quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Empresário preso pela PF usou familiares para lavar dinheiro de mineradora investigada por garimpo ilegal, aponta investigação

 No esquema, Matheus Possebon teria recebido mais de R$ 1,18 milhão da mineradora. Empresário nega as acusações e chamou a prisão de "violência". Operação Disco de Ouro também mirou garimpeiros.

Por Samantha Rufino, g1 RR — Boa Vista 

06/12/2023 

Matheus Possebon foi preso pela PF de Santos após desembarcar do cruzeiro temático de Alexandre Pires — Foto: Reprodução/Redes sociais 

Investigação da Polícia Federal (PF) aponta que o empresário Matheus Possebon, que gerencia a carreira do cantor Alexandre Pires, usou familiares para lavar dinheiro da empresa Betser, investigada por suspeita de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. O empresário negou as acusações e chamou a prisão de "violência". 

A apuração da PF resultou na operação Disco de Ouro, que também teve como alvo Alexandre Pires. Possebon e o dono da Betser, Christian Costa dos Santos, foram presos. O cantor teve o celular apreendido e responde em liberdade. 

Nas investigações, a PF identificou três núcleos: financeiro, logístico e laranjas. Possebon foi identificado como suspeito de integrar o núcleo financeiro. Ele também foi apontado como sócio oculto da Betser. 

As buscas da operação foram no navio em que o cantor estava, em Santos, litoral de São Paulo, na segunda-feira (4). O empresário foi preso no navio. 

No esquema, ele teria recebido mais de R$ 1,18 milhão da mineradora. Familiares dele também teriam recebido valores. Segundo a PF, foram beneficiados no esquema os seguintes familiares de Possebon:

 

Irmão e nora - R$ 435 mil;

Primo - R$ 86.500 mil;

Irmã - R$ 30 mil;

Cunhado - R$ 7 mil.

Além disso, o contador do empresário recebeu R$ 10 mil da empresa. A PF apontou que Christian dos Santos atuava como "sócio ostensivo" e Possebon como "sócio oculto" da Betser. Segundo a PF, juntos, eles "retiraram quantidades altas de minério e lavando milhões de reais". 

"Evidenciando-se que a prática de crimes é a principal fonte de renda (R$ 127.723.673,75, dos quais R$ 95.393.798,75 são provenientes da Betser de Roraima nos anos 2021 e 2022), com o intuito de integrar o patrimônio milionário, com aparência lícita, ao Sistema Financeiro Nacional", cita trecho da decisão. 

Possebon disse que a prisão "é uma violência" e foi "decretada por conta de uma única transação financeira com uma empresa que ele não mantém qualquer relação comercial". 

O cantor Alexandre Pires é investigado por ter recebido R$ 1.382.000 da mineradora. Do total, o cantor recebeu R$ 357 mil em uma conta pessoal e mais R$ 1.025.000 em uma conta jurídica. 

As investigações apontam que a empresa dele transferiu R$ 160 mil para um dos investigados, um indício de que o cantor ignorou a origem do dinheiro e assumiu o risco de ser proveniente de origem criminosa, segundo a Polícia Federal. O cantor nega as acusações. 

Dinâmica

Operação Disco de Ouro mira garimpeiros, empresários e até um cantor nacional. — Foto: PF/Divulgação

 O inquérito policial indica que o esquema seria voltado para a “lavagem” de cassiterita retirada ilegalmente da TIY, no qual o minério seria declarado como originário de um garimpo regular no Rio Tapajós, em Itaituba, no Pará, e supostamente transportado para Roraima para tratamento. 

Cassiterita é um metal usado para produzir ligas como as folhas de flandres, utilizadas na fabricação de latas de alimentos, no acabamento de carros, na fabricação de vidros e até na tela dos celulares. As investigações apontam que a dinâmica ocorreria apenas no papel, já que o minério seria originário do próprio estado de Roraima. 

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Foram identificadas transações financeiras que relacionariam toda a cadeia produtiva do esquema, com a presença de pilotos de aeronaves, postos de combustíveis, lojas de máquinas e equipamentos para mineração e laranjas para encobrir movimentações fraudulentas.

 

Operação Disco de Ouro

A Operação foi deflagrada nessa segunda-feira (4). Foram cumpridos dois mandados de prisão e seis de busca e apreensão, expedidos pela 4ª Vara Federal da Seção Judiciária de Roraima, em Boa Vista e Mucajaí, em Roraima, além de São Paulo e Santos (SP), Santarém (PA), Uberlândia (MG) e Itapema (SC). Também foi determinado o sequestro de mais de R$ 130 millhões dos suspeitos. 

A operação é um desdobramento de uma ação da PF deflagrada em janeiro de 2022, quando foram apreendidas 30 toneladas de cassiterita extraída da Terra Indígena Yanomami. O minério estava no depósito da sede de uma empresa investigada era preparado para remessa ao exterior. 

As investigações seguem em andamento. 


Agente da Polícia Federal durante a operação Disco de Ouro. — Foto: PF/Divulgação

 Leia outras notícias do estado no g1 Roraima. 

https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2023/12/06/empresario-preso-pela-pf-usou-familiares-para-lavar-dinheiro-de-mineradora-investigada-por-garimpo-ilegal-aponta-investigacao.ghtml

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