28/05/2018em África e sua diásporaTempo de leitura: 3 mins
read
3.8k430840
Mamoudou Gassama salvou uma criança de quatro anos de cair
de uma varanda, ao escalar a pulso quatro andares no norte de Paris. O ato
heroico do jovem de 22 anos, um “sem papéis” vindo do Mali, valeu-lhe um
encontro com o Presidente francês, a regularização, a hipótese de ter cidadania
francesa e um lugar nos bombeiros.
no RPT
Vídeos
ArtigosRelacionados
Foto: Divulgação/ Netflix
‘Afrofuturo’, ‘Vidas Negras’ e ‘Ficções Selvagens’ valorizam
negritude ao sair da mesmice
11/01/2021
“Não pensei em mais nada, pensei em salvá-lo e graças a
Deus, salvei-o”. As palavra são de Mamoudou Gassama, em entrevista à BFMTV. Uma
forma simples de descrever o que milhares chamam de ato heroico deste jovem.
Gassama parou junto a um edifício onde uma pequena multidão
de pessoas se aglomerava porque no quarto andar do edifício estava uma criança
pendurada numa varanda, prestes a cair. Eram 20h00 de sábado.
Thibault Camus/Pool via Reuters
Mamoudou apressou-se a fazer o que poucos teriam imaginado
fazer: subiu quatro andares, pelo exterior do edifício, saltando de varanda em
varanda, a pulso. Conseguiu chegar ao menino de quatro anos e salvá-lo. O
vídeo, capturado por alguém na multidão, tornou-se viral nas redes sociais.
“Quando o agarrei nos meus braços, perguntei-lhe porque
estava ali pendurado, mas ele não me respondeu”, disse Mamoudou.
French
President Emmanuel Macron (L) meets with Mamoudou Gassama, 22, from Mali, at
the Elysee Palace in Paris, France, May 28, 2018. Mamoudou Gassama living
illegally in France is being honored by Macron for scaling an apartment
building over the weekend to save a 4-year-old child dangling from a
fifth-floor balcony. Thibault Camus/Pool via Reuters – RC17E8529380
O ato valeu-lhe mais do que um aplauso nas redes sociais.
Esta segunda-feira foi chamado ao Eliseu, para se encontrar com o Presidente
francês. Emmanuel Macron fez o que a associação SOS Racismo e uma petição
online com mais de cinco mil assinaturas já pedia: anunciou que vai regularizar
a sua situação no país e garantiu que os bombeiros de Paris já têm uma vaga
para o acolher nos seus serviços. Macron convidou-o igualmente a apresentar um
pedido de naturalização em França, o que Mamoudou aceitou.
Mamoudou contou a Macron como salvou o menino. Confessou
que, depois de já ter a criança nos braços, aí começou a tremer, enquanto a
criança chorava em estado de choque.
“É um ato excecional, um ato heroico. Eu gostaria que
pudéssemos tomar uma decisão igualmente excecional por si”, disse o presidente
a Mamoudou, visivelmente emocionado. Macron frisou tratar-se de uma exceção, já
que se trata de um migrante que não pediu asilo, não poderia ser regularizado.
“Não podemos dar documentação a todos os que chegam do Mali,
do Burkina. Quando estão em perigo, concedemos asilo, mas não por razões
económicas”, acrescentou. “Mas no que lhe diz respeito, você fez qualquer coisa
de excecional. Mesmo que não tenha refletido sobre isso, é um ato de coragem e
de força que provocou a admiração de todos”, disse o Presidente.
Gassama não escondeu a emoção. “Fico feliz porque é a
primeira vez que ganho um troféu”, confessou. O troféu? Um diploma e uma
medalha “pelo ato de coragem” que recompensa “todos aqueles que, com perigo de
vida, vão socorrer uma ou mais pessoas em risco de morte”.
Desde domingo que a história enche os jornais franceses e
não só. Até mesmo o vice-presidente da Frente Nacional, partido da
extrema-direita, Nicolas Bay, disse estar de acordo com a regularização do
jovem indocumentado, “devido ao seu ato de bravura”. O porta-voz do Governo
exaltou o ato, “fiel aos valores da solidariedade da nossa República”. Ainda
este domingo, a presidente da Câmara de Paris tinha elogiado a conduta do
jovem.
Anne Hidalgo falou com Mamoudou. “Ele contou-me que chegou
do Mali há poucos meses, sonhando construir aqui a sua vida. Eu respondi-lhe
que o seu gesto heroico é um exemplo para todos os cidadãos e que a cidade de
Paris vai apoiá-lo nos passos para se estabelecer em França”, acrescentou.
De acordo com a imprensa francesa, que cita fontes
judiciais, o pai do menino, um homem nascido em 1981 e sem antecedentes
criminais, terá sido detido para interrogatório por ter deixado o filho sem
vigilância. A criança de quatro anos terá sido acolhida numa instituição. A mãe
não estaria em Paris à altura dos factos.
Iniciativas isoladas garantem ensino da história e cultura da África
https://www.geledes.org.br/heroi-do-mali-que-salvou-crianca-vai-receber-nacionalidade-francesa/
Nenhum comentário:
Postar um comentário