Edward Luz alegou estar no local para cumprir um acordo firmado entre o ministro Ricardo Salles e o MPF contra destruição de 'patrimônio de população em situação de fragilidade'. Salles diz que a atuação do Ibama está correta. MILITANTE BOLSONARISTA, ANTROPÓLOGO É PRESO APÓS TENTAR IMPEDIR AÇÃO DO IBAMA | UOL TRENDS firmado entre o ministro Ricardo Salles e o MPF contra destruição de 'patrimônio de população em situação de fragilidade'. Salles diz que a atuação do Ibama está correta.
Por G1
17/02/2020 09h48 Atualizado há um ano
Antropólogo é detido ao tentar impedir fiscalização do Ibama
Após se recusar a deixar o local sob ordens de dois agentes
do Ibama, um dos fiscais afirma que, se Edward Luz não se retirar da área, será
preso. Edward Luz pede, então, que o agente mostre a ordem de prisão, ao que o
agente responde "trata-se de um flagrante de delito". Edward Luz
rebate dizendo que o agente é servidor do Ibama e, por isso, não teria esse poder
- "peço desculpas", finaliza. Em seguida, o agente responde:
"Então, tá. O senhor está preso", e a gravação é cortada de forma
brusca.
Terra indígena Ituna-Itatá, no Pará — Foto: Rodrigo Sanches/G1
Antes de ser detido, Edward Luz alegou estar no local para
cumprir um acordo firmado entre o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e
o Ministério Publico Federal (MPF) contra destruição de "patrimônio de
população em situação de fragilidade".
Segundo Luz, ele foi procurar o chefe da fiscalização,
"na melhor das boas intenções", para alertar que agentes não poderiam
fazer a fiscalização lá, parada "por ordem ministerial", segundo ele.
Edward Luz afirma que os fiscais estavam desobedecendo Salles.
Nesta segunda-feira (17), o ministro Ricardo Salles disse à
TV Globo que não conhece o antropólogo, e que o viu pela primeira vez na semana
passada, num encontro com representantes do MPF e políticos locais no qual foi
firmado um acordo sobre as fiscalizações na região (leia mais abaixo).
Homem é detido por fiscais do Ibama ao tentar impedir fiscalização em terra indígena no Pará — Foto: Reprodução Twitter/edwardluz
Salles também defendeu a ação que o Ibama realizou no
domingo na terra indígena.
À TV Liberal, afiliada da Rede Globo, Edward Luz contou que
a detenção ocorreu por volta das 12h30 de domingo, e que ele foi autuado pelo
crime de desobediência.
O antropólogo contou ainda que "estava a serviço de
clientes", identificados como membros de uma associação de produtores
industriais. Ele não esclareceu qual é essa associação.
Em nota, a PF disse que Luz "estaria impedindo a
fiscalização do órgão público federal na área da Terra Indígena
Ituna/Itata". Ele foi preso pelo crime de desobediência após ser advertido
e não atender a reiteradas ordens para se retirar da Terra Indígena, e foi
liberado depois de se comprometer a comparecer em audiência a ser marcada pela
Justiça Federal.
Reunião debateu fiscalização na Terra Indígena
A Terra Indígena Ituna-Itatá, cujos limites abrangem áreas
dos municípios de Altamira e Senador José Porfírio, é alvo de ações de
fiscalização do Ibama contra invasões e desmatamentos que ocorrem desde 2016.
Segundo o Ministério Público Federal, a área ainda não foi demarcada, mas já
conta com proteção e restrição de uso pela possível presença de indígenas
isolados.
Edward Luz diz que, na terça-feira (11), havia participado
de uma reunião com o ministro Salles, que havia se comprometido a interromper a
destruição de propriedades e máquinas encontradas na terra indígena Ituna-Itatá
por 30 dias, até que a Funai comprovasse a existência de índios isolados lá.
Em nota divulgada na quarta-feira (12), o MPF afirma que,
efetivamente, houve uma reunião entre representantes do órgão, o ministro
Ricardo Salles e políticos da região – entre eles, o senador Zequinha Marinho
(PSC/PA).
Nesse encontro, ficou definido que:
na área considerada reservada da terra indígena, a
fiscalização continuaria;
na área não reservada, as atividades de remoção de quem está
em situação de vulnerabilidade social ficariam suspensas por 30 dias.
Ainda de acordo com o MPF, Salles se comprometeu a monitorar
a área diariamente por satélite e, caso venham a ser constatados novos
desmatamentos, as ações do Ibama na área não demarcada retornarão.
Quando foi detido, Luz citou o encontro. "Estou aqui
com nosso comandante da operação para fazer cumprir a ordem ministerial do
senhor ministro Ricardo Salles com o qual eu me encontrei na última
terça-feira, as 14h26, e onde ficou acordado que nenhum patrimônio de população
em situação de fragilidade será destruído".
O procurador da República Daniel Azeredo, que faz parte de
um dos órgãos do MPF que participou da reunião, disse ao jornal "Folha de
S.Paulo" que a ação do MPF foi correta.
“O antropólogo está sem qualquer razão. A operação do Ibama
se desenrola dentro da lei, e ele não pode interferir ou atrapalhar”, afirmou.
Após ser solto, Edward Luz divulgou, em redes sociais, um
áudio convocando pessoas a irem à Altamira traçar uma estratégia para que o
acordo com Salles seja respeitado.
Detido é criticado por associação de antropologia
Em sua conta na rede social Twitter, Edward Luz se
classifica como consultor parlamentar e antropólogo social pró-Tapajós e
"livre de ONGs, da Esquerda e da corrupção". Ele tem graduação e
mestrado em antropologia.
Em maio de 2013, a Associação Brasileira de Antropologia
(ABA) informou que Luz foi expulso do seu quadro de associados. Nesta
segunda-feira (17), entretanto, a presidente da associação, Maria Filomena
Grigori, afirmou ao G1 que o caso de Luz chegou a ser discutido pela ABA, mas
ele se desvinculou antes que a expulsão fosse formalizada. "Ele tinha e
tem um comportamento que abalava e abala o nosso código de ética",
declarou.
Em entrevista à TV Liberal, Edward Luz negou que teria sido
expulso da ABA, mas saiu por conta própria, já que a associação estava
envolvida em fraudes.
"Eu não fui expulso, eu pedi a minha exclusão do quadro
da Aba. Aba estava promovendo uma série de irregularidades, de fraudes. A
revista Veja publicou um artigo em janeiro de 2010 chamado 'A Farra da
Antropologia Oportunista'. Reconhecimento dessas ideias, nesses casos de
oportunismo antropológico, e eu passei a denunciar esses casos e de lá até hoje
venho sendo perseguido por outros antropólogos", contou Luz.
O antropólogo é crítico da presença de ONGs na região e da
demarcação de terras indígenas. No caso da Terra Indígena Ituna-Itatá, ele diz
que os estudos sobre índios isolados na região nunca foram provados.
A primeira portaria que trata da área foi assinada em 2016.
Em janeiro deste ano, a proteção foi prorrogada por mais três anos pela
Portaria 17 da Fundação Nacional do Índio (Funai) para estudar a presença de
índios isolados.
De acordo com monitoramento do Instituto Sócio Ambiental
(ISA), há ao menos quatro processos minerários na região. Três pedidos de
autorização de pesquisa de fosfato datam de 1984, e o mais recente, que busca
ouro, é um requerimento de lavra datado de 2017.
Nenhum comentário:
Postar um comentário