domingo, 16 de janeiro de 2022

Delegado Mauricio Demetrio, depois de sete meses preso pelo MP, depõe em fevereiro na Corregedoria de Polícia Civil

 13/01/22 17:04

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, Foto: FABIANO ROCHA / Agência O Globo
Rafael Nascimento de Souza e Vera Araújo
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Sete meses após ser preso pelo Ministério Público do Rio (MPRJ), a Polícia Civil decidiu intimar o delegado Mauricio Demetrio Afonso Alves para apurar a cobrança de propinas de comerciantes da Rua Teresa, em Petrópolis. Segundo a denúncia da promotoria, o delegado é o chefe de uma quadrilha formada por policiais civis que trabalhavam com ele, na época em que foi titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM). Ao invés de reprimir crimes de falsificação de roupas, conhecida prática denominada de “pirataria”, o delegado e seus agentes exigiam dos comerciantes e donos de confecção da Região Serrana, o pagamento em dinheiro para liberar o comércio de produtos ilegais.

As convocações do delegado e de quatro policiais civis, que integravam sua equipe acusada de cobrar propina do comércio de Petrópolis, foram publicadas no Boletim Interno (BI) da instituição datada de terça e quarta-feiras. Como está preso na Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, Bangu 8, Demetrio será ouvido por videoconferência no próximo dia 22, às 10h. Os outros agentes intimados são: Celso de Freitas Guimarães Junior, Vinicius Cabral de Oliveira, Luiz Augusto Nascimento Aloise e José Alexandre Duarte, sendo este últmo um perito. Todos prestarão depoimento no mesmo dia do delegado. Dependendo do resultado da Sindicância Administrativa Disciplinar, os agentes podem ser expulsos da corporação.

Os delegados da Corregedoria Interna, que iniciaram a investigação contra Demetrio e sua equipe na época; e que compartillharam cópias do procedimento ao MPRJ, que deu prosseguimento ao caso, também serão ouvidos na sindicância contra o ex-titular da DRCPIM e sua equipe. Os delegados Alexandre Ziehe, Robson da Costa Ferreira da Silva, Fábio da Costa Ferreira e Marcelo Machado Portugal Saisse apuraram as denúncias e, segundo o MPRJ, chegaram a sofrer represálias por parte da suposta quadrilha de Demetrio.

As investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ, que denunciou os policiais civis, descobriu que Demetrio e sua equipe tentaram "plantar drogas" — jargão policial para colocar algo ilegal com uma pessoa para incriminá-la—, no carro de Alexandre Ziehe, para acusá-lo de traficante. O plano foi descoberto por meio de extração de dados em três dos 12 celulares apreendidos de posse de Demetrio, em seu apartamento num condomínio de luxo na Barra da Tijuca. A investigação nos aparelhos eletrônicos foi feita com autorização judicial do juiz auxiliar da 1ª Vara Criminal Especializada, Bruno Rulière.

Também será ouvida a ex-titular da 105ª DP (Petrópolis), Juliana Menescal da Silva Ziehe, filha do ex-corregedor, Alexandre Ziehe, que chegou a ser pesquisada ilegalmente por policiais civis do grupo de Demetrio. Nos aparelhos do delegado havia detalhes da rotina da delegada, fotos de sua residência em Petrópolis e informações sobre o marido dela. O caso afetou a saúde da delegada, que entrou de licença médica por estar com "sindrome de Burnout", também conhecida como "Síndrome do Esgotamento Profissional", doença mental que se manifesta quando a pessoa passa por sério estresse emocional relativo à profissão.

O Gaeco também descobriu a farsa imputada por Demetrio ao delegado Marcelo Portugal, que já o investigava desde 2020. O ex-titular da DRCPIM teria sido o mentor de uma operação falsa com a intenção de obstruir e enfraquecer investigações que já estavam em andamento contra ele e seu grupo. Demetrio, ao descobrir que Portugal era sócio de uma confecção na Tijuca, bairro da Zona Norte do Rio, armou um falso flagrante contra o desafeto. Fingindo ser funcionária de uma ONG, de nome Ana, Demetrio fez uma encomenda de camisas na confecção de Portugal, com o objetivo de apreendê-las e incriminá-lo. O perito que atuava na delegacia de Demetrio, teria feito um falso laudo sobre os produtos da confecção. Machado foi solto logo após pagar fiança.

