frente do combate ao coronavírus em Minas, e próximo do Ministério da Saúde, secretário de Saúde diz ao EM que campanha depende das farmacêuticas
O neurocirurgião Carlos Eduardo Amaral assumiu a Secretaria de Saúde de Minas Gerais num momento em que o estado enfrenta grave crise fiscal e tem conduzido a pasta no enfrentamento a uma pandemia que impõe desafio mundial. Morando longe da família, instalada em Juiz de Fora, na Zona da Mata, ele acredita que o esforço é recompensado, quando confere o cenário dos indicadores da doença respiratória no estado. Vivendo há 10 meses num hotel de Belo Horizonte, destaca que Minas tem a menor taxa de mortalidade do país medida por grupo de 100 mil habitantes.
Carlos Eduardo Amaral não avalia como erro da gestão o fato de o governo estadual ter erguido e fechado um hospital de campanha em Belo Horizonte (no centro de convenções Expominas), sem atender um único paciente depois de terem sido investidos R$ 2 milhões na estrutura da unidade. “A montagem do hospital de campanha em Belo Horizonte, naquele momento, foi uma das ações mais acertadas do governo de Minas”. Ele compara o empreendimento a “um seguro sem ter um sinistro”.
Médico formado na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), neurocirurgião e neurorradiologista intervencionista, ele é vice-presidente da região Sudeste do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). Carlos Amaral fala com orgulho sobre a relação de proximidade e parceria que mantém com o Ministério da Saúde, hoje no centro de pressão de boa parte dos governadores e prefeitos, que cobram vacinação contra a doença.
Nesta entrevista exclusiva ao Estado de Minas, o secretário sustenta como correta a gestão do presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento à pandemia. “O presidente tem tentado fazer o seu melhor”, afirma. Amaral também discorda dos governos que anunciaram plano B para a vacinação da COVID-19, como fez a Prefeitura de Belo Horizonte, frente às polêmicas envolvendo o Ministério da Saúde.
Ele acompanhou o governador Romeu Zema no lançamento do Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a COVID-19, em Brasília, e diz estar confiante num programa brasileiro de imunização, que levantou críticas por ter sido lançado sem cronograma. “Essa vacinação deve começar entre janeiro e fevereiro. O que vai demandar o tamanho da campanha de vacinação será a capacidade produtiva dos laboratórios que estiverem produzindo a vacina ou no Brasil ou no mundo, caso seja necessário importar vacina.”
O senhor nos concedeu entrevista em julho. Hoje, cinco meses depois, qual momento mais difícil o senhor vivenciou no enfrentamento à pandemia?
Sem sombra de dúvida, os momentos mais difíceis que tivemos no enfrentamento à COVID-19 foram quando os primeiros casos chegaram ao Brasil e ao estado. Naquele momento, tínhamos um cenário de guerra, um cenário mundial catastrófico. Vimos quantidade de casos muito grande na Itália, na Alemanha, com a falência de todo sistema de assistência daqueles países. No Equador, tínhamos uma falência completa, inclusive com corpos nas ruas, então aquele momento foi muito marcante. Era muito difícil comprar equipamento de proteção individual, medicamento, ventiladores, monitores, e até cama. Ali foi o momento mais difícil.
Em julho, o senhor avaliou que os indicadores da COVID-19 no estado estavam em um platô. Passado o período, teríamos passado por um pico? O estado enfrenta uma segunda onda da doença?
Fazendo uma análise retrospectiva do que foi toda a epidemia, em julho nós tivemos um pico sim. A característica da epidemia tem sido de flutuações, e não me parece correto falar que o momento que estamos passando seria uma segunda onda. Por definição, a segunda onda teria que ter quase acabado os casos entre a primeira e a segunda fases. Tivemos queda importante depois do pico de julho e, agora, estamos tendo mais casos. Essas flutuações têm sido notadas em todo o mundo, em vários países. Vários estados tiveram essa oscilação.
Com a proximidade das festas de fim de ano num cenário de aumento do registro dos casos diários, o que o senhor aconselha às pessoas?
O aconselhamento que fazemos sempre é de que as pessoas tenham o máximo de cuidado. Isso será sempre necessário, enquanto tivermos o vírus circulando na sociedade. O máximo de cuidados, manter o distanciamento, uso de álcool em gel e de máscara. Tudo isso para nós é fundamental. Neste momento de festa, inclusive de compras natalinas, temos a necessidade de reforço da atenção do cidadão, para não haver medidas mais restritivas. Se as pessoas forem às compras, que tenham o distanciamento adequado. Evitem ficar andando nas cidades, indo apenas ao local que pretendem. Se forem fazer uma reunião familiar, que seja com o mínimo de pessoas possível. Tomem cuidados com idosos, aqueles que têm doenças, a população de maior risco, sempre evitando aglomeração. Se tudo isso for feito, nós conseguiremos manter o padrão, oferecendo assistência para todo mundo. Não há desassistência em Minas Gerais.
O governo de Minas investiu R$ 2 milhões num hospital de campanha em Belo Horizonte, que foi desmontado sem ter recebido pacientes de COVID-19. O senhor considera que essa medida foi corretamente avaliada ou o recurso poderia ter sido aplicado na compra de respiradores?
