O Brasil avançou nos últimos 20 anos, mas a educação freou o desenvolvimento do país no período, segundo o IDHM 2013 (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal), divulgado nesta segunda-feira (29).
Embora tenha apresentado o maior progresso (veja gráficos abaixo), o marcador de educação ainda ficou abaixo do de saúde (expectativa de vida) e do de renda, outros dois subíndices que compõem o indicador, compilado a partir de dados dos censos demográficos do IBGE de 2010.
Numa escala de 0 a 1, considerando o 1 como o mais avançado, o índice geral do país foi de 0,493 (em 1991) para 0,727 (em 2010). O município com o melhor índice do país é São Caetano do Sul, no ABC paulista, com 0,862. A cidade de Melgaço, no Pará, tem a pior avaliação, com 0,418.
"Embora tenhamos um país desigual, a desigualdade diminuiu", analisa Marco Aurélio Costa, coordenador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), responsável pela elaboração do índice em parceria com o Pnud (braço da ONU para o desenvolvimento) e a Fundação João Pinheiro (FJP).
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Confira os dez primeiros no ranking do IDH das cidades10 fotos
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Balneário Camboriú, em Santa Catarina, está empatado com Vitória na 4ª posição no ranking do IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) com a marca de 0,845. Os dados são do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) Leia mais Divulgação Sectur Balneário Camboriú
"As regiões Norte e Nordeste tiveram um avanço proporcionalmente maior, o que reflete melhoria no desempenho dos municípios piores, mas ainda ficam atrás."
O presidente do Ipea e ministro da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência), Marcelo Neri, avalia que o país "teve avanços muito importantes nos últimos anos, mas as pessoas querem mais avanços".
Segundo ele, o país passa por um período de grandes transformações, mas ele não encara com pessimismo o baixo crescimento da economia brasileira, que poderia lá na frente impactar negativamente esses indicadores.
"A visita do papa foi bastante oportuna, estamos num momento de efervescência. Particularmente, eu acho que as mudanças são sempre dolorosas, mas são as dores do crescimento, da democracia. Não sou pessimista em relação à inflação, ao desemprego."
Ao analisar o item educação isoladamente, o Brasil subiu de 0,279 (em 1991) para 0,637 (em 2010). É a dimensão que mais avançou nos últimos anos (128,3%), puxada principalmente pelo fluxo escolar de jovens, que ficou 2,5 vezes maior em 2010 em relação a 1991. No entanto, ainda não subiu o suficiente e é a que hoje menos contribui para o IDHM do Brasil. É também o único subíndice classificado na faixa média do desenvolvimento humano.
A renda, por outro lado, foi de 0,647 (em 1991) para 0,739 (em 2010), com um crescimento equivalente a 14,2%. A renda per capita dos brasileiros teve um ganho de R$ 346,31 (em valores corrigidos) nos últimos 20 anos. No entanto, ainda há uma grande desigualdade entre os municípios. A cidade com a maior renda média per capita é São Caetano do Sul (SP), com R$ 2.043,74. Ela é 21 vezes maior do que a do município com o menor IDHM Renda, que é Marajá do Sena (MA), com R$ 96,25.
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IDH municipal das unidades federativas do Brasil27 fotos
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Goiás ficou com o 7º lugar entre os Estados brasileiros, com a marca de 0,735 no novo ranking do IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano dos Municipal), divulgado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Os critérios da ONU para elaborar o índice são a longevidade, educação e renda da população, e os dados são referentes ao Censo do IBGE de 2010, mas foram compilados em 2013 Leia maisGabriela Fujita/UOL
Quanto à longevidade, foi o índice que mais puxou o IDHM nacional para cima. A expectativa de vida cresceu 14% (9,2 anos) nas últimas duas décadas, passando de 64,7 anos (em 1991) para 73,9 anos (em 2010). No entanto, ainda há uma variação muito grande entre os municípios, entre 65 e 79 anos, embora seja o índice que tenha apresentado a maior redução na diferença entre o maior e o menor resultado.
Educação
Em educação, o que impede o IDHM de avançar mais é a escolaridade da população adulta. Em 1991, 30,1% da população com 18 anos de idade ou mais tinham concluído o ensino fundamental. Em 2010, esse percentual era para 54,9%.
DESEMPENHO NO IDHM EDUCAÇÃO
Cinco melhores | |
Águas de São Pedro (SP) | 0,825 |
São Caetano do Sul (SP) | 0,811 |
Santos (SP) | 0,807 |
Vitória (ES) | 0,8005 |
Florianópolis (SC) | 0,800 |
Cinco piores | |
Melgaço (PA) | 0,207 |
Chaves (PA) | 0,234 |
Atalaia do Norte (AM) | 0,259 |
Itamarati (AM) | 0,266 |
Uiramutã (RR) | 0,276 |
O cenário é melhor quando se olha para a população jovem. Os indicadores mostram que houve uma universalização da educação básica no país, com quase a totalidade das crianças matriculadas. O percentual de crianças com 5 e 6 anos frequentando a escola, por exemplo, subiu de 37,3% (em 1991) para 91,1% (em 2010).
As crianças de 11 a 13 anos nos anos finais do ensino fundamental também aumentaram de 36,8% (em 1991) para 84,9% (em 2010).
Porém, à medida que se avança nos ciclos seguintes da educação, nota-se um gargalo no setor. A população de 15 a 17 anos com o ensino fundamental completo é de 57,2%, em 2010. Em 1991, era 20%.
Quando se chega no ensino médio, o panorama é ainda mais crítico: apenas 41% dos jovens de 18 a 20 anos se formou. Em 1991, esse percentual era de 13%.
"Antes, o desafio era colocar a criança na escola. Hoje, é mantê-la com qualidade", diz Daniela Gomes Pinto, coordenadora do Pnud.
O presidente do Inep, órgão vinculado ao Ministério da Educação, Luiz Cláudio Costa, observa que o índice de educação é um dos mais difíceis para se obter evolução. "Educação teve uma melhora expressiva, apesar das dificuldades. Houve um avanço muito grande nessa área graças às políticas educacionais. É preciso levar em conta de onde saímos e onde chegamos."