segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Mãos do Vale movimenta mais de 300 mil em negócios

 Primeira edição da Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha reuniu artesãos e lojistas em Diamantina

Vale do Jequitinhonha: Cultura e Desenvolvimento by Polo Jequitinhonha UFMG  - issuu

A primeira edição da Mãos do Vale – Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha, que aconteceu de 19 a 21 de setembro, em Diamantina, movimentou cerca de R$ 311 mil em negócios. O evento teve como principal objetivo dar visibilidade ao artesanato do Vale do Jequitinhonha, a fim de ampliar o trabalho dos artesãos a partir do acesso a novos mercados. A feira foi marcada pelo sucesso nas vendas e se consolida como uma importante vitrine para o artesanato local. A Mãos do Vale é uma realização do Sebrae Minas, em parceria com os projetos Investe Turismo e Brasil Original, com o apoio do Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Diretoria de Artesanato e do Instituto de Desenvolvimento Norte e Nordeste de Minas Gerais (IDENE).


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“O Sebrae sempre leva o artesanato mineiro, incluindo o do Vale do Jequitinhonha, a outros lugares do país, mas ainda faltava trazer as pessoas para conhecer, pelo menos, uma parte da região onde ele é feito. Além disso, o evento também serviu para mostrar aos moradores do Vale outras riquezas culturais que nem eles mesmos sabiam que a região possuía. Esses ganhos são muito maiores do que os econômicos, embora estes também sejam extremamente importantes por garantir o sustento de várias famílias. O sentimento é de dever cumprido”, comemorou a analista do Sebrae Minas Luciana Teixeira Silva.

O vice-reitor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Marcus Henrique Canuto, torce para que a feira faça parte do calendário fixo de eventos da cidade. “Sempre questionei por que, por exemplo, a UFMG tem uma feira valorizando o Vale do Jequitinhonha todos os anos, e Diamantina não tem anualmente algo assim, para o desenvolvimento do Vale. O que temos de melhor na região é sua cultura. Não é o ‘vale da pobreza’, muito pelo contrário, é o vale da riqueza cultural e histórica. Portanto, é crucial a manutenção dessa feira”, afirmou.

A paulista Grasiane Luz Mathias mora em Diamantina desde o início do ano. Ela conta que o artesanato do Vale do Jequitinhonha tem uma identidade própria em comparação com outras cidades do país. “É muito legal saber que tem uma diversidade grande de produtos sendo desenvolvidos na região do Vale. O bordado, por exemplo, tem estilo bem diferente. Algumas peças podemos observar que exigem muito do profissional, portanto o preço tem que valorizar a mão de obra do artesão”.

A professora universitária Josélia Barroso Queiroz Lima ficou impressionada com a estrutura e a diversidade da feira. “Um encontro perfeito entre o rústico e o sofisticado.  Acabei de comprar um presépio estilizado em argila que eu não vi em outros lugares, algo extremamente delicado pela riqueza de detalhes. Para mim, que já participei de outros eventos, é muito gratificante, porque você tem uma estrutura que valoriza o produto”.

Josélia acredita que a feira conseguiu reunir os interesses tanto do ponto de vista popular quanto do comercial. “Eu vejo que as pessoas estão satisfeitas com a exposição, principalmente, pela condição que está dando para o artesão revelar e melhorar seu produto. Encontrei profissionais que eu já conhecia o trabalho, mas com muito mais diversidade de produto”.

Sucesso nas vendas

As famosas bonecas da artesã Maria José Gomes da Silva, a Zezinha, foram disputadas já no primeiro dia do evento. As 17 peças expostas caíram no gosto dos compradores. “É uma satisfação enorme o respeito que o público tem pelo nosso trabalho. Apesar de muitos serem lojistas, a maioria comprou para a decoração das suas próprias casas. Foi uma alegria reencontrar pessoas da nossa convivência de anos atrás e fazer novos contatos”, disse Zezinha.

Atualmente, o trabalho da artesã tem chamado tanta atenção a ponto de ela não dar conta de atender a demanda. “Não tenho um meio de divulgação e prefiro que seja assim. Quem divulga meu trabalho são as próprias pessoas que visitam minha casa e fazem isso pra mim, no boca a boca. Hoje, eu cuido da minha família com o artesanato, mas o negócio não é meu foco principal. O mais importante pra mim é trabalhar com carinho e conhecer pessoas”, enfatizou.

Quem também ficou satisfeita foi a artesã Lucineia de Souza Barbosa. As 70 peças que ela levou para a feira esgotaram praticamente já no primeiro dia. A profissional de Taiobeiras viu sua vida mudar após participar da Feira Nacional de Artesanato em 2010 a convite do Sebrae. De lá para cá, ela não parou mais. “Fomos para São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Recife, expandindo o meu trabalho. A gente vai ganhando experiência e aperfeiçoando mais o produto”, conta. Segundo Lucineia, a inspiração para as peças feitas a mão vem de insights criativos. “É algo sobrenatural, que não tem como explicar. Fiz alguns quadros pensando no meu pai, por exemplo. E essas peças estão fazendo tanto sucesso, que esgotaram no primeiro dia”, comemora.

Eclética e antenada sobre a importância da tecnologia no seu negócio, Lucineia é uma das poucas artesãs que mantém conta nas redes sociais para divulgar seus produtos. Na página “Mãos que criam artes em cerâmica” ela mostra um pouco do seu processo criativo para dar vida a bonecas, presépios, quadros, guirlandas e árvores de natal. “É importante a gente se aperfeiçoar na também na área da internet. Estou aprendendo ainda e é uma bênção crescer com as capacitações do Sebrae e de todos os outros órgãos que valorizam o artesão. Eu não esperava fechar tantas encomendas e nunca imaginei que no segundo dia da feira não teria mais nada pra vender”.

A feira também agradou a artesã Maria Raymunda Otoni. “A feira foi ótima, pois vendi tudo que trouxe. Só tenho a agradecer a todos do Sebrae que me convidaram pra vir. Fiz muitos contatos com lojistas e recebi mais de cinquenta pedidos”, comemorou. A religiosidade e a fé dos moradores de Datas foram representadas no “Divino”. A artesã levou mais de 50 peças do artesanato e também vendeu todas. “Amo fazer meu divino. No começo foi difícil aprender, mas, agora, eu domino a técnica que aprendi com um amigo. É um trabalho que faço com muito amor. O dia que não faço parece que falta alguma coisa em mim”, contou.

Contato próximo entre lojistas e artesãos

A empresária Eliana Mendes Navarro Soares é dona da loja “Em Cantos do Brasil”, localizada em São Paulo. Acostumada a falar com as artesãs pela internet para fazer suas encomendas, ela aprovou a iniciativa de reunir todo o setor em um único ambiente. “Gostei muito da feira. Foi bem interessante todos juntos e termos a oportunidade de encontrarmos diversos trabalho num lugar só. Além disso, os preço das coisas estão bons. É a primeira vez que participo de um evento assim e estou amando”.

Além de ser uma oportunidade de fechar negócios, a feira de artesanato possibilitou uma oportunidade de fazer novos contatos que a lojista não via há tempos. “Encontrei pessoas que eu não via há anos e valeu muito a pena. Estamos encantados com o que a gente está vendo. A feira foi muito bem organizada. A ideia agora é ampliar o tipo de artesanato, comprando alguns artigos que a gente não tinha, como o coco e a prata. O trabalho do Vale é muito encantador e vende bem na minha loja”, disse.


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