebrados, seus olhos furados, seu pênis arrancado à faca e uma lasca de
Baraúna foi enfiada em seu ânus, que segundo uma testemunha, “penetrou até a
garganta”. Deixaram um aviso:
“Todos que perseguiram os Leite terão o mesmo destino”.
"Jornal Diário da Tarde-5/2/1992
Vaqueiro incrimina os Nunes Leite
Castrados
O vaqueiro esclareceu para a polícia, que Emídio Gonçalves
foi morto por Toninho Leite e mais três pistoleiros. O vaqueiro falou que ouviu
dos também vaqueiros Jorge Picança e Divino Picança que trabalhavam para
Emídio, que presenciaram o crime. De acordo com as declarações, no dia do
crime, os vaqueiros viram quando quatro homens fardados chegaram na fazenda de
Emídio, dentre eles, Toninho Leite. Os dois vaqueiros estavam no curral e
saíram correndo para o mato, mas avistaram os quatro arrastarem Emídio
Gonçalves para debaixo de uma amoreira... deixando o corpo debaixo da árvore,
mutilado. Os dois vaqueiros, depois disso, foram trabalhar para a família Nunes
Leite."
Foram
processados pelo crime Alírio, José Leite e João Belchior, sendo absolvidos por
um conselho de sentença, onde um dos integrantes era José Américo Sales
Brandão, pessoa totalmente envolvida com a família. José Américo era a pessoa
que estava com "Toninho Leite" na camionete no dia de seu
assassinato, quando recebeu um tiro nas nádegas. Segundo as informações
colhidas, o coronel Rui era o responsável pela elaboração da maioria dos
inquéritos policiais contra a família Leite,
distorcendo as provas para
beneficiá-los.
Galileu, a Emboscada no Aeroporto de Capelinha
Galileu
Vidal de Oliveira era um dos fazendeiros da lista dos irmãos Leite marcados
para morrer, no entanto eles tinham uma dificuldade para matá-lo em razão de
residir em Governador Valadares. A família Leite tinha um acordo com o coronel
Jair Alves Pinheiro de não matarem ninguém em sua região militar, sendo ele
comandante do Batalhão PM de Valadares. Como Galileu desconhecia esse trato,
aceitou ir ao encontro dos irmãos Leite em Capelinha, onde selariam um almoço
da paz para acabar com a rixa existente entre eles. Não podia desconfiar de seu
amigo Telles, que também era bem relacionado com os Leite e era o intermediário
do encontro. Era uma armadilha mortal. Em 8 de dezembro de 1979, por volta das
10:00 horas, Galileu embarcou em uma aeronave no aeroporto de Governador Valadares
em direção à morte, desembarcando às 11:20 horas da manhã em Capelinha, onde
Toninho Leite e quatro pistoleiros já o aguardavam próximo à pista de terra.
Quando desembarcou para o “almoço de paz”, Galileu se dirigiu em direção a
"Toninho Leite" para cumprimentá-lo, sendo lhe estendida uma mão
enquanto a outra sacava uma arma, iniciando a fuzilaria. Galileu morreu
alvejado por 29 tiros de projéteis envenenados por estricnina segurando a mão
de "Toninho Leite". Telles entrou desesperado na aeronave que
levantou voo rapidamente enquanto o corpo ficava estendido no chão daquele
aeroporto, em meio a uma grande poça de sangue. O susto e surpresa de Telles e
o piloto foi tão grande que a aeronave decolou com a porta aberta e fizeram
todo o percurso com essa irregularidade, só percebida ao aterrissarem em
Governador Valadares. Foi um dos crimes de maior repercussão da família Leite,
pela maneira fria e calculista com que seduziram Galileu a ir ao encontro de
seu extermínio.
Muitos
crimes foram atribuídos à família Leite, cujos processos foram arquivados por
falta de provas ou de alguma testemunha que ousasse depor contra eles. De certa
feita, em um desses processos, o delegado Raul Moreira presenciou uma cena
inusitada envolvendo uma testemunha ocular de crime envolvendo os irmãos Leite,
quando o juiz perguntou durante audiência se tinha alguma coisa a declarar. Ela
disse ao juiz:
"Não doutô, eu tenho famía pa criá".
O que a
testemunha tinha para contar, não poderia ser contado.
Assassinatos
como de José A. de Souza, em 29 de junho de 1980, as mortes de Santos Ferreira
Araújo, em sete de dezembro de 1984, de Davi Campeiro, cuja fazenda Jacutinga,
passou a ser propriedade dos irmãos Leite,
de João Maria Pereira de Souza, em vinte e oito de junho de 1985, são
alguns dos crimes de pistolagem que certamente não tiveram o desfecho esperado
nos julgamentos, pela ausência de testemunhas de acusação, pela presença de
jurados coniventes ou apavorados pela possibilidade de um voto condenatório.
A Chacina do Maranhão. Família Juca Peão
Mais um dos inúmeros crimes dos irmãos Leite motivados pela
ganância por terras alheias ocorreu em 1983, quando contrataram Donizete
Pereira dos Santos, o "Giramundo", para matar José Bernardino Pereira,
"Juquita Peão", dono de uma fazenda em Água Boa.
"Giramundo" se armou com uma espingarda e um revólver 38, ficando na
tocaia perto de uma fazenda em Alexandrinópolis, mesmo município. Quando
"Juquita" aproximou-se, o pistoleiro disparou vários tiros que o
atingiram mortalmente. A família Juca Peão fugiu para Imperatriz do Maranhão
com medo de serem mortos. Três pistoleiros foram contratados e viajaram para
aquele estado onde assassinaram o restante da família de José Bernardino
Pereira, dentre eles o Nonato e "Zé Paulo". Ao todo, nove pessoas
foram mortas.
"Durante a chacina, um dos filhos
"Peão", ficou de longe vendo
os seus familiares sendo mortos. Ele estava no mato buscando o gado. Ele fugiu
para os EUA e quando vem por aqui, ninguém fica sabendo. Sempre ele vem
disfarçado, vestido de mulher ou de pele escura, de barba, pois ele também é
jurado de morte." Comentário de um
internauta anônimo.
Para a
consumação da chacina, contaram com a participação do fazendeiro Josélio
Barros, de Baixo Guandu, que tinha propriedades naquela região e ligado ao
jaguncismo desde os tempos de pistolagem em Aimorés e a cidade capixaba, na
década de 60. Josélio deu apoio logístico e contratou o advogado que conseguiu
a soltura dos irmãos Leite, quando foram presos naquele estado, como mandantes
da chacina. As fazendas das viúvas de Nonato e José Paulo passaram a ser
propriedade dos irmãos Leite.
ele
Segundo a reportagem do Diário do Rio Doce, de 5 de janeiro
de 1984:
"Foi preso na manhã de ontem, numa pensão da Avenida
MG-4, em frente ao Posto Chimarrão, em Coronel Fabriciano, Robaldo Carvalhais
Ferreira, que acusou o próprio pai, Trajano Ferreira do Nascimento, de
Governador Valadares como mandante da chacina com morte de nove pessoas na
fazenda próxima da cidade de Imperatriz, no Estado do Maranhão, no ano passado.
Ronaldo confessou que foi seu pai, Trajano, quem mandou eliminar toda família
dos Nonato por causa de terras e que um cidadão loiro, de nome Ferreirinha e os
Irmãos Leite, esses da região de Água Boa seriam os exploradores do
serviço...".
Os assassinatos de José Izac de Souza e Edil Geraldo de
Souza
No dia 24 de
maio de 1987, Zé Izac e seu filho Edil foram friamente assassinados na cidade
de Água Boa, Vale do Mucuri, por causa das divergências políticas que tinham
com a família Leite, já que apoiavam um candidato contrário ao que os irmãos
Leite indicavam como majoritário na região. Era um domingo e como é comum nas
cidades do interior de Minas, pai e filho sentaram na varanda de sua casa, na
Avenida Augusto de Lima, que corta a praça principal da cidade. Na pracinha, a
espreita de suas vítimas, os pistoleiros "Carlinhos Pastor" e Elizeu
aguardavam a cerca de vinte metros da residência das vítimas, debaixo de um
caramanchão. Tão logo chegaram e sentaram-se na varanda, os dois pistoleiros se
aproximaram e dispararam suas armas. Zé Izac tombou morto na própria varanda e
seu filho Edil, mesmo baleado, conseguiu levantar após o impacto do tiro e
caminhou até a cozinha onde morreu aos pés de sua mãe Elzira Pimenta de Souza.
Antônio Nunes Leite (Toninho Leite) foi apontado como mandante do crime.
Segundo comentavam na região, durante o velório, Aldeci soltou uma pomba branca
em sinal de paz.
Os filhos do Joaquim do Ó
A certeza de
impunidade dos irmãos Leite não tinha limites ou respeito a qualquer sentimento
ético e moral, quando se tratava da ambição em apropriar de terras alheias. O
caso de Joaquim Correia de Souza é um exemplo claro da prepotência daqueles
irmãos. No dia sete de junho de 1989, Sálvio Correia de Souza, de 28 anos, da
fazenda Córrego Novo, foi encontrado morto, com seis tiros, dentro de um
mata-burro na localidade de Junco de minas, zona rural de Malacacheta, na
fazenda Flor de Minas. Na mesma data, na fazenda Jacutinga, distante cerca de
cinquenta quilômetros de Malacacheta, seu irmão Valdir Correia de Souza, de 26
anos, também apareceu assassinado com o corpo varado por diversos tiros. Os
corpos dos dois irmãos ainda não haviam sido liberados do necrotério, quando
"Joaquim do Ó" recebeu a notícia que seu último filho, Carlos Correia
de Souza, de 23 anos, fora encontrado dentro de um buraco, crivado de balas, na
estrada que liga malacacheta a Franciscópolis. Carlos estava desaparecido desde
o dia anterior. O único crime dos três rapazes foi serem trabalhadores rurais,
filhos de um pequeno fazendeiro cuja propriedade interessava a ganância mórbida
da família Leite. Não foi difícil chegar aos matadores que “eram amigos” das
vítimas e foram os últimos a serem vistos com eles. Gilson Moreira Alves, o
"Deca" e Geraldo Moreira Lopes, o "Peba", contaram
friamente como mataram os rapazes.
Quando
estavam na estrada de Malacacheta para Franciscópolis, em Córrego Novo,
premeditadamente deram carona para Carlos Correia, por volta das 17:00 horas,
parando o Fusca e descendo para “descarregar o intestino”. Enquanto
"Deca" desceu em uma grota, seu companheiro deu três tiros em Carlos,
que não esperava a agressão por confiar nos dois. Ele caiu morto dentro de um
buraco. De lá os pistoleiros se dirigiram com o Fusca placa IK-4663 até a
pensão de D. Sebastiana, onde pernoitaram. Por volta de 4:30 da manhã chamaram
Sálvio Correia que também dormia no local para ir com eles até a roça. No
caminho, quando chegaram próximo ao mata-burro, pediram para Sálvio dar uma
olhada que parecia estar quebrado. Quando o infeliz abaixou-se para verificar, "Deca"
deu dois tiros em sua cabeça com uma garrucha 380. Recarregou e deu outros dois
tiros. Peba que portava um revólver 38 descarregou sua arma em Sálvio. Dali se
dirigiram para a fazenda de Adalberto, no córrego Urupuca, encontrando Valdir
Correia por volta de 11:00 horas. Valdir estava montado em um burro, levando
queijos para entregar, quando "Deca" e "Peba" apanharam
cavalos na fazenda de José Queirós e foram ao encalço do último irmão. Quando
conseguiram alcançar Valdir, o cercaram apontando suas armas, causando espanto
para o rapaz que gritou:
“Que qué
isso, nóis é amigo.
"Peba" retrucou:
“Amigo é o
caraio”.
E começaram
o fuzilamento, no total de dez tiros na vítima. Ao serem ouvidos no inquérito,
os dois deram a versão estapafúrdia de que estavam sendo ameaçados pelos três
irmãos e que Assis Costa Alecrim, conhecido por "Goiano", havia sido
contratado para matá-los. A realidade era outra. Aldécio e "Toninho"
contrataram Joel para matar os irmãos e assim ficar com a fazenda de Joaquim do
Ó. Joel, por sua vez, terceirizou a empreitada para "Peba" e
"Deca", que fizeram o serviço sujo, matando os três filhos de
Joaquim. O pânico das pessoas em relação aos irmãos leite era tanto que Joaquim
do Ó ao ser ouvido na delegacia declarou:
“que não desconfia dos Leite, nem de Toninho, nem de
Adelson, pois eles são muito amigos do depoente”.
Um detalhe interessante, coincidência ou não, os advogados
que acompanharam e assistiram os criminosos são os mesmos que patrocinavam a
família Leite.
Reportagem sobre os
filhos de Joaquim do Ó e as razões dos assassinatos. Prisão dos Irmãos Leite,
no DOPS.
MORTE EM MALACACHETA. Diário da Tarde. 4/2/1992.
Disputa de terras motivou o crime.
Disputa de terras. Este é o motivo do assassinato de Joel
Moreira Alves, o Jó, no dia 19 de julho de 89...
A polícia já sabe que Jó pretendia assumir a administração
das terras de sua amante, que foram arrendadas a Aontonio Nunes Leite, o
Toninho Leite. Este, por sua vez, desejava continuar com as terras e já havia
feito proposta à herdeira de Palmital do Córrego Novo, município de
Malacacheta....
... o litígio pelas terras da Fazenda de Palmital começaram
após a morte do pai da mulher..., José dos anjos. A herdeira, então, arrendou
as terras para Toninho Leite. O contrato venceria 1º de agosto de 89, e, antes
mesmo do vencimento, os tios da herdeira, Carlos Sálvio e Valdir Correa de
Souza, conhecidos como Carlinhos, Salvino e Bedeu, manifestaram o o desejo de
administrar as terras.
Os três filhos do fazendeiro Joaquim Correia de Souza, o
Joaquim do Ó, que se relacionava com os irmãos Leite. Sabendo do interesse dos
filhos de Joaquim do Ó, pelas terras de sua amante, Jó resolveu assassiná-los,
como ficou apurado pela polícia. Geraldo Moreira Alves, irmão de Jó, e Gilson
Moreira Alves, seu primo, mataram Carlinhos, Salvino e Bedeu em junho de 1989.
Assim, um dos vértices do triângulo dos pretendentes às terras da herdeira de
José dos Anjos, estava eliminado. Restavam ainda, contudo, Jó e Toninho Leite.
As Mortes do ex-soldado João Batista dos Santos e seu Filho
de Sete anos.
Os
acontecimentos que levaram ao assassinato de João Batista dos Santos e de seu
filho, de apenas sete anos, crivados por balas disparadas pelos pistoleiros dos
Leite em setembro de 1981, tiveram o início em maio do mesmo ano. Uma briga
entre o vaqueiro Sebastião Pereira de Macedo, o “Zoca” e José Maria dos Santos,
irmão do Soldado João Batista dos Santos, acabou com final trágico e a morte do
oponente de “Zoca”. Após o assassinato, o pistoleiro buscou refúgio na fazenda
dos irmãos Leite que ficaram sabendo que o militar teria prometido vingança. Os
irmãos Leite já tinham uma rusga velada com o Soldado João Batista desde que
Aldécio foi preso em Capelinha pela morte do Deputado Wander Campos e não
recebeu tratamento diferenciado na prisão. Acharam o comportamento do militar
inadmissível pelo preso ser um Nunes Leite. Segundo as investigações da época,
Aldécio chamou “Zoca” e o incentivou a praticar o crime, alegando que “não se
importariam se João Batista morresse”.
“José Rosa”,
o conhecido “Tio Pedro”, pistoleiro que morava em Vila dos Anjos, cidade
distante cerca de trinta quilômetros de Capelinha, foi contratado por Cr$
40.000,00 (quarenta mil cruzeiros), dinheiro pago por Aldécio, para que
auxiliasse “Zoca” na empreitada. A morte do ex-soldado foi planejada em uma das
fazendas dos irmãos Leite, com a participação de Toninho, Aldécio, “Zoca” e
“Tio Pedro”. “Zoca” alegou que faria o serviço de graça, pois João Batista lhe
devia. "Toninho" arrumou o carro, um Volks, que seria utilizado para
a fuga. No dia combinado, um sábado do mês de setembro de 1981, os dois foram
para Capelinha à caça de João Batista, não encontrando dificuldades para
encontrá-lo no interior de um bar, onde tranquilamente tomava uma bebida ao
lado de seu filho, que tinha o mesmo nome do pai, “Joãozinho”, de apenas sete
anos de idade. Os pistoleiros entraram furtivamente no recinto comercial e de
armas em punho desferiram vários tiros em João Batista dos Santos, que caiu
agonizando sem tempo da menor reação. Seu filho, uma pequena criança, ao ver
seu pai baleado e esvaindo-se em sangue, no ímpeto inconsciente e inocente de
um menino de sete anos, pulou sobre o corpo do pai na vã esperança de
protegê-lo, sendo também abatido covardemente por uma saraivada de tiros. A
criança morreu em cima do corpo de seu pai. Os bandidos fugiram em direção à
Vila dos Anjos, capotando o Fusca próximo à Fazenda dos “Bianinhos”. “Tio Pedro”,
muito machucado, foi abandonado por “Zoca” à beira da estrada, sendo
posteriormente socorrido por pessoas do local que o levaram para a fazenda de
Alírio Leite, em Jaguaritira, onde permaneceu por vários dias escondido.
Morte no Hospital
No dia 18 de
julho de 1989, dois pistoleiros de confiança da família Nunes Leite,
"Giramundo" e Albino estiveram na localidade denominada Palmital do
Córrego Novo, em Malacacheta, onde desferiram vários tiros de revólver Taurus
calibre 38, no vaqueiro Lafayete Nunes Pereira e seu patrão, o pistoleiro Joel
Moreira Alves, vulgo "Jô". Joel era pistoleiro dos Leite desde que
"Sebastião do Arciso" o trouxe para a região. Comprou uma fazenda com
dinheiro das empreitadas e a arrendava para os irmãos leite. Como os Leite
tinham interesse em ficar com as terras, chamaram Joel para tratar da renovação
do contrato de arrendamento e empreitaram Albino e Donizete Pereira dos Santos(
Giramundo) para fazerem uma emboscada e matá-lo. Os pistoleiros aguardaram que
Joel viesse ao encontro marcado com os irmãos Leite e desfecharam uma série de
disparos contra Joel e seu empregado Lafayete. Mesmo baleados, Joel e seu
acompanhante conseguiram fugir de seus algozes, procurando o hospital onde
foram internados. As vítimas baleadas foram socorridas no Hospital São Vicente
de Paula, em Poté, onde Joel ia ser submetido à cirurgia em razão dos
ferimentos sofridos. Os mandantes do crime, Aldécio Nunes Leite e a viúva
Geralda Moreira de Oliveira, a “Preta”, não se deram por satisfeitos e queriam
"terminar o serviço". O pistoleiro Carlos Roberto Santos, o
"Carlinhos Pastor", foi contratado para acabar a tarefa no hospital
mesmo. Os irmãos Leite contrataram Israel, da fazenda Santa Cecília, para
levantar o número do quarto onde estava Joel e deram um veículo Gol ao
pistoleiro para completar a empreitada. "Carlinhos" chegou ao
hospital se apresentando como policial, dizendo que estava investigando a
tentativa de homicídio. Franqueada a entrada, o pistoleiro foi direto ao
quarto, descarregando o seu revólver 38 em Joel que morreu fuzilado na própria
cama do hospital, na frente de duas enfermeiras. Em vários crimes praticados
por pistoleiros dos irmãos Leite, os criminosos se travestiram de policiais
civis ou militares.
Jornal Diário da Tarde-21/1/1992 e 4/2/1992
Tocaia
No dia 18 de julho de 89, Jó e seu vaqueiro Lafaiette Nunes
Ferreira saíram da casa da herdeira por volta das 13:30 e disseram que iam até
a fazenda Urupuca, de Toninho Leite, porque pretendiam vender algumas reses.
Por volta das 14:00 horas eles foram tocaiados por dois pistoleiros, um deles
reconhecido como sendo Albino, conhecido matador da família Nunes Leite.
conforme apurações da polícia. Apesar de baleados com tiros de cartucheira, Jó
e o vaqueiro não morreram e foram levados para o hospital de Malacacheta.
No dia seguinte,às 14:00 horas, quando começaram as visitas
no Hospital São Vicente de Paula, um homem, dizendo-se detetive da Polícia
Civil, entrou no hospital e foi direto ao quarto onde Jó recuperava-se do
atentado que sofrera no dia anterior. O matador sacou seu revólver e disparou
quatro vezes contra Jó em seu leito.
O Medo Termina
... o assassinato de Joel Moreira Alves ocorrido no interior
do hospital de Malacacheta, no dia 19/7/1989.
Um dia antes, Joel fora baleado na localidade de Palmital do
Córrego Novo, naquela região. Levado para o hospital, foi assassinado no dia
seguinte, na cama. Audácia, dessa maneira, para a população, só podia ter um
endereço: a família Nunes Leite que mandou matar sete pessoas da família
Cordeiro de Andrade na Fazenda Canadá, em Jaguaritira, distrito de Malacacheta,
além de inúmeros outros crimes de mando ocorridos na região e em outras
cidades, como Santa Maria do Suaçui e Água Boa, conforme investigações da
polícia.
No final da
década de 80 os irmãos Nunes leite bancaram a campanha política de
"Ozito" para a prefeitura de Água Boa e como era de se esperar, todos
os que apoiavam venciam o pleito na base da coação, da força e da violência. No
entanto o apoio para "Ozito" não foi gratuito e a partir do primeiro
mês de mandato, Aldécio ou "Toninho" acompanhava o prefeito
empossado, junto com seus pistoleiros, até a extinta Minas Caixa de Água Boa.
Lá retirava o dinheiro da subvenção do município e entregava o total em espécie
para os irmãos Leite. A transação era feita de tal modo explícita que o
dinheiro era entregue dentro da própria agência, na presença dos funcionários e
clientes.
Tentativa de assassinato de Acir Caldeira
Esse crime,
contratado pelos irmãos Leite, tinha como vítima o fazendeiro Acir Caldeira,
que foi baleado pelo pistoleiro Geraldo Mariano, preso após a tentativa que
deixou a vítima cega, em razão das lesões provocadas pelos tiros. Geraldo
Mariano conseguiu fugir e novamente preso em Ouro Preto do Oeste, no estado de
Rondônia, município vizinho da cidade de Jaru, onde registraremos em páginas
posteriores, o assassinato de Helvécio Cordeiro, também com participação da
família Leite. Diversos crimes também são relatados na saga dessa família, com
pouco ou nenhum histórico, dentre
dezenas de outros, que sequer foram identificados ou tiveram suas mortes
relacionadas oficialmente à família Nunes Leite.
1990 - A Morte de Bino Monteiro
Segundo as
investigações, a morte de Felisbino Monteiro da Silva se deu a mando de Aldécio
e os pistoleiros contratados para o serviço foram João Inocêncio da Silva, o
João "Bundão" e Donizete Pereira dos Santos, o "Giramundo",
com a cobertura de Adalto Nunes de Almeida, primo do mandante. Os pistoleiros
apanharam as armas com Adalto na fazenda Santa Izabel, em Campanário e se
dirigiram para Malacacheta em 13 de agosto de 1990 à procura de
"Bino". Os dois pistoleiros encontraram a vítima no centro da cidade,
em um bar de Jaguaritira, município da comarca.
Os dois matadores posicionaram-se em uma estrada de terra, passagem
obrigatória da vítima quando saísse do bar. João "Bundão" colocou um
pano na cabeça para não ser reconhecido e fizeram sinal quando o Volks dirigido
por "Bino Monteiro" surgiu na estrada. Desavisadamente a vítima parou
o carro e foi surpreendida por vários tiros desferidos por
"Giramundo" que matou "Bino" e ainda atingiu a mulher
Mônica Luiza de Souza, que o acompanhava. "Giramundo" usava dois
revólveres calibre 38. Posteriormente, o antigo vaqueiro da família Leite, José
Elias Abrantes de Sales, conhecido por “Zé Guaxe” resolveu denunciar os Leite,
informando à Polícia e à Justiça, com riqueza de detalhes, vários dos crimes e
barbaridades cometidos pela família Nunes Leite em Malacacheta e região. Dentre
os crimes denunciados estaria o assassinato de "Bino" Monteiro, que
teria sido encomendado pelos irmãos Leite, porque a vítima era suspeita de
aliar-se aos Cordeiros para matá-los. Após o crime os pistoleiros se refugiaram
na fazenda Santa Isabel, onde receberam o pagamento deixado por Aldécio com
Adalto e levados para o Espírito Santo.
Jornal Estado de
Minas. 1/9/1993
Pistoleiros Confessam vários Crimes.
"A mando de
Alírio Nunes Leite, Aldécio Nunes Leite e sua mulher Nilma, os pistoleiros
"Giramundo" e João Inocêncio da Silva, o "João Bundão"
mataram Bino Monteiro e depois retornaram para a Fazenda Santa Cecília, lá eles
foram pagos por Adalto que recolheu os revólveres utilizados no atentado, para
ocultá-los e os ajudou a fugir, levando-os para a divisa com o Espírito
Santo."
III Capítulo. A
Chacina de Malacacheta.
MALACACHETA-MG chacina familia dos LEITE com os CORDEIRO 1990 GLOBO REPORTER
Globo Repórter-Caco Barcelos-1990. http://www.youtube.com/watch?v=bVyqnbfXvDA
Alírio
José
Aldécio,
Antonio
e Aldeci
III Capítulo. A Chacina de Malacacheta.
Para descrevermos a fatídica chacina e suas consequências,
que culminou com o desmantelamento da família Leite, a morte de "Toninho
Leite", de Lennon, de Helvécio, Humberto e Dario Rodrigues/Cordeiro e a
prisão de seus principais membros e pistoleiros vamos buscar as origens desse
sanguinário episódio. Através de capítulos descrevemos toda a trajetória até o
fatídico dia da tragédia que abalou Minas e mudou o rumo da pistolagem em nosso
estado. Os irmãos Leite nunca tiveram limites para os seus crimes e a
impunidade e a proteção de autoridades e pessoas influentes sempre foi um
estímulo para as suas atrocidades.
Tentando
sempre buscar a neutralidade em relação às pessoas daquela região, que, de
alguma forma se envolveram ou tinham vínculo com as vítimas e criminosos, e os
fatos históricos, cabe registrar que anos antes da chacina, a família Rodrigues
ligada aos Cordeiro Andrade e Sexto, tiveram um ente assassinado em
Jaguaritira. Era Dario Rodrigues, tio-avô de "Paulinho Maloca" e
compadre de Helvécio Sexto. Dario foi assassinado por uma família,
coincidentemente, conhecida por "Os Leite Preto". Este crime, assim
como muitos outros na região, teve seu desdobramento com a "vendeta"
por parte dos familiares Djalma, Ajax e Licínio, os irmãos Rodrigues, que
exterminaram a família dos assassinos. Nessa peleja, Djalma Rodrigues também
tombou crivado por balas.
