domingo, 4 de dezembro de 2022

Capixabas são condenados a 37 anos de prisão pelo assassinato de brasileira nos EUA

Thiago Philipe recebeu uma pena total de 37 anos e três meses de reclusão. Já Wenderson Júnior Dalbem Silva foi condenado a 37 anos, 7 meses e 15 dias de reclusão. Corpo de Ana Paula Feitosa dos Santos Braga nunca foi encontrado

Thiago Philipe Souza Bragança e Wendersonl Júnior Dalbem Silva confessaram assassinato de Ana Paula Braga
Thiago Philipe Souza Bragança e Wendersonl Júnior Dalbem Silva confessaram assassinato de Ana Paula Braga. (Arte A Gazeta)

Publicado em 11 de novembro de 2022 às 05:53

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Após quase 17 horas de julgamento, os dois capixabas acusados de matar uma brasileira nos Estados Unidos em 2020 foram condenados na madrugada desta sexta-feira (11) a 37 anos de prisão em regime fechado. A sentença começou a ser lida às 2h26 desta sexta-feira (11). No plenário estavam a mãe da vítima e as dos réus, cada uma com a sua dor.

Thiago Philipe de Souza Bragança, o Lipinho, recebeu uma pena total de 37 anos e três meses de reclusão. Já Wenderson Júnior Dalbem Silva, mais conhecido como Júnior ou Negão, foi condenado a 37 anos, 7 meses e 15 dias de reclusão.

Pela sentença, eles foram condenados por homicídio com três qualificadoras (motivo fútil, asfixia e recurso que impossibilitou a defesa da vítima); ocultação de cadáver; e furto do carro, celular e dinheiro da vítima, com duas qualificadoras, que foi abuso de confiança e concurso de pessoas (os dois agiram juntos).

Os jurados, que se reuniram por 54 minutos, concluíram que eles assassinaram Ana Paula Feitosa dos Santos Braga, de 24 anos, no dia 30 de janeiro de 2020. Ela foi morta na casa que havia acabado de alugar em Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos. A vítima foi morta por asfixia, com o uso de um cinto e de um fio elétrico.

Thiago e Wenderson ouviram a leitura da sentença em pé e já estavam com o uniforme do sistema prisional capixaba - bermuda e camisa azul. Wenderson permaneceu de cabeça baixa durante toda a leitura do documento. Antes de deixar o plenário, acompanhado pelos policiais penais, ele ouviu da mãe: “Eu te amo, meu filho”. E fez questão de responder o mesmo para ela.

O julgamento começou às 9h45 de quinta-feira (10) e foi encerrado às 2h26 de sexta-feira (11), quando a sentença, com 20 páginas, foi lida.

Mãe aliviada

Ao final do julgamento, a mãe de Ana Paula disse que estava “aliviada”. “Queria que a pena fosse maior, mas estou satisfeita com o julgamento, Tomara que fiquem na cadeia por um bom tempo”, desabafou.

Ela sabe que não poderá enterrar o corpo da filha, que nunca foi encontrado, mas está confiante de que os condenados vão pagar pelo crime. “Foi um grande alívio”, desabafou.

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O que diz o MPES

Para os promotores do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), as provas foram essenciais para a condenação. “A conclusão deste júri nada mais é do que a comprovação da sabedoria dos jurados aliada ao excelente trabalho da polícia americana e das polícias federal, civil e militar no Brasil”, destacou o promotor Leonardo Augusto de Andrade Cezar dos Santos.

Mas eles pretendem recorrer contra a sentença, pedindo que seja ampliada a pena de furto. “Em princípio, achamos a pena razoável, mas houve recurso da pena de furto, para tentarmos aumentar a pena total, por se tratar de um crime brutal, praticado com frieza”, destacou o promotor Bruno de Oliveira.

Oliveira lembrou que Ana foi tratada com total desprezo. “Eles trataram com desprezo a vítima, festejando a prática o crime em churrascos, e disseminando a imagem da vítima com a vida ceifada, embrulhada e isto foi muito chocante”, disse Oliveira.

Ana Paula Feitosa dos Santos Braga, mais conhecida como Ana Paula Braga, assassinada nos EUA
Ana Paula Feitosa dos Santos Braga, mais conhecida como Ana Paula Braga, assassinada nos EUA. (Reprodução/Instagram)

Leonardo observou ainda que o objetivo dos condenados fugirem para o Brasil é porque na Califórnia a pena mínima para eles seria de 25 anos em regime fechado. Depois passaria por uma equipe que analisaria se teria ou não condições de progredir. “No Brasil a pena dada hoje, se levarmos em consideração que foi crime hediondo, não ficarão por mais de 14 anos na cadeia”.

“O arrependimento deles foi de terem sido pegos, não do homicídio praticado, mas de não terem conseguido esconder as provas para ficarem impunes”, observou Leonardo.

Advogados recorrem

Logo após a leitura da sentença, o advogado Marcos Farizel, que faz a defesa de Thiago, manifestou sua intenção de fazer um recurso contra o total da pena aplicada ao réu, visando uma redução do tempo estipulado.

“Discordamos da dosimetria da pena. Por ser réu primário, acreditamos que seria aplicado a ele o mínimo legal, mas não foi o que ocorreu. Vamos recorrer”, informou.

Ao seu lado, o advogado Wagner Batista Campanha, responsável pela defesa de Wenderson. Adiantou que a defesa não está satisfeita com a condenação.

“Já apresentamos um recurso para tentar a absolvição e, se de tudo não der certo, vamos tentar a redução da pena para um patamar mínimo”, explicou.

