“A Vera mentiu. Eu quero que a Vera mostre o vídeo em que eu estou convocando as pessoas para isso”, afirmou ao ser questionado se busca refazer uma parceria com o Legislativo.
O presidente Jair Bolsonaro atacou nesta quinta-feira (27), a jornalista Vera Magalhães, editora do BRPolítico e colunista do jornal ‘Estadão’. Em entrevista na porta do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que Vera “mentiu” ao noticiar que ele enviou a seus contatos no WhatsApp vídeo convocando para manifestações do dia 15 de março contra o Congresso. “A Vera mentiu. Eu quero que a Vera mostre o vídeo em que eu estou convocando as pessoas para isso”, afirmou ao ser questionado se busca refazer uma parceria com o Legislativo.
“Tem um [vídeo] de 2015, que, por coincidência, no 15 de março houve um movimento, que foi num domingo”, afirmou o presidente sem explicar a relação com o que foi divulgado. Questionado se a polêmica pode atrapalhar votações de interesse do governo no Congresso, repetiu: “Estou aguardando a Vera mostrar o vídeo dela. E não vai mostrar, né? O caráter dela…”, nesse momento o presidente é interrompido por outra pergunta e não completa o raciocínio.
O BRPolítico revelou que Bolsonaro compartilhou com seus contatos do WhatsApp dois vídeos convocando para os protestos. O site mostrou também o print da tela do celular que mostra o presidente como autor dos disparos. Na última quarta-feira, Bolsonaro já havia comentado sobre o assunto nas suas redes sociais. Pelo Twitter, afirmou que envia mensagens de “cunho pessoal” a dezenas de amigos pelo WhatsApp. Na ocasião, ele não negou ter compartilhado o vídeo que chama para os atos.
Em entrevista ao Estado, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, afirmou que Bolsonaro repassou a peça com a justificativa de que ela faz a defesa do presidente. O ex-deputado federal e amigo de Bolsonaro, Alberto Fraga (DEM-DF), também confirmou à reportagem ter recebido um outro vídeo, com mesmo teor, do telefone pessoal do presidente