Outro Dario
Rodrigues, que será registrado em artigo posterior, como sendo a pessoa que
ajudou na prisão de Aldécio Leite no Pará, era filho deste Dario assassinado e
também morreria tragicamente em 1995, por tiros de pistoleiros naquele estado.
A Prisão dos Militares no Banheiro do Ginásio em Malacacheta
No dia 17 de
julho de 1988, por volta de 1:30 da madrugada, Helvécio Alexandrino Augusto
Cordeiro (assassinado em JARU-RO), Nacip Augusto Cordeiro (vítima da chacina de
Malacacheta), José Sexto Neto (vítima da chacina) José Carlos Augusto Couy e
Rogério de Souza Couy (indiciados na chacina) armados de revólveres e punhal
dominaram o Cabo PM Chuber Geraldo Mendes, os soldados Sebastião Amaro Sobrinho
e Ronaldo Francisco Ferreira (os dois soldados estavam fardados) tiraram suas
armas dos coldres e os trancaram no banheiro do ginásio onde era realizada uma
festa. Na denúncia oferecida pelo promotor, Marco Antônio de Souza registra
que:
“no transcorrer da festa houve uma discussão entre Nacip e
Sebastião Ramalho, quando foram chamados os militares Ronaldo e Sebastião Amaro
para resolverem o caso. Entretanto a presença dos policiais não foi bem aceita
por Nacip, que juntamente com seu irmão José Sexto, que naquela ocasião estava
armado com um punhal, passaram a ameaçar tais policiais. Nesse ínterim
interveio Helvécio, que armado com dois revólveres, um de sua propriedade e
outro de Rogério Couy, também ameaçava as vítimas. Enquanto isso Nacip, José
Sexto e José Carlos aproveitando que as vítimas estavam intimidadas arrebataram
dos coldres destas as suas respectivas armas, delas também fazendo uso para
constrangerem as vítimas. Apurou-se que os denunciados, após terem desacatado
as vítimas fardadas, se rebelaram também contra outros dois policiais que ali
se encontravam, desacatou-os e em seguida obrigou a todos a entrarem no
banheiro, onde foram trancados”.
No relatório do 2º Tenente que presidiu a sindicância
militar. consta os seguintes registros:
“O ambiente da escola (ginásio) estava carregado, seja em
razão de uma briga ocorrida por volta das 22:00 horas, seja pela presença de
inúmeras pessoas armadas com revólveres, como sói acontecer em todas as festas
da cidade, ruas, bares, campos de futebol, etc...”.
O relatório
descreve com grande clareza o clima de intranquilidade e impunidade, onde a
população vivia como se estivesse nas décadas de 40 e 50, o coronelismo e a lei
do mais forte imperava.
“O cabo Coutinho, de arma em punho, foi obrigado a baixar
seu revólver diante das três armas, sob a liderança de Helvécio, que ameaçava
atirar nos PM’s. Helvécio ordenou, então, que todos entrassem no banheiro.
Assim, com os quatro PM’s dentro do banheiro, os agentes evadiram-se,
disparando suas armas para cima, sob a vista de aproximadamente 50 pessoas que
se encontravam na festa. Os PM’s permaneceram por uns trinta minutos dentro do
banheiro após a saída dos agentes, mesmo não estando a porta trancada. O Cabo
Chuber entrou em contato comigo, onde percebi sua embriagues. Tivemos ciência
que José Aguimar, filho do vereador e Altemar Cordeiro estavam próximos ao
posto de gasolina da cidade e efetuamos a prisão de um e apreensão do outro,
visto tratar-se de menor. Contatamos com o Delegado de carreira Adeuvaldo
Ribeiro Neves, que de imediato adotou providências para a lavratura do
flagrante, infelizmente, constatamos depois que não passava de uma figuração,
pois na audição de testemunhas, o delegado deixava inúmeras lacunas e
obscuridade, de certo, para facilitar as coisas, e sobretudo, com cristalinas
evidências de comprometimento com o vereador, pai do indiciado. Durante o
desenrolar dos fatos, o Soldado Ramalho, da 47ª Cia PM ouviu o Cabo Chuber
dizer ao vereador:
“Eu não tenho nada com isto, estes PMs são de Teófilo
Otoni”, querendo com isto, ficar bem, com o lobo e o cordeiro, ao mesmo tempo.
As conclusões do militar mostravam o descaso das
administrações estaduais e municipais com relação a questão de segurança
pública:
“A cidade está sem juiz de direito e promotor. O delegado é inoperante.
O prefeito, o que menos quer saber é de segurança pública. O destacamento está
sem viatura. A prefeitura nunca forneceu 1 litro de gasolina. Na cidade anda-se
armado sem ser admoestado. A média de homicídios é elevadíssima. A certeza da
impunidade parece ter se sedimentado. Há uma ano um PM foi morto na região”.
No seu
parecer, o oficial pede o enquadramento disciplinar dos militares envolvidos no
episódio. Iniciava ali, um clima de descontentamento dos irmãos Nunes Leite com
a família Cordeiro, tendo em vista a amizade que nutriam com alguns militares e
também pela fama adquirida pelos Cordeiros Andrade no episódio. A versão dada
pelos Cordeiro envolvidos foi a de que um dos soldados, totalmente embriagado,
“passou a mão” nas nádegas da esposa de um deles e ao reagirem os demais
militares tomaram as dores do companheiro. Pouco tempo depois, mais
precisamente no dia 20 de março de 1989, os Cordeiro se envolviam novamente em
confusão e crime, dessa vez, José Augusto Andrade, Nacip Augusto Cordeiro de
Praga e José Sexto Neto foram acusados de matar João Mendes, conhecido como
“João Peixe” em Malacacheta, zona rural. Geraldo Augusto Cordeiro também teve
envolvimento em crime, tendo como vítima um homem conhecido por
"Manoelzinho" Viana.
Origem dos Atritos
"Numa
manhã chuvosa, um rapaz de nome José Augusto Sexto Neto, o “Zé Sextinho”, um
dos caçulas da família Sexto Andrade, o qual todos os dias transportava leite
de suas fazendas e de outros fazendeiros da região em um caminhão F-4000 para o
laticínio da cidade, parou na Avenida Pedro Abrantes, em frente à agencia do
BEMGE, para que várias pessoas idosas trazidas da roça por ele, pudessem
descer. Foi quando surgiu Antonio Nunes leite, o Toninho Leite, dirigindo uma
caminhonete, parando atrás da F-4000, e buzinando acintosamente para que ele
pudesse passar...
Toninho teria elevado mais o tom dos xingamentos e ameaçado
“Zé Sextinho”, o qual, instintivamente teria levado a mão ao cabo do revólver
que estava em sua cintura, dizendo que não tinha medo dele. Toninho então,
teria dito a “Zé Sextinho”:
Depois veremos...
Naquele momento, todos que assistiram aquela cena sabiam que
ali estava selado o destino daquele jovem."
Trecho extraído do livro "Só os Fortes Sobrevivem"
de Paulinho "Maloca".
O primeiro
fato que gerou uma insatisfação explícita por parte dos irmãos Leite contra
membros da família Cordeiro ocorreu menos de trinta dias antes da fatídica data
da chacina, em 17/12/89, quando Toninho Leite foi destratado e desmoralizado
por José Sexto Neto (Zé Sextinho) ao trafegar em uma estrada com apenas meia
pista no centro de Água Boa. Toninho buzinou seu veículo e “Zé Sextinho” falou
que “se era o dono do mundo passasse por cima”. Era o tipo de desaforo que os
irmãos Leite não levavam para casa, principalmente porque a discussão teve
ampla divulgação na região. Não se passou uma semana, os irmãos reuniram-se e
decretaram que “Zé Sextinho” deveria morrer. Instruíram o pistoleiro Albino
Alves Pereira a ir até a venda de “Zé Sextinho” e matá-lo, de maneira que o
crime não parecesse premeditado.
“A tática usada por Albino era provocar confusão, para
parecer crime momentâneo, forma de livrar a responsabilidade do mandante”(
promotor Elias Paulo Cordeiro).
Tal procedimento
era muito próprio dos irmãos Leite que se safaram de inúmeros crimes utilizando
essa estratégia ou artimanha. Só não esperavam o resultado que viria. Albino,
no dia 24/12/89, véspera de natal, foi à venda de “Zé Sextinho” e começou a
provocá-lo José "Sextinho" ofereceu um copo de vinho para Albino, em
tom cordial, pois sabia que o pistoleiro estava ali a mando dos Leite. Albino
rispidamente falou:
“Isto não é bebida de homem, bebida de homem é cachaça”
Colocando uma garrucha 380 em cima do balcão, Albino
desafiou "Sextinho" a sacar sua arma. E falou:
“Essa garrucha tá sem bala,mais o revórve tá cheio”,
colocando a mão na cintura.
Geraldo Augusto Cordeiro, tio de José Sexto Neto, que se
encontrava na venda com Nacip Augusto Cordeiro, viu que ele tinha outra arma,
foi mais rápido e gritou:
“Intão rancu seu qui o meu já tá na mão”.
Albino ainda tentou
sacar sua arma, mas tomou balaços antes que acertasse o alvo pretendido.
Albino, alvejado, cambaleou para fora do comércio e desapareceu na capoeira
próxima do local, tendo ainda conseguido correr por cerca de cem metros. José
"Sextinho" chegou a comentar que haviam ferido uma cobra, achando que
Albino não tinha morrido. No outro dia, "Joãozinho", um empregado da
fazenda Canadá, saiu com seus dois cachorros para separar bezerros quando os
cães localizaram o corpo em um brejo. A venda do José Sexto ficava próxima à
Fazenda Canadá, onde ocorreu a chacina, distante cerca de três quilômetros do
distrito de Jaquaritira, em uma estrada que liga a localidade de Bonfim. A
morte de Albino atingiu frontalmente o ego dos irmãos Leite que começaram os
preparativos para a vingança.
Iam matar todos os “balainhos”, termo que usavam para
menosprezar alguém, aproveitando-se do episódio recente entre os Cordeiro e
policiais militares que foram presos em um banheiro de ginásio, numa festa em
Malacacheta”. Albino é como uma gota d’água no oceano, quase um zero à
esquerda, mas que, na somatória, foi aquele pingo que transbordou. O que estava
em jogo, isso sim, era o prestígio. Havia um desafio. Alguém gritou com
"Toninho" na rua. Mandou ele passar com o carro por cima e ele não
passou. Ficou mal. Pegou muito mal. Daqui a pouco outro poderia repetir a
façanha, e mais outro, e os Leite estariam liquidados. Acabar-se-ia quase uma
lenda, e, para que isso não ocorresse, teria que haver um revide, uma lição
para ninguém esquecer” (trecho do relatório do delegado Otto Teixeira Filho,
responsável pela investigação).
Toninho Leite ao saber da morte de Albino bradou:
“Da família Sexto não vai sobrar nem os balaios, nóis vai
matar todo mundo, até as crianças qui tivé mamando”.
João
Ferreira Luz, após a morte de Albino encontrou com “Preta”, esposa do
pistoleiro que lhe disse que “não precisava temer pelos filhos dela, mas que a
morte de Albino tinha quem iria vingar e quem vingaria seria o Carlão”. Que
ouviu, antes da morte de Albino, um recado enviado para ele de Carlão,
“alegando que iria se apresentar em uma delegacia da região pela morte de uma
pessoa na lavra e se Carlão ficasse preso iriam até trocar tiros com a polícia
para soltá-lo”. Após receber a informação, Albino e Izael apanharam armas,
munições e saíram em duas motos na companhia dos homens que trouxeram o recado.
“Albino era pistoleiro dos Leite por ter ele matado muita
gente e que sempre que aparecia um morto ele corria para a fazenda dos Leite e
de lá sumia para o Pará”.
Preparação
Os irmãos Leite tinham amizade com vários
pistoleiros do garimpo da cidade de Nova Era e alguns já tinham prestado
serviço de “quebra-milho” para eles. Hamilton Leite Costa, vulgo “Carlão”,
gerente e sócio do garimpo, jurara vingança a morte de Albino, seu amigo
pessoal. Ofenir Pinheiro, licenciado à época como Detetive da Polícia Civil,
prestava segurança no garimpo e era pessoa da mais alta confiança da família
Leite (compadre de Aldécio), tendo participado do episódio da morte de Joel no
hospital. Aproveitando-se das circunstâncias que lhe pareciam favoráveis,
Aldécio Nunes Leite e Antônio Nunes Leite (Toninho Leite) estiveram no garimpo
de Nova Era onde se reuniram com “Carlão” e traçaram planos para a a
carnificina. Após as reuniões com os irmãos Leite, segundo “Gilberto Cabelo
Seco”, Carlão o chamou e também Ofenir, Fabinho, João Soldado e Ademir para a
consumação do crime, oferecendo a quantia de CR$ 500.00,00 (quinhentos mil
cruzeiros) pela empreitada. Fabinho esteve hospedado na fazenda dos irmãos
Leite antes da chacina, a fim de fazer o levantamento do local e das pessoas a
serem assassinadas. A audácia dos irmãos Leite era tamanha que Rogério Couy,
conhecido como “leva e trás” da família, esteve com Fábio Elias na residência
de Helvécio Cordeiro e o identificou como sendo policial de Belo Horizonte.
Realizados os levantamentos, Carlão providenciou coletes da Polícia Civil, já
que não conseguiram as fardas da Polícia Militar (a pretensão era que pensassem
serem militares os autores), as armas: escopetas calibre 12 de repetição,
pistola 9 mm HK, pistolas 7,65 e revólveres calibre 38, além dos dois veículos
utilizados: um Gol de cor branca e um Santana de cor verde. Estavam prontos
para trucidarem, a família Cordeiro. Poucos dias antes da consumação da
chacina, mais precisamente na passagem de ano de 1989/1990, Ely Barbosa Couy,
após se embriagar, chorando compulsivamente, falou para Helvécio Cordeiro:
“Vocês todos vão morrer”.
Também, na mesma época, Noélia Santana Couy, casada com
"Toninho" Leite, alertou seu cunhado Helvécio para “não deixar suas
filhas andarem no carro de José Andrade e se os filhos dele (José Andrade)
fossem mortos não deveria fazer nada”.
A Carnificina
No dia 15 de janeiro
de 1990, por volta de 0:00 horas "Carlão" saiu de sua casa, onde já
estavam Ofenir e Fabinho e foram para o posto Nova Era, onde se encontrou com
Gilberto "Cabelo Seco", "Bacuri", Antônio Augusto, Sargento
Edésio e "Carlinhos". (Há uma controvérsia nos depoimentos e
declarações em relação aos três últimos participantes). No veículo avermelhado
ia Antônio Augusto dirigindo, Edésio ao seu lado e "Carlinhos" no
banco traseiro. No veículo Gol, "Cabelo Seco" era o motorista,
"Fabinho" ao seu lado e no banco traseiro Ofenir e
"Bacuri". A caravana da morte pegou uma estrada de terra passando por
Piçarrão, que liga Nova Era a Santa Maria de Itabira. De lá foram por Guanhães,
São João Evangelista, Santa Maria do Suaçuí, Água Boa, entrando pela estrada de
Vila dos Anjos (cidade entre Malacacheta e Capelinha), passaram pelo distrito
de Jaguaritira, parando os veículos antes do local. "Fabinho" abriu o
porta-malas do Gol e retirou os coletes da Polícia Civil que foram utilizados
por "Cabelo Seco", Ofenir, "Bacuri" e "Carlinhos".
"Fabinho" colocou o colete de Delegado de Polícia. Antônio Augusto e
Edésio, talvez por serem militares, recusaram o uso dos coletes. Naquele
momento o armamento foi distribuído e as munições foram entregues por
"Fabinho". Preparados, seguiram novamente com os carros até a
porteira da fazenda onde seguiram a pé, passando pela menina Maria Luíza
Cordeiro, com 10 anos à época que estava indo para a escola.
Fazenda Canadá, Distrito de Jaguaritira- Malacacheta, palco da famigerada chacina que vitimou grande parte da família Cordeiro
Aldécio Leite que estava dirigindo seu jipe, estacionou
próximo da fazenda dos Cordeiro, na curva da estrada que tem uma amoreira,
junto com Israel, Rogério Couy e Eli Couy. Ali aguardariam para o caso de
alguém da família Cordeiro escapar, ser morto por eles. Os criminosos, ao
chegarem à sede da Fazenda Canadá (foto acima) foram recebidos por Eunice
Augusta Cordeiro de Andrade, quando se identificaram como policiais,
argumentando que estavam em diligência para apurar a morte do pistoleiro Albino
Alves Pereira. Dona "Nicinha", como era conhecida, convidou seus
algozes a entrarem e demonstrando a boa hospitalidade do mineiro naquela região,
preparou café com leite e queijo para eles. Na casa já se encontravam seu
marido José Augusto de Andrade e seus filhos Nacip Augusto Cordeiro de Praga,
José Sexto neto e Núbia Florípes de Andrade. Os irmãos Leite haviam preparado
uma lista das pessoas a serem assassinadas e duas delas não se encontravam no
local. Utilizando-se de um Jipe da fazenda, dois dos pistoleiros foram até a
casa de José Augusto Cordeiro e depois na de Geraldo Augusto Cordeiro,
conduzindo-os para a fazenda Canadá, onde as outras cinco vítimas os
aguardavam, servindo café e queijo aos demais pistoleiros. Geraldo, desconfiado, questionou:
“Vocês não
são polícia não, me mostra a carteira”.
Fabinho
ordenou: “Vamos começar”, dando início a fuzilaria. A matança não durou mais
que alguns poucos minutos.
“Gilberto
Cabelo Seco” deu cinco tiros de calibre 12 em Eunice que caiu morta, emborcada
atrás de um vaso sanitário, na luta vã para escapar dos tiros. Ofenir efetuou o
disparo contra José Augusto de Andrade. Os demais pistoleiros continuaram a
matança, baleando mortalmente Núbia e Nacip que já estavam do lado de fora da
casa no desespero para se salvarem. “Gilberto Cabelo Seco” e
"Carlão", percebendo que faltava “Zé Sextinho” foram ao quarto e o
acharam debaixo da cama, ironizando o rapaz antes de matá-lo:
“Você não é macho e gosta de encarar? Agora tá se borrando
todo?”.
O pistoleiro
manejou sua escopeta calibre 12 de repetição e “Sextinho” no instinto de defesa
colocou as mãos sobre o rosto, recebendo o impacto de três disparos que lhe
atingiram a cabeça, o tórax e um dos braços, causando a morte instantânea.
Simultaneamente as demais vítimas foram sendo abatidas impiedosamente.
Quase que
por milagre, Vilma Rodrigues Leal de Praga, esposa de Nacip e Dinamar de Paula
com seu filho de colo conseguiram pular janelas e afastaram-se correndo daquele
local, sobrevivendo à tragédia. José Augusto Cordeiro foi assassinado na
cozinha, Nacip e Núbia, ao tentarem fugir para o terreiro, José Sexto debaixo
da cama, Eunice e Geraldo foram mortos dentro do banheiro e José Augusto
Andrade na sala. Núbia tomou o primeiro tiro na barriga, caindo ao tentar fugir
pelo terreiro, quando tomou o tiro de misericórdia no ouvido. Geraldo Augusto
Cordeiro e José Augusto Andrade receberam tiros na cabeça. Nacip foi agredido
com uma coronhada de escopeta e em seguida recebeu um disparo de calibre 12 no
ombro direito. Eunice foi morta com quatro tiros.Ao saírem da fazenda, os
pistoleiros se dirigiram para o garimpo de Nova Era, tendo “Gilberto Cabelo
Seco” perfurado os pneus do Jipe com vários tiros, antes da retirada.
Da esquerda para direita: José Augusto de Andrade, Eunice Augusta Cordeiro de Andrade, José Augusto Cordeiro, Nacip Augusto Cordeiro de Praga, José Sexto neto e Núbia Florípes, assassinados na Chacina de Malacacheta. Humberto Cordeiro e Helvécio Cordeiro, perseguidos e mortos em Belo Horizonte-MG e Jarú-Rondônia após a chacina
Existem pontos contraditórios que não foram sanados em
relação aos autores da chacina e os veículos utilizados. “Gilberto Cabelo Seco”
afirmou para o delegado Faria que, junto com ele participaram “Carlão”,
“Fabinho”, Ofenir e ainda Ademir e “João Soldado”, utilizando os veículos Gol
branco e um Santana de cor verde. Na sua versão, "Carlão" era o falso
delegado. Ofenir, em seu depoimento ao Delegado Otto Teixeira, afirmou que
"Carlão" só teve participação na organização, preparação e logística
(armas, munições, veículos e coletes) e que na chacina estavam em sua
companhia, “Gilberto Cabelo Seco”, “Fabinho”, “Bacuri” (do garimpo) vindo de
Governador Valadares para reforço, Antônio Augusto, “Sargento Edésio” e
“Carlinhos”, tendo utilizado um veículo Gol branco e outro carro de cor
avermelhada. Após os crimes, os irmãos Leite colocaram os pistoleiros Joel
Moreira Alves, do estado do Espírito Santo, às margens da estrada que dava
acesso à fazenda para os protegerem de alguma represália
Toninho
falou na ocasião:
“Temo qui tá preparado, purque a famía dos Cordero tombô
toda”.
Fazenda Canadá, a multidão e os corpos dentro de caixões em
uma carroceria. Fotos arquivo TV Alterosa.
A mecânica
dos acontecimentos durante o crime coincide com as afirmações de Gilberto e
Ofenir. Posteriormente, Ofenir falou informalmente ao Delegado Faria, que na
realidade os participantes eram outros, apresentando outra versão onde nominava
“João Moura”, “Fernandão” e uma terceira pessoa, contratados em Vassouras, RJ,
que substituíram “Antônio Augusto”, “Sargento Edésio” e “Carlinhos”. Não se
entende o porque de terem assumido o crime, a autoria ter sido cabalmente
comprovada e desviarem a atenção através de contradições em relação aos
pistoleiros que não eram do garimpo de Nova Era.
Detetive Paulo Maloca - Entrevista 2º PARTE Entrevista de Paula Maloca na TV Univale Detetive Paulo Maloca - Entrevista 1º PARTE Entrevista de Paulo Maloca a TV UNIVALE
A chacina segundo Paulo "Maloca".
Em 2008, o
detetive "Paulo Maloca", de Governador Valadares, que tem ramificação
na família Cordeiro de Andrade, escreveu o livro "Só os Fortes
Sobrevivem", onde, na contra capa, registra a cronologia e circunstâncias
macabras da chacina:
"GERALDO AUGUSTO SEXTO COM A CANECA DE CAFÉ NA MÃO, de pé, próximo
ao fogão de lenha da fazenda, por algum motivo que ninguém vai saber,
desconfiou que havia algo errado naquela situação, e pediu para o pistoleiro
que se apresentava como delegado, que lhes mostrasse sua carteira de
autoridade. Foi quando de pronto recebeu um tiro de escopeta calibre 12 no
rosto, efetuado covardemente por um dos integrantes do bando, caindo morto em
cima do fogão de lenha. Começara assim a chacina de Malacacheta...
JOSÉ
ANDRADE TENTOU CORRER e, antes mesmo que conseguisse sair pela porta, recebeu o
segundo tiro de escopeta em suas costas!
NÚBIA SEXTO
ANDRADE GRITOU DESESPERADAMENTE pedindo piedade, por estar grávida! Mas foi
metralhada! Logo ela que chegara um dia antes à fazenda apenas para visitar
seus pais. Ela morava em Belo Horizonte, onde estudava e tinha se formado
recentemente no curso de Farmácia.
NACIP
SEXTO ANDRADE CONSEGUIRA CORRER POR ALGUNS METROS até o terreiro da fazenda,
onde recebeu um tiro de fuzil na nuca, arrancando-lhe metade do crânio!
JOSÉ AUGUSTO
SEXTO E SUA IRMÃ EUNICE CONSEGUIRAM SE REFUGIAR dentro de um banheiro da
fazenda. Em uma última tentativa desesperada, José Augusto Sexto tentou, com as
duas mãos, manter a porta fechada. Foi quando um dos integrantes do grupo de
assassinos atirou com a escopeta contra a porta quebrando-lhe as duas mãos
para, em seguida, novamente atirar em seu rosto que ficou completamente
deformado! Sua irmão Eunice foi executada com vários disparos de armas de fogo
de diversos calibres, morrendo ajoelhada, abraçada ao irmão.
E POR
ÚLTIMO O ALVO MAIOR DE TONINHO LEITE! JOSÉ AUGUSTO SEXTO NETO, o Zé Sextinho!
Praticamente um menino de 18 anos, que um dia ousara responder aos abusos de
Toninho Leite, não se subjugando aos mandos e desmandos dos fascínoras Irmãos
Leite. Morreu com o rosto totalmente desfigurado de tantos tiros! Ao todo,
supostamente, 18 disparos de arma de fogo.
SOBREVIVEU
APENAS WILMA LEAL, esposa de Nacipi Sexto, que conseguira fugir por uma das
janelas da fazenda, levando consigo sua filha Raíza de apenas três meses! Como
por um milagre! Talvez, sobrevivendo para contar parte dessa história!
Estava
consumada aquela que se tornou a maior chacina da história do interior do
estado de Minas Gerais..."
IV Capítulo
O Êxodo da Família Cordeiro e os Novos Assassinatos.
Dentre os fatos marcantes que surgiram posteriormente à
chacina, destacamos o desaparecimento de Maria Aparecida Machado, esposa de
Ofenir Pinheiro, policial partícipe na execução dos assassinatos, incidente
entre Ofenir e "Paulo Maloca", quando o segundo, detetive da
Delegacia Regional de Valadares desferiu tiro de escopeta que atingiu Ofenir.
Atentado contra o policial Paulo "Maloca", que tem laços consanguíneos
com a família chacinada, novo atentado à Fazenda Canadá, morte de Toninho
Leite, assassinado em uma emboscada. A fuga dos sobreviventes e as mortes de
Humberto e Helvécio Cordeiro a mando dos Irmãos Leite.
O restante
da família Cordeiro Andrade abandonou suas terras na região do Vale do Mucuri e
fugiram para várias partes do país, temendo por suas vidas. Dario Cordeiro foi
para Ulianópolis no Pará, Helvécio Cordeiro mudou-se para Jaru, em Rondônia.
O Desaparecimento de Maria Aparecida Machado
Jornal Hoje em Dia -
10/4/1992
Mistério
Mulher de policial acusado de chacina desaparece em pleno
Centro. Nalu Saad
Governador Valadares
"...
A polícia acredita que o sumiço de Maria Aparecida pode
estar ligado com as brigas entre as famílias Augusto Sexto de Andrade e Leite,
na região de Malacacheta e Santa maria do Suaçui. Essa suspeita está ligada ao
fato de o marido dela ser apontado como um dos participantes da chacina de sete
membros da família Sexto Andrade em 16 de fevereiro de 1990, no distrito de
Jaguaritira. Os mandantes seriam os Leite. Na época, Maria Aparecida foi
envolvida no caso por suspeita de ter ajudado a confeccionar os coletes da
Polícia Civil, com os quais estavam vestidos os seis homens que executaram a
família".
O sequestro e morte de Humberto Cordeiro.
Humberto
Cordeiro transferiu residência para Belo Horizonte, instalando-se no Bairro
Industrial, em Contagem. Todos levaram seus familiares. Ocorre que o ódio dos
irmãos Leite e a sede de sangue e vingança, aliados a certeza da impunidade não
limitavam seus crimes às cercanias de Malacacheta e Capelinha, não poupando
recursos financeiros para prosseguirem com seu objetivo: exterminar a família
Cordeiro Andrade.
Em tese, o
vereador foi o mentor do atrito com os irmãos Leite e se mudou para Belo
Horizonte na busca vã de se proteger dos tentáculos sanguinários dos algozes de sua família.
Humberto Augusto Cordeiro vivia uma rotina calma e aparentemente tranquila,
quando no dia 20 de junho de 1990, por volta das 10:00 horas, ao sair de um
açougue nas proximidades de sua residência, foi abordado por quatro homens
armados que ocupavam um veículo Santana, de cor clara, com vidros escuros.
Dominado pelos indivíduos, Humberto foi jogado dentro do carro e nunca mais foi
visto. Durante as investigações e depoimentos colhidos, apurou-se que no dia
anterior ao seu desaparecimento, “coincidentemente” encontrou-se em um bar da
capital com José Américo Abrantes (Zé Américo), Olinto Lopes Pinto e Rogato
Quadros, todos de Malacacheta (o primeiro estava em companhia de Toninho Leite
quando foi assassinado). Naquela mesma data, Adelson Leite, Alírio Nunes Leite
e José Leite estavam em Belo Horizonte.
Durante o
período que Humberto permaneceu com os três homens, comentou que no dia
seguinte pela manhã iria levar sua sobrinha ao médico.
Consta na
denúncia do Ministério Público que:
“Zé Américo” foi para o local denominado “Urupuca”, em
Malacacheta, onde se encontrou com Aldécio em uma de suas fazendas,
informando-lhe (“o homem vem aí atrás”) que Humberto estava vindo atrás, em um
gol com João Delfino. Humberto foi entregue aos irmãos Leite e durante sete
dias foi torturado, tendo os olhos vazados, suas pernas quebradas,
extirparam-lhe o pênis, foi pendurado de cabeça para baixo, cortado pouco a
pouco, depois encharcado com gasolina foi queimado. Participaram da tortura,
além dos irmãos Leite, Eli de "Carrim", "Zé Américo",
"Giramundo" e João Delfino. Após todas as agressões, vários tipos
foram disparados contra Humberto Cordeiro".
Foram
denunciados por formação de quadrilha, sequestro, homicídio qualificado e
ocultação ou destruição de cadáver: Aldécio Nunes Leite, Alírio Nunes Leite,
José Nunes Leite, Alírio Nunes Leite, José Nunes Leite, Adelci Nunes Leite,
Eliane Aparecida Couy, Eli Barbosa Couy, José Américo de Sales Abrantes, João
Delfino e Donizete Pereira dos Santos (Giramundo).
Reportagens Jornais
Estado de Minas e Hoje em Dia.
Uma carta foi remetida anonimamente e juntada ao processo
contra irmãos Leite pela morte de
Humberto, contando o requinte de crueldade utilizado para matar
lentamente o ex-vereador, como era próprio dos Leite.
Trecho da
carta:
“quero di dar uma dica como foi a morte de seu pai, ele foi
sequestrado por Zé Américo, Ele Giramundo e mais outros pistoleiros e foi
levado para fazenda que pertence a Noélia e lá furaram os dois olhos dele,
capô, jogou gasolina na cacunda e pôs fogo e ele estava ainda vivo, aí colocou
dentro do saco e deu duas facadas uma na garganta e uma na barriga e ele
continuô vivo, eles pegaram ele dentro do saco e jogou dentro do rio. Zé
Américo ganhou um boi preto para fazer este serviço e já vendeu o boi”.
O assassinato Helvécio Cordeiro
Depois dos assassinatos
de diversos membros da família Cordeiro Andrade e os diversos incidentes
que indicavam novos atentados, conforme registrado, os sobreviventes se
afastaram do Vale do Mucuri, buscando refúgio nos rincões de nosso país,
principalmente em Rondônia e Pará, pensando, que com a fuga, estariam livres da
ira dos irmãos leite. A reportagem intitulada "Grupo cerca fazenda dos
Cordeiro", de 25 de fevereiro de 1992, do Jornal Hoje, registra de forma
clara as novas ameaças e possibilidades de uma nova chacina. As garras
criminosas da família Leite tinham um longo alcance e a exemplo do restante da
família Juca Peão, trucidada por pistoleiros em Imperatriz do Maranhão, eles
não se contentaram em matar “apenas” sete da família Cordeiro, mandando um
pistoleiro para Jarú/Rondônia, que assassinou Helvécio Cordeiro, no final de
1992.
As Fazendas das Vítimas
A família
Nunes Leite não se deu por satisfeita em assassinar os nove membros da família
cordeiro, precisando saciar ainda a sede pelas terras de suas vítimas,
começando logo após os assassinatos a conclusão de seus planos. A polícia
Militar, na ocasião dos fatos, fez uma investigação velada e apurou que todas
as terras dos Cordeiros chacinados passaram indiretamente a ser controladas
pelos seus algozes. A fazenda Canadá, palco da chacina, com seus sessenta
alqueires, duzentos e quatorze cabeça de gado, sete cavalos, inúmeras cabeças
de aves e porcos e uma produção de dez queijos ao dia, passou a ser gerenciada
por José Augusto Belfort, ligado aos Leite. A fazenda Jaguaritira, de José
Cordeiro, o "Zé Sexto", com trinta alqueires, quarenta e quatro
cabeças de gado, seis cavalos, muitas aves e cerca de cem litros de leite ao
dia, passou a ser gerenciada por Geraldo Martins, que seria parente dos irmãos
Leite. A fazenda União, de Helvécio Cordeiro, vítima do sequestro e morte, com
setenta alqueires, vinte e cinco reses, porcos e cavalos passou a ser
gerenciada por João Mendes dos Santos, genro de Eli Couy, indiciado e
denunciado como intermediário da chacina. Fazenda San Diego, cujo proprietário
era Geraldo Cordeiro, o "Lado Sexto", possuía sessenta e oito
alqueires, cento e quarenta e oito reses, dezesseis cavalos e burros. Também
haviam vinte e dois porcos e várias aves, passando a ser explorada por Odilon
Alves Arantes, sem o devido inventário. O major encarregado do dossiê foi mais
além em suas conclusões ao afirmar:
“Em análise ao modus operandi dos Leite e o estágio atual de
exploração das propriedades rurais de suas vítimas, concluímos que os crimes se
deram não só por desentendimento entre as famílias litigantes, mas também com
fins lucrativos, caracterizando-se no nosso entendimento, o latrocínio”.
A Busca da Verdade
Apesar de
perseguida por todos os cantos, os remanescentes da família Cordeiro
encontraram forças para tentar legalmente acabar com os desmandos da família
Leite no vale do Mucuri e responsabilizá-los pelos covardes assassinatos.
Cartas foram mandadas para todas as autoridades possíveis de serem acionadas e
uma, surtiu um efeito devastador para os irmãos Leite: a correspondência
dirigida ao Presidente da República, à época, Fernando Collor de Mello. O
Presidente determinou ao seu Ministro da Justiça, Bernardo Cabral, a imediata e
rigorosa apuração da chacina, desencadeando uma série de investigações e
diligencias como nunca ocorrera até aquele momento.
Carta ao presidente
“Presidente Fernando Collor de Mello”.
Palácio do Planalto – Brasília
Nós, familiares das vítimas da chacina ocorrida no município
de Malacacheta, em 15.02.90, confiantes no governo proposto por Vossa
Excelência, solicitamos clemência e justiça para com nossos mortos, que também
irá, por conseqüência, beneficiar a nove outras famílias que também sentiram a
dor que estamos sentindo, dor essa provocada pelo mesmo grupo.
Senhor Presidente, nunca existiu punição para estas pessoas.
Eles se dizem impunes e acobertados pela Justiça. Dessa forma entram e tomam
nossa terra e matam nossa família.
Inquéritos e processos são interrompidos sem explicação
alguma.
Por que Presidente? Acabe com essa corrupção. Nossos mortos
não veremos. Mas veremos a Justiça brilhar pela dignidade e seriedade do
governo de Vossa Excelência.
Ajudai-nos Presidente.
Família Cordeiro Sexto –
Cordeiro Andrade
Endereço: Rua Larca, nº 43
Bairro União – Belo Horizonte – MG.
Carta da sobrevivente da chacina ao Ministro da Justiça
Ao Ministro da Justiça
“Belo Horizonte, 10 de maio de 1990”.
Ministro Bernardo Cabral
Fiquei sabendo que o senhor é quem ajuda o
Presidente Fernando Collor a fazer justiça.
Também fiquei sabendo que o Presidente pediu para o senhor
me ajudar e que o senhor já está fazendo tudo para prender aquelas pessoas que
mataram minha família em Malacacheta/MG.
Outro dia, à
noite eu vi o Senhor na televisão e ouvi o senhor dizer que perdeu um irmão da
mesma forma que perdi os meus irmãos e pais. Então eu acho que o senhor vai me
ajudar muito porque sabe o que estou sentindo e também porque é um grande homem
e de confiança do Presidente mais bondoso e bonito que o Brasil já teve. Quero
falar para o senhor que aqui em Belo Horizonte onde estou morando, tenho
recebido muita ajuda dos Delegados Otto Teixeira Filho e Raul Moreira e do
Promotor Epaminondas Fulgêncio Neto. Sei que eles estão fazendo tudo para
prender aquelas pessoas. Mas tenho medo que eles prendam e depois os deputados
e juizes os soltem, pois, eles sempre falam lá em Malacacheta que nunca ficaram
presos porque eles têm muito dinheiro e gado para dar de presente a estas
pessoas para não serem presos.
Mas o
Presidente Collor, o Senhor, o Dr. Otto, o Dr. Raul e o Dr. Epaminondas não vão
deixar que isto aconteça. Por favor, me ajude e a minha família. Nossas terras
lá em Malacacheta estão abandonadas porque temos medo de voltar. Estamos sendo
amparados por parentes e amigos. Nem minhas roupas e bonecas eu pude trazer.
Me ajude, Dr. Bernardo Cabral. Deus e meus familiares irão
pagar por mim.
Maria Luiza de Andrade.
(menina de 10 anos, à época da chacina, única sobrevivente
da família Cordeiro).
Rua General Andrade Neves, 1015.
30.430 Belo Horizonte – M.G.”.
Abaixo,
carta da advogada Rita Virgínia de Andrade, da família chacinada, reconhecendo
o trabalho da equipe de policiais civis que participaram das ações policiais
que reprimiram a pistolagem e trouxeram à luz da justiça os responsáveis pelos
bárbaros assassinatos. Dentre os policiais, os nomes dos delegados João Reis,
Faria, Messias de Fátima, José Arcebispo, Otto Teixeira e Altamiro Ferreira. Os
detetives José Geraldo da Silva, Cláudio Fernandes "Tafarel", Márcio
Daniel, Mauro Oliveira, Denilson "Cabelinho", Ivo Oliveira, Gilberto Bracelares "e todos aqueles que
não dispomos dos nomes, mas que participaram das operações sob o comando dos
Delegados acima citados".
"No interior, quando plantamos uma árvore e verificamos
que seus frutos são bons, a adubamos mais para que os frutos seguintes sejam
mais saborosos".
Trechos de uma carta da família Cordeiro ao Ministro da
Justiça
“Nossos mortos não ressuscitarão, bem sabemos, mas, outros
serão evitados. A imagem e a dignidade da nossa justiça e da Polícia Civil de
Minas Gerais, as quais foram ultrajadas, novamente brilharão em nossos corações
e perante nossa sociedade que se encontra abalada com tanta monstruosidade”.
“Nossos familiares se acham ameaçados pelos autores dessa
tragédia, os quais se dizem impunes por todos os crimes até hoje praticados, em
face de terem uma reserva financeira destinada a atender as emergências de
alguns amigos dos meios político, judiciário e policial”.
“A digna Polícia Civil de nosso estado assemelhou-se a um
carrasco, desde o momento que nossas vítimas, por nela acreditarem, abriram
suas portas, ofereceram de seu pão àqueles que foram seus assassinos”.
Revanche - Emboscada e Morte de Toninho Leite
No dia 30 de abril de 1990, Antônio Nunes Leite, o
"Toninho Leite", morreu assassinado numa emboscada com mais de 40
tiros pelo corpo. O assassinato ocorreu quando "Toninho" dirigia sua
camioneta D-20, placa QX-9448, pela estrada de terra que liga Capelinha a
Malacacheta, próxima a Vila dos Anjos. Quando estava cerca de 10 quilômetros de
Malacacheta, a camioneta foi interceptada por um Monza escuro e uma
motocicleta, dando início ao fuzilamento. Na companhia de "Toninho"
estavam José Américo Arantes e Eli Barbosa Couy, que apesar de receberem vários
tiros, escaparam da morte. O filho de "Toninho" Leite, de apenas nove
anos, Cismurt Nunes Leite Cunha, que estava na carroceria, escapou pelo mato e
foi até a Vila dos Anjos, onde pediu ajuda para o pai. Toninho já estava morto
quando a PM chegou e José Américo e Eli foram socorridos . A pedido do delegado
Raimundo Soares Pereira, de Capelinha, foram realizadas necropsia e perícia
técnica, pelos peritos Wallace e Amaro Salles, além do médico legista de
Diamantina. Na cabeça de "Toninho" Leite foram encontrados dois
buracos enormes, possivelmente provocados por tiros de escopeta que
estraçalharam seu cérebro, além de diversos projéteis em seu corpo.
Há um
particular na vida dos irmãos Leite em relação à religiosidade, ou desespero, e
Toninho demonstrou essa "fé", segundos antes de sua morte. O apego
religioso, não a um santo, mas ao cônego Lafaiete que tem muitos devotos
naquela região. Ao perceber a morte de perto, Toninho Leite gritou, antes de
receber os impactos dos tiros mortais:
“Valei-me santo Congo” (tratamento que davam ao cônego).
Na lataria,
no capô, no pára-choque e até mesmo no chassi foram encontrados fragmentos ou
projéteis de calibres diversos. A morte de "Toninho" colocou a
população de Malacacheta em pânico, pois tinha certeza que o derramamento de
sangue iria continuar, e os irmãos Leite vingariam a morte do irmão. Diante
disso houve um velado toque de recolher entre os moradores da região que
evitavam sair de suas residências após as 18:00 horas.
Participaram
da emboscada e morte de "Toninho" Leite: Salatiel Gonçalves,
Ascendino Horta Jardim, o "Cidininho", José Horta Jardim, Nelson
jardim, o "Nelsinho" e Leonilson de Souza Azevedo, vulgo
"Negão", tendo o último sido contratado em Belo Horizonte por
Ascendino. Após a execução de "Toninho" Leite, "Negão"
roubou o grosso cordão que estava no pescoço do morto.
- José Horta foi condenado a 16 anos e 4 meses, por que além
de participar na morte de Toninho, também alvejou seu filho e outra pessoa.
- Salatiel foi condenado a 15 anos e 7 meses. Deu dois tiros
em "Toninho" e atingiu um fazendeiro que estava na camioneta. Foi
assassinado com um tiro na nuca em abril de 2005 na região de Malacacheta.
- Ascendino foi condenado a 15 anos, apesar de não ter
acertado nenhum tiro em "Toninho". Foi considerado o mentor e
coordenador da ação que resultou na morte de Toninho.
- Nelson Jardim foi condenado a 12 anos de prisão e preso em
Nova Serrana em junho de 2005. No artigo "Homicídio Sem Corpo", neste
site, registra o relatório sobre o sequestro e morte de "Nelsinho".
Vingança. A Morte de João Pego
Para
explicarmos toda a história e circunstâncias da morte de “João Pego”, vamos
retornar um pouco no tempo para conhecermos Sebastião de Arciso da Silva, o
pistoleiro Arciso, que matou a vítima na praça principal de Santa Maria do
Suaçuí, no dia 11 de agosto de 1990, com três tiros de revólver calibre 38 e
projéteis envenenados por estricnina. Arciso nasceu em Afonso Cláudio-ES, em
1962 e aos 24 anos de idade cometeu seu primeiro homicídio ao matar a pauladas
um peão, companheiro de serviço, conhecido por Fredolino "Chumaca", o
que lhe custou uma pena de 18 anos de cadeia. Foi preso por policiais de Afonso
Cláudio e permaneceu na cadeia local cumprindo pena. Também assassinou seu
colega de cela, conhecido por “Antonio Paulo”, com várias porretadas. Em 2 de
novembro de 1989, Arciso fugiu da cadeia em companhia de Jorge “Gaiola” e
Djalma Salino, indo para casa de Veredino Leopoldo da Silva, irmão do
pistoleiro, em São Domingos do Ibicaba, zona rural de Afonso Cláudio.
Naquele
local, alguns dias após a fuga, Arciso encontrou-se com um indivíduo conhecido
por Joel, também foragido da cadeia de Afonso Cláudio por crimes de pistolagem.
Joel falou que já fizera serviços durante anos para os irmãos Leite e estava
retornando para suas fazendas, onde trabalhava como “quebra-milho”, convidando
Arciso a acompanhá-lo. Garantiu que teria serviço para ele também, já que tinha
em seu currículo a morte de dois homens. Arciso chegou naquela região mineira e
se instalou na Fazenda Santa Isabel, em Itambacuri. Joel foi para a Fazenda Boa
Esperança, em Jaguaritira, município de Malacacheta. Ambas eram propriedade dos
irmãos Leite e lá ficaram até a decisão por parte de Alírio, José Leite,
Aldécio, Toninho e Aldeci (irmãos Leite) de chacinarem a família Cordeiro. Para
tanto, coube a Arciso dar proteção aos familiares dos Leite após a consumação
dos assassinatos na Fazenda Canadá, em Jaguaritira, ficando na casa de Aldécio
Leite.
Após algum
tempo, Arciso retornou com José Leite para a Fazenda Santa Isabel, enquanto
Toninho Leite, Aldécio e Ofenir vieram para Belo Horizonte, onde se esconderam.
Arciso tomou conhecimento através de pistoleiros que a chacina foi planejada em
um garimpo de Nova Era, comandada pelo pistoleiro "Carlão", com a
presença de Aldécio e "Toninho" Leite. Após a morte de
"Toninho" Leite, os irmãos Alírio e Aldécio foram até a Fazenda Santa
Isabel e disseram para Arciso que precisavam de seus serviços para matar “João
Pego”. Alegaram que a empreitada era
por antigas desavenças na comercialização de queijos e também por ser ele o
autor da morte do irmão “Toninho”. “João Pego” já havia sofrido dois atentados
a mando dos leite, um deles quando três homens, em uma caminhonete Pampa e
armas de grosso calibre, invadiram sua fazenda em Água Boa e começaram a
atirar, quando “João Pego” e seus empregados reagiram e revidaram as agressões,
acertando um balaço na perna de um dos pistoleiros.
Também “Santinho
Pego”, pai de João, foi assassinado a mando dos irmãos leite alguns anos antes
deste episódio. Para a morte de “João Pego”, combinaram o pagamento de CR$
200.000,00 (duzentos mil cruzeiros) a serem pagos em quatro parcelas de
cinquenta mil cruzeiros, mais os honorários do advogado que iria acompanhar o
processo. Ficou combinado que Arciso deveria se deixar prender após o
assassinato, pois os Leite tinham amizades com policiais de Santa Maria do
Suaçuí, podendo ter acesso ao pistoleiro na cadeia onde iriam efetuar os
pagamentos das prestações das empreitadas. Colocaram Sebastião de Arciso em um
veículo Gol, de cor cinza, placa de São Paulo e foram para Malacacheta, onde
sem serem percebidos, mostraram o Voyage de cor verde, numeral 8593, a casa da
vítima e o próprio João Pego. Ele estava há uma distância que não dava para ser
bem reconhecido, já que não podiam se aproximar muito. Aldécio e Alírio deram
CR$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros) para o custeio da pensão e alimentação do
pistoleiro durante as duas semanas que permaneceu em Santa Maria do Suaçuí para
se familiarizar com pessoas da cidade e confirmar a pessoa a ser assassinada.
SEBASTIÃO DE ARCISO E ASCENDINO,o"CIDININHO",
durante acareação que desmascarou a versão plantada pelos irmãos Leite.
Arciso ficou na pensão de Dona "Mariinha", sogra
do detetive Ofenir, mas achou o preço caro, então "Quincas", marido
de Dona "Mariinha" o levou para ficar na casa da amante, onde
permaneceu por cerca de 20 dias. Na casa conheceu “Zoca”, filho de Quincas que
preferia a casa da amante do pai à da sua mãe Izolene Alves. “Zoca”, pela
promessa de pagamento de CR$ 50.000,00 (cinqüenta mil cruzeiros) indicou “João
Pego” por diversas vezes a Arciso. Antes do assassinato o pistoleiro reunia-se
sempre aos finais de semana, na casa de Aldécio Leite, onde também participavam
das reuniões, Alírio, Aldeci, José Leite, Noélia e os filhos de Aldécio. A
família Leite tentaram uma lavagem cerebral, ensaiando a história a ser contada
quando Arciso fosse preso pela polícia de forma a desviar a responsabilidade
pelo mando do crime, repetindo sempre:
“que fora contratado por um homem conhecido por Ascendino” e
“Nelsinho” para matar “João Pego”. Que ao aproximar-se de “João Pego” deveria
dizer que estava cobrando o resto do dinheiro para “Ascendino” e “Nelsinho”.
Com essa
versão, matavam o desafeto e jogava nas costas dos assassinos de
"Toninho" a responsabilidades de mandantes. A ideia dos irmãos Leite
era eliminar “João Pego” e incriminar “Nelsinho” e “Ascendino”, suspeitos da
morte de “Toninho Leite”. “Matar três coelhos com uma só cajadada”
Tudo
planejado, Aldécio forneceu um revólver calibre 38 com 12 cápsulas intactas e
orientou o pistoleiro a tomar cuidado com as balas que estavam “batizadas” com
estricnina. Sábado, 11 de agosto de 1990, Arciso se dirigiu para a feira de
Santa Maria do Suaçuí em companhia de “Quincas”, que desconhecia as intenções
do pistoleiro. Na praça, encostou-se à soleira de um comércio, quando viu “João
Pego” se dirigir para a casa de um irmão, aguardando seu retorno, o que demorou
cerca de 30 minutos. “João Pego” desceu a rua em direção à praça, cujo
movimento era grande, por ser a feira tradicional dos sábados. Vinha gente de
todos os cantos da zona rural de Santa Maria do Suaçuí vender hortaliças, ovos,
leitões, queijos, frangos, toda a espécie de criações e alimentos provenientes
da pecuária e agricultura.
Quando “João
Pego” chegou no interior da praça, o pistoleiro aproximou-se e agiu como
combinado com os irmãos Leite, gritando que estava ali para cobrar uma dívida
de “Nelsinho e Sidinim”, sacando em seguida seu revólver e acionando uma vez em
direção a vítima, tendo a munição mascado. “João Pego” pulou em cima do
pistoleiro e atracou-se desesperadamente, entrando em luta corporal, tentando
desarmar Arciso. O pistoleiro, durante a luta, acionou a arma por mais duas
vezes, mascando os dois novos acionamentos. Neste momento, “João Pego” se
soltou e tentou sacar um dos dois revólveres que trazia na cintura, mas foi
infeliz em sua tentativa de se safar da morte, quando Sebastião de Arciso
desferiu os três últimos disparos que atingiram mortalmente a vítima. Preso por
um detetive de Santa Maria do Suaçuí, Sebastião de Arciso da Silva foi autuado
em flagrante usando o nome de João Pereira de Souza, declarando durante a
lavratura a versão dada pelos irmãos Leite. No entanto a farsa não durou muito
tempo e a verdade foi descoberta. Por questão de segurança, na época, o
pistoleiro foi transferido de Santa Maria do Suaçuí para o Departamento de
Investigações em Belo Horizonte, e posteriormente matriculado em uma
penitenciária de Neves, de onde fugiu. Foi preso posteriormente no Espírito
Santo e assassinado em um dos presídios daquele estado, segundo consta, como
mais uma queima de arquivo.
A segunda
etapa da história da família Nunes Leite, registrará as ações policiais que
possibilitaram a extinção da pistolagem no Vale do Mucuri.
PARTE II - AS AÇÕES POLICIAIS
ÍNDICE
Capítulo V. A resposta da Polícia
A Repressão Policial
Operação Nova Era
Operação Mucuri
Prisões e Fugas
A prisão de Aldécio, Aldeci e José Leite
Capítulo VI. Prisões e Enfrentamentos
A morte de Carlão
A morte de Lenon
Captura de Ofenir e Giramundo
Cemitério clandestino
Depoimento de Zé
Guaxe em juízo
Depoimento e morte de José Bundão
Capítulo VII. Repressão e Fugas Para Outros Estados.
A Apuração do Assassinato de Helvécio Cordeiro em Rondonia
Fuga e Prisão de Aldécio Leite
O Assassinato de Dario Rodrigues/Cordeiro
O Sequestro e Morte de Nelson Jardim
Capítulo. Os Julgamentos.
Julgamentos e Condenações
O Assassinato de Ascendino Jardim
CAPÍTULO V.
A Resposta da Polícia.
A Repressão Policial Contra a Pistolagem
Nesta
segunda fase da saga dos irmãos Nunes Leite, faremos o registro dos fatos e
ações policiais que ocorreram após a Chacina de Malacacheta e seus primeiros
desdobramentos, ainda em 1990. A repercussão nacional pelos assassinatos
provocaram reações diversas, que incluíram a manifestação formal do Presidente
Collor de Melo propondo colocar a Polícia Federal nas investigações. Haviam
suspeitas, principalmente por parte de familiares de vítimas, de omissão,
conivência e desídia por parte de policiais, juízes, promotores, políticos e
autoridades diversas, que durante pelo menos duas décadas, deixaram a família
Nunes Leite cometer seus crimes impunemente.
Em Belo Horizonte, no ano de 1990, o Secretário de
Segurança, José Resende de Andrade, determinou de maneira contundente, que a
polícia Civil acabasse com os crimes de pistolagem no Vale do Mucuri e Rio
Doce, palco das principais mortes por encomenda no estado, e, principalmente, a
apuração da chacina de Malacacheta e os diversos crimes atribuídos à família
Nunes Leite. Foram iniciadas, então, inúmeras ações repressivas por parte do
Departamento de Investigações e DEOESP. Instauração de dezenas de inquéritos
policiais e representações por prisões preventivas pela Delegacia de
Homicídios, em um trabalho de excepcional competência investigativa. Operações
policiais e diligencias para captura dos criminosos ocorreram em todo o país.
Era o início da tolerância zero ao jaguncismo em Minas. A Delegacia de Furtos e
Roubos e RODI, órgãos operacionais do DI, foram as unidades policiais que mais
participaram nas ações de enfrentamento aos pistoleiros e seus mandantes nas
cidades de Vassouras-RJ, Medeiros Neto-BA, Linhares-ES, Imperatriz-MA, Ulianópolis-PA,
Rio de Janeiro-Capital, São José do Rio Claro-SP, Jarú-Rondônia e São
Paulo-Capital.
Remanescentes do clã Nunes Leite: José, Aldécio, Aldeci, Altair e
Alírio, após a morte de"Toninho Leite.
O rol de mandantes, pistoleiros e pessoas envolvidas
diretamente nos crimes era grande e necessitava de um trabalho hercúleo por
parte da Polícia Civil para resgatar sua dignidade ultrajada pelo uso de seus
símbolos na chacina. Tinha de responder com ações específicas de investigações
e operacionais, para identificar e responsabilizar todos os autores e
partícipes na série de crimes. As respostas viriam rapidamente pela Delegacia
de Homicídios, Divisão de Crimes Contra o Patrimônio (Furtos e Roubos), RODI e
DEOESP, quando policiais abnegados e comprometidos com suas atividades
profissionais desenvolveram uma série de ações, diligencias e operações para
coibir as barbáries que envolviam a pistolagem no Vale do Mucuri, outras
regiões de Minas Gerais e outros estados da federação, conforme vamos
registrar.
Da
esquerda para direita, pistoleiros e envolvidos em alguns dos crimes da família
Nunes Leite: "Cabelo Seco", Fabinho, "Giramundo", Ofenir
Pinheiro, Sebastião Pereira de Macedo, o "Zoca", José Américo de
Sales Abrantes, Adauto Donizete, Eli Barbosa Couy, Eva Nilma, Noélia Santana
Couy, Islande Aparecida Couy, a "Laninha". Todas as pessoas aqui
citadas foram envolvidas em investigações, indiciadas e processadas por crimes
diversos com a família Nunes Leite.
Gilberto Cabelo Seco
Outros pistoleiros e pessoas envolvidas na história do jaguncismo da região do Vale
do Mucuri, com relações diretas com a família Nunes Leite e seus crimes:
Albino Alves Pereira
Elias Abrantes Quadros de Sales, "Zé Guaxe"
João Belchior
Israel Ferreira Paulino
"Zé Pretim"
Sargento Gomes
"Zé Henrique"
Jader
"Joel Garçon"
Coronel Rui
"João Bundão"
Trajano
"Ferreirinha"
Carlos Roberto Santos, o "Carlinhos Pastor"
Elizeu
João Moura
"Fernandão"
José Rosa, o "Tio Pedro"
Joel Moreira Alves
Sebastião "do Arciso"
Geraldo Mariano
Ademir
Antonio Augusto
Gilson Moreira Alves, o "Deca"
Geraldo Moreira Lopes, o "Peba"
"João Soldado"
Sargento Edésio
"Bacuri"
Odilon Gonçalves dos Santos
Carlos Cornélio
José Antonio Arthur
Eustáquio Leão
Zemar
Josélio Barros
É notório que
a relação aqui registrada representa um pequeno percentual dos criminosos que
atuaram a mando, ou em conjunto com a família Nunes Leite ao longo de mais de
três décadas. Isso ocorre pela dispersão das provas, provocadas pelo lapso temporal,
omissão das autoridades, desestrutura, medo e desinteresse pela apuração dos
crimes. Muitos pistoleiros não foram sequer identificados, já que, em várias
situações, eram contratados em outros estados, o que dificultou
consideravelmente as investigações. No entanto, a partir da Chacina de
Malacacheta a Polícia Civil de Minas Gerais já possuía muitos nomes e
informações. E fez a parte dela.
Operação Nova Era
Era inegável a
força política e econômica dos irmãos Leite até a chacina de Malacacheta, tendo
em vista o número elevado de homicídios por pistolagem atribuídos àquela
família nas décadas de 50, 60, 70, 80 e 90. A certeza da impunidade era uma
realidade para os irmãos Leite, que apoiaram deputados, bancaram campanhas para
a prefeitura municipal de Água Boa, Malacacheta e Capelinha. Suas fazendas eram
frequentadas por autoridades de toda a espécie. A forma covarde e cruel como se
deu a chacina da família Cordeiro em 15 de fevereiro de 1990, na fazenda
Canadá, em Malacacheta, precipitou a derrocada dos criminosos. Uma carta da
menor Maria Luíza de Andrade, com 10 anos à época e única sobrevivente da
chacina, enviada ao Presidente da República, Fernando Collor de Mello, narrando
o seu drama, o comoveu. O Presidente da
República enviou ofício ao seu Ministro da Justiça, Saulo Ramos, com uma
determinação:
“Quero uma
solução para isso já”.
A
comunicação chegou a secretaria de segurança, que determinou providências em
relação ao caso. No vale do Mucuri as informações corriam dando conta que o
restante da família Cordeiro ia ser assassinada e testemunhas não eram
encontradas para falar sobre os crimes, prejudicando substancialmente os
trabalhos de apuração. Ninguém viu ou ouviu qualquer coisa. Naquele clima de
medo, foram deflagradas operações de guerra, com o escopo de levar as raias da
justiça, os pistoleiros e mandantes e trazer tranqüilidade para a região. A
primeira ação real ocorreu em Nova Era, em oito de março de 1990, quando o
chefe do Departamento de Investigações, Nilton Ribeiro com equipe de 45
delegados e detetives fizeram uma devassa no garimpo e casas de Nova Era, onde
foram apreendidas inúmeras armas. Dentre elas, metralhadora importada, três
escopetas de repetição, pistola 3.57, explosivo plástico, pistola e revólveres
de vários calibres. A operação foi desencadeada por policiais da Divisão de
Crimes Contra a Vida e Furtos e Roubos, tendo como alvos, suspeitos de
envolvimento na chacina de Malacacheta. Inúmeras pessoas foram presas ou
ouvidas e as armas encaminhadas para comparação balística no Instituto de
Criminalística. No retorno da Operação Mucuri, que será visto abaixo, novamente
foi realizada uma operação relâmpago no garimpo, desta feita com um número
maior de policiais, incluindo o DEOESP e a Metropol.
Operação
Mucuri
Logo após a operação Nova Era, ocorreu o minucioso
planejamento da maior operação já deflagrada pela Polícia Civil de Minas
Gerais, tamanha a magnitude dos trabalhos, quer em estrutura logística, quer em
extensão territorial, onde a ação se desencadeou. José Resende de Andrade,
Secretário de Segurança, assumiu de peito aberto a luta contra a pistolagem no
Vale do Mucuri, dando todas as condições para que a operação policial fosse
concretizada. Foram utilizadas cerca de 70 viaturas caracterizadas e
descaracterizadas (D-20, C-10, Caravan, Uno e o Brucutu), um caminhão servia
como oficina mecânica, outro caminhão para transporte do rancho (cozinha móvel
e cozinheiros) além de um para o transporte de combustível. Eram preparativos
para uma batalha.
Nilton Ribeiro de
Carvalho, Chefe do Departamento de Investigações, coordenador geral da
operação. Delegados Ricardo Minelli (Furtos e Roubos), Pedro Moreira Barbosa,
adjunto do DI, João Reis, Chefe da Divisão de Crimes Contra o Patrimônio, e Inspetor Geral, Samuel Matozinhos, alguns
dos responsáveis por coordenações de área
Esta era a sensação dos policiais do Departamento de
Investigações, Metropol e DEOESP, delegados, detetives, escrivães, ao receberem
as primeiras orientações no dia 19 de maio de 1990, por volta da meia noite,
pouco antes de saírem em comboio para o Vale do Mucuri, onde as incursões
seriam realizadas em Capelinha, Água boa e Malacacheta. Nilton Ribeiro, o
coordenador da mega operação fez uma preleção, publicada, em parte, no jornal
Estado de Minas, de vinte de maio de 1990, que sintetizava todo o sentimento
dos policiais civis:
“Pessoal,
esta operação é muito importante para nós da Polícia Civil e o nosso nome está
em jogo. Devemos tomar todo os cuidado na sua execução para que ela seja bem
sucedida. Na abordagem às pessoas, devemos tratá-las com todo o respeito que
merecem como cidadãos. Aquela é uma região onde tem muitos pistoleiros e
criminosos que são nossos alvos. Mas, não podemos deixar de observar que a
grande maioria da população do Vale do Mucuri é formada por gente trabalhadora,
homem do campo, povo sofrido com tanta violência e dificuldade”.
“Aos
criminosos, todo o rigor que a lei nos permitir. Vamos em frente, que Deus nos
acompanhe e ajude”.
Recebeu um
sonoro “amém” dos duzentos e dez policiais que acompanhavam a preleção na porta
do Departamento de Investigações. A maioria dos policiais trabalhara durante
todo o dia e deram continuidade à longa viagem noturna, já que o trabalho
requeria sigilo para não vazar informação. Apesar de todo o cansaço de cerca de
seis horas de viagem pela madrugada, no início da manhã do dia vinte de maio,
as dezenas de viaturas se dividiam em três grupos e as abordagens se iniciavam
em Capelinha, Água Boa, Malacacheta e respectivas zonas rurais. Foram dois dias
de buscas ininterruptas com cerco total naquela região. Ninguém entrava ou saía
sem ser conferido. Após a operação foi feita a avaliação, apurando o sucesso em
seus objetivos, sem nenhuma reclamação por abuso dos policiais, apesar do
elevado número de participantes. A região nunca mais foi a mesma e ali a era da
impunidade começou sua derrocada.
21 de maio de 1990. Jornal Diário da Tarde.
OPERAÇÃO MUCURI
Uma caçada a pistoleiros
Toda a operação está sendo coordenada pelo chefe do
Departamento de Investigações, delegado Nilton Ribeiro de Carvalho e coordenada
pelos delegados Antonio João dos Reis, Raul Moreira e Pedro Zanella, que foram
divididos entre as cidades de Água Boa, Capelinha e Malacacheta. Armados de
metralhadoras, escopetas, Winchesteres, bombas de efeito moral e armas
convencionais, os policiais partem em diligências no centro e zonas rurais das
cidades para apreender armas e os vários mandados de prisão expedidos pela
justiça".
As
reportagens dos jornais Estado de Minas e Diário da Tarde, que acompanharam
todo o desenrolar da Operação Mucuri, estampavam suas manchetes: "Uma
caçada a pistoleiros", "Polícia fecha o cerco aos pistoleiros" e
"Operação de Guerra no Mucur
As inúmeras viaturas e a grande movimentação de policiais
civis fortemente armados desencadeou um clima de tensão e medo, misturados ao
alívio de inúmeras pessoas, que, veladamente chegavam até os detetives,
delegados e escrivães, agradecendo pela presença, demonstrando a esperança na
tranquilidade e paz na região. As ações se concentravam em todas as
entradas/saídas das cidades alvos, nas estradas da zona rural, bem como, no
cumprimento de mandados de prisão e busca e apreensão que eram cumpridos nas
fazendas dos irmãos Leite e criminosos ligados à família. O cerco na região foi
de tal envergadura, que o delegado da comarca de Malacacheta foi parado duas
vezes em locais de abordagem, obrigando-o a usar um colete da Polícia Civil
para evitar o constrangimento. O prefeito de Malacacheta também foi abordado e
conferido. Ninguém escapou à investida policial.
As viaturas
policiais na Operação Mucuri. Observa-se a movimentação policial em contraste
com a rotina do homem do interior do Vale do Mucuri.
Na primeira foto abaixo, registramos a figura folclórica do
delegado João do "Cachimbo", sentado no banco da praça de Água Boa e
o "Brucutu" ao lado, frente aos olhares curiosos de meninos daquela
cidade. Nas outras fotos: delegados Reis e Hilário, Inspetor Samuel Matozinhos,
detetives Cláudio Roberto Coelho, Rogério, Geraldinho "Gogó", Orlando
"Cabeça D'Alho", Malaguth, policiais do DI e do antigo GAS.
Participaram os três maiores órgãos operacionais do estado:
DI, DEOESP e METROPOL.
CAPÍTULO VI.
Prisões e Enfrentamentos
A prisão de Aldécio,
Aldeci e Zé Leite.
Em outubro
de 1990, decorridos cerca de nove meses da chacina de Malacacheta, o Delegado
José Arcebispo, "Zé Maria Cachimbinho" e cinco policiais foram para o
Espírito Santo, onde se encontraram com o então Delegado "Gilsinho",
daquele estado. O objetivo da viagem era a captura dos Irmãos Leite, Aldécio,
"Zé" e Alírio, que refugiaram na casa de praia de um oficial PM
daquele estado, após a decretação das prisões preventivas pelo Juiz de Santa
Maria do Suaçui, Fernando de Alvarenga Starling. Os mandados foram decretados
pelas mortes dos fazendeiros João Ferreira de Araújo, o “João Pego” e Felisbino
Monteiro, o “Bino Monteiro”. Os policiais conseguiram localizar os irmãos Leite
em uma casa em Ponta da Fruta, cerca de 20 quilômetros de Vila Velha, na
rodovia do sol. Naquela oportunidade
Alírio Leite, que saíra um pouco antes da chegada dos policiais, conseguiu
empreender fuga. Na casa, praticamente todos os utensílios tinham o gravame do
símbolo da Polícia Militar, o que demonstrava a cobertura “oficial” que estavam
tendo naquele estado. Com a prisão, os policiais de Minas Gerais passaram por
constrangimentos e pressões para conseguir sair do Espírito Santo com os presos
José e Aldécio Leite, quando a polícia colocou uma série de obstáculos para o
recambiamento à Minas. Só com a interferência direta de José Resende de
Andrade, junto ao governador capixaba é que foi possível a escolta para Belo
Horizonte. Mesmo assim, tiveram de buscar itinerários diferentes para se safar
de um possível resgate, anunciado aos murmurinhos nas dependências dos órgãos
policiais daquele estado e pela ira do coronel que dava guarida aos criminosos.
Aldécio e "Zé" Leite foram conduzidos para Belo Horizonte e
encarcerados no centro de triagem do Departamento de Investigações.
Reportagens
dos Jornais Estado de Minas e Hoje em Dia registram as ações policiais para
coibir o jaguncismo no Vale do Mucuri, com as primeiras prisões dos irmãos
Leite e pistoleiros após a chacina: "Acusado, Aldécio afirma que não
matou", "Fim de um ciclo da pistolagem", "Na saga dos
Leite, um rosário de crimes", "Quebrando a Lei do silêncio",
"Conquista de terra e política". Nas outras duas reportagens as
prisões dos irmãos Leite de Malacacheta e irmãos Curió de São João Evangelista.
Os delegados Raul Moreira e Otto Teixeira Filho, dois ícones nas investigações
da chacina e uma série de assassinatos naquela região. Reportagens sobre as prisões de Adauto,
"Giramundo", "Zoca"e Ofenir .
Prisão e Fuga de Gilberto Marçal, o "Cabelo Seco".
No dia
15/05/90, por volta das 05:00 horas da manhã, vários policiais da Furtos e
Roubos e Homicídios cercaram a casa de “Alfredão” em Ribeirão das Neves. Ele
era um pistoleiro aposentado que lidava no garimpo de Nova Era e as informações
recebidas indicavam sua casa como esconderijo de Gilberto Marçal da Rocha, o
Gilberto "Cabelo Seco". O pistoleiro, partícipe da Chacina de
Malacacheta, se encontrava naquele local, escondido com sua companheira, filha
de "Alfredão". Gilberto estava em um dos quartos do andar superior e
ao perceber o movimento dos policiais entrando na casa, tentou sair por uma
janela do segundo andar, armado com um revólver calibre 38, oxidado, desistindo
de seu intento ou de uma reação, ao ver inúmeras armas apontadas em sua
direção. O objetivo era a apuração da Chacina de Malacacheta, no entanto, o que
tornava legal a prisão de "Cabelo Seco" foi o mandado de prisão por
um crime praticado em Conselheiro Pena. Coincidentemente, o inquérito também
foi presidido por Otto Teixeira, da Divisão de Crimes Contra a Vida. Ao ser
interrogado na delegacia de homicídios, negou sua participação na chacina
alegando em sua defesa que, Aldécio queria que ele assumisse os crimes, mas não
aceitou, afirmando:
“os urubus que
fizeram a carniça, que comesse ela”.
No Depósito
de Presos da Lagoinha, Gilberto "Cabelo Seco" fez ameaças veladas
contra os delegados Nilton Ribeiro e Faria por sua prisão, pela morte de
"Carlão" e as apurações dos crimes de pistolagem.
"Eles não sabem com quem tão mexendo. Esse delegadinho
tá muito pra frente", disse a um preso, companheiro de cela, que repassou
as informações de ameaças para os policiais.
Ao ser
chamado na presença dos dois delegados, no gabinete do Chefe do DI, aconteceu
uma cena inusitada. O pistoleiro estava de chinelos, tipo Havaianas e ao se
sentar em uma cadeira, cruzou as pernas e os policiais perceberam parte de uma
inscrição na sola de seus pés. Ao mandarem mostrar o que estava escrito,
verificou-se que a ameaça que fizera para os dois delegados fora trocada. Com
caneta esferográfica escrevera: "Os delegados Nilton Ribeiro e Faria
querem me matar".
Sobre suas
ameaças, negou peremptoriamente tê-las feito.
As prisões de Gilberto "Cabelo Seco" , escoltado
pelo detetive Eduardo "Pracatá. Prisões de Eli Couy, José Américo
e"Laninha" por equipe do DEOESP. Captura de "Giramundo" e
Ofenir, escoltados pelos policiais "Rubão", da Homicídios e Sidney,
da RODI.
Quando
Gilberto foi transferido do Depósito de Presos da Lagoinha para a carceragem da
Furtos e Roubos (foi ouvido sobre um carro furtado), o pistoleiro ficou
temeroso ao entrar naquela delegacia, mudando sua versão de negativa dos crimes
e das ameaças contra os dois delegados. Mostrando-se uma pessoa fria, de pouca
ou nenhuma sensibilidade, começou a descrever os assassinatos que participou.
Em Conselheiro Pena,
Gilberto "Cabelo Seco", Fabinho e José Batista Lana, o
"Lana", utilizando coletes e distintivos da Polícia Civil, invadiram
uma residencia na zona rural, onde
renderam Avelino Fortunato de Andrade, 63 anos e sua mulher Cândida Lino de
Carvalho, 60 anos. Levaram o casal para a estrada e os abateram com vários
tiros a mando de um fazendeiro que estava sendo traído pela mulher, com um
filho de Avelino.
Confessou também a morte de Nicolau, assassinado em Peçanha,
crime praticado com Deusdeth, ex-policial militar. Naquela cidade também
vestiram fardas da PM e fuzilaram a vítima a mando de dois fazendeiros da
cidade.
Confessou a morte do Presidente do Sindicato Rural de
Pancas-ES.
Assumiu o assassinato do ex-detetive José Neves da Paz, cuja
morte foi encomendada por Getúlio Ataíde, pai de uma jovem assassinada em
Montes Claros em 1981.
Confessou o assassinatos do prefeito de Rio Pomba, Antonio
Motta Filho a mando do fazendeiro Armando Xavier.
Assumiu a morte de um motorista de ônibus em Manaus.
Confessou ainda, crimes de pistolagem em outros estados.
Na Furtos
e Roubos "Cabelo Seco" deu sua nova versão em declarações prestadas,
confessando a chacina de Malacacheta:
"Que
saíram de Nova Era por volta das 0:00 horas do dia 15 de fevereiro de 1990,
usando dois veículos, um Gol com placa fria e um Santana sem placas, chegando
na fazenda Canadá por volta das 05:00 horas da manhã. Gilberto portava uma
calibre 12 e uma pistola 9 mm; Ademir uma calibre 12 e uma pistola 7.65,
Fabinho portava uma pistola 7.65 e um revólver cal. 38. Ofenir usava uma
pistola automática e escopeta calibre 12. Carlão portava uma escopeta cal. 12
de repetição e "João Soldado" dois revólveres. As armas, os coletes
da Polícia Civil e os carros foram arrumados por "Carlão",
dividindo-se em dois grupos ao chegarem à Fazenda. "Carlão" se
identificou como delegado de polícia para José Augusto de Andrade, dizendo que
investigavam a morte do pistoleiro Albino Alves Pereira. Mandou buscar o irmão
José Augusto Cordeiro que estava em Jaguaritira. Enquanto o aguardavam tomaram
café com leite e queijo, sendo bem tratados pelas pessoas que se encontravam na
sede da fazenda. Por volta das 07:00 horas da manhã chegaram com José Augusto
Cordeiro. "Carlão" falou para todos se reunirem na sala. Estavam
presentes José Augusto de Andrade, de 55 anos, sua mulher Eunice Augusto
Cordeiro de Andrade, 43 anos, Núbia Florípes de Andrade, 24 anos, Geraldo
Augusto Cordeiro, 45 anos, José Augusto Cordeiro, 50 anos e Nacip Augusto
Cordeiro, de 23 anos. Carlão mandou Cabelo Seco dar uma busca na casa para
verificar se não faltava ninguém, pois o filho mais novo de 18 anos, o "Zé
Sextinho", mentor de tudo, não estava presente. "Cabelo Seco"
encontrou José Sexto Neto escondido debaixo de uma cama. Colocou a escopeta na
cabeça do rapaz e gozando a cara dele falou:
Você não é
muito homem? Gosta de encarar e agora
está se borrando todo?.
Neste momento "Cabelo Seco"
disparou um tiro de escopeta à queima roupa, esfacelando a cabeça de "Zé
Sextinho", em seguida outro no tórax. Ato contínuo, os demais criminosos
prosseguiram com a matança, sendo ouvidos vários tiros na casa. Eunice, no desespero,
tentou se esconder atrás do vaso sanitário, onde morreu com tiros de escopeta.
O corpo de Geraldo foi encontrado a seu lado. Núbia e Nacip correram para fora,
mas foram abatidos com vários tiros já na varanda da casa. Os outros dois
homens da família Cordeiro foram trucidados com vários tiros de escopeta e
armas semi-automáticas na cozinha da residência. Cabelo Seco recebeu Ncz$
100.000,00 (cem mil cruzados novos) por sua participação na empreitada, cujo
móvel do crime foi a morte do pistoleiro Albino, homem de confiança da família
Leite, morto por Geraldo Augusto Cordeiro quando tentou matar seu sobrinho
"Zé Sextinho". Essa última vítima era o objetivo principal, porque,
segundo "Cabelo Seco":
Andava pela
cidade de Malacacheta todo vestido de preto e dando uma de valentão e ainda com
um revólver na cintura, motivo pelo qual foi apelidado de capitão gancho e que
no dia da chacina, quando cheguei a 12 nele ele se cagou todo”.
Reportagens: "Cabelo Seco" confessa uma série de
assassinatos por pistolagem. Reconstituição do assassinato de "Zé
Neves", em Ribeirão das Neves. Gilberto "Cabelo Seco, à vontade, sem
algemas, em Neves. A fuga misteriosa: Fugiu? Mas como? A última foto registra
sua saída da Furtos e Roubos, quando confessou seus crimes.
Texto extraído do livro de Paulo "Maloca".
Dias depois de sua prisão,Gilberto Cabelo Seco conseguiu uma
fuga espetacular que de nada adiantou. Houve boatos, que depois foram
confirmados, dando conta de também ter sido morto... O pistoleiro Fábio Elias,
envolvido na chacina, não ousou reagir à prisão para não morrer, e assim
preferiu ir para detrás das grades."
A fuga
de Gilberto "Cabelo Seco" nunca foi bem explicada, mesmo diante de
uma sindicância instaurada para apuração de suas circunstâncias. Uma corrente
registrava que realmente ele tinha foragido e sido assassinado posteriormente.
"Alfredão", seu ex-sogro, chegou a afirmar que Gilberto "Cabelo
Seco" foi visto em São Paulo após a fuga e estaria escondido naquele
estado. Outra versão apontava que a fuga teria sido simulada e que ele foi
morto pela polícia. A verdade, provavelmente, foi enterrada junto com todas as
vítimas do pistoleiro
A Morte de Carlão
"Carlão planejou
Conta o pistoleiro Ofenir que na época que trabalhava em um
garimpo em Nova Era, outro pistoleiro, conhecido por Carlão, a mando dos Leite,
arquitetou a vingança. "Revoltado com a morte de Albino, reuniu os colegas
de garimpo e nos deu ordens para ir à fazenda dos Leite, em Malacacheta,
executar o serviço", lembrou Ofenir. Com seus comparsas Fabinho, Cabelo
Seco e Bacuri e os militares, soldado Antonio Augusto que morreu em um acidente
de trânsito, o sargento Edésio, preso por outro homicídio em Teófilo Otoni e o
soldado Carlos Cornélio, o Carlinhos, Ofenir e eles seguiram em dois carros
para a fazenda dos Cordeiro de Andrade, disfarçados de policiais civis. Todos
usavam coletes da polícia e foram bem recebidos pelos Cordeiro." Julho de
1990. Jornal Estado de Minas.
No dia 18 de
abril de 1990, o delegado Faria era titular da 4ª Delegacia Especializada de
Furtos e Roubos, sendo chefe da Divisão, Antonio João dos Reis, foi chamado ao
Gabinete do Chefe do Departamento de Investigações, Nilton Ribeiro. Ao chegar
se reuniu com o chefe do DI e os delegados Raul Moreira (Chefe da Divisão de
Crimes Contra a Vida) Otto Teixeira e José Arcebispo, da Homicídios. Segundo
Nilton Ribeiro, a orientação do Secretário de Segurança José Resende era no
sentido de que fosse escolhida por Faria uma seleta equipe da Furtos e Roubos e
que deslocassem imediatamente para Nova Era. Nilton Ribeiro lhe entregou os
mandados de prisão de Hamilton Leite Costa, vulgo Carlão e Fábio Elias dos
Santos, vulgo "Fabinho", requeridos à justiça pelos policiais da
Delegacia de Homicídios. "Carlão" era um dos envolvidos na Chacina de
Malacacheta, conhecido por sua periculosidade, principalmente quando cheirava
cocaína.
Abaixo: O Secretário de Segurança José Resende de Andrade, o
Chefe do Departamento de Investigações, Nilton Ribeiro de Carvalho, Chefe da
Divisão de Crimes Contra a Vida, Raul Moreira, Chefe da Divisão de Crimes
Contra o Patrimônio, Antonio João dos Reis, Otto Teixeira Filho, Edson Moreira
e José Arcebispo, titulares de Delegacias Especializadas de Homicídios. Apesar
do título da reportagem da Revista Isto É, do mesmo período temporal, a ordem
era para prender "Carlão", desde que as vidas dos policiais não
fossem colocadas em risco.
Dentre os crimes de "Carlão", registramos um
assassinato no garimpo que demonstra o seu perfil violento. Um Oficial de
Justiça escoltado por um Policial Militar foram tomar posse de parte do garimpo
em cumprimento à decisão judicial. Junto aos dois, um homem os acompanhava em
razão de ser o beneficiário da sentença de reintegração de posse.
"Carlão" não pensou duas vezes, sacou suas armas e assassinou o rapaz
com onze tiros, sob o argumento de que ninguém iria tomar posse ali. Além de
matar, colocou o militar e oficial de justiça para correr. Realmente em Nova
Era, tanto a Polícia Militar quanto à Polícia Civil não interferiam com
"Carlão". Por omissão, ou medo.
Hamilton Leite Costa, "Carlão" e reportagens sobre
as armas apreendidas no garimpo de Nova Era e no Pará.
Nova Era no período de garimpo, na década de 90, parecia uma
cidade do velho oeste americano, onde o pistoleiro "Carlão" desfilava
pela cidade, portando de forma acintosa, sua escopeta de repetição, armas de
grosso calibre e até metralhadora sem ser molestado. O Chefe do Departamento de
Investigações advertiu o delegado Faria quanto à ameaça que "Carlão"
havia feito na cidade, de ter colocado várias bananas de dinamite no seu carro
para, "caso a polícia de Belo Horizonte tentasse prendê-lo, não se
entregaria vivo e levaria muitos policiais com ele". O delegado escolheu
policiais das cinco delegacias especializadas de Furtos e Roubos, adotando o
critério de segurança, valentia e destemor. Partiram para Nova Era por volta
das 16:00 horas em quatro viaturas. Pegaram a BR 262 com as sirenes ligadas e
por volta das 17:00 horas já entravam da cidade, indo primeiramente ao garimpo,
onde os alvos poderiam estar. Na estrada de terra que os conduzia ao garimpo,
avistaram um veiculo Monza, em sentido contrário, onde possivelmente estariam "Carlão"
e "Fabinho". Os policiais da Furtos cercaram rapidamente o carro, no
entanto, era de um policial que fazia segurança no garimpo, que lhes forneceu
as informações para prisão dos pistoleiros. Os criminosos estavam na casa de
"Carlão", na cidade, em uma camioneta F-1000 e bem armados. O
policial civil, apesar de fazer segurança no garimpo, prontamente ofereceu para
ajudar. Faria entrou no carro particular do policial/segurança, junto com dois
detetives da Furtos, por ser um veículo particular e conhecido dos pistoleiros.
Assim, não despertaram a atenção de "Carlão" e deslocaram com o
Monza, cerca de quinhentos metros à frente das viaturas policiais. Ao entrarem
na rua onde residia "Carlão", conseguiram aproximar da casa, onde o
criminoso se encontrava com uma escopeta em uma mão e arma na cintura,
preparando-se para entrar em sua camionete na companhia de outro homem, sem
atentar para o veículo que aproximava.
A rua onde
"Carlão" morava era uma descida longa e apesar do carro ter passado
incólume de observação, o criminoso percebeu o movimento das viaturas policiais
no alto e recuou em direção à sua casa, preparando a arma que estava em sua mão
para o ataque. Quando o delegado e seus dois policiais desceram do Monza com
suas armas em punho, "Carlão" atirou na direção dos policiais e sumiu
portão adentro com o outro homem, possivelmente "Fabinho". Faria e os
policiais que estavam no Monza entraram no encalço dos bandidos pela frente da
residência, enquanto os demais policiais chegaram rapidamente e cercaram o
imóvel pelas laterais e fundos, revidando os tiros recebidos na resistência à
prisão, em meio ao corre-corre de pessoas que se encontravam na rua e no
interior da casa. Ao chegarem ao fundo da residência, próximo a um barracão,
"Carlão" estava caído, agonizando, em razão de diversos tiros que
recebera. "Fabinho" conseguira fugir. Foi determinada a imediata
remoção para o hospital, onde chegou sem vida. As armas apreendidas e os
projéteis deflagrados foram encaminhados à Justiça para serem periciadas e o
processo em relação à morte de Hamilton Leite Costa foi arquivado, pelas
circunstâncias legais da morte, conforme despacho do promotor Francisco
Santiago, na ocasião, representante do Ministério Público da comarca.
Registro
de parte da equipe policial que tentou prender "Carlão" em Nova Era.
Por falta de material, alguns policiais deixaram de ter suas fotos registradas
neste espaço, cujos nomes são relacionados abaixo.
Delegado Faria, titular da 4ª Delegacia Especializada de
Furtos e Roubos, coordenador da operação. Equipe: Paulo Menezes (Paulo
"Silu"), José Frederico Falcão, Alcides Martins Maia Filho, Daniel, Marco Antonio Andrade, Mauro Edson
Oliveira", Pracatá", Denilson Ferreira da Silva
("Cabelinho"). Almir "Zito", Gilberto Cunha Bracelares,
Álvaro Amaral Júnior e Eustáquio Perez (Juruna). Participaram ainda, os
policiais: Eduardo Santos Abreu (Eduardo Preto), Luiz Fernando Cândido e José Paulo Chaves.
Trecho do livro "Só os Fortes Sobrevivem", de
"Paulo Maloca", sobre a diligência:
"Em Nova Era chegara vez de Carlão Leite prestar contas
à justiça e ao diabo pelos seus crimes bárbaros. No dia da chacina ele teria se
passado falsamente como delegado, usando um colete da Polícia Civil. Chegara a
hora de enfrentar um de verdade.
Carlão comandava o garimpo de Nova Era, onde tinha ficado
rico com pedras e pistolagem, sempre protegido por outros pistoleiros. Morava
numa fortaleza, vigiada por cães dobermann, a qual foi cercada por um dos mais
temidos delegados da polícia mineira - Dr. Antonio Carlos de Faria - juntamente
com uma equipe de policiais: Gilberto Bracelares "Gilbertão",
"Falcão", Denilson "Cabelin" e Pracatá, todos escolhidos a dedo
para uma operação de guerra contra um dos pistoleiros mais impiedosos de que se
tem notícia em todo o estado.
Carlão reagiu ao cerco policial, com uma espingarda de
repetição calibre 12, e após uma intensa troca de tiros, foi morto metralhado
pelos policiais que cumpriram seu dever a sangue e fogo".
Coação de Testemunha
A coação de
testemunhas sempre fez parte do cotidiano da família Nunes Leite, como pode ser
observado nas diversas investigações, inquéritos policiais, processos e
reportagens sobre a pistolagem na região do Mucuri. As testemunhas "nunca
viram nada", ainda que presentes nos locais de crime, ou falavam qualquer
coisa contra os Leite, por temer por suas vidas. E esse medo era justificável,
diante de uma família que não tinha inimigos, por uma razão simples, não os
deixavam vivos. Os exemplos mortos dessa verdade são os inúmeros pistoleiros
abatidos como queima de arquivo e o próprio João "Bundão",
assassinado em uma das fazendas dos Leite, após testemunhar sobre crimes da
família.
"Aqui quem não morre de tiro, morre de medo".
"Aqui tem crime, mas não tem criminoso"
"A situação pode se complicar se os Leite voltarem para
Malacacheta".
Frases do coveiro Waldir Pereira dos Santos, de Malacacheta,
que, em sua simplicidade de homem do interior, expressava a realidade daquela
gente.
As reportagens: "Mesmo preso, José Leite ameaça
testemunhas que vão acusá-lo. Nunes Leite intimidam testemunhas. MEDIDA DE
SEGURANÇA-Testemunhas foram depor algemadas. Coveiro vê crimes e não vê
criminosos", aqui registradas dos jornais Estado de Minas, Diário da Tarde
e Jornal O Globo estampam a insegurança das testemunhas envolvidas em crimes
praticados pelos irmãos Leite.
Jornal Estado de Minas. 3/5/1991
"Apesar do esforço da polícia em acabar para sempre com
os crimes de pistolagem, em Minas, evitando tragédias como a Chacina de
Malacacheta, que dizimou sete pessoas da família Cordeiro, o predomínio dos
assassinos, membros da família Nunes Leite, prevalece nos Vales do Mucuri e Rio
Doce, impondo seus métodos: o medo e o terror.
...mesmo preso na carceragem da Delegacia de Vigilância
Geral, o fazendeiro José Nunes Leite, um dos mandantes dos 44 homicídios
apurados e atribuídos aos Nunes Leite, dava ordens expressas, através de cartas
a pessoas de confiança das cidades de Malacacheta e Água Boa, para que
coagissem as principais testemunhas dos crimes."
A Morte de Lenon
Helenísio Nunes Leite, "Lenon", seu assassino,
Elias Abrantes Quadros de Sales, o "Zé Guaxe" e reportagem sobre as
denúncias que fez contra os irmãos Leite. Na última reportagem, do Jornal o
Globo
Com a prisão
de Aldécio, José Leite e outras pessoas envolvidas com a família Leite,
iniciava-se a derrocada dos Nunes Leite, o medo das pessoas diminuía e a
vontade de enfrentá-los da mesma forma, ou seja, com violência, aumentava entre
os seus desafetos. O primeiro enfrentamento, já registrado na I Parte da saga,
ocorreu na estrada entre Água Boa e Malacacheta, "Toninho" Leite foi
emboscado e assassinado com vários tiros, quando dirigia a camioneta em direção
a uma de suas fazendas. No dia 24 de novembro de 1991, ocorreu mais um capítulo
de sangue na vida dos Leite, desta feita não mataram ou mandaram matar alguém,
o revés foi o assassinato de Helenísio Nunes Leite, filho de 14 anos de Aldécio
Nunes Leite, assassinado pelo vaqueiro Elias Abrantes Quadros de Sales, vulgo
“Zé Guaxe”, que trabalhava há 12 anos na Fazenda Boa Esperança, em Malacacheta,
de propriedade dos irmãos Leite. “Zé Guaxe” declarou, após sua prisão, que era
constantemente espancado por “Lenon”, que abusava de sua condição de filho de
Aldécio leite para surrar os empregados. O atrito entre “José Guaxe” e “Lenon”
iniciou-se porque o primeiro comentou que iria mudar para São Paulo e precisava
que acertassem suas contas pelos doze anos trabalhados, quando o segundo disse:
“Que mudar
que nada. Se você sair da fazenda você vai é juntar com esse povo e nos
perseguir”.
“Lenon”
teria dito a “Zé Guaxe” que já tinha mandado seus vaqueiros atrás dele em
Jaguaritira para arrastá-lo em um burro até sua presença, passando a
desferir-lhe socos e chutes. “Zé Guaxe” lembrou que “Lenon” guardava um
revólver debaixo do colchão, entrou na casa, achando a arma dentro do
guarda-roupas, passou pela cozinha e chegou ao alpendre onde o rapaz se encontrava.
“Você ainda não foi embora não? Quando os vaqueiros chegar
eles vão te arrebentar no pau.”
“Lenon” se
levantou para apanhar um cabo de vassoura que estava atrás da porta para
agredir “Zé Guaxe”, que não esperou, desferindo um tiro certeiro, quase à
queima-roupa, no ouvido de Lenon, que caiu de bruços, tendo um banco de madeira
tombado sobre seu corpo. Ato contínuo, “Zé Guaxe” descarregou o revólver no
corpo da vítima, certificando-se desta forma, que realmente estava morto. Após
fugir, “Zé Guaxe” foi perseguido pelos vaqueiros de Aldécio Leite, conhecidos
por “Antonio”, “Paulinho” e os dois irmãos Valdeci e Ivailton, filhos de Lúcia
Matias, irmã de dois pistoleiros dos Leite que participaram da chacina da
família Juca Peão. Antes da morte de “Lenon”, “Zé Guaxe” procurou a Polícia
Militar e a Polícia Civil para ajudarem a buscar suas coisas na fazenda, pois
temia as ameaças dos vaqueiros da fazenda, no entanto, não foi atendido.
Procurou Eva Nilma, mulher de Aldécio, para acompanhá-lo até a fazenda, mas
essa se recusou, alegando que “o mais forte engole o outro”.
E engoliu.
Cemitério clandestino
Final
de dezembro de 1991, o delegado Antônio João dos Reis, na época, titular do
DEOESP, empreendeu uma diligência à Fazenda Urupuca, a 40 quilômetros de
Malacacheta, para localização de um suposto cemitério clandestino, onde
estariam enterradas várias vítimas de crimes de pistolagem, praticados pelos
irmãos Nunes Leite. A fazenda pertencia à família Leite e segundo informações
do vaqueiro Elias Abrantes Quadros de Sales, vulgo "Zé Guaxe", que se
encontrava preso pela morte de Elenízio Nunes Leite, filho de Aldécio Nunes
Leite, vários corpos foram enterrados após serem assassinados e ele poderia
levar ao local. João Reis viajou para a região de Malacacheta com 23 policiais
da Divisão de Operações Especiais, além de um médico legista e perito criminal.
Ao chegarem ao local indicado por "Zé Guaxe", a equipe do DEOESP
localizou ossadas de seis pessoas que foram encaminhadas ao IML para serem
periciadas. A suspeita era de que uma das ossadas pertencia a Humberto Augusto
Cordeiro, vereador de Malacacheta, integrante da família Cordeiro, desaparecido
em 20 de junho de 1990, quando sequestrado no Bairro Industrial.
O local do cemitério era de difícil acesso, chovia muito na
ocasião, obrigando os policiais a caminharem por uma trilha de terra batida,
acidentada e escorregadia, com muito barro, poças d’água e atoleiros, além da
vegetação densa e aglomerada. Atolaram as viaturas por várias vezes, durante o
dia e à noite, contando com a ajuda de fazendeiros da região para a retirada
dos carros com o uso de trator. Depois de muita dificuldade conseguiram
encontrar o cemitério clandestino, que ficava próximo da casa do lavrador
Onofre Monteiro Santos, na fazenda Palmital, Malacacheta, propriedade de
Antônio Nunes Leite.
Jornal Estado de Minas. Novembro de 1991.
"As ossadas
Os dois cemitérios encontrados ficam a poucos quilômetros da
fazenda Urupuca, anteriormente administrada por "Toninho" Leite,
antes de seu assassinato em 30 de abril do ano passado por membros da família
Cordeiro de Andrade. Para chegar aos cemitérios, os 23 policiais tiveram de
andar mais de duas horas a cavalo. Já no alto de uma montanha José Elias
indicou os lugares e deu-se início às escavações."
Viaturas do DEOESP
atoladas durante as diligencias.
No local foram encontrados:
1 caixote retangular
de madeira contendo uma ossada humana (adulto jovem) de aproximadamente 25 anos
de idade, tendo o crânio fraturas múltiplas, caracterizadas por projétil de arma
de fogo. A morte diagnosticada ocorreu em consequência de traumatismo crânio
encefálico causado por instrumento contundente e pérfuro-contundente.
Um caixote de madeira retangular, contendo uma ossada humana
(adulto jovem) de 20 a 25 anos de idade, com várias lesões, assim descritas
pelos médico legistas: fraturas lineares no crânio, fratura do 9º arco costal,
fratura do púbis, perda de substância da extremidade distal do 6º, 7º e 8º
arcos costais. Côndilo occipital estrangulado e o esquerdo destruído. Vértebras
e escápulas com múltiplas fraturas. Apesar das inúmeras lesões, a morte ocorreu
em conseqüência de traumatismo craniano, devido à agressão por instrumento
contundente.
Na última sepultura escavada foram encontrados vários
fragmentos de ossos humanos que seriam de quatro (quatro) indivíduos distintos,
sendo a conclusão das mortes traumatismo craniano por instrumento contundente.
Conta-se na
região, que os irmãos Leite mandaram matar mais de cem pessoas e inúmeros
corpos foram “plantados” em cemitérios clandestinos como esse, mas que nunca
foram encontrados. Dentre as vítimas constam inúmeros pistoleiros do Espírito
Santo, Bahia e Rio de Janeiro, que eram contratados, faziam o serviço sujo e na
hora do pagamento recebiam tiros ou eram torturados até a morte e enterrados em
covas rasas como queima de arquivo. Durante a operação realizada pelo DEOESP,
várias pessoas ligadas à família Leite foram presas por participações diversas
em crimes perpetrados na região.
Eli Barbosa Couy, o Eli de Carrim e José Américo de Sales
Abrantes foram presos e fichados do DEOESP como partícipes do sequestro e morte
de Humberto Augusto Cordeiro. Nas fichas policiais de Islande Aparecida Couy, a
"Laninha" e Noélia Santana Couy registram:
"Presas em 1991, envolvidas no sequestro de Humberto
Augusto Cordeiro e ocultação de cadáveres na cidade de Malacacheta".
"Pistoleiros. Acusados de serem autores do sequestro e assassinato, tendo
enterrado nas terras da Fazenda Urupuca, em Malacacheta-MG"
João Inocêncio
da Silva, o "João Bundão" foi preso em 1992 pela Polícia Civil de
Capelinha por envolvimento na Chacina de Malacacheta e encaminhado para a
carceragem do DEOESP. Pouco tempo depois seria libertado e morto na fazenda dos
irmãos Leite. À direita a ficha de "Zé Guaxe, preso no DEOESP quando
assassinou Lenon, filho de Aldécio Nunes Leite.
Trechos do depoimento de Zé Guaxe em juízo
“Plantar”: significa
matar uma pessoa e enterrá-la próxima a uma porteira, na beira de uma cerca e
não no cemitério (Zé Guaxe).
“Os irmãos Leite não pagam ninguém e são piores que a
polícia para baterem na gente”.
“Não concordo em
fazer da pistolagem meio de vida, pois dinheiro de pistolagem não rende”.
“Lubrinou e qualquer
lubrina faz barro no curral da fazenda”.
“Quando imputou a
morte de Elenísio a membros da família Cordeiro o fez por ameaça dos Leite”.
“Joaquim do Ó, depois que mataram seus filhos, vendeu as
terras por “micharia” para os irmãos Leite”.
“Que Humberto ficou
sofrendo durante sete dias até a morte, naquelas capoeiras por lá”.
“Que ficou sabendo da
descoberta do Zanal de Armas”.
“Que o amigo que considera hoje é Deus”.
“Que confirma ter
deposto por vingança dos Leite, que confirma tal depoimento tanto aqui quanto
no inferno”.
“Que tanto na bueira quanto na “capoeira” as armas eram
guardadas devidamente lubrificadas”.
“Que nunca ajudou a
carregar defunto, cavar covas ou enterrar alguém”.
Transcrição
de algumas frases de José Elísio Abrantes de Sales, vulgo “Zé Guaxe” (vaqueiro dos
Leite) no depoimento prestado no II Tribunal de Júri, em 16 de junho de 2000,
na presença do Juiz Presidente José Amâncio de Souza Filho, dos Promotores
Francisco de Assis Santiago e Vagner Vartulli, do Assistente de Promotoria João
Mendes Campos, Advogado de Defesa Lúcio Adolfo da Silva e réu José Nunes Leite.
Depoimento e morte de João Bundão
João Inocêncio da Silva, vulgo “João Bundão” trabalhou desde
os 12 anos de idade, como vaqueiro, na Fazenda Serra Azul, município de
malacacheta, de propriedade de Alírio Leite.
“Era pessoa tida como forja da família que trabalhava nas
horas vagas como vaqueiro, mas exercia a função pública de pistoleiro”.
Em 1º de
abril de 1992, prestou depoimento ao Delegado Anselmo Resende Gusmão sobre o
desaparecimento de Humberto Augusto Cordeiro e ao assinar sua oitiva, assinava
também sua sentença de morte. “João Bundão” afirmou:
“que entre a morte de Humberto e Bino Monteiro, Alírio
esteve na fazenda acompanhado de Renato e Joel (pistoleiro do Espírito Santo) com
um veículo Gol de cor cinza”. Que disse a Alírio:
“Ô padrinho, você
ficou sabendo do sumiço de Humberto Cordeiro?”.
Alírio retrucou
dizendo: “Vê se esquece esse homem, ele já foi pro inferno e não quero que
toque nesse assunto”.
Que naquela oportunidade fazia-se presente, além de Alírio,
seu irmão Aldécio Leite e um elemento conhecido por “Giramundo”. Alírio disse
para hospedá-lo, pois ele iria matar o elemento conhecido por “Bino”. Que se
encontrou na fazenda de Zé Leite com as pessoas de Joel da cidade de Vitória
(pistoleiro) e uma pessoa que respondia pelo nome de Adélcio (pistoleiro). “Que
perguntou a Joel se sabia do desaparecimento do Humberto Cordeiro, ao que o
mesmo disse que “esse aí já era”. Que acredita firmemente na hipótese da autoria
do crime contra Humberto ser de Joel, Renato, Adélcio e Alírio. O autor da
morte de Bino chegou a pernoitar em sua residência por uma noite”. “A morte de
Bino era devida aos comentários que ele fazia em querer ajudar a família dos
Cordeiros a vingar a morte dos familiares”. “Alírio insistiu com o declarante
para acompanhar “Giramundo”, contudo se negou”.
“No dia da morte de
“Bino”, “Giramundo” estava aguardando a passagem do mesmo naquela propriedade”.
“Era em torno de 16:00 horas quando “Bino” transitava em uma Caminhonete Pampa
de cor creme e “Giramundo”, ao constatar que era ele montou em um cavalo e saiu
atrás do mesmo”. “Que foi ameaçado por Aldécio Leite (estava junto com ele e Zé
Leite na mesma cela) a contar a história do jeito que deveria ser, ou seja, que
teria sido, teria ouvido os disparos de arma de fogo e que poderia ser
“Giramundo”, não tendo em nenhum momento mencionado os nomes Adélcio e Zé
Leite”. “Que após encontrar-se preso preventivamente e acusado de algo que não
fez, decidiu contar a verdade do que tem conhecimento”.
Depois de
“Zé Guaxe”, “João Bundão” foi o segundo vaqueiro dos Leite a depor contando a
participação deles em crimes na região de Malacacheta e Capelinha e para a
família Leite este ato era imperdoável.
“É interessante lembrar João Inocêncio, o "João
Bundão", foi colocado em liberdade por razões que as instruções
processuais não explicam claramente e assassinado numa das fazendas dos Leite
pelo pistoleiro Odilon Gonçalves dos Santos, pessoa também tida como forja da
família Leite que exercia a função de pistoleiro”.
João
Inocêncio da Silva foi assassinado quando ordenhava vacas na Fazenda dos irmãos
Leite e o processo tramitava na comarca de Malacacheta onde Eva Nilma era
apontada como mandante no crime. Os autos foram desaforados para Belo Horizonte
e no ano de 2005 Nilma foi absolvida.
Reportagem do Jornal Estado de Minas de 31 de dezembro de
1991, sobre as prisões de Noélia, "Laninha", Ely e José Américo pelo
DEOESP, quando do descobrimento do cemitério clandestino.
Acima, à direita, a fazenda Urupuca, propriedade dos irmãos
Leite.
As Prisões de Ofenir e "Giramundo".
Policiais que participaram das diligencias para prisão
desses dois pistoleiros: Delegados Faria (RODI) e Edson Moreira(Homicídios).
Miltão, Jorge Camarão, Geraldo BC, Semim, Rubão e Sidney.
No mês de
julho de 1993 reuniram-se duas equipes de policiais da Furtos e Roubos e
Divisão de Crimes Contra a Vida, sendo Faria e Edson Moreira os delegados e
Jorge "Camarão", Geraldo "BC", Jorge Simim,
"Rubão" e "Miltão" os detetives que acompanhavam. A missão,
diligências em Lajedão, Serra dos Aimorés e Medeiros Neto na Bahia para captura
do pistoleiro Donizete Pereira dos Santos, vulgo "Giramundo" e em
prosseguimento, à João Neiva, no Espírito Santo para a prisão de Ofenir
Pinheiro Machado, detetive aposentado. Contra os dois foram expedidos mandados
de prisão pela Justiça de Malacacheta por suas participações em crimes de
pistolagem e na Chacina de Malacacheta. Após a morte do pistoleiro Albino, os
dois tornaram-se homens de confiança da família Leite e a captura deles era de
vital importância para esclarecimento de pontos intrincados do processo das
mortes dos membros da família Cordeiro. A polícia sempre trabalhou com muita
dificuldade no aspecto operacional, principalmente em se tratando de
diligências em outros estados. Os policiais viajavam com dinheiro do próprio
bolso (até hoje), buscando o ressarcimento no retorno das viagens.
Neste caso
não foi diferente. Viajaram para Governador Valadares onde conseguiram com o
fazendeiro João Martins, o abastecimento para o prosseguimento da viagem. Pararam
em Teófilo Otoni, onde o Delegado Regional Geraldo Magela conseguiu um hotel e
reabastecimento das viaturas, completando os tanques. Tomaram banho, jantaram e
descansaram de 21:00 horas até aproximadamente meia-noite, quando prosseguiram
a viagem em direção a Serra dos Aimorés, Lajedão e Medeiros Neto. Viajaram
durante toda a madrugada, percorrendo diversas estradas de terra, com o frio do
inverno penetrando nas gretas das viaturas, gelando os policiais. O sono foi
espantado pela tensão e o aspecto sombrio da região, principalmente pelos
trajetos na zona rural. Por volta das 4:00 horas da manhã passaram pelo centro
da cidade de Medeiros Neto, deserta naquele horário. Percorreram algumas
fazendas até chegarem ao destino do alvo. Pararam as duas viaturas e andaram
cerca de cinco quilômetros até entrarem na sede da fazenda de "Carlinhos
Varejão", rico e influente fazendeiro na Bahia e Espírito Santo. A noite
fria de julho trouxe muita neblina e pouca visibilidade para os policiais
enquanto caminhavam até a fazenda. A casa principal era grande, em estilo
colonial, à esquerda da entrada e à direita uma casa menor, onde possivelmente
moraria o caseiro e "Giramundo". Ao se aproximarem notaram movimento
e barulho na segunda casa, que foi cercada rapidamente, aos costumeiros gritos
de "polícia, a casa caiu "Giramundo".
"Giramundo", acuado, com seu revólver calibre 38, desistiu de
qualquer reação, diante da iminente morte no caso de resistência. A porta da
frente da casa foi arrombada e o criminoso dominado. Na casa grande da sede, as
janelas abriam pequenas frestas e murmurinhos eram ouvidos e ao perceberem que
aqueles policiais estavam bem armados e dispostos ao enfrentamento, as pessoas
que ali se encontravam não esboçaram qualquer gesto para interferir. O objetivo
fora alcançado. As equipes da RODI e Homicídios foram para as viaturas e saíram
rapidamente de Medeiros Neto-BA para Nanuque, onde chegaram por volta das 7:30
horas. Foram direto à delegacia regional e só por volta das 10:00 horas
conseguiram ser atendidos pelo titular, que forneceu apenas 30 litros de
combustível para as duas viaturas completarem a viagem ao Espírito Santo. Os
delegados Faria e Edson Moreira, com suas equipes, seguiram pela estrada que
liga a cidade de Montanha e São Gabriel da Palha à Linhares-ES. Exaustos,
pernoitaram em um hotel na parte central da cidade de Linhares, encarcerando
"Giramundo" na delegacia local. As 6:00 horas da manhã prosseguiram
em direção ao garimpo de João Neiva, naquele estado, onde possivelmente encontrariam
Ofenir Pinheiro. Desceram pela BR-101 até chegarem próximo à cidade de João
Neiva, parando em um posto de gasolina para o café, abastecimento e o planejamento da chegada ao garimpo,
distante cerca de dez quilômetros daquele local. Os policiais "Geraldo
BC" e Jorge Semim trafegavam à frente, no carro chapa fria e ao chegarem
no restaurante, "BC" foi ao banheiro para fazer suas necessidades e
aguardar os demais policiais. O policial tem que contar com a sorte, mas só ela
não basta. O tirocínio, a atenção e sagacidade também fazem parte do perfil de
um bom profissional de polícia, características
inerentes a Geraldo "BC" e que foram imprescindíveis naquele
momento. Ele viu um homem urinando a seu lado e percebeu que estava armado.
Disfarçadamente observou que na testa do cidadão tinha uma cicatriz profunda,
característica principal de Ofenir Pinheiro. Geraldo BC colocou a mão em sua
arma e disse:
“Polícia, você está armado?”.
O outro retrucou:
“Então empatou, também sou polícia”, tirando a velha carteira
de detetive que o identificava como sendo Ofenir. Rapidamente "BC" o
desarmou e chamou Semim, que o algemou e em seguida foram ao encontro dos
demais policiais na estrada. Todo o planejamento caíra por terra diante da
oportunidade e sorte daquela equipe de policiais. Voltaram para Belo Horizonte
onde os dois presos foram interrogados e confessaram a participação em vários
crimes, incluindo a chacina de Malacacheta. As circunstancias da Chacina de
Malacacheta foram detalhadas por Ofenir Pinheiro.
As investidas contra o jaguncismo e os
crimes de sangue no Vale do Mucuri não atingiu apenas os irmãos Nunes Leite,
mas também os "Irmãos Curió", de São João Evangelista, responsáveis
por vários homicídios na região, que também se escudavam no poder político e
econômico para manter-se na impunidade. Outro atingido pela investida da
Polícia Civil foi Arildo Pereira Campos, o "Totó Campos". Apesar de
não terem vinculação entre si nos crimes de pistolagem e homicídios naquela
região, essas pessoas traziam uma característica comum entre eles, comentada
pelo delegado Otto Teixeira no período de investigações: a tradição de
envolvimento em assassinatos covardes.
Irmãos Curió
Acima, os irmãos Alaércio
José dos Santos e Gil Evangelista Santos, os irmãos "Curió" e
as fichas da Delegacia de Furtos e Roubos, onde ficaram presos em razão de
mandado de prisão preventiva.
Irmãos Curió-Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Irmãos Curió é a alcunha pela qual são conhecidos os irmãos
Evangelista dos Santos, filhos de João Evangelista dos Santos, integrantes de
uma família de ricos comerciantes de São João Evangelista, Minas Gerais, que
estabeleceram, entre os anos 70 e 80, um regime de terror naquela cidade, por
meio da intimidação e do uso irrestrito da violência contra adversários e todos
aqueles que se opunham a seus interesses políticos e econômicos. Os Irmãos
Curió ganharam notoriedade após deixar um longo rastro de sangue em toda a
região, foram condenados pelo Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais, em
decisões irrecorríveis, por alguns dos muitos homicídios e outros ilícitos
penais praticados, sendo ainda hoje investigados por crimes cometidos nos
últimos anos.
Totó Campos
Arildo
Pereira Campos, o "Totó Campos", era também fazendeiro naquela região
do Suaçui e tinha um passado marcado pelo envolvimento em assassinatos e, como
os outros, trazia consigo a fama da impunidade. Seu último crime, no entanto, o
encarcerou, por ter levado sua prepotência e arrogância até a capital mineira,
pelo ciúme doentio de sua mulher, cuja suspeita de adultério recaíra sobre o
dentista Danilo da Mata Rocha, professor da UFMG. "Totó", que tinha
um grave problema de visão, à beira da cegueira, em razão de diabetes, usou o
nome Arnaldo Ferreira Zapata para marcar consulta de orçamento odontológico com
sua vítima. Com muita dificuldade foi ao consultório, deixando sua enfermeira
particular no carro, uma camionete D20, estacionada nas proximidades.
"Totó" Campos sentou na cadeira e quando o dentista aproximou-se à
sua frente, arrancou o revólver calibre 3.57 e efetuou três disparos que
atingiram mortalmente o dentista. Em seu depoimento alegou que matou em
legítima defesa, não conseguindo explicar as razões de ter ido armado e
fornecer nome falso para uma consulta.O assassino matou por dedução e errou o
alvo pretendido, já que o suspeito relacionamento extraconjugal não existia com
a vítima.
Reportagens sobre "Totó" Campos, outros dois
crimes atribuídos à família Leite e as consequências da repressão policial.
"Fim de um ciclo da pistolagem. Jornal Hoje em Dia-2/12/1993.
Com a prisão do fazendeiro e empresário Arildo Pereira Campos, o "Totó Campos" de 50 anos, que assumiu o assassinato, a tiros, do dentista e professor da universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Danilo da Mata Rocha, de 45 anos, no último dia 17, em Belo Horizonte, tudo indica que chegou ao fim um ciclo de pistolagem no Vale do Rio Doce, uma vez que já estão atrás das grades, nas prisões de Minas - cadeias no interior e Depósito de Presos de Belo Horizonte-, outros nomes conhecidos do crime de aluguel, como os irmãos Leite e irmãos Curió. A prisão desses homens só ocorreu graças ao esforço do secretário de Segurança Pública José Resende de Andrade, delegado, deputado federal e um policial, que costuma dizer que não transige com duas coisas: corrupção e pistolagem."
CAPÍTULO VII.
Repressão e Fugas Para Outros Estados.
Repressão Policial e as fugas para outros estados
Conforme é registrado, com a intensa repressão policial, através de operações, investigações dos homicídios e os consequentes mandados de prisões, a maioria dos pistoleiros e mandantes da chacina e de outros crimes iniciaram sua fuga de Minas Gerais, buscando outros estados como meio de garantir a impunidade e não responder pelos seus assassinatos. Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Pará foram alguns dos estados procurados pelos criminosos. Mas não adiantou a distancia, ou o caráter inóspito das fazendas e regiões buscadas como refúgio, pois a Polícia Civil mineira os alcançou e trouxe à luz da justiça das alterosas.
"A forte repressão feita pela Polícia Civil naquela região, provocou uma verdadeira revoada de criminosos, que se espalharam por vários outros estados, procurando refúgio. Pistoleiros notórios desapareceram do mapa e mandantes arrendaram fazendas indo para outros territórios. Os mais visados foram os estados de Rondônia, Pará e Mato grosso. Mas o crime não parou nem mesmo para os que não conseguiram escapar e foram presos."
A Apuração do Assassinato de Helvécio Cordeiro
Reportagem do Jornal Diário da Tarde, de dezembro de 1992.
Delegado Faria e inspetor "Carlinhos", responsáveis pela elucidação
do crime em Rondônia.
O
assassinato de Helvécio Cordeiro, mais um membro da família chacinada, ocorreu
em Jarú, no estado de Rondônia em dezembro de 1992 e demonstrava claramente que
os Nunes Leite continuavam com sua gana em exterminar toda a família dos
Cordeiro. Acreditava que em Rondônia, não seriam alcançados pelas garras da
Polícia Civil mineira. Afinal, era outro estado, longe de Minas Gerais. Estavam
enganados.
Apesar do
crime ter se consumado em um território tão distante de Minas Gerais, fugindo
completamente da competência da polícia mineira, o Secretário de Segurança
Pública, à época, José Resende de Andrade, encarou o desafio imposto pela
família Nunes Leite. Determinou que a investigação do homicídio fosse levada a
termo pelo coordenador da RODI-Ronda Ostensiva do Departamento de
Investigações, órgão que atuava em casos de maior complexidade operacional. O
delegado Faria, titular da unidade e o inspetor Carlos Augusto Lima
deslocaram-se para Rondônia, em uma situação inusitada, o que causou
constrangimento profissional com os policiais de Jarú, que não concordavam com
a presença dos dois profissionais mineiros na cidade, para a investigação do
crime. O atrito só foi solucionado com a intervenção do secretário de segurança
daquele estado, que ligou para o delegado regional da área, determinando que
auxiliassem os policiais de Minas, que tinham carta branca para atuar em
Rondônia.
Apesar da
resistência, dificuldades e falta de apoio dos policiais da cidade, as
investigações foram iniciadas do zero, com participação exclusiva dos dois
policiais mineiros. A ocorrência que noticiava o crime não foi encontrada,
inexistia o laudo de necropsia, não houve perícia. Nenhum depoimento ou
qualquer diligência havia sido realizada. Nada fora feito, nem mesmo o local de
crime.
O
Coordenador da RODI e seu inspetor fizeram uma vistoria no local onde a vítima
fora assassinada, e, apesar do transcurso de um mês após o crime, localizaram
alguns projéteis propelidos pela arma do pistoleiro. Entrevistaram familiares e
pessoas da cidade sobre as circunstancias do crime, identificando um fazendeiro
conhecido por Pimenta, irmão de uma advogada, que teria sido namorada de
Aldécio Leite. Esse fazendeiro teria abrigado o pistoleiro em sua fazenda
durante o período do assassinato. Segundo os levantamentos, comentava-se que a
arma utilizada no crime poderia ter sido deixada na fazenda. Os policiais
arranjaram um veículo emprestado por um empresário local, do ramo de borracha e
foram até a fazenda de Pimenta, onde encontraram apenas sua esposa na
propriedade. Faria e "Carlinhos" foram incisivos com a mulher,
ameaçando requerer sua prisão preventiva, caso seu marido não comparecesse à
delegacia para levar a arma e esclarecer o crime.
Em razão da
conivência do fazendeiro no bárbaro crime, os policiais não esperavam que ele
os atendesse, confessasse sua participação e fizesse a entrega da prova
material do assassinato, a arma. Era uma estratégia para mexer com o
psicológico do fazendeiro. Contavam com sua fuga, já que não dispunham de
estrutura para deslocamentos, principalmente por ser uma região perigosa e
totalmente estranha para os policiais.
Realmente o
fazendeiro não procurou a delegacia de Jarú conforme haviam determinado, no
entanto cerca de duas horas após os policiais retornarem da fazenda, o porteiro
do hotel onde estavam hospedados, chamou o delegado Faria no quarto, alegando
que alguém estaria lhe esperando no saguão. O delegado posicionou sua arma de
forma defensiva e desceu em direção à portaria. Para sua surpresa, era Valter
Pimenta, o fazendeiro. Um homem de estatura alta e corpo avantajado que, com
cara assustada, trazia um embrulho de jornal em uma das mãos. Era a arma
utilizada para matar Helvécio. Faria conversou longamente com o fazendeiro, que
aceitou dar o depoimento com detalhes da participação de Aldécio Leite no crime.
Disse que avisou a vítima, Helvécio Cordeiro, da vinda do pistoleiro, mas ela
não acreditou e a falta de credibilidade na informação custou-lhe a vida.
Após seu
depoimento, Valter Pimenta disse que fugiria para os Estados Unidos, com receio
de ser morto pelos irmãos Leite. De posse da arma, projétil e depoimentos,
Faria e "Carlinhos" retornaram para Belo Horizonte, onde a perícia de
comparação balística foi realizada com resultado positivo. O delegado da RODI
representou pela prisão preventiva dos mandantes e remeteu os autos para a
justiça de Rondônia, onde posteriormente foram julgados.
A Fuga e Recaptura de Aldécio Leite
Queijo, carne, cachaça, mulher e fuga
Cerca de
três anos se passaram da prisão de Aldécio, e durante este tempo, maquinou uma
forma de fugir do Departamento de Investigações. Começou seu plano aliciando
alguns carcereiros que faziam sua custódia durante os plantões no Centro de
Triagem. Presenteou policiais com produtos que mandava vir de suas fazendas,
como queijos, cachaças, feijão e peças de boi. Bancava festas de aniversário de
seus carcereiros e aos poucos foi ganhando a confiança e criando laços de
“amizade” com aqueles que deveriam zelar pela vigilância, para que não
ocorresse fuga. O relacionamento chegou a tal ponto de intimidade, que o
improvável aconteceu. Dia 10 de junho de 1993, Aldécio Nunes Leite saiu pela
porta da frente do Departamento de Investigações, com o auxílio de policiais
que prestavam serviço durante o plantão da noite. Com a promessa de
fornecimento de cachaça e um boi para uma festinha do filho de um policial,
Aldécio convenceu os carcereiros, Nilson e Benedito, a pegarem um Chevette de
propriedade do primeiro e levá-lo até a Rua Sete, Bairro Santa Helena, em
Contagem, onde daria telefonemas para tratar de negócios.
Ao chegarem
ao local, Nilson deixou seu colega com Aldécio, ficando de retornar daí a
algumas horas para buscá-lo e foi para a gafieira Elite, na Avenida Olegário
Maciel. Conforme planejara, Aldécio providenciou cerveja, cachaça e churrasco
para o carcereiro Benedito, que tinha a obrigação de escoltá-lo, além de
fornecer uma mulher de beleza física invejável, de nome Darcília Ferreira de
Oliveira, que foi previamente contratada em Malacacheta para seduzir e
despistar o policial. Aldécio deixou Benedito com Darcília, bebendo, comendo e
alegou que ia para o outro quarto com Nilza Pereira Gonçalves, dona da
residência. Acreditando no criminoso, o carcereiro usufruiu os carinhos da
mulher enquanto Aldécio fugia pelos fundos em uma camionete que já o esperava,
dirigida por “Zé Pimenta”, um elemento do Espírito Santo. Ao perceber a fuga,
depois de várias horas, Benedito comunicou ao seu chefe Nilson, que chegara
embriagado do Elite e esquecera-se de ir ao seu encontro. Desesperados, os
carcereiros não tinham como informar seus superiores, só o fazendo por volta
das 10:30 horas da manhã do dia seguinte, cerca de 13 horas após a fuga. Nesse
dia, Nilton Ribeiro de Carvalho, chefe do DI, criou uma equipe especial para a
captura dos irmãos Aldécio e Alírio Nunes Leite, bem como, dos pistoleiros
envolvidos em seus crimes. O delegado Faria, representando a RODI, nas
atividades de apoio operacional e Edson Moreira pela Delegacia de Homicídios,
unidade responsável pelos inquéritos policiais foram convocados para assumir a
tarefa de captura.
Com o
interrogatório das mulheres Nilza Pereira Gonçalves e Darcília Ferreira de
Oliveira, a equipe especial chegou até José Aleluia Pimenta, vulgo “Zé
Pimenta”, que ao ser localizado e interrogado, confessou sua participação na
fuga, que teria sido planejada com antecedência. Esclareceu que ao entrar na
camionete, Aldécio recebeu dois dos revólveres que estavam no interior do
veículo para que fossem usados contra os policiais, caso fosse necessário.
Posteriormente, “Zé Pimenta” mudou de lado e tornou-se um bom informante,
levando a equipe a vários locais nos estados do Espírito Santo, Bahia e Rio de
Janeiro, onde foram presos "Giramundo" (em Medeiros Neto-BA) e Ofenir
(João Neiva-ES). Levou os policiais ainda, em Vassouras-RJ, na fazenda dos
irmãos Avelino, de onde Aldécio e Alírio fugiram poucas horas antes da chegada
da equipe de policiais. Neste caso, o dia era da caça.
Operação Pará
A Operação
Pará foi realizada pelos policiais da RODI para a localização e prisão de
Aldécio Nunes Leite e Eva Nilma, sua mulher, em razão de mandados de prisão da
justiça de Malacacheta. Aqui, registramos detalhes da diligência em um estado
totalmente inóspito e nocivo para aquele tipo de ação policial. Na tentativa de
recaptura de Aldécio Nunes Leite e prisão de sua mulher Eva Nilma, foram
realizadas várias diligências pelo delegado Faria, Coordenador da RODI e sua
equipe. Pra os policiais era questão de honra a recaptura daquele fugitivo que
saiu da carceragem do Departamento de Investigações pela porta da frente,
desmoralizando todos os profissionais daquele reconhecido órgão operacional. Os
delegados Faria, José Antônio Morais Barbosa e outros policiais da RODI
estiveram em Vassouras, Rio de Janeiro (RJ), Rio Claro/SP, São Paulo/SP,
Medeiros Neto/BA, diversas cidades do Espírito Santo e outras localidades onde
obtinham notícias da passagem dos foragidos. Depois de um ano da consumação da
fuga, as investigações indicaram que Aldécio Nunes Leite e Eva Nilma estariam
em Rondonópolis (PA), na fazenda de Josélio Barros, fazendeiro conhecido
naquela região por seu envolvimento em crimes de pistolagem, sua influência
política e a impunidade. Os dois delegados, juntamente com os detetives Ilton,
Joãozinho “Metropol”, Cândido, Sidney, Gilberto, Inspetor “Camarão” e “Chico”,
todos lotados na RODI, deslocaram-se em
duas equipes distintas em junho de 1994 para o estado do Pará. Um grupo por
terra, outro pelo ar. A equipe de terra, com "Camarão", Joãozinho e
"Chico", deslocaram dois dias antes, em um Gol descaracterizado da
SESP-MG.
Aldécio
conheceu Josélio Barros em 1982, quando esteve em Imperatriz do Maranhão para
contratar pistoleiros e encomendar a chacina da família Juca Peão. Com o
esclarecimento do crime, Josélio providenciou a contratação do melhor advogado
da região, que conseguiu o relaxamento da prisão de Aldécio, Toninho, Alírio e
José leite. A partir daí se tornaram amigos.
Policiais da equipe de terra, "Chico, Ilton e
"Joãozinho", na primeira e última foto abaixo. No meio, no Pará,
Ilton, "Joãozinho" e Gilberto.
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0�10px; padding: 0px 5px; text-align: justify; line-height: 1.5em; color: rgb(85, 85, 85); font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: auto; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px; -webkit-text-stroke-width: 0px;">
Cerca de três anos se passaram da prisão de Aldécio, e durante este tempo, maquinou uma forma de fugir do Departamento de Investigações. Começou seu plano aliciando alguns carcereiros que faziam sua custódia durante os plantões no Centro de Triagem. Presenteou policiais com produtos que mandava vir de suas fazendas, como queijos, cachaças, feijão e peças de boi. Bancava festas de aniversário de seus carcereiros e aos poucos foi ganhando a confiança e criando laços de “amizade” com aqueles que deveriam zelar pela vigilância, para que não ocorresse fuga. O relacionamento chegou a tal ponto de intimidade, que o improvável aconteceu. Dia 10 de junho de 1993, Aldécio Nunes Leite saiu pela porta da frente do Departamento de Investigações, com o auxílio de policiais que prestavam serviço durante o plantão da noite. Com a promessa de fornecimento de cachaça e um boi para uma festinha do filho de um policial, Aldécio convenceu os carcereiros, Nilson e Benedito, a pegarem um Chevette de propriedade do primeiro e levá-lo até a Rua Sete, Bairro Santa Helena, em Contagem, onde daria telefonemas para tratar de negócios.
Ao chegarem ao local, Nilson deixou seu colega com Aldécio, ficando de retornar daí a algumas horas para buscá-lo e foi para a gafieira Elite, na Avenida Olegário Maciel. Conforme planejara, Aldécio providenciou cerveja, cachaça e churrasco para o carcereiro Benedito, que tinha a obrigação de escoltá-lo, além de fornecer uma mulher de beleza física invejável, de nome Darcília Ferreira de Oliveira, que foi previamente contratada em Malacacheta para seduzir e despistar o policial. Aldécio deixou Benedito com Darcília, bebendo, comendo e alegou que ia para o outro quarto com Nilza Pereira Gonçalves, dona da residência. Acreditando no criminoso, o carcereiro usufruiu os carinhos da mulher enquanto Aldécio fugia pelos fundos em uma camionete que já o esperava, dirigida por “Zé Pimenta”, um elemento do Espírito Santo. Ao perceber a fuga, depois de várias horas, Benedito comunicou ao seu chefe Nilson, que chegara embriagado do Elite e esquecera-se de ir ao seu encontro. Desesperados, os carcereiros não tinham como informar seus superiores, só o fazendo por volta das 10:30 horas da manhã do dia seguinte, cerca de 13 horas após a fuga. Nesse dia, Nilton Ribeiro de Carvalho, chefe do DI, criou uma equipe especial para a captura dos irmãos Aldécio e Alírio Nunes Leite, bem como, dos pistoleiros envolvidos em seus crimes. O delegado Faria, representando a RODI, nas atividades de apoio operacional e Edson Moreira pela Delegacia de Homicídios, unidade responsável pelos inquéritos policiais foram convocados para assumir a tarefa de captura.
Com o interrogatório das mulheres Nilza Pereira Gonçalves e Darcília Ferreira de Oliveira, a equipe especial chegou até José Aleluia Pimenta, vulgo “Zé Pimenta”, que ao ser localizado e interrogado, confessou sua participação na fuga, que teria sido planejada com antecedência. Esclareceu que ao entrar na camionete, Aldécio recebeu dois dos revólveres que estavam no interior do veículo para que fossem usados contra os policiais, caso fosse necessário. Posteriormente, “Zé Pimenta” mudou de lado e tornou-se um bom informante, levando a equipe a vários locais nos estados do Espírito Santo, Bahia e Rio de Janeiro, onde foram presos "Giramundo" (em Medeiros Neto-BA) e Ofenir (João Neiva-ES). Levou os policiais ainda, em Vassouras-RJ, na fazenda dos irmãos Avelino, de onde Aldécio e Alírio fugiram poucas horas antes da chegada da equipe de policiais. Neste caso, o dia era da caça.
Ao chegarem ao local, Nilson deixou seu colega com Aldécio, ficando de retornar daí a algumas horas para buscá-lo e foi para a gafieira Elite, na Avenida Olegário Maciel. Conforme planejara, Aldécio providenciou cerveja, cachaça e churrasco para o carcereiro Benedito, que tinha a obrigação de escoltá-lo, além de fornecer uma mulher de beleza física invejável, de nome Darcília Ferreira de Oliveira, que foi previamente contratada em Malacacheta para seduzir e despistar o policial. Aldécio deixou Benedito com Darcília, bebendo, comendo e alegou que ia para o outro quarto com Nilza Pereira Gonçalves, dona da residência. Acreditando no criminoso, o carcereiro usufruiu os carinhos da mulher enquanto Aldécio fugia pelos fundos em uma camionete que já o esperava, dirigida por “Zé Pimenta”, um elemento do Espírito Santo. Ao perceber a fuga, depois de várias horas, Benedito comunicou ao seu chefe Nilson, que chegara embriagado do Elite e esquecera-se de ir ao seu encontro. Desesperados, os carcereiros não tinham como informar seus superiores, só o fazendo por volta das 10:30 horas da manhã do dia seguinte, cerca de 13 horas após a fuga. Nesse dia, Nilton Ribeiro de Carvalho, chefe do DI, criou uma equipe especial para a captura dos irmãos Aldécio e Alírio Nunes Leite, bem como, dos pistoleiros envolvidos em seus crimes. O delegado Faria, representando a RODI, nas atividades de apoio operacional e Edson Moreira pela Delegacia de Homicídios, unidade responsável pelos inquéritos policiais foram convocados para assumir a tarefa de captura.
Com o interrogatório das mulheres Nilza Pereira Gonçalves e Darcília Ferreira de Oliveira, a equipe especial chegou até José Aleluia Pimenta, vulgo “Zé Pimenta”, que ao ser localizado e interrogado, confessou sua participação na fuga, que teria sido planejada com antecedência. Esclareceu que ao entrar na camionete, Aldécio recebeu dois dos revólveres que estavam no interior do veículo para que fossem usados contra os policiais, caso fosse necessário. Posteriormente, “Zé Pimenta” mudou de lado e tornou-se um bom informante, levando a equipe a vários locais nos estados do Espírito Santo, Bahia e Rio de Janeiro, onde foram presos "Giramundo" (em Medeiros Neto-BA) e Ofenir (João Neiva-ES). Levou os policiais ainda, em Vassouras-RJ, na fazenda dos irmãos Avelino, de onde Aldécio e Alírio fugiram poucas horas antes da chegada da equipe de policiais. Neste caso, o dia era da caça.
Operação Pará
A Operação Pará foi realizada pelos policiais da RODI para a localização e prisão de Aldécio Nunes Leite e Eva Nilma, sua mulher, em razão de mandados de prisão da justiça de Malacacheta. Aqui, registramos detalhes da diligência em um estado totalmente inóspito e nocivo para aquele tipo de ação policial. Na tentativa de recaptura de Aldécio Nunes Leite e prisão de sua mulher Eva Nilma, foram realizadas várias diligências pelo delegado Faria, Coordenador da RODI e sua equipe. Pra os policiais era questão de honra a recaptura daquele fugitivo que saiu da carceragem do Departamento de Investigações pela porta da frente, desmoralizando todos os profissionais daquele reconhecido órgão operacional. Os delegados Faria, José Antônio Morais Barbosa e outros policiais da RODI estiveram em Vassouras, Rio de Janeiro (RJ), Rio Claro/SP, São Paulo/SP, Medeiros Neto/BA, diversas cidades do Espírito Santo e outras localidades onde obtinham notícias da passagem dos foragidos. Depois de um ano da consumação da fuga, as investigações indicaram que Aldécio Nunes Leite e Eva Nilma estariam em Rondonópolis (PA), na fazenda de Josélio Barros, fazendeiro conhecido naquela região por seu envolvimento em crimes de pistolagem, sua influência política e a impunidade. Os dois delegados, juntamente com os detetives Ilton, Joãozinho “Metropol”, Cândido, Sidney, Gilberto, Inspetor “Camarão” e “Chico”, todos lotados na RODI, deslocaram-se em duas equipes distintas em junho de 1994 para o estado do Pará. Um grupo por terra, outro pelo ar. A equipe de terra, com "Camarão", Joãozinho e "Chico", deslocaram dois dias antes, em um Gol descaracterizado da SESP-MG.
Aldécio conheceu Josélio Barros em 1982, quando esteve em Imperatriz do Maranhão para contratar pistoleiros e encomendar a chacina da família Juca Peão. Com o esclarecimento do crime, Josélio providenciou a contratação do melhor advogado da região, que conseguiu o relaxamento da prisão de Aldécio, Toninho, Alírio e José leite. A partir daí se tornaram amigos.
Policiais da equipe de terra, "Chico, Ilton e "Joãozinho", na primeira e última foto abaixo. No meio, no Pará, Ilton, "Joãozinho" e Gilberto.
Diante das costumeiras dificuldades, Faria conseguiu um
avião Queen Air, BE 80, prefixo PT-B25, de um empresário conhecido por
“Lucinho”, para empreender a viagem. A Secretaria de Segurança iria bancar
apenas o combustível. O delegado fez contato com o então secretário, João
Perfeito, que, rispidamente alegou "que existiam outras prioridades e que
Nilton Ribeiro só pensava nos irmãos Leite". A realidade não era essa, o
foragido era Aldécio Leite, um dos mandantes da chacina de Malacacheta, que
havia se evadido da carceragem do DI pela porta da frente, desmoralizando toda
a instituição Polícia Civil. Acostumado com as vaidades de algumas chefias,
Faria conversou com o empresário, dono do avião, que indignado, ofereceu-se
para o pagamento do combustível. A equipe juntou suas tralhas e foram para o
aeroporto Carlos Prates, onde a aeronave se encontrava. Quando Faria e os
policiais José Antônio Moraes Barbosa, "Chico", Ilton e Cândido
chegaram, por volta das 13:00 horas, depararam com uma aeronave ano 67
estacionada em um Hangar para manutenção. Manutenção precária, diga-se de
passagem.
Ao ver o avião, os policiais pensaram:
“Será que voa?”.
O mecânico
argumentou a impossibilidade de voo naquele dia, pois estava fazendo reparo nos
freios. Os policiais da RODI insistiram na decolagem por temerem perder a
prisão dos pistoleiros se demorassem a chegar ao destino pretendido,
conseguindo a liberação da aeronave por volta das 16:00 horas. A equipe decolou
para Brasília, onde pernoitaram para prosseguirem no outro dia pela manhã. No
entanto, antes de chegarem à capital do país passaram pelo primeiro susto ao
entrarem numa grande tempestade, que submeteu a aeronave a turbulências e
quedas no vácuo como jamais haviam visto. Era um Nimbus, tempestade que tem
como característica nuvens densas e atinge grandes altitudes, acompanhada de
eventos meteorológicos extremos, como trovões, muitos relâmpagos e pancadas de
chuva. É formada quando há muita instabilidade atmosférica e podem aparecer
sozinhas, em aglomerados ou associadas à frentes frias.
Depois do
sufoco, ainda trêmulos, os policiais pernoitaram em Brasília, ficando o
policial “Chico”, dentro do avião, para vigilância do armamento pesado. Pela
manhã, decolaram novamente em direção ao aeroporto de Imperatriz-MA, onde iriam
encontrar com a equipe de terra, que saíra dois dias antes. O sufoco do nimbus,
do dia anterior viria com muito mais perigo nesse novo trecho da rota aérea.
Cerca de quarenta minutos para a aterrissagem no aeroporto de Imperatriz, o
piloto “Miltinho” passou o comando da aeronave para um Sargento PM que estava
ali, como “aprendiz de copiloto”, e foi se juntar aos policiais que jogavam
baralho na parte destinada aos passageiros. De repente, ouviu-se um barulho
estranho, um estalo e uma guinada para a direita, com a aeronave iniciando uma
descida de bico. Era uma visão pavorosa a aproximação da terra com muita
velocidade. “Miltinho” rapidamente se jogou em direção à cabina do avião e após
alguns segundos, que parecia uma eternidade para os policiais, conseguiu
estabilizar a aeronave, quando a mesma já estava a uma distância perigosa do
solo. Silêncio total, após a gritaria, lembrança de Deus e todos os santos.
Ainda tenso,
o piloto explicou que acabara o combustível de uma das asas e o copiloto, que
fazia testes de pilotagem na aeronave, esqueceu-se do procedimento de fazer a
transferência para o outro tanque, entrando em pânico quando o avião mergulhou
no espaço vazio, causando o incidente. Desceram ainda trêmulos no aeroporto de
Imperatriz, onde a diligencia era prevista para cerca de 24 horas. Durou três
dias.
O encontro no
aeroporto de Imperatriz (MA), entre as equipes de terra e ar, ocorreu dois dias
após o deslocamento da primeira equipe, acerca de 300 quilômetros da fazenda de
Josélio Barros. Dario Rodrigues/Cordeiro, foi recepcioná-los no aeroporto e os
levou para sua fazenda em Ulianópolis (PA). Dario era membro da família
Cordeiro, chacinada na fazenda Canadá, em Belo Horizonte (Humberto) e em
Jarú/Rondônia (Helvécio) e tinha interesse na prisão dos mandantes dos crimes.
Alojou os policiais em sua fazenda onde permaneceram durante três dias para a
realização do planejamento, levantamento de local e mapeamento de estradas de
terra para chegarem à fazenda que seria invadida durante a madrugada. A
propriedade de Dario ficava próxima da rodovia, com uma grande casa que servia
como sede e outra, ao lado, abrigava os policiais. Com toda a operação desenhada
e data marcada, Dario conseguiu comprar um veículo Gol com chassi cortado,
possivelmente roubado, para ajudar na investida a fazenda de Josélio. Entregou
as chaves e disse para os policiais:
“Quando terminar o trabalho, podem dispensar o carro, isso é
cabrito.”
Para os
policiais não havia muita escolha naquela situação: “cavalo dado não se olha os
dentes".
Policiais da RODI: Gilberto, Jorge "Camarão" e
Joãozinho "Metropol" na fazenda de Dario Cordeiro, antes do início da
operação. Josélio Barros, dono da fazenda onde Aldécio estava escondido.
Foram três dias tensos na fazenda de Dario, diante da
expectativa de serem percebidos. Usavam a fazenda para caminhadas e relaxamento
nos aguapés, enquanto aguardavam o momento da ação. Dario já havia sofrido um
atentado a tiros, poucos dias antes e contratara três jagunços para fazer a sua
segurança e da família na fazenda. Além do temor das informações levantadas que
indicavam a chegada de novos pistoleiros na fazenda de Josélio. Por volta das
23:00 horas do dia 8 de junho de 1994, os policiais da RODI deslocaram-se nos
dois veículos Gol, percorrendo cerca de 60 quilômetros de asfalto, até entrarem
em uma estrada de terra que liga Ulianópolis a Paragominas. Os policiais,
usavam coletes convencionais, usados à época e alguns se protegiam com a
proteção balística, além do armamento pesado. Na madrugada, os policiais faziam
paradas esporádicas à beira da estrada, em fazendas ou casebres, onde perguntavam
pela fazenda do prefeito.
Nos
levantamentos apurou-se que a fazenda de Josélio Barros era a primeira antes da
propriedade do prefeito de Uilianópolis, portanto, a estratégia era perguntar
pelo chefe do executivo local, para se chegar ao alvo. Eram cerca de 3 horas da
madrugada quando chegaram em uma fazenda qualquer à beira da estrada, acordaram
os moradores aos gritos de “polícia” e ao serem atendidos, apresentaram a
fotografia de Aldécio Nunes Leite para dois homens que estavam na casa. Ele foi
imediatamente reconhecido por um dos dois homens, como sendo “Souza”, o gerente
da fazenda de Josélio. Informaram que faltavam cerca de doze quilômetros para
chegar à propriedade. Naquele momento a adrenalina subiu, diante da informação
que indicava estarem no caminho certo. A partir daquele local, o coordenador da
operação determinou que os carros fossem estacionados e que
"Miltinho", o piloto, deslocasse pela estrada após duas horas e meia,
tempo previsto para o invasão da fazenda.
A partir dali, os policiais iniciaram uma caminhada que durou quase três
horas até o local do alvo. O delegado Faria não queria que o barulho dos carros
e faróis colocasse a operação em risco. Naquela região amazônica, qualquer som
e luzes nas madrugadas são percebidos à longa distancia.
Policiais da RODI em momento de descontração no Pará,
algumas horas antes da operação. Equipe RODI. "Chico" e Ilton durante
a viagem.
Aproximadamente 5:30 da manhã, os policiais avistaram a
fazenda e foram recepcionados pelos cães que a guardavam, e, por golpe de
sorte, não latiram, avançaram, ou mostraram qualquer movimento de
agressividade. Caso contrário, os obrigaria ao anúncio de suas presenças pelos
tiros que certamente seriam disparados. Ao cercarem a sede, ouviu-se o barulho
de tiros disparados de seu interior. Os policiais revidaram e entraram na casa,
onde todos foram dominados. Duas mulheres e cinco homens. Outros foram vistos
fugindo pelo mato enquanto tiros tentavam alcançá-los. Cândido, detetive da
RODI, levou um tiro no peito, mas o colete balístico o salvou. Ao identificarem
as pessoas que estavam na fazenda, os policiais perceberam que o objetivo havia
sido alcançado. Aldécio estava ferido por três tiros de metralhadora. Eva Nilma
se encontrava no local. Josélio Barros, desnorteado com a ação policial, também
estava na fazenda, junto com outros homens, que seriam de Governador Valadares.
Uma grande quantidade de armas e munições foi apreendida no local, após rápida
vistoria. Os policiais não podiam permanecer por muito tempo naquele local.
Aldécio foi
colocado na traseira de uma camionete D-20 de sua propriedade, que estava na
fazenda e Eva Nilma no Gol, junto com material apreendido. Josélio e as pessoas
que estavam em sua companhia, após serem desarmados, foram deixados no local. O
objeto da diligência era a o cumprimento dos mandados de prisão contra os
mandantes de crimes de pistolagem, Aldécio e Eva Nilma. Não interessava se os
demais eram pistoleiros ou não.
Na saída da
fazenda, em direção à Ulianópolis e Imperatriz do Maranhão, por precaução e
estratégia, os policiais dispararam tiros contra os pneus dos demais veículos
que estavam estacionados próximos à sede e cortaram todo tipo de comunicação,
atirando também nas antenas de recepção de radioamador. Os policiais e os
presos foram divididos nos três carros, os dois GOL e a D20 de Aldécio. Saíram
em alta velocidade do local, deixando um rastro infernal de poeira, que
sufocava os ocupantes dos veículos que trafegavam atrás no comboio. As estradas
de terra, naquele período de estiagem, formavam uma espessa camada de poeira
bem fina, que gerou a “quebra” no motor do GOL fornecido por Dario, obrigando a
equipe que o conduzia a parar no meio da estrada, o que não foi percebido
imediatamente pelos demais policiais que estavam nos outros dois carros à
frente, tal a nuvem de poeira levantada como rastro.
A equipe de
vanguarda, ao chegar ao asfalto, esperou cerca de dez minutos pelo Gol que não
apareceu. Faria determinou que a camionete prosseguisse até o aeroporto de
Imperatriz e retornou pela estrada de terra para tentar localizar os
companheiros perdidos. Depois de cerca de 20 quilômetros, viram os policiais
com o veículo quebrado à beira da estrada. Sete policiais vieram acotovelados
dentro do Gol descaracterizado até encontrarem novamente com a camionete,
abandonando o carro em pane. Próximo ao aeroporto, a camionete que levou
Aldécio na carroceria, também teve problema mecânico, causando um atraso de
cerca de duas horas de muita tensão. A expectativa era de que policiais
pudessem interceptá-los, uma vez que estavam naquele estado sem autorização
formal. Além do detalhe levantado, indicando que a filha de Josélio Barros, era
a promotora de justiça na região e o quartel da PM estava instalado em um
imóvel de sua propriedade. Era um grande problema se fossem alcançados.
Depois de
conseguirem sanar o defeito no motor da camionete, prosseguiram na jornada até
estacionarem os dois carros no aeroporto de Imperatriz do Maranhão. Lá, tiveram
que permanecer mais tempo aguardando, estimado em torno de meia hora, devido a
movimentação de soldados do exército na pista do aeroporto, próximos da
aeronave Queen Air, BE 80, PT-B25 . A primeira impressão era que estavam ali
aguardando os policiais de Minas, mas depois de algum tempo perceberam que
faziam manobras militares de treinamento. De qualquer maneira não podiam chegar
até a aeronave, sem que os militares percebessem que transportavam um homem
ensanguentado pelos ferimentos à bala. Depois que os soldados do exército
entraram em seus veículos e saíram do local, os policiais de Minas foram para a
pista.
Aldécio e
Eva Nilma foram colocados no avião, juntamente com os delegados Faria e José
Antônio, além dos investigadores "Joãozinho", Cândido e Sidney. Na
pressa de sair do Maranhão, o piloto levantou voo, enquanto o inspetor
“Camarão”, "Chico" e Ilton faziam o deslocamento por terra em direção
ao sudeste. Neste ínterim, o piloto pediu sua bolsa de couro que estava na
traseira do avião e quando a pegaram, perceberam que era a mochila de um dos
policias que estavam indo no Gol, por terra. Sua bolsa havia sido trocada e não
tinha como retornar para desfazer o erro. Como era um avião antigo, o piloto
guiava-se pelo GPS móvel que estava em sua bolsa. Em terra. Meio às cegas, a
viagem prosseguiu guiada pela experiência de “Miltinho”. A camionete usada na
diligência foi abandonada no próprio aeroporto e a equipe de terra saiu em alta
velocidade do local. Na pressa, o inspetor Jorge “Camarão” também esqueceu
debaixo do banco da D20, a pistola 45 que o delegado Faria lhe emprestara.
Alguns dias depois, policiais federais que foram acionados no aeroporto de
Imperatriz, fizeram contato com o delegado e devolveram a arma
"esquecida" através do DPF de Minas
Fotos da aeronave ao chegar no aeroporto Carlos Prates e
reportagens, no retorno da diligencia no Pará.
Durante o
percurso aéreo, Aldécio passou muito mal e o delegado Faria mandou o piloto
fazer um pouso de emergência na cidade mais próxima que encontrasse em seu
plano visual. Depois de cerca de 40 minutos de voo cego, “Miltinho” conseguiu
localizar Barreiras (BA), onde pousou a aeronave para que o preso fosse
socorrido. Em Barreiras, Faria comunicou a diligencia ao delegado local e ao
comandante da PM que auxiliaram e colocaram escolta no hospital, onde Aldécio
foi submetido a uma cirurgia. O juiz da cidade, ao tomar conhecimento da
diligência, ficou melindrado por não ter sido avisado pelos policiais de Minas,
que sequer conheciam a cidade e já tinham avisado às autoridades competentes,
que por sua vez, o avisaram. Os policiais foram retidos (se é que esta
punibilidade existe), os presos Aldécio e Eva Nilma passaram a ser de
responsabilidade da justiça daquela comarca. O juiz ainda determinou que a PM
cercasse a aeronave e impedisse sua decolagem. Por três dias a equipe de Belo
Horizonte permaneceu naquela cidade, impedidos de prosseguir a viagem. Os
próprios policiais civis e militares de Barreiras ficaram constrangidos com
aquela decisão prepotente e arbitrária do juiz.
Não existia
processo contra os policiais mineiros, nenhuma medida cautelar, sequer foi
determinada qualquer diligencia. Apenas o ego ferido de um magistrado. Só
existia uma ordem verbal, que segundo as informações dos policiais locais,
embasada no interesse do magistrado pela presa Eva Nilma. Faria fez contato com
sua chefia em Belo Horizonte e esclareceu a situação, ocorrendo a interferência
de autoridades de Belo Horizonte junto ao Tribunal de Justiça e Corregedoria de
Justiça de Salvador. Os policiais mineiros foram então liberados para
retornarem a BH com os dois presos.
Texto
embasado no depoimento piloto “Miltinho” na viagem ao Pará, testemunha que
acompanhou todas as etapas da diligência e morreu pouco tempo depois, em um
acidente aéreo com outro avião que pilotava. Seis meses após o retorno da
diligencia exitosa, o mesmo avião caiu próximo à cidade de Turmalina e matou
seus cinco ocupantes que morreram carbonizados, dentre eles, “Lucinho”,
empresário que emprestou a aeronave, bancou o combustível da viagem e as
diárias da tripulação.
Aldécio ia para a fazenda
"O fazendeiro Aldécio Nunes Leite, 46 anos, um dos
mandantes da Chacina de Malacacheta, preso segunda feira em uma fazenda no
interior do Pará, por policiais da Ronda Ostensiva do Departamento de
Investigações (RODI) disse ontem que pretendia fugir para o México. Atingido
por balas de metralhadora, Aldécio foi internado em estado grave quarta feira à
tarde no hospital do Pronto Socorro (HPS), logo após chegar de avião escoltado
pela equipe comandada pelo delegado Antonio Carlos de Faria." ... Ele disse
que nós, policiais tivemos muita sorte ao prendermos ele e sua mulher, pois na
próxima semana iria fugir para o México, onde havia, recentemente, comprado uma
fazenda... Jornal Estado de Minas-Polícia - 16/6/1994."
Morte de Dario
Cordeiro
Em 1994,
Dario Cordeiro foi de grande importância para a prisão de Aldécio Nunes Leite e
sua mulher Eva Nilma Rocha, em Ulianópolis, no Pará, pelo apoio logístico que
forneceu aos policiais, conforme registrado no artigo anterior. As equipes de
Belo Horizonte permaneceram na fazenda de Dario durante cerca de três dias,
conseguindo mapear a região e chegar até a fazenda de Josélio Barros, onde
Aldécio se escondia usando o nome de “Souza”. Foi até Imperatriz buscar parte
dos policiais e comprou um veículo Gol para a diligência, orientando que após a
incursão poderiam abandoná-lo por ser carro trepado. Depois do retorno para
Belo Horizonte, Dario procurou os policiais na RODI, pedindo homens para fazer
sua segurança, pois já havia sofrido um atentado na fazenda e temia ser morto
em razão da prisão de Aldécio, o que desmoralizou Josélio na região. Foi
orientado no sentido de sair de Ulianópolis com sua família o mais rápido
possível, pois Josélio Barros tinha descoberto sua participação na captura de
Aldécio e por seu currículo repleto de assassinatos, não havia dúvida que iria
mandar matá-lo. Pouco tempo depois Josélio Barros sofreu um atentado quando
estava em sua camionete na estrada que ligava sua fazenda à rodovia. O tiro
passou de raspão, atingiu o banco do motorista e a tentativa de homicídio foi
atribuída a Dario Cordeiro. Dias após, um homem apareceu na serraria de Dario
para comprar madeira e após alguns minutos de conversa foi até o veículo Gol
que dirigia, apanhou uma pistola 9 mm e a descarregou em Dario, que teve morte
instantânea. Renato, sogro de Dario, que também auxiliou os policiais mineiros,
foi assassinado algumas semanas depois, juntamente com seu segurança, um
investigador do Pará. A suspeita dos crimes recaiu sobre Josélio Barros e
Aldécio Leite.
A prisão de Alírio Leite em Vassouras-RJ.
No final de
dezembro de 1999, o delegado Faria exercia o cargo de Superintendente
Metropolitano, quando recebeu uma carta anônima que avisava estar correndo
risco de vida, por causa da prisão de Aldécio Leite em Rondonópolis. A pessoa
informava que Alírio Leite havia vendido uma camionete para um pistoleiro do
Rio de Janeiro e em troca ele iria matar
o policial. O denunciante, em sua carta apócrifa, dava coordenadas do local
onde Alírio possivelmente estaria, em Maçambará - um lugarejo no município de
Vassouras/RJ. Apesar do anonimato, o
delegado entendeu que a carta merecia credibilidade, por que no ano de 1993,
quando era chefe da 4ª Delegacia Especializada de Furtos e Roubos, fez uma
diligência com sua equipe à fazenda dos Irmãos Avelino, em Vassouras, para
prender Aldécio, Eva Nilma (sua esposa) e Alírio que estavam naquela região.
Quando estouraram a fazenda, descobriram que eles tinham saído no dia anterior,
achando alguns documentos manuscritos pelos Leite, que comprovava a presença
naquela fazenda. Os irmãos Avelino eram muito conhecidos pelo envolvimento em
pistolagem, sendo personagens de uma reportagem do Fantástico, por seus crimes.
O delegado não sabia se havia algum fundamento na ameaça contra sua vida, ou se
o denunciante queria que Alírio fosse preso.
Voltando a
1999, Faria chamou Márcio Siqueira, delegado de operações da Metropol, os
detetives Gilson, Gilberto, Anderson, Daniel, Marquinho e "Chico" da
Divisão de Tóxicos para traçar a estratégia de chegar ao distrito de Maçambará,
próximo de Vassouras. Os levantamentos para verificar as informações descritas
na carta não poderiam levantar suspeitas pela presença de estranhos naquela
região rural do estado do Rio. O Superintendente conseguiu uma camionete S-10 e
duas motos de trilha emprestadas pelo delegado Élson Matos, chefe do DEOESP.
"Chico" e Anderson foram na cabine do veículo e Gilson Costa deitado
na carroceria, ao lado das duas motos. Naquele mês de dezembro ocorreram chuvas
torrenciais, com a mídia noticiando várias inundações no Rio de Janeiro, mais
especificamente nas cidades que margeiam o rio Paraíba do Sul, região de
Vassouras. Faria elaborou um modelo de planilha da Defesa civil do Rio de
Janeiro e orientou aos policiais que fossem até a localidade denominada
Maçambará, se identificassem como funcionários do órgão e questionassem os
moradores do local sobre os problemas e perdas causadas pela enchente.
A missão foi
um sucesso. Os policiais "Chico", Gilson e Gilberto munidos de
pranchetas, filmadora, máquina fotográfica foram para a região inundada com a
cobertura de detetives que ficaram na retaguarda em Juiz de Fora. Conversaram
com várias pessoas do local, entraram em várias casas, inclusive na que estaria
Alírio Leite e constataram que um indivíduo conhecido por "Roberto",
frequentava a região, porém em razão das chuvas, encontrava-se fora e voltaria
no carnaval. A equipe retornou para Belo Horizonte e na sala de reuniões da
Metropol verificaram as fotos da casa, as filmagens no lugar e fizeram o
planejamento para voltarem no carnaval, cerca de dois meses após o primeiro
levantamento. Era um jogo de paciência.
Aproximando o carnaval, os policiais descobriram que "Roberto", na verdade era Alírio Leite e iria chegar na cidade juntamente com um pistoleiro conhecido por "Barra Longa". No mês de março de 2000, o delegado Márcio Siqueira e os policiais Gilson Costa, Gilberto, Anderson Pinto de Melo, Marco Aurélio Matos, Edson Eustáquio, João Batista, Cleyson e "Carlão" foram incumbidos por Faria a ir, pela terceira vez, à Maçambará. Na madrugada do dia 6 de março de 2000 estouraram uma casa de fazenda, dentro das propriedades dos irmãos Avelino, próxima à cidade de Aliança, onde prenderam Alírio Nunes Leite que portava um revólver calibre 38. Era o último preso, de uma família, que desde os anos 50 matavam no Vale do Mucuri. Ali terminava a saga de fuga e prisões dos irmãos Leite
As fotos acima registram os policiais Gilson Costa, Anderson
Pinto, "Chico", Cleyson, João Batista, Edson, "Carlão" e o
delegado Márcio Siqueira nas investigações em Maçambará, Aliança/RJ e na sede
da Superintendência Metropolitana com o preso Alírio Nunes Leite.
O Sequestro e Morte de Nelson Jardim
Nelson
Jardim foi um dos partícipes da emboscada e assassinato de "Toninho"
Leite, conforme registrado na Parte I dessa saga. Foi condenado, foragiu-se e
depois recapturado. Alegou que fugiu por estar temeroso pela sua vida em razão
de ameaças por parte da família Nunes Leite. Era de se esperar que qualquer
pessoa envolvida na morte de "Toninho" Leite estivesse em uma lista
de marcados para morrer. Os irmãos Leite, com tantos assassinatos nas costas,
certamente iriam querer vingar o irmão, desde que tivessem oportunidade para
isso. E a chance chegou quando Nelson Jardim foi recambiado para cumprimento de
pena na Penitenciária de Neves, onde Aldécio também se encontrava e arquitetou
sua morte. A íntegra do assassinato de Nelson Jardim está no artigo
"Homicídio Sem Corpo", um dos mais visitados deste site. Abaixo,
trecho do relatório final do IP que apurou o homicídio.
"Em outubro de 2007, NELSON JARDIM passou a desfrutar
do regime semi-aberto e, por conseguinte ganhou autorização para saída
temporária. Em 12 de outubro de 2007 saiu pela primeira vez para passar uma
semana com sua família.
Em 22 de dezembro de 2007, num sábado, agora pela terceira
vez, saiu para passar outra semana com sua família. Saiu do estabelecimento
penal às 10 horas da manha. De um telefone público localizado em frente à
Câmara Municipal, 3625-5080, às 10h12 min. efetuou uma ligação para sua esposa
Geralda Aparecida Cordeiro Jardim, v. “Cida”, dizendo que já tinha saído e
estaria aguardando próximo a umas barraquinhas existentes próximo à Câmara
Municipal e a uma guarita da própria Penitenciária. Também efetuou uma ligação
para um amigo seu, CLAUDIO, v. “Claudinho” dizendo que estaria o esperando para
que fosse buscar-lhe...
...Dessa forma, pelo
exposto e por mais que dos autos constam, provada está a materialidade e a
autoria do crime de homicídio com a ocultação de cadáver, sendo vítima NELSON
ANTÔNIO JARDIM. Pelo que indiciamos: ALDÉCIO NUNES LEITE, FABIO ELIAS DOS
SANTOS, FERNANDO LUIZ CÂNDIDO, JAIR VICENTE DA SILVA, CRISTIANO MAGELA DO
NASCIMENTO e MARIA ELENE RIBEIRO DE SOUZA LEITE, v. EXA, nas sanções do art.
121, § 2º,incisos I e IV e 211 do Código Penal. Sendo assim, submetemos o
presente feito a Douta e Elevada apreciação de Vossa Excelência como também do
Ilustre Promotor de Justiça.
Respeitosamente,
Belo Horizonte, 25
de fevereiro de 2010.
João Otacílio da Silva Neto
Bruno Tasca Cabral Denílson dos Reis Gomes
Delegado de
Polícia – Masp 343.821 Delegado de Polícia
– Masp 1.145.098
Delegado de Polícia – Masp 275.855"
O documento completo
pode ser pesquisado no artigo: http://www.cyberpolicia.com.br/index.php/historia/decadas/239-crime-sem-corpo
Capítulo VIII.
Os Julgamentos
O Julgamento pelo Assassinato de Helvécio Cordeiro, em Jarú
- Rondônia.
O julgamento
em Rondônia, na comarca de Jarú, teve uma série de dificuldades burocráticas
para seu desfecho. Na primeira data de julgamento, o juiz de Jarú ligou para o
delegado Faria, informando que havia encaminhado a requisição, mas que estava
ligando pessoalmente, para que o policial empenhasse em estar presente no
plenário. Faria concordou em ir, desde que a Secretaria de Segurança efetuasse
o pagamento antecipado das suas diárias e passagem aérea à aquele estado.
Existia uma grande dificuldade neste contexto, já que o secretário de segurança
não era José Resende de Andrade e os interesses em relação à pistolagem
debelada não eram mais prioridade. Diante desse obstáculo, o juiz teve que
anular o julgamento, marcando outra data, quando novamente fez contatos com a
secretaria, que desta vez concordou em bancar as despesas do
delegado/testemunha. Tudo pronto,passagens aéreas marcadas e novo problema
surgiu. Desta feita, em razão de entraves burocratas e da defesa para que o réu
fosse recambiado para Rondônia. O julgamento foi desmarcado pela segunda vez.
Apenas na terceira vez de agendamento é que foi possível o recambiamento e o
comparecimento do delegado Faria para que, por fim, Aldécio Leite fosse
julgado.
Faria foi ouvido em audincia por ter realizado todas as
diligencias para apuração do homicídio de Hevécio Cordeiro e demonstrou
cabalmente que suas investigações e as provas carreadas, eram irrefutáveis.
Ao ser ouvido, Aldécio declarou-se inocente e em sua defesa
declarou:
“Isso é uma montagem da polícia, notadamente do Dr. Faria e
do chefe de polícia de Belo Horizonte, chamado Nilton Ribeiro. Esses dois
perseguem a minha família. Nilton foi colocado na polícia através de Vander
Campos, o qual era político”.
“Ofenir era meu amigo de frequentar a casa um do outro, mas
depois virou um robô do Dr. Faria. Ele é manipulado por esse delegado para
cometer o crime de falso testemunho”.
“Polícia é polícia e
um vai defender o outro”.
“Que foi preso lá no Pará, onde foi metralhado, onde tiros
lhe acertaram, onde não teve chance de se defender, acertando tiros por todo o
seu corpo, mas Deus lhe ajudou”.
Os
argumentos usados para se defender não surtiram efeito. Aldécio foi condenado à
dezenove anos de prisão pelo assassinato de Helvécio Cordeiro.
O Julgamento da Chacina de Malacacheta
O desfecho
para a família Nunes Leite não foi dos melhores por todos os crimes que
cometeram. Aldécio perdeu Helenísio Nunes Leite, seu filho de 14 anos. José,
Aldécio e Alírio perderam o irmão Toninho Leite além do gado e grande parte do
patrimônio em razão de suas prisões, pagamentos de honorários advocatícios e os
roubos nas propriedades, pelo abandono. Aldécio Nunes Leite foi condenado no
Fórum Lafaiete da Capital ao total de 133 anos de prisão pela chacina de
Malacacheta por articular o plano para matar as sete pessoas da família
Cordeiro de Andrade. Segundo as provas Aldécio teria contratado os seis
pistoleiros que usando coletes da Polícia Civil invadiram a fazenda Canadá e
mataram a indefesa família, que lhes abriram as portas e serviram o café da
manhã com queijo, pensando tratar-se de policiais. Pela acusação foi dito que
os irmãos Nunes Leite são responsáveis por pelo menos 46 assassinatos, não só
no Vale do Mucuri, como também em outras cidades de Minas Gerais e estados da
federação, dentre eles Pará, Maranhão e Rondônia. O julgamento pela Chacina de
Malacacheta foi transferido para Belo Horizonte por determinação da Justiça de
Malacacheta, que considerou a influência da família Leite na comunidade local.
Alírio Nunes Leite, já com seus 70 anos de idade foi
condenado a um total de 126 anos de prisão em regime fechado pela Chacina de
Malacacheta ocorrida em 1990. Alírio foi julgado em Belo Horizonte pelo
julgamento ter sido desaforado a pedido do Ministério Público pelas razões que
já conhecemos de intimidação de testemunhas e jurados na região do Vale do
Mucuri. O juiz do 1º Tribunal do Júri, Alexandre Magno Mendes do Vale o
condenou a pena de 18 anos de reclusão por cada uma das mortes e não lhe
concedeu o direito de aguardar em liberdade por já estar preso na Casa de
Detenção Antonio Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves, em cumprimento de pena
por outro homicídio. O promotor que atuou na acusação foi Marino Cotta Martins
Teixeira Filho, que por coincidência tem o mesmo final de nome do delegado Otto
Teixeira Filho que atuou nas investigações da Chacina. O promotor pediu a condenação
de Alírio Leite pelo crime de homicídio, qualificado por motivo torpe e recurso
ardiloso que dificultou a defesa, já que os pistoleiros se passaram por
policiais civis e levaram as vítimas para local onde não pudessem fugir. Na
defesa de Alírio Leite atuaram os advogados José Maria Mayrinck e seu filho
Marcelo Vieira Chaves.
José Nunes
Leite foi absolvido pela Chacina de Malacacheta por falta provas, tendo, no
entanto permanecido longo tempo na cadeia por outros crimes. Atualmente encontra-se
em liberdade.
Mandante de chacina em Minas é condenado a 126 anos de
prisão
http://www.conjur.com.br
O fazendeiro Alírio Nunes Leite, acusado de ser um dos
mandantes da Chacina de Malacacheta, em fevereiro de 1990, está obrigado a
cumprir pena de 126 anos de prisão, em regime fechado. A decisão é do juiz
Alexandre Mago Mendes do Valle, do I Tribunal do Júri de Belo Horizonte, Minas
Gerais. Cabe recurso.
O juiz estipulou pena de 18 anos de reclusão, pela morte de
cada uma das sete vítimas, com base na decisão dos jurados que consideraram o
fazendeiro culpado pelo crime de homicídio qualificado, por motivo torpe e
recurso que dificultou a defesa das vítimas.O juiz aplicou o somatório das
penas, tornando-a definitiva em 126 anos com base no artigo 69 do Código Penal
Brasileiro.
De acordo com a denúncia, o crime foi motivado por disputa
de terras entre duas famílias da cidade mineira de Malacacheta, a Nunes Leite e
a Cordeiro de Andrade. O crime aconteceu em 15 de fevereiro de 1990, quando
sete integrantes da família Cordeiro de Andrade foram executados com vários
tiros à queima-roupa e armas de diversos calibres.
O promotor Marino Cotta Martins Teixeira Filho sustentou que
os irmãos José, Adélcio e Alírio Nunes Leite foram os mandantes do crime, contratando
os pistoleiros. Ele pediu a condenação de Alírio Leite pelo crime de homicídio
qualificado, porque os pistoleiros se passaram por policiais civis e levaram as
vítimas para local onde não pudessem fugir.
Outros acusados
Adélcio Nunes Leite já havia sido condenado a uma pena
acumulada de mais de 100 anos de prisão. Um terceiro acusado de ter ajustado o
crime com os pistoleiros, José Nunes Leite, foi absolvido. Nenhum dos
pistoleiros foi a julgamento.
Alírio Nunes Leite já foi condenado a 16 anos de prisão por
outro crime e cumpria a pena em regime aberto na penitenciária Dutra Ladeira,
em Ribeirão das Neves. Em sua decisão, o juiz determinou que o réu aguarde
preso o recurso de apelação, que já foi interposto pelos advogados de defesa na
própria sessão do júri.
O julgamento pela Chacina de Malacacheta foi transferido
para Belo Horizonte por determinação da juíza, que considerou a influência da
família Leite em Malacacheta.
Processo nº 02401113736-1
em.com.br
Justiça nega liberdade a acusado de Chacina de Malacacheta,
Crime macabro completa 22 anos em fevereiro. Seis criminosos executaram a tiros
sete pessoas da família Cordeiro Andrade por rivalidade e disputa de terras.
Luana Cruz - Publicação: 16/01/2012
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou pedido de
liberdade Aldécio Nunes Leite, acusado de ser o mandante da Chacina de
Malacacheta, que completa 22 anos em fevereiro. Além de concessão de indulto, o
habeas corpus impetrado no STJ pedia a extinção da punibilidade, que também foi
indeferida. De acordo com a denúncia, seis criminosos executaram a tiros sete
pessoas da família Cordeiro Andrade, por conta de um desentendimento com
parentes desse mandante. O crime aconteceu na Fazenda Canadá, Região do Vale do
Mucuri. A motivação por trás da rivalidade seria uma briga por terras.
Dia do crime
A macabra história ocorreu em fevereiro de 1990, mas teve
início alguns meses antes, em novembro de 1989. Um homem de cada família
discutiu no trânsito de Malacacheta. Devido à briga, a família de Aldécio Nunes
Leite contratou o pistoleiro Alvino Alves Pereira para executar um integrante
do clã dos Cordeiro, mas o homicida foi morto pela família rival antes de
apertar o gatilho. Ao saber disso, Hamilton Leite, amigo do pistoleiro, jurou
vingança. Seis homens, dentre eles Ofenir Pinheiro Machado e Hamilton Leite,
trajando, cinco deles, coletes pretos da Polícia Civil e se identificando como
policiais de Belo Horizonte disseram estavam apurando a morte do pistoleiro e
abordaram José Augusto de Andrade. O grupo levou a vítima até a casa de um
parente, onde se encontravam a empregada da família e outros sete Cordeiros.
Assim, foi dado início ao ritual macabro, com a execução das vítimas, de forma
cruel em diversos compartimentos do imóvel e até no quintal. Apesar das sete
mortes, três pessoas conseguiram fugir e relataram a matança ao promotor e a
policiais. Depois dos tiros, os seis acusados fugiram, mas foram detidos. Os
julgamentos aconteceram no decorrer da década de 90 e anos 2000. Cinco réus
foram condenados e apenas um absolvido.
http://blogdobanu.blogspot.com.br - terça-feira, 17 de
janeiro de 2012
Por vingança, Nelson
Jardim teria matado Toninho Leite, em abril de 1990, acusado de mandante da
Chacina. Por este crime, Nelson foi condenado e pegou 12 anos de prisão.O
último a ser condenado foi Fábio Elias dos Santos, em 28.03.2008, que pegou 45
anos de prisão em regime fechado. Ele foi acusado de participar da Chacina de
Malacacheta. Segundo a denúncia, Fábio e outros cinco homens teriam executado
sete pessoas de uma família Cordeiro.
As fotos e reportagens acima registram: Prisão dos irmãos
José e Aldécio em 1990, no Departamento de Investigações. "Pistoleiro da
Chacina de Malacacheta nega crimes". Justiça aperta os Nunes Leite e seus
jagunços"
Abaixo síntese da decisão da apelação criminal que negou
provimento.
APELAÇÃO CRIMINAL
Fábio Elias no dia de seu julgamento.
Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CRIMINAL do
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório
de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, EM
NÃO PROVER OS RECURSOS.
Belo Horizonte, 23 de junho de 2009.
DESª. MÁRCIA MILANEZ – Relatora
NOTAS TAQUIGRÁFICAS
A SRª. DESª. MÁRCIA MILANEZ:
VOTO
FÁBIO ELIAS DOS SANTOS, qualificado nos autos, foi
denunciado, processado e pronunciado como incurso nas iras do artigo 121, §2º,
incisos I, III e IV (por sete vezes), c/c os artigos 69 e 29, todos do Código
Penal.
Segundo consta da inicial, o denunciado, juntamente com
terceiras pessoas, efetuou disparos de arma de fogo em José Augusto de Andrade,
Eunice Augusta Cordeiro de Andrade, Nacip Augusto Cordeiro de Praga, José Sexto
Neto, Núbia Floripes de Andrade, Geraldo Augusto Cordeiro e José Augusto
Cordeiro, causando-lhes a morte.
Narra-se na denúncia de fls. 05/08 e no aditamento de fls.
855/859 que o crime, ocorrido no dia 15 de fevereiro de 1990, por volta das
06h30min, na Fazenda Canadá, localizada no Município de Jaguaritira, Comarca de
Malacacheta, teve a autoria intelectual dos irmãos Adélcio Nunes Leite, Antônio
Nunes Leite (falecido), José Nunes Leite e Alírio Nunes Leite, e, como autores
materiais, os denunciados Ofenir Pinheiro Machado, Fábio Elias dos Santos,
Hamilton Leite Costa, v. 'Carlão' (falecido), Gilberto Marçal da Rocha, v.
'Gilberto Cabelo Seco', Joel de Tal e Adélcio de Tal, contando ainda com a
participação de Ely Barbosa Couy, Rogério de Souza Couy (absolvidos), de
Elenísio Nunes Leite, v. 'Leno' (falecido) e também de Israel Ferreira Paulino,
este quatro últimos ficando de guarda na estrada, nas imediações do local do
crime.
Consta do aditamento:
"Conforme já narrado na peça vestibular, o crime foi
perpetrado a mando também dos ora denunciados JOSÉ NUNES LEITE e ALÍRIO NUNES
LEITE, que juntamente com seu irmão, o já denunciado ADÉLCIO NUNES LEITE,
uniram-se em comunhão de propósito, tendo como fim o extermínio da família
'CORDEIRO ANDRADE'. Para tanto, valeram-se dos denunciados OFENIR PINHEIRO
MACHADO, FÁBIO ELIAS DOS SANTOS, o ora denunciado GILBERTO MARÇAL DA ROCHA, v.
'Cabelo Seco', o indivíduo conhecido por ADÉLCIO DE TAL, ora denunciado, do
indivíduo JOEL DE TAL, também ora denunciado e ainda do falecido HAMILTON LEITE
COSTA, v. 'Carlão', todos estes 06 (seis) adentraram na residência da vítima
JOSÉ AUGUSTO DE ANDRADE, v. 'Zé de Andrade', onde deram cabo da vida das 07
(sete) infelizes vítimas. Enquanto isso, as imediações da casa eram guarnecidas
pelos denunciados ELY BARBOSA COUY, ROGÉRIO DE SOUZA COUY, pelo ora denunciado
ISRAEL FERREIRA PAULINO e ainda o elemento ELENÍSIO NUNES LEITE, v. 'Leno', já
falecido" (...).
Submetido a julgamento popular nesta Capital, restou o
acusado Fábio Elias dos Santos condenado como incurso nas iras do artigo 121,
§2º, incisos I, III e IV, c/c os artigos 29 e 69 (por sete vezes), todos do
Código Penal, a uma pena total de 45 (quarenta e cinco) anos de reclusão, a ser
cumprida no regime inicialmente fechado (sentença de fls. 2123/2129)...
Irresignados, recorreram, pela ordem, o representante do
Ministério Público e o réu (fls. 2137 e 2139).
O Promotor de Justiça, em suas razões de fls. 2152/2165,
busca a majoração da pena-base, sob o argumento de que as circunstâncias
judiciais do art. 59 do Código Penal são amplamente desfavoráveis ao acusado.
Insurge-se, ainda, contra o reconhecimento da continuidade delitiva, devendo-se
somar as sanções, por serem distintas as motivações para a prática da Chacina de
Malacacheta...
Apresentadas as contrarrazões (fls. 2222/2224 e 2227/2238),
a douta Procuradoria de Justiça, em parecer da lavra do Dr. Francisco Márcio
Martins Moreira Chaves, opinou pelo conhecimento e desprovimento de ambos,
rejeitando-se a preliminar de nulidade (fls. 2239/2242).
O feito foi a mim redistribuído em razão da aposentadoria do
primitivo Relator, Des. Edelberto Santiago.
É, em síntese, o relatório...
A materialidade dos delitos encontra-se consubstanciada nos
Exames de Necropsia de fls. 42/48.
A autoria, embora insistentemente negada pelo acusado na
fase judicial e em Plenário, também ressai cristalina dos autos. Os fatos
contaram com testemunhas oculares, as quais chegaram a ter contato com os
assassinos pouco antes da chacina e conseguiram fugir do local.
Maria Luiza de Andrade, que reconheceu o ora apelante
através de fotografias (fls. 208/209) na Delegacia, confirmou em juízo o
reconhecimento realizado (fls. 475). José Augusto Sexto Neto também o apontou
como um dos responsáveis pela chacina (fls. 587/590), assim como Humberto
Augusto Cordeiro e Gilmar Barbosa da Silva (fls. 134 e 135/136)...
In casu, além do reconhecimento fotográfico, o envolvimento
do apelante no crime como um dos participantes da chacina foi noticiado através
dos depoimentos das testemunhas Gilberto Marçal da Rocha e José Elias Abrantes
de Sales (fls. 389 e 1322). Este último declarou:
"... que confirma que Ofenir Pinheiro Machado, Fábio
Elias dos Santos, Amilton Leite Costa, Gilberto Marçal da Rocha e Joel de Tal e
Adelsio de tal foram as pessoas que entraram na casa das vítimas a mando dos
Leites para praticar os delitos; que tomou conhecimento que eles participaram
da chacina porque Toninho falou com eles;...".
Sobre a motivação dos delitos, asseverou José
"Guaxe" que:
"... a chacina da família da vítima aconteceu porque a
referida família tinha mandado matar, digo, porque os Cordeiros mataram o
pistoleiro Albino, ligado à família Leite ...".
Claro está, portanto, o envolvimento do apelante nos crimes
sub judice, ressaindo dos autos que ele foi um dos pistoleiros contratados para
exterminar a Família Cordeiro, sendo que, no dia dos fatos, dirigiu-se até a
casa da vítima José Augusto Cordeiro, vestido com roupas e distintivos da
Polícia Civil mineira, a pretexto de investigar a morte do pistoleiro Albino
Alves Pereira, rumando para a fazenda de José Augusto de Andrade, local em que,
após ser reunido o maior número possível de integrantes da família Cordeiro de
Andrade, o acusado, juntamente com terceiras pessoas. iniciaram a execução das
vítimas, culminando com a morte de sete integrantes da família...
Assim, plenamente admitida a continuidade delitiva em crimes
que atingem bens personalíssimos de vítimas diversas. Por todo o exposto,
conheço dos recursos e, rejeitando a preliminar de nulidade, nego-lhes
provimento.
SÚMULA : RECURSOS NÃO PROVIDOS.
2014. O ASSASSINATO DE ASCENDINO JARDIM MEIRA
Ascendino
era membro da família Jardim, que juntamente com a família Cordeiro que tiveram
vários parentes chacinados em 1990, na zona rural da cidade de Malacacheta e
outras cidades e estados do Brasil. Na saga dos irmãos Leite ele é protagonista
em duas passagens: a primeira, quando tentaram envolve-lo na morte de João Pego
e posteriormente, quando participou efetivamente na emboscada e morte de
Antonio Nunes Leite, o "Toninho Leite". Assim como os demais
partícipes, foi condenado e preso, tendo cumprido sua pena em penitenciária
mineira. Durante o cumprimento da pena de outro envolvido no assassinato de
"Toninho Leite", Nelson Jardim, conforme registro acima, foi
sequestrado quando saia do presídio e também assassinado.
Ascendino
esperava melhor sorte e após cumprir sua condenação chegou a voltar para a
região de Malacacheta, mas tão logo os irmãos Leite foram libertados, Ascendino
mudou-se para o Espírito Santo, onde usava nome trocado para despistar seus
desafetos. No dia 6 de abril de 2014, foi assassinado por crime de mando, no
portão de sua casa, conforme registram as reportagens abaixo. Mais um capítulo
da história se fechava.
Jovens são presos após matar aposentado, na Serra
Gazeta On Line-06/04/2014 - 21h27 - Atualizado em 06/04/2014
- 21h42
Fotos: Rhuani Maia
Trio tentou se esconder em um matagal, mas acabaram sendo
encontrados.
Erika Dias da Vitória foi presa pelo assassinato do
aposentado.
Os jovens Caio César Barreto Rio, de 21 anos, Patrick Chiban
Gomes dos Santos, 23, e Erika Dias da Vitória, 28, foram presos acusados de
matar o aposentado Ascendino Jardim Meira, 74, na tarde de ontem, no bairro
Parque Residencial Tubarão, na Serra. Ascendino foi assassinado na porta da
casa onde morava, às 15h40. De acordo com policiais militares, os acusados
chegaram ao local em um Ford Fiesta e chamaram pelo aposentado. A vítima foi
até o portão e, momentos após atendê-los, foi atingido pelos disparos.
Ascendino foi baleado com sete tiros, e chegou a ser socorrido para o Hospital
Jayme dos Santos Neves, mas morreu no local.
Caio César Barreto Rio e Patrick Chiban também acabaram
presos junto com Erika. Os acusados fugiram em direção à Rodovia Audifax
Barcelos, mas logo começaram a ser perseguidos pelos PMs. Na fuga, eles
deixaram o carro no bairro São Patrício e tentaram se esconder em um matagal,
mas acabaram sendo encontrados. Além do Ford Fiesta, que tem restrição de furto
e roubo, foi apreendida com eles uma pistola 765. O revólver calibre 38, que
teria sido utilizado no crime, foi jogado por eles em um brejo e não foi
encontrado. Os acusados foram levados para a 3ª Delegacia Regional da Serra.
Ex-soldado é preso acusado de encomendar morte de idoso
Gazeta On Line-
07/04/2014 - 22h12 - Atualizado em 08/04/2014 - 00h00
Autor: Glacieri Carrareto e Ruhani Maia
O crime aconteceu no domingo (6); os quatro executores
também foram detidos
Expedito nega que tenha encomendado a execução
O ex-soldado da Polícia Militar Expedito Cabral de Araújo,
47 anos, foi preso, nesta segunda-feira (7), acusado de ser o mandante do
assassinato do aposentado Ascendino Jardim Meira, 74, no bairro Jacaraípe, na
Serra. Menos de 24 horas após o crime, o mandante e os três executores foram
presos pelas polícias Civil e Militar. O crime ocorreu na tarde de domingo (6),
no bairro Parque Residencial Tubarão. Caio Cesar Barreto Rio, 21, Patrick
Chiban Gomes dos Santos, 23, e Erika Dias da Vitória, 28, acusados de matar
Ascendino, foram presos logo após o crime. Por meio de Caio, a polícia
descobriu que a morte havia sido encomendada e chegaram ao ex-policial.
Expedito foi preso no Terminal de Jacaraípe, por volta das 6 horas. De acordo
com o delegado Rodrigo Sandi Mori, o ex-PM pagaria R$ 2 mil a Caio para que ele
providenciasse a morte entregaria a quantia no terminal.
“Essa seria parte dos R$ 10 mil que seriam pagos pelo
crime”, explicou o delegado.
O ex-PM não resistiu à prisão. Ele foi levado para a 3ª
Delegacia Regional da Serra, mas negou a acusação. Expedito alegou que havia
contratado Caio para pintar uma casa e que os
R$ 2 mil que entregaria para ele era um adiantamento pelo
serviço. Ele ressaltou que, antes de entregar o dinheiro, soube que Caio havia
sido preso, mas decidiu entregar a quantia para ajudar a família do acusado.
Caio e os outros dois acusados do crime, no entanto, afirmaram que mataram
Ascendino por vingança, porque ele teria envolvimento em um estupro, fato não
confirmado pela Polícia Civil. E, segundo o delegado, ao saberem que Expedito
havia sido preso, eles acabaram confirmando que o ex-PM é que havia mandado
matar o aposentado. “Foram 91 ligações entre os executores e o ex-PM no
domingo”, destacou Mori.
Segundo a polícia, a família de Ascendino disse que acredita
que o assassinato tenha relação com uma briga em que a família dele se envolveu
há oito anos, em Belo Horizonte (MG).
EX-PM é suspeito de outros crimes
Foto: Marcos Fernandez
O acusado foi expulso da PM na década de 90
Expedito Cabral de Araújo foi excluído da Polícia Militar na
década de 90, mas voltou com uma liminar expedida pela Justiça. Em 2009, A
Justiça caçou a liminar e ele foi excluído definitivamente. Nessa época,
Expedito também respondia um processo administrativo na Corregedoria por
participação na facilitação de fuga de detentos. O ex-PM tem passagem na
polícia por envolvimento em um outro homicídio e em um roubo. A informação é do
delegado Rodrigo Sandi Mori. Expedito preferiu não falar sobre as acusações.
Ele disse que foi exonerado da PM em 2009 porque a polícia não cumpriu uma
decisão judicial referente a uma licença dele. Entretanto, afirmou que a saída
dele ainda tramita na Justiça.
Entrevista
“Nunca vi esse homem. não sei o que aconteceu” Expedito
Cabral, ex-policial
Além de negar a acusação, Expedito Cabral afirmou que espera
que a polícia prove o envolvimento dele no assassinato de Ascendino.
Você conhecia o Ascendino?
Não. Nunca vi esse homem. Não sei de nada do que aconteceu.
Por que iria entregar R$ 2 mil para Caio?
Ele iria pintar uma casa para mim e então eu ia adiantar o
dinheiro desse serviço.
Mas por que foi até o terminal para entregar a quantia,
mesmo sabendo que o Caio estava preso?
Porque percebi que a família dele precisava de ajuda. Mesmo
que ele não fosse trabalhar para mim, eu ajudaria.
2014. AIMORÉS - O ASSASSINATO DE ABANILTON LEMES JARDIM,
FILHO DE ASCENDINO.
No dia
21/07/2014, por volta das 19:40 horas, Abanilton Lemes Jardim estava
trabalhando no caixa de sua mercearia , Comercial Pague Pouco, quando um homem
de cabelos brancos, entrou na mercearia efetuou disparos contra Abanilton,
utilizando uma pistola 9 mm. A filha da vítima também foi alvejada na perna,
mas passa bem. Abanilton morreu a caminho do Hospital com vários disparos. No
velório, a mãe de Abanilton e viúva de Ascendino teria declarado: "Isso
nunca vai acabar".
AIMORÉS ON-LINE
"Homem é executado com cinco disparos em Aimorés/MG
A vítima foi socorrida mais veio a óbito no hospital
Um homem identificado com sendo Abanilton Jardim Lemes, de
aproximadamente 43 anos, e sua filha foram baleados na porta de seu comércio na
noite desta segunda-feira (21) no Bairro Vila Fonseca em Aimorés.
O Sr. Abanilton como era conhecido na região foi alvejado
por cinco disparos e veio a óbito no hospital. A filha da vítima foi alvejada
de raspão na perna e passa bem.
O homicídio ocorreu por volta das 20h30min, o autor logo
após executar a vítima deu dois disparos para o alto na tentativa de intimidar
possíveis testemunhas."
Bibliografia e pesquisas
Processo nº 39933/7-
TJMG
Processo nº 30306-5 TJMG
Processo
nº02497022327-7-II tribunal do Júri da Capital
Processo nº 0758/90- Comarca de Malacacheta
Processo nº 464/70-
Comarca de Malacacheta
Processo : 02401113736-1
IPM nº 013/90-CG
Laudos do IML nº 330/92-331/92-332/92
Laudos do IC nº 1553/92 e2616/92
Processo 0758/90- Comarca de Malacacheta
Processo 1813/94 Comarca de Malacacheta
Processo 276/94- Jaru- Rondônia
Processo 915/90- Pancas- Espírito Santo
Inquéritos policiais 221/94/DCCV, 223/93/DCCV
Só os Fortes Sobrevivem. Livro de Paulo Maloca
Matérias jornalísticas dos jornais Estado de Minas e Diário
da Tarde
Jornal Hoje em Dia
Jornal O Tempo
Paraná Online
Rádio Teófilo Otoni
http://www.conjur.com.br
Aimorés Online
Isto e mentira, quem conhece a historia conhece.
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