Crime sem corpo

O corpo de Ana nunca foi encontrado. Os condenados relataram que jogaram o corpo da vítima, enrolado em um edredom, em uma caçamba de lixo. Segundo as investigações, o material foi direcionado a um aterro e após dias de acúmulo de lixo, compactado por máquinas, foi impossível localizá-lo.

Contradições e brigas

O interrogatório dos dois capixabas foi marcado por muitas contradições. Eles apresentaram versões diferentes ao narrarem o crime, e cada um deles optou por transferir a culpa pelo assassinato para o outro.

As diferenças foram constatadas não só em relação aos depoimentos prestados durante a tarde desta quinta-feira (10), mas também em relação a outros depoimentos prestados à polícia e ao próprio Juizado da Primeira Vara Criminal de Vitória durante a fase de instrução.

As diferentes versões do crime motivaram até mesmo uma briga entre os réus quando eles chegaram ao Fórum Criminal de Vitória, logo após descerem da viatura da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus) estacionou no fórum.

Wenderson relatou, durante seu interrogatório, que Thiago queria que ele mudasse a sua versão do crime, assumindo a autoria, o que ele negou. Os dois ficaram nervosos e o policial penal precisou fazer uma intervenção para separá-los.

Em vídeos e áudios dos próprios réus, enviados para os familiares quando estavam fugindo e obtidos nas investigações, eles relatam momentos do crime e chegam a falar que tinham matado a Ana.

Ana Paula Feitosa dos Santos Braga, mais conhecida como Ana Paula Braga, assassinada nos EUA
Ana Paula Feitosa dos Santos Braga, mais conhecida como Ana Paula Braga, assassinada nos EUA. (Reprodução/Instagram )

Investigação internacional

Dois americanos - um policial de Los Angeles e um agente do FBI - relataram aos jurados como foram realizadas as investigações sobre o crime nos Estados Unidos. Um dos pontos apurados é que os dois capixabas percorreram cinco estados americano até a fronteira com o México, em um trajeto de 3.400 quilômetros, para fugirem após o crime.

Pelo caminho foram deixando rastros digitais, com o uso de celulares e o envio de áudios e vídeos para familiares, com o objetivo de obter dinheiro para a fuga. No caminho, ameaçaram e extorquiram parentes, que os denunciaram à polícia.

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Uma das análises apresentadas pelos americanos foi o rastreio dos celulares de Ana e de um dos acusados, que permitiu traçar a rota que fizeram pelo país até a fronteira com o México.

Também foi revelado que as investigações feitas no apartamento da Ana, a perícia de Los Angeles encontrou sangue em três locais: uma mancha no chão da sala, que pelo teste apontou ter 91% do sexo feminino e 9% do sexo masculino. Encontraram ainda uma faca, onde 91% do sangue era do sexo feminino, 2% do sexo masculino. E ainda no interruptor, que era masculino. O exame foi feito para identificar a presença de sangue nestes locais.

Crime e fuga

Ana foi morta no dia 30 de janeiro de 2020. Dias antes ela tinha hospedado, por uns dias, em sua casa, os capixabas Thiago e Wenderson. No final do mesmo mês, eles tiveram um desentendimento e a jovem foi morta por asfixia, com o uso de um cinto e fio elétrico em sua casa, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

O corpo de Ana Paula foi enrolado em um edredom. Os acusados pelo crime ainda filmaram a cena. Nas imagens Thiago informa: “Já está embrulhado já… Negão tem que limpar este sangue aqui”. Negão é o apelido de Wenderson.

Em outro vídeo Thiago está com o telefone da vítima e relata: “Eu matei ela e ainda estou com o telefone da mulher. Peraí… vamos nas fotos aqui…”

Neste último vídeo Thiago aparece usando um tênis vermelho, o mesmo calçado foi identificado pelo agente da Polícia Federal Mário Freitas no Brasil. “Recebemos informações de que ele estaria em Cariacica. Fomos investigar para obter um mandado de prisão, e no dia ele usava o mesmo tênis vermelho”, relata. Dias depois os jovens foram presos.

Segundo as investigações, após o crime, Thiago e Wenderson fugiram com o carro de Ana Paula, de Los Angeles para a cidade de Desert Hot Springs, ambas na Califórnia. O corpo da jovem foi levado no porta-malas e jogado na lixeira de um cassino.

De lá a dupla seguiu para Oklahoma, onde abandonaram o carro. Seguiram para Houston, no Texas, onde pediram mais dinheiro aos parentes.

“Tô na rodoviária, o resto de dinheiro que eu tinha, eu comprei a passagem e só dá para chegar até Houston”, disse Thiago.

Na sequência foram para a capital do México, onde se hospedaram em um hotel até Wenderson, que estava sem o passaporte, conseguir uma autorização da embaixada local para viajar. Na cidade eles gravaram um novo vídeo para os familiares, no hotel onde estavam hospedados.

“Aproveitar a suíte presidencial, à vista, pedir uma cervejinha, ali tem o bar dos arrombados, só marcar que nós tá brotando”. As imagens mostram o local sendo descrito por Thiago, com a voz de Wenderson falando sobre o bar.

Do México vieram para o Brasil. Chegaram em Vitória oito dias após o crime. Foram para o interior do Espírito Santo, em Barra de São Francisco, e depois para Cariacica, onde foram presos em 23 de fevereiro de 2020.

https://www.agazeta.com.br/es/cotidiano/capixabas-sao-condenados-a-37-anos-de-prisao-pelo-assassinato-de-brasileira-nos-eua-1122

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