André Merlo diz que chuvas recentes trouxeram lama com rejeito de minério
BELO HORIZONTE
O prefeito de Governador Valadares (a 313 km de Belo Horizonte) vai processar a mineradora Samarco pela lama densa que invadiu a cidade com as chuvas da última semana.
Segundo André Merlo (PSDB), diferente da lama arenosa que costumava chegar à cidade nas cheias do rio Doce, desta vez, a lama era densa e escura, carregada de minério de ferro.
A enchente que atingiu Valadares esta semana, diz ele, foi a primeira desde o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, ocorrido em outubro de 2015, que deixou 19 mortos e se tornou o maior desastre ambiental do país.
“A devastação foi maior devido à lama. Quando a gente sofria enchente, conseguia limpar a cidade rapidamente. Agora, estou contratando máquinas de fora da cidade para limpar, porque a lama é tão pesada que com homens só a gente não consegue”, afirma ele.
Merlo fez o anúncio na quinta-feira (30) e confirmou a decisão à Folha. O processo está sendo elaborado pelo jurídico da prefeitura e deve ser apresentado na próxima semana.
A prefeitura ainda não sabe que valores serão pedidos pelos danos coletivos e pelos gastos na limpeza da cidade.
Especialistas estão coletando o material para comparar com a lama de rejeitos encontrados em Mariana (MG), mas ainda não saíram resultados de testes, segundo o prefeito.
Governador Valadares foi uma das cidades que mais registrou desalojados e desabrigados durante as chuvas de janeiro. Ela está entre as 95 cidades inseridas no decreto estadual de situação de emergência publicado nesta sexta. Até o momento, 196 municípios mineiros estão na lista.
As chuvas atingiram mais de 50 mil pessoas, na estimativa da prefeitura, deixando 15 mil desalojados —pessoas que foram para casas de parente ou amigos— e perto de 600 desabrigados —que dependem de abrigo do poder público.
Esse número baixou para menos de 100 pessoas, com o retorno da água à calha do rio. “Vai demorar entre 15 e 20 dias para que a cidade esteja dentro da normalidade”, estima Merlo.
O número de mortes em decorrência das chuvas em Minas Gerais chegou a 56, nesta sexta-feira. A contagem inclui casos registrados a partir de 24 de janeiro. Uma pessoa que ainda estava desaparecida, em Conselheiro Lafaiete, foi encontrada pelos Bombeiros hoje.
O rompimento da barragem de Fundão atingiu Valadares especialmente com o abastecimento de água, segundo o prefeito. À época, a cidade ficou dias sem abastecimento, além de ter provocado danos a pescadores e ao turismo no rio Doce.
Merlo explica que a prefeitura ainda discute as ações de reparação, entre elas, indenização e a construção de um novo sistema de captação de água, para que a cidade não dependa só da captação do rio Doce.
Por meio de nota, a Samarco diz que, depois do rompimento da barragem de Fundão, a empresa construiu um sistema de contenção de rejeitos no rio Doce que impede o carreamento do material. O sistema é acompanhado por auditorias mensais do Ministério Público.
A mineradora também afirma que a Fundação Renova, criada para responder às demandas geradas pelos danos do rompimento, adotou ações específicas para o período de chuvas.
O Ministério Público de Minas Gerais encaminhou um documento à Fundação Renova pedindo informações sobre a possível mobilização de rejeitos e outras substâncias disponibilizadas no rio pela onda de vazão do rompimento em Mariana.
O documento, que deu prazo de 48 horas para resposta, pede que a fundação envie informações sobre constatação de mobilização de rejeitos com as chuvas e cheias, enumere estudos em curso e apresente os resultados dos mesmos.
A Promotoria questiona ainda se foi elaborado um plano de ações para os períodos de chuvas e se o mesmo prevê ações de limpeza de áreas atingidas pela inundação.
À Folha, a Renova diz que não há evidência de que o rompimento de Fundão tenha causado elevações dos níveis do leito, das margens e turbidez, o que ocorre em cheias sazonais naturais. E que acompanha o reflexo das chuvas em Minas Gerais e Espírito Santo.
“Dentro do escopo de atuação da Fundação Renova e levando em consideração o histórico de enchentes da região, algumas ações estão sendo adotadas para apoiar as autoridades”, segue o texto.
A fundação lembra ainda que um relatório divulgado em dezembro aponta que não há metais decorrentes de Fundão que representem risco toxicológico à saúde humana.
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