A Polícia Civil investiga a participação de três policiais militares no homicídio de um adolescente, de 13 anos, encontrado morto em uma praça no Bairro Raul José Pereira, no dia nove de março. De acordo com a Delegacia de Homicídios, testemunhas que estiveram com o adolescente antes do crime afirmam que a vítima fugiu da abordagem dos militares, e em seguida, após ouvirem tiros de arma de fogo, o adolescente foi encontrado por moradores, sem vida.
Para o delegado, os militares informaram que estavam em patrulhamento no bairro, conhecido pelo intenso movimento de tráfico de drogas, quando, durante uma campana, um dos policiais foi surpreendido por homens em uma moto, que não obedeceram à abordagem. Em seguida, o PM atirou em direção ao chão até a chegada dos colegas. Os laudos periciais e as oitivas ainda não foram concluídos. O prazo para o término do inquérito é de trinta dias, mas deve ser prorrogado.
De acordo com o delegado responsável pelo caso, Bruno Rezende, há controvérsias nas versões das testemunhas e dos policiais. “As primeiras informações levantadas no dia do crime foram de que a morte do adolescente aconteceu em função de uma lesão provocada por faca, com suspeição de autoria por pessoas do próprio bairro. Mas, mediante o relatório da necropsia – houve a exumação do corpo quatro dias depois da morte – chegou-se a conclusão que o adolescente foi atingido por um disparo de arma de fogo. Com essa nova informação, investigadores e perícia voltaram ao cenário da morte e refizeram os trabalhos, recolhendo duas cápsulas e constatando marcas de tiros em um portão”, explica.
Corpo foi encontrado em praça (Foto: Polícia Militar/Divulgação)
Dinâmica, Motivação e Crime
Segundo as investigações da Polícia Civil, o adolescente foi abordado por três vezes, na mesma madrugada. Ele estava acompanhado de outras pessoas em local conhecido pelo intenso movimento de drogas. Não há testemunhas presenciais do momento do crime. A Polícia Civil trabalha com informações das testemunhas, dos investigados e aguarda o resultado do exame de micro comparação balística e de outros laudos.
“O projétil retirado do corpo da vítima e as cápsulas encontradas próximas a um portão já foram encaminhados para exames em Belo Horizonte. Já se sabe que as cápsulas são de carga da PM. A gente aguarda o exame que irá dizer se o projétil retirado do corpo é das armas dos policiais; mesmo que não tenha o resultado – por questões técnicas – as demais provas não são invalidadas. Não há motivação definida do crime, mas, se confirmada a autoria por policial militar, ele responderá por homicídio”, explica o delegado.
Circuitos
Há vestígios de sangue a um quilômetro da praça. A Polícia Civil acredita que, depois de atingido, o adolescente se escondeu em algum lugar e que, possivelmente, foi socorrido por um motociclista.
“Ainda estamos investigando esta situação. Temos um vídeo de pouca nitidez que mostra uma moto passando na praça e parando. Pode ser que alguém tenha tentado socorrê-lo e ele desfaleceu ali, e a pessoa não quis se envolver na situação de crime ou, pode ser também, que alguém tenha passado pela praça e visto o corpo, o que não é incomum. Outro vídeo mostra a viatura passando pela região. Segundo os militares, após o disparo de tiros, eles procuraram pelos homens em atitude suspeita na moto e, como não encontraram, encerraram o turno sem comunicação do fato”.
Investigados
A viatura que os militares trabalharam no dia passou por perícia e as armas dos três militares foram apreendidas. Em nota, a Polícia Militar informou que assim que o comando tomou conhecimento do fato foi instaurado um inquérito militar. Disse também que, como o inquérito está em curso, a Polícia Militar não pode se posicionar até a conclusão dos fatos. Os militares investigados cumprem escala interna.
Família
Segundo o pai, o adolescente estava passando férias na casa da mãe e ficou de voltar para a casa dele em função do retorno das aulas, mas não voltou. No dia do crime, o pai disse que o filho estava começando a se envolver com pessoas ligadas ao tráfico. Nesta quarta-feira (29), após a coletiva da Polícia Civil, ele desabafou.
“Eu não vou sossegar enquanto os culpados não responderem por isso. Eu perdoo quem fez isso com meu filho, mas a pessoa tem de pagar pelo erro. Ele tinha 13 anos e, independente se ele tinha ou não envolvimento com o crime, a vida dele foi ceifada de maneira covarde. Não é fácil. Deus está comigo”, desabafa.
(Fonte: G1 Grande Minas/Juliana Peixoto)
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