A montagem do hospital de campanha em BH, naquele momento, foi uma das ações mais acertadas do governo de Minas. Desde o início, ele foi idealizado para estar pronto na fase 5 da epidemia, que seria a fase de desassistência plena e correspondia a um seguro. Se tudo desse errado, teríamos um seguro. Quando se faz um seguro, pagamos esperando não usá-lo. Então, quando nós tivemos condição de fechar o hospital de campanha, porque já tínhamos estruturado toda a rede, não só em Belo Horizonte, mas no estado como um todo, nós entendemos que o fechamento do hospital foi um seguro sem um sinistro. Você pagou para ter a proteção de sua casa ou de seu carro, mas não houve necessidade de, naquele período, acionar a seguradora. O investimento de R$ 2 milhões foi a apólice do seguro.
Qual é o peso nos números da doença no estado que o senhor atribuiria às medidas de distanciamento social adotadas pelo prefeito de BH, Alexandre Kalil?
As ações tomadas na capital representaram exatamente o que é a proporção da sua população em relação ao estado. Belo Horizonte tem em torno de 2,5 milhões de habitantes em um estado de, aproximadamente, 21 milhões de habitantes. Isso [fechamento em BH] foi uma decisão tomada naquele momento muito parecida com a que o estado havia tomado. O que interessa é o todo, ou seja, Minas Gerais teve aderência muito grande às orientações do governador, às orientações da Secretaria de Estado da Saúde. Independentemente da cidade e do gestor, toda Minas Gerais fez um bom trabalho e somou para que a gente tivesse a menor taxa de mortalidade em todo o Brasil (medida por grupo de 100 mil habitantes, que era, em outubro, inferior a 400 mortes).
Qual avaliação o senhor faz da gestão do presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento à COVID-19?
O país todo tem trabalhado por vários caminhos, tentando fazer o melhor. O presidente tem tentado fazer o seu melhor. Tenho proximidade muito grande com o Ministério da Saúde, que vem desempenhando condução acertada. Talvez trabalhe em silêncio e, em alguns momentos, poderia comunicar um pouco mais. Em momento nenhum achei que o Ministério da Saúde teria deixado de atender às demandas do estado e do município.
O senhor e o governador estiveram no lançamento do Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a COVID-19. No entanto, a corrida pela vacina é mundial. Se faltarem imunizantes ou se eles demorarem a chegar a Minas, qual é o plano do governo?
Minas Gerais tem buscado uma gestão em relação à vacinação eminentemente técnica, de forma a estarmos alinhados para ter o imunizante no que cabe ao estado. É fundamental que todos entendam como funciona a campanha de vacinação em nível nacional, ou seja, não há lógica, não é técnico falar que vai fazer vacinação em um município, um estado. Caso isso ocorra, teremos migrações de pessoas, enfrentamento em filas, provavelmente até brigas por conta de pessoas disputando uma vacina – é a primeira opinião. A segunda visão é que o Ministério da Saúde tem mais de 300 milhões de doses encomendadas e detém a preferência em todo o território nacional na aquisição de medicações e vacinas. Foi manifestado, claramente, pelo ministro (general Eduardo Pazuello) e toda a equipe técnica da pasta que, havendo vacinas prontas para serem usadas em campanha e validadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o ministério comprará todas elas. Isso significa, com toda clareza, que qualquer ente privado, município e estado que quiser fazer vacinação própria somente terá vacina depois que o ministério tiver comprado o suficiente para a vacinação em todo o país. Nesse contexto, acho pouco lógico qualquer ente federado que não a União ou o ministério buscar comprar imunizante.
Essa vacinação deve começar entre janeiro e fevereiro. O que vai demandar o tamanho da campanha de vacinação será a capacidade produtiva dos laboratórios que estiverem produzindo a vacina ou no Brasil ou no mundo, caso seja necessário importar o imunizante. Será uma campanha de vacinação longa. Será uma campanha de vacinação para o ano inteiro. É fundamental que o cidadão entenda que nós teremos vários grupos, que serão vacinados à medida que tivermos a vacina.
Isso quer dizer que nem toda a população de Minas será vacinada num primeiro momento...
Não há vacina no mundo para vacinar a população mundial toda de uma vez. Esse tipo de visão é equivocado. O que vai acontecer é que as indústrias vão produzindo a vacina progressivamente e distribuindo para onde serão usadas. Nesse contexto, teremos várias campanhas de vacinação no mundo inteiro e, no Brasil, não será diferente.
O que o senhor diria às pessoas que não querem tomar vacina?
A vacina foi dos maiores avanços de saúde pública que aconteceu na sociedade. Temos no Brasil uma agência reguladora extremamente séria, um Sistema Único de Saúde com três níveis de coordenação. Um deles é a União, por meio do Ministério da Saúde. Os estados participam com suas secretarias estaduais e os municípios, que trabalham para chegar uma vacina confiável, da forma correta e na quantidade correta. Para o cidadão, a vacinação é o que há de melhor para saúde neste momento que estamos vivendo.
"Se forem fazer uma reunião familiar, que seja o mínimo de pessoas possível"
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