Demetrio também está respondendo a outro procedimento investigatório, desta vez, por obstrução nas investigações do Caso Marielle. As promotoras Simone Sibilio e Letícia Emile — enquanto estavam à frente da Força-Tarefa responsável por apurar quem mandou matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista dela, Anderson Gomes — descobriram que ele tirou cópias do inquérito policial que estava em segredo de Justiça. Segundo elas, o delegado teve acesso a informações sigilosas. O vazamento foi considerado "gravíssimo" por Simone Sibilio, à época.

Como o corregedor-geral da Polícia Civil Paulo Passos Silva Filho está de férias, os depoimentos serão colhidos pelos delegados auxiliares: Sérgio Eduardo Lomba de Araújo e Gilson Emiliano Soares. Eles respondem pela Corregedoria e Subcorregedoria, respectivamente, na ausência do titular.

Procurada, a assessoria de imprensa da Secretaria de Polícia Civil se manifestou por nota: "O delegado Mauricio Demetrio responde a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) na Corregedoria da Polícia Civil, que investiga o possível enriquecimento ilícito. O PAD foi instaurado imediatamente após a Corregedoria receber a denúncia, em agosto de 2021, e está dentro do cronograma normal, buscando atualmente o compartilhamento de provas por parte da Justiça para que nas oitivas já possam ser abordados todos os pontos fundamentais para o esclarecimento dos fatos investigados. Diversos questionamentos da defesa, respeitando o devido processo legal, foram superados e a data do depoimento em videoconferência já foi liberada no cronograma da Seap".



Demetrio Afonso Alves está preso, desde 30 junho do ano passado, acusado pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro ou ocultação de bens e concussão — quando o agente público se utiliza do seu cargo para exigir, para si ou para outra pessoa, algum tipo de vantagem indevida. Ele estava à frente da DRCPIM desde 2018 e, dias antes de ser preso na Operação Carta do Corso do Gaeco, a Secretaria de Polícia Civil o transferiu para a Delegacia do Consumidor (Decon).

https://extra.globo.com/casos-de-policia/delegado-mauricio-demetrio-depois-de-sete-meses-preso-pelo-mp-depoe-em-fevereiro-na-corregedoria-de-policia-civil-25352888.html

                                               


   

Natal Sem Fome

 

MST ultrapassa 6 mil toneladas de alimentos doados durante a pandemia

Somente durante a campanha Natal Sem Fome cerca de 250 mil pessoas receberam doações em 24 estados do Brasil

Notícias

14 de janeiro de 2022



Famílias beneficiadas no interior de São Paulo, Cidade Tiradentes. Foto: MST em SP

Por Lays Furtado

Da Página do MST

 

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, por meio das campanhas de solidariedade, o MST doou mais de 6 mil toneladas de alimentos e 1.150.000 marmitas para pessoas e famílias inteiras em situação de fome e insegurança alimentar em todas as grandes regiões do país.

 

O balanço foi feito após a conclusão da campanha Natal Sem Fome, promovida pelo Movimento de dezembro até o início de janeiro, onde cerca de 250 mil pessoas foram beneficiadas com doações de alimentos, marmitas solidárias e ceias especiais natalinas em 24 estados do Brasil.

 

Com isso, somente durante a campanha Natal Sem Fome foram mais de mil toneladas de alimentos doados. No total, foram distribuídas cestas, em sua maioria compostas por produtos de assentamentos e acampamentos do MST, e que beneficiaram cerca de 50 mil famílias. Além de mais de 30 mil marmitas e ceias especiais natalinas que contribuíram no combate à fome em aldeias indígenas e comunidades periféricas, urbanas e rurais.

