Em conversa pelo telefone, detento da Pasc fala sobre como vê o presídio.
Quadrilha é suspeita de tráfico de drogas e assassinatos no Vale do Sinos.
Uma gravação telefônica divulgada com exclusividade nesta terça-feira (10) no Bom Dia Rio Grande, da RBS TV (confira no vídeo), mostra a impressão de um detento da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) sobre a casa prisional. Questionado por uma mulher sobre as características do presídio localizado na cidade da Região Carbonífera do Rio Grande do Sul, o homem afirma que se trata de um "hotel", onde funciona o "escritório do tráfico".
A gravação é parte de uma investigação do Ministério Público sobre uma quadrilha suspeita de cometer tráfico de drogas e assassinatos no Vale do Sinos. Uma operação cumpriu 10 mandados de prisão na manhã desta segunda-feira (9). No áudio, o preso explica como funciona o crime dentro da penitenciária.
"Aqui a rapaziada faz o escritório do tráfico dentro, daí tem que ser tudo devagar, tudo (...) para não alvoroçar os 'homens', sabe", diz o detento logo depois de responder afirmativamente à interlocutora, que perguntou se a Pasc era como "um hotel". Na sequência, ele afirma que, na cadeia de Charqueadas, "é muito acomodado".
Além da Pasc, os grupos agiam também no Presídio Central de Porto Alegre. Em uma comparação com outra penitenciária, sem especificar qual, o preso brinca que as situações se diferem. "Lá não tem essa de escritório. Eles ganham dinheiro na rua, na cadeia eles só sobrevivem. Aqui eles fazem o contrário, eles ganham dinheiro na cadeia, vão para a rua e ficam se arrastando", conta.
Assassinatos por encomenda
Durante as investigações do MP, foam obtidos áudios que mostram o grupo negociando armas, ordenando mortes e até debochando da polícia. "Desce da moto e 'dá-le' todos nele, tá?", ordena um criminoso. A seguir, é possível ouvir tiros. O preso estava acompanhando o crime em tempo real por telefone. "Dá-le, dá-le, dá-le", comemora o detento após os disparos.
Através dos celulares obtidos, os policiais descobriram que os criminosos estavam bem informados sobre as ações da polícia. Em uma das gravações, um deles alerta sobre a presença de agentes no Morro Santa Marta, no município de São Leopoldo.
"Me falaram. Avisa os teus guris para não ficarem na banda amanhã, que amanhã tem uns não sei quantos. Quase 500 policiais, entendeu?", afirma.
"Aham", responde o outro.
"Ia ser hoje, só que eles adiaram para amanhã, não sei por quê. Era pra ser hoje. Pega, aproveita esta oportunidade que te deram e avisa toda a tua rapaziada para sair de lá, que eles vão levantar todo mundo. Vão sair mais de cem pessoas presas", afirmou.
Eles ainda planejaram uma invasão para tomar o controle do morro. "Eu queria ver com vocês se vocês não chegam 'junto com nós'. Para nós, quanto mais gente, melhor, entendeu?", diz um criminoso. "Cinco minutos, nós resolvemos e voltamos embora. Eles vão largar tudo pelo mato de novo."
A operação também exigiu pessoal e tática de guerra. Por telefone, o criminoso orienta que cada um proteja as costas do outro. "Não é pra um ficar para trás e três irem correndo na frente. Todos chegando junto", avisa o detento. "Ô mano, mata tudo, não deixa escapar um", completa o criminoso.
Além de cometer crimes, os presos debocham, de maneira escancarada, das autoridades do Rio Grande do Sul. Um deles suspeita que está sendo grampeado e brinca.
"Tem 30 mil 'polícia' me escutando. Né, seu 'polícia'? Vou até cantar uma música pra ele. Seu 'gualda', eu não sou vagabundo, eu não sou delinquente", canta o detento, se referindo à canção "Dormi na Praça", da dupla Bruno e Marrone. "Cai fora, seu 'gualda'", completa.
Investigações
No ano passado, foram apreendidos mais de 2,6 mil celulares em presídios gaúchos. Durante os 12 meses da investigação, o Ministério Público apreendeu carros, dinheiro, armas, drogas e prendeu 30 pessoas. Pelo menos sete mortes foram evitadas.
A Superintendência dos Serviços Penitenciários, disse, em nota, que trabalha para combater a criminalidade dentro dos presídios. Para isso, tem intensificado as revistas feitas pelos agentes em todas as cadeias e já está usando o scanner corporal, aparelho que fiscaliza a entrada de drogas e outros objetos com visitantes.
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