Anotações foram encontradas no aparelho da delegada da Polícia Federal, Marília Ferreira. Texto foi escrito em primeira pessoa e está em posse da CPI dos Atos Golpistas.
Por Vinícius Cassela, Isabela Camargo, g1 e TV Globo — Brasília
06/10/2023
Anotação encontrada no celular da delegada da Polícia
Federal, Marília Ferreira, ex-secretária de Anderson Torres, citam pressão para
relacionar o PT às facções criminosas e o Nordeste à compra de voto nas
eleições de 2022.
O documento faz parte da quebra do sigilo telemático da
ex-secretária e está em posse da CPI dos Atos Golpistas de 8 de janeiro, sob
sigilo. Ele foi revelado, inicialmente, pela Folha de S. Paulo e obtido também
pelo g1.
O texto, sem autoria definida, está em primeiro pessoa e foi
modificado pela última vez no em 17 de agosto de 2023, uma semana antes do
requerimento de quebra de sigilo do celular de Marília ser aprovado pela CPI
dos Atos Golpistas.
Em determinado trecho da nota, há o relato sobre pressão dentro do Ministério da Justiça, comandado à época por Anderson Torres, para relacionar o partido do presidente Lula com facções criminosas, mesmo não havendo "comprovação".
Anderson Torres presta depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos, na Câmara Legislativa do Distrito Federal
"Havia uma certa pressão para que eu fizesse um
relatório que indicasse a relação do PT com facções criminosas, mesmo não
havendo 'comprovação'".
"Havia uma certa pressão para que eu fizesse um
relatório que indicasse a relação do PT com facções criminosas, pois havia
alguns indicativos disso, mas não fizemos porque não havia comprovação",
afirma o texto.
Em seguida, o texto fala sobre uma "preocupação do
ministro com o Nordeste", que teve maioria dos votos das eleições de 2022
favoráveis a Lula e foi alvo de um massivo movimento de fiscalizações em
rodovias, por parte da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Segundo o texto, entre o primeiro e o segundo turno teria
acontecido uma reunião no Ministério da Justiça para que Marília apresentasse
dados que justificassem o aumento das fiscalizações na região.
"Nessa reunião o Márcio perguntou se havia relatório de
inteligência sobre isso, eu disse que ia tentar ver se conseguíamos demonstrar
o incremento de crimes eleitorais para que houvesse justificativa de aumento de
efetivo em relação ao segundo turno. Porém, conversei com o Tomás e concluímos
que não havia esse incremento, em números de registros, flagrantes etc",
afirmou Marília.
Por fim, o texto indica que Marília ajudou a definir alguns
dos locais em que ocorreram operações de fiscalização no segundo turno.
"Eu comentei sobre alguns lugares em que o Lula havia
ganhado e que precisava ser reforçada [fiscalização], diante da existência de
informes de compra de votos nesses locais e da preocupação sempre externada
pelo Ministro", finalizou.
Ela também cita que Torres se preocupava "muito com a
Bahia", por ter entendido que havia "pouca distribuição" de
equipes de fiscalização no interior do estado.
Torres também teria questionado Marília se ela havia feito
levantamento demonstrando aumento de crimes eleitorais no 1º turno em relação a
outras eleições, mas ela afirmou que não conseguiu "demonstrar com os
cruzamentos realizados" um possível aumento nos índices.
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