 

Chegada das cestas de alimentos no Mato Grosso do Sul. Foto MST-MS

Tudo isso só foi possível ser alcançado por meio da organização popular desenvolvida ao longo dos 37 anos de existência do MST, a partir da produção de alimentos das agricultoras e agricultores desde os seus quintais produtivos, hortas e roçados solidários. Mas também a partir da diversidade de produtos beneficiados pelas associações e cooperativas da Reforma Agrária Popular, como também de pontos de apoio da Rede de Armazéns do Campo e Cozinhas Solidárias. 

Após receber as doações em sua aldeia, Laurentino Garcia Nhu Vera Guasu, de Dourados, Mato Grosso do Sul, agradeceu enquanto liderança local em nome de sua comunidade pelas cestas de alimentos doadas, que beneficiaram cerca de 100 famílias dos 3 Tekohas a região – como são chamadas as aldeias em Guarani. “E chegou na hora certa, por que muitas famílias já não tem mais o que comer dentro de suas casas e barracos, onde também tem crianças que estão precisando dessas cestas”, contou Laurentino, informando que nem mesmo o governo tem enviado mais suprimentos e só tem contado com o apoio de ações solidárias. 

Somente na capital paulista foram distribuídas 2 mil cestas de alimentos. Foto: MST em SP

Além de alimentos e produtos da Reforma Agrária, o MST também distribuiu cerca de 17 mil  livros nas comunidades dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. As publicações foram arrecadações doadas pela editora Expressão Popular, que contém edições próprias, como também livros publicados por editoras associadas, como a Editora 34, Editora Elefante, Nuestra America. Ao todo foram 70 títulos diversos fomentando uma Rede de Bibliotecas Populares.

 Acesso à terra no combate a fome e miséria no Brasil

Contudo, as ações solidárias contaram com o fomento do público doador, com uma rede de amigas e amigos, organizações parceiras e milhares de voluntárias e voluntários que se engajaram na causa de acordo com as emergências do povo, sensibilizadas(os) com o fato de que 5 em cada 10 lares brasileiros não tem comida garantida na mesa, apesar de vivermos em um país considerado uma das maiores potências agrícolas do mundo. 

“Em um país onde a política agrícola é dominada pelo agronegócio, que bate recordes de exportação e de lucro, enquanto cerca de 20 milhões de pessoas vão dormir e acordam com fome, e mais de metade da população sofre com algum grau de insegurança alimentar, é a demonstração de que essa política econômica é inviável!”, afirma Jailma Lopes, da direção nacional do Coletivo de Juventude do MST. 

Juventude Sem Terra no preparo das marmitas doadas pela Cozinha Solidária do MST em Maceió, Alagoas. Foto MST em AL

Dessa forma, mesmo com o desmonte da Reforma Agrária perante o governo federal, as famílias do MST seguem na luta pelo acesso à terra, pelo desenvolvimento do campo e a diminuição da miséria no país. As campanhas de solidariedade oferecem um alento emergencial à classe trabalhadora em meio à situação de crise, acentuada pelo desgoverno e pandemia, e que em sua prática afirmam que o aumento da fome e das desigualdades sociais só poderão ser combatidas com políticas públicas, a exemplo da Reforma Agrária Popular.

 

“Só é possível combater a pobreza e a fome no Brasil e transformar a vida do nosso povo com Reforma Agrária Popular, construindo condições de produção e acesso à alimentos diversificados e saudáveis, e com outras relações de produção, com a conservação dos nossos bens comuns da natureza”, argumenta Jailma, reafirmando que a Reforma Agrária é um benefício tanto para as(os) trabalhadoras(es) do campo quanto da cidade, tal qual para o meio ambiente em que vivemos.

 

*Editado por Fernanda Alcântara

https://mst.org.br/2022/01/14/mst-ultrapassa-6-mil-toneladas-de-alimentos-doados-durante-a-pandemia/#:~:text=Desde%20o%20in%C3%ADcio%20da%20pandemia,as%20grandes%20regi%C3%B5es%20do%20pa%C3%ADs.

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