O ortopedista que sobreviveu a 14 tiros gravou um vídeo no hospital: ‘Pessoal, eu estou bem, viu? Está tudo tranquilo, graças a Deus’, disse Daniel Proença, de 32 anos.
Por Jornal Nacional
06/10/2023
Polícia encontra corpos de quatro suspeitos de assassinar
três médicos no Rio
A Polícia encontrou, ontem à noite, os corpos de quatro
suspeitos de terem assassinado três médicos no Rio. A principal linha de
investigação é de que traficantes tenham confundido os médicos com milicianos.
Daniel Proença, de 32 anos, é o único sobrevivente do ataque
contra os médicos. Ele ainda se recupera no hospital dos 14 tiros que levou.
Nesta sexta-feira (6), divulgou um vídeo nas redes sociais.
“Pessoal, eu estou bem, viu? Está tudo tranquilo, graças a
Deus. Só algumas fraturas, mas vai dar certo. A gente vai sair dessa juntos,
tá? Valeu pela preocupação. Obrigado”, diz o médico.
As famílias das outras vítimas passaram o dia se despedindo.
Em Ipiaú, na Bahia, parentes e amigos prestaram homenagens ao médico Perseu
Ribeiro de Almeida, de 33 anos. O corpo de Marcos de Andrade Corsato, de 62,
está em São Paulo. O velório é neste sábado (7).
O adeus ao médico Diego Ralf Bomfim, de 35 anos, está sendo
em Presidente Prudente, cidade onde ele nasceu, no interior paulista. Diego é
irmão da deputada federal Sâmia Bomfim e cunhado do deputado federal Glauber
Braga, os dois do PSOL.
“Nós, da família, vamos pedir, através dos nossos advogados, acesso aos dados do inquérito, conforme a lei nos possibilita, para que a gente possa ter acesso às informações e acompanhar de perto todas as linhas e possibilidades de investigação ”, disse Sâmia Bomfim.
Saiba mais
Os três médicos foram executados em 25 segundos por
bandidos, que desceram de um carro e dispararam pelo menos 33 tiros. O crime
bárbaro foi em uma das avenidas mais importantes da Barra da Tijuca, o quiosque
em frente ao hotel onde eles participariam de um congresso internacional de
ortopedia.
Os suspeitos de serem os assassinos dos médicos também foram
executados - 17 horas depois do crime.
No absurdo da violência do Rio de Janeiro, os chefes dos
traficantes decidiram punir os bandidos porque eles cometeram um erro que
estava tendo muita repercussão: mataram três inocentes e deixaram um ferido,
depois de confundir um deles com um miliciano que estava jurado de morte.
O absurdo aumenta quando fontes ouvidas pelo Jornal Nacional
afirmam que a decisão de matar os assassinos foi tomada numa videoconferência
entre chefes dessa quadrilha, inclusive os que estão presos do Complexo
Penitenciário de Bangu. Na manhã desta sexta-feira (6), uma operação apreendeu
22 celulares dentro do presídio.
Com a ajuda de informantes, investigadores encontraram os
corpos de quatro homens em dois carros ainda na noite de quinta-feira (5) na
Zona Oeste do Rio. Um deles seria o homem que autorizou o grupo a matar o
miliciano. A Polícia Civil já monitorava a ação desse grupo criminoso e
considera que a execução dos bandidos reforça a principal linha de investigação
de que os médicos foram mortos por engano.
Mas como o Estado encara uma realidade bárbara que é comum
nas comunidades do Rio de Janeiro: traficantes que escolhem quem e quando vão
matar?
“O Estado não se abala em absolutamente nada, porque eles
resolveram punir os seus. É óbvio que eles sabiam já quem eram. A gente estava
no processo de investigação. Eles já sabiam quem tinha sido e foram na frente
para punir eles. Então, tem que ver se foram todos, se tinha mais gente que não
estava ali naqueles envolvidos. Enfim, a investigação não muda em absolutamente
nada”, afirma o governado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, governador do Rio.
Há mais de três décadas, os moradores do Rio de Janeiro
convivem com a disputa brutal de territórios entre grupos criminosos rivais. O
nível de violência que afeta diariamente as favelas e tem reflexo em toda a
cidade só aumenta.
“A gente só vai conseguir enfrentar organizações criminosas
que são interestaduais, cada vez mais nacionalizadas, algumas delas
transnacionais, se nós juntarmos as nossas mãos. Não só o poder público, não só
o executivo federal, estadual, municipal, mas também o Poder Judiciário, o
Poder Legislativo e a sociedade civil”, diz o secretário-executivo do
Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli.
Os três médicos se juntam a outras vítimas inocentes de uma
guerra que até hoje nenhuma politica de segurança pública conseguiu impedir.
Pela investigação, eles morreram por um erro. E no cotidiano do Rio, quantos
são os erros que jamais terão reparação?
Nenhum comentário:
Postar um comentário