Uma jovem, de 20 anos, que estava com ele foi atingida por uma paulada na cabeça. Os suspeitos foram identificados.
Por g1 Vales de Minas Gerais — Água Boa
Um homem, de 29 anos, foi morto a tiros nessa quarta-feira (2), em Água Boa. Dois suspeitos foram identificados, mas nenhum foi detido.
Quem são os brasileiros que querem lutar contra a invasão da
Ucrânia?
Apesar das mortes e dos riscos, brasileiros buscam
informações sobre como lutar contra a Rússia.
TOPO
Por BBC
Alex Silva afirma estar combatendo os russos em uma unidade voluntária nas imediações de Kiev e diz ter sido procurado por brasileiros querendo participar da guerra — Foto: Arquivo pessoal/BBC
A invasão da Rússia à Ucrânia tem atraído atenção de
brasileiros que dizem querer participar do conflito lutando ao lado das forças
de segurança ucranianas.
Na internet, eles buscam informações em grupos no Facebook e
recebem orientações sobre como se alistar usando grupos de WhatsApp e Telegram.
A BBC News Brasil localizou pelo menos um brasileiro que diz
atuar no combate aos russos e que afirma ter sido acionado por outros
brasileiros querendo participar dos embates.
Procurada, a Embaixada da Ucrânia em Brasília confirmou que
vem sendo contatada por cidadãos do Brasil querendo lutar ao lado dos
ucranianos.
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A invasão russa à Ucrânia começou na quinta-feira (24), logo
depois que o presidente Vladimir Putin reconheceu a independência de duas
regiões separatistas na região leste da Ucrânia. Desde então, as principais
cidades do país têm sido alvo de ataques.
Analistas e organizações internacionais avaliam que a
situação na Ucrânia é grave. Do lado russo, há uso de mísseis, bombardeios, e
artilharia pesada. Os ucranianos, por sua vez, se defendem usando lançadores de
mísseis, baterias antiaéreas e ataques com drones.
De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para
Refugiados (Acnur), pelo menos 660 mil pessoas já fugiram do país.
Um relatório divulgado na terça-feira (1/03) pela
Organização das Nações Unidas (ONU) indica que pelo menos 136 civis foram
mortos desde o início da invasão. Desse total, 13 eram crianças. Outros 400
civis ficaram feridos.
O presidente Volodymyr Zelensky disse nesta quarta-feira
(2/02) que aproximadamente 6.000 soldados russos foram mortos durante os
combates. O número não pôde ser verificado de forma independente. O governo
russo, por sua vez, não citou números.
O jornal The New York Times estimou, com base em informações
repassadas por congressistas americanos, que o número de soldados mortos nos
primeiros cinco dias de conflito é de aproximadamente 3.000, sendo 1.500 para
cada lado.
Para efeito de comparação, ainda segundo o jornal, o número de soldados americanos mortos no Afeganistão em 20 anos foi de aproximadamente 2.500.
Interesse nas redes
Grupo no Facebook que reúne brasileiros na Ucrânia registra diversas postagens de brasileiros interessados em participar do conflito ao lado dos ucranianos — Foto: Reprodução
Apesar de todos os riscos, grupos no Facebook e no Telegram
acompanhados pela BBC News Brasil nas últimas duas semanas mostram que a
procura de brasileiros por informações sobre como participar do conflito
existia dias antes da invasão russa.
A procura se intensificou após os primeiros ataques e depois
que o presidente ucraniano, Volodymir Zelensky anunciou, no domingo (27/02), a
criação da Legião Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia, uma unidade
militar formada por estrangeiros que queiram combater os russos no país.
Pelo Twitter, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia,
Dmytro Kuleba, convidou estrangeiros que queiram lutar contra o exército russo.
"Estrangeiros dispostos a defender a Ucrânia e a ordem
mundial como parte da Legião Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia, eu
convido vocês a contatar as missões diplomáticas da Ucrânia em seus respectivos
países", disse Kuleba.
É esse o caminho que alguns brasileiros adotaram nos últimos
dias para buscar informações sobre como participar dos combates.
Procurada pela BBC News, a Embaixada da Ucrânia em Brasília
confirmou que tem sido procurada por brasileiros sobre o assunto, mas disse que
o procedimento tem sido feito diretamente na Ucrânia.
O assunto tem sido tratado pelo adido militar da
representação no país. A embaixada disse não ter conhecimento sobre se
brasileiros já conseguiram se alistar a essa legião internacional.
Não há expectativa de que a embaixada possa organizar o
transporte de brasileiros que querem lutar na Ucrânia.
Fora dos canais oficiais, o caminho usado por brasileiros
que buscam informações sobre como participar do conflito é quase sempre o
mesmo.
Eles demonstram interesse em grupos no Facebook e logo são
orientados por outros usuários a entrarem em grupos de WhatsApp ou Telegram,
onde passam a receber informações mais detalhadas sobre o assunto.
A maioria dos que buscam informações sobre como lutar contra
os russos é composta por homens aparentemente jovens e de estados distintos
como o Maranhão, São Paulo e Paraná.
É no Paraná que se concentra a maior parte dos descendentes
de ucranianos no Brasil, uma comunidade estimada em aproximadamente 500 mil
pessoas.
Nesses grupos, os brasileiros são informados de que,
atualmente, a única forma de chegar à Ucrânia é por via terrestre, partindo de
alguns dos países que fazem fronteira com o país, no Leste Europeu.
Para quem está no Brasil, participar dessa luta implicaria
em viajar à Europa, um trajeto que pode custar, apenas com bilhetes de avião,
mais de R$ 7 mil.
Eles também ficam sabendo da extensa lista de documentos e
certificados como comprovantes de idoneidade que eram exigidos pelo Exército
ucraniano para que estrangeiros fossem aceitos.
'Sede de aventura'
Foi em um grupo de brasileiros na Ucrânia no Facebook que um
homem de 29 anos de idade do interior do Maranhão passou a procurar formas
sobre como participar da luta contra os russos.
Bruno (nome fictício usado a pedido dele) diz que acompanha
a situação da Ucrânia com atenção há alguns meses.
Nas últimas semanas, começou a buscar informações sobre como
poderia se alistar.
Ele diz acreditar que seu treinamento com armas pode ser
útil na Ucrânia, embora reconheça que a situação no país europeu requer mais
condicionamento.
Segundo ele, os principais motivos que o levam a querer ir
para a Ucrânia são a paixão que ele tem por assuntos militares e o que ele
classificou como "sede de aventura".
"Eu sempre gostei do meio militar. No Brasil,
infelizmente, eu não consegui servir ao Exército, mas agora, pretendo me
alistar no exército da Ucrânia. É uma sede de aventura. Quero viver esse
momento ao lado dos ucranianos", disse.
Bruno diz que, nos grupos de WhatsApp e Telegram, entrou em
contato com ucranianos que repassam informações sobre a situação do conflito e
como entrar no país. A comunicação é feita, quase sempre, por meio de
tradutores eletrônicos de idiomas.
Segundo ele, o único empecilho para a sua ida, neste
momento, é o preço das passagens para a Polônia, país que faz fronteira com a
Ucrânia e que tem sido o principal ponto logístico para a organização da legião
autorizada por Zelensky.
"Não dá pra chegar de avião na Ucrânia. Tem que ir até
a Polônia e depois atravessar a fronteira. A única coisa que me parou até o
momento é o preço das passagens. Mas assim que eu tiver, eu vou", afirmou.
Bruno diz que não tem medo de morrer.
"Todo mundo vai morrer um dia. Eu não tenho medo de
morrer lá, no confronto. Tenho só medo de quem vai ficar pra trás, a minha
família", afirmou.
Grupo à espera de entrar
Foi em um grupo de WhatsApp semelhante ao usado por Bruno
que Alexey (nome fictício) passou a estar em contato com brasileiros em busca
de ajuda para ingressar na Ucrânia e participar dos confrontos.
Ele diz ser ucraniano e trabalhar com marketing. Ela afirma
que, como fala diversos idiomas, inclusive português, tem ajudado estrangeiros de
diferentes países que buscam entrar na Ucrânia por terra, uma vez que, desde a
invasão, o espaço aéreo do país está fechado.
Por temer represálias russas, Alexey pediu que sua
localização exata não fosse revelada. Ele diz se encontrar em uma cidade a pouco
mais de 20 quilômetros na fronteira entre a Ucrânia e a Polônia.
Segundo ele, sua ajuda consiste em traduzir informações do
ucraniano ou russo para os outros idiomas e auxiliar estrangeiros que querem
aderir à luta contra os russos.
Alexey conta que, nos últimos dias, tomou conhecimento de um
grupo de pelo menos 14 pessoas entre brasileiros e portugueses, alguns deles na
Polônia aguardando melhores condições de segurança para ingressar no território
ucraniano.
"Tenho conhecimento de um grupo de pessoas,
aproximadamente 14, que demonstraram esse interesse [...] tem algumas pessoas
que chegaram na Europa por Portugal e pela Polônia e estão dependendo de uma
posição do governo sobre nossa legião de estrangeiros", afirmou.
'Isso aqui não é videogame'
Alex Silva, 47, vive na Ucrânia desde 2015 e atua como
instrutor de tiro e treinamentos na área de segurança.
Por telefone, ele disse à BBC News Brasil que está nos
arredores de Kiev lutando ao lado de voluntários ucranianos contra a invasão
russa.
Ele pediu para não revelar sua localização exata para não
comprometer a segurança de sua unidade.
Em 2020, ele se envolveu em um episódio controverso em São
Paulo durante manifestações contra as medidas de isolamento social.
Ele levou ao protesto uma bandeira histórica da Ucrânia que,
nos últimos anos, passou a ser associada a movimentos de extrema-direita.
Silva afirma não ser militante de grupos extremistas. Na
ocasião, a Embaixada da Ucrânia no Brasil negou que a bandeira pertencesse a
grupos radicais.
Ele mantém um canal no Telegram com mais de 18 mil
inscritos. Nele, o instrutor faz críticas a políticos, incluindo o presidente
Jair Bolsonaro, à obrigatoriedade da vacinação contra a covid-19 e ao Supremo
Tribunal Federal (STF).
Nos últimos dias, o repertório do grupo mudou à medida em
que a invasão russa avançou.
Na segunda-feira (28/02), seu canal passou a ser procurado
por pessoas querendo lutar contra os russos. Isso aconteceu depois que um vídeo
gravado por ele circulou em grupos no Facebook.
No vídeo, Silva aparece empunhando um fuzil, mascarado,
oferecendo ajuda a brasileiros que queiram deixar a Ucrânia. Segundo ele, sua
unidade teria condições de ajudar na evacuação de quem queira deixar a área
próxima a Kiev.
"Eu não escolhi participar dessa guerra. Eu vivia com
minha família, aqui, tranquilamente. Eu, minha mulher e meus cachorros. Mas com
essa invasão, não tem como ficar quieto assistindo tudo. Por isso me juntei aos
voluntários", disse Silva à BBC News Brasil.
Ele afirma que tem sido procurado por brasileiros querendo
saber como participar dos combates.
"Eu recebi, sim, várias mensagens de gente querendo vir
pra cá. Mas eu não estou aliciando ninguém. Tem gente empolgada, que claramente
não aguentaria cinco minutos na linha de frente. Mas também tem muitos
ex-militares que já têm experiência com armas e treinamento e que querem
ajudar", explicou.
Aparentando cansaço, Silva alertou os interessados em
participar dos combates que a situação é grave e as condições são perigosas.
"Isso aqui não é videogame, não. A gente nunca sabe
quando vai cair um míssil e matar todo mundo. Quem quiser ajudar, não precisa
fazer isso só vindo aqui. As pessoas podem fazer doações de roupas, alimentos,
dinheiro", explicou.
O perfil de brasileiros que dizem querer lutar contra os
russos, descrito por Silva, é semelhante ao visto por Jonas (nome fictício).
Ele mantém um perfil no Facebook e, há algumas semanas,
fornece informações a brasileiros que querem combater ao lado dos ucranianos.
Jonas diz morar na Bélgica há quase 10 anos, mas afirma ter
carinho pelo povo ucraniano. Por isso, ele redireciona usuários em busca de
informações sobre o combate para outros perfis ou grupos que tratam
especificamente do assunto.
"Nos últimos meses, a procura aumentou. Tem gente de
todo perfil. A maioria é homem que tem afinidade com assuntos militares. Alguns
estão em busca de uma aventura, outros estão buscando dinheiro ou a
possibilidade de continuar na Europa após tudo isso acabar", disse.
Esta, no entanto, não é a primeira vez que as batalhas entre
ucranianos e forças pró-Rússia atraem brasileiros. Em 2018, Rafael Marques
Lusvarghi foi preso na capital Kiev sob a acusação de terrorismo.
Entre 2014 e 2015, ele lutou ao lado de separatistas pró-Rússia.
Lusvarghi deu várias entrevistas defendendo os separatistas na época.
Em 2019, ele fez foi liberado pelas autoridades ucranianas
durante uma troca de prisioneiros com forças separatistas. À época, ele teria
decidido permanecer na Rússia, para onde ele foi enviado.
De volta ao Brasil, Lusvarghi foi preso por suspeita de
tráfico de drogas em Presidente Prudente, no interior de São Paulo.
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