16 Fevereiro 2021
O padre húngaro, detido pelos militares em 1976, quando o atual papa era superior dos jesuítas argentinos, defendeu Francisco das acusações de que teria abandonado seus coirmãos.
A reportagem é de Céline Hoyeau, publicada por La Croix International, 15-02-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Pe. Franz Jalics, jesuíta húngaro cuja detenção em 1976 pela ditadura militar argentina levantou questões sobre o papel do Papa Francisco durante a Guerra Suja em seu país, morreu aos 93 anos.
O padre faleceu no dia 13 de fevereiro em Budapeste, na Hungria.
Jalics se viu relutantemente no centro de uma polêmica em março de 2013, quando Jorge Bergoglio, seu ex-superior jesuíta na Argentina, tornou-se o Papa Francisco.
O novo papa foi acusado de não ter ajudado o húngaro e outros jesuítas que eram alvos da ditadura militar argentina.
Jalics e outro padre, Orlando Yorio, pregavam em favelas e foram presos em março de 1976 por um grupo paramilitar de extrema direita.
Eles foram levados para um centro de detenção conhecido pela sua crueldade, a Escola Superior de Mecânica da Marinha (ESMA, na sigla em espanhol), e torturados antes de serem soltos cinco meses depois.
Mas, em 2003, um jornalista argentino, Horacio Verbitsky, acusou Bergoglio de ter “abandonado” seus dois coirmãos jesuítas.
Suspeita injustificada
O Vaticano rejeitou firmemente as acusações quando elas vieram novamente à tona nos dias imediatamente após Bergoglio ter sido eleito bispo de Roma.
E, nas semanas e meses seguintes, inúmeras testemunhas deram depoimentos sobre a “diplomacia silenciosa” de Bergoglio para garantir a libertação dos padres e proteger os estudantes de esquerda perseguidos pelo regime.
O recém-eleito Papa Francisco disse ter passado por “um período de grande crise interna” na época da junta e admitiu ter cometido erros enquanto chefiava a província argentina da Companhia de Jesus.
Mais importante, o Pe. Jalics o inocentou de quaisquer maus-feitos ou negligência.
“Anteriormente, eu estava inclinado a acreditar que havíamos sido vítimas de uma traição”, disse o jesuíta húngaro no dia 20 de março de 2013 – apenas uma semana após Francisco ter sido eleito papa.
“Mas, no fim dos anos 1990, após várias discussões, ficou claro para mim que essa suspeita era injustificada”, disse ele.
“Vamos nos ater aos fatos: Orlando Yorio e eu não fomos denunciados pelo Pe. Bergoglio”, disse o húngaro categoricamente.
Jalics e Bergoglio já se haviam visto nos anos 1990, quando este já era arcebispo de Buenos Aires.
Depois, eles se encontraram em outubro de 2013, quando Bergoglio já era papa e celebrou uma missa como sinal de reconciliação.
Escola de meditação alimentada na prisão
Jálics Ferenc (seu nome de batismo em húngaro) nasceu em Budapeste em 16 de novembro de 1927.
Seu pai o incentivou a seguir a carreira militar, mas, quando o jovem completou 20 anos em 1947, ele entrou no noviciado jesuíta.
Ele estudou filosofia na Alemanha e na Bélgica. Depois, em 1956, seus superiores jesuítas o enviaram ao Chile e à Argentina, onde ele concluiu seus estudos de teologia.
Jalics foi ordenado ao sacerdócio em 1959 e decidiu permanecer na América do Sul.
Depois de ser libertado da prisão na Argentina em setembro de 1976, ele partiu para os Estados Unidos e depois para a Alemanha, onde iniciou um intenso ministério de pregação dos Exercícios Espirituais inacianos.
O teólogo húngaro tornou-se conhecido pelas suas inúmeras obras sobre espiritualidade, nas quais procurava ensinar como se tornar “um contemplativo na vida cotidiana”.
Jalics fundou sua própria escola de meditação em Wilhelmsthal, na Baviera, em 1984, que foi alimentada em parte pela sua experiência na prisão.
Ele dirigiu esse centro até 2004, quando voltou para sua Budapeste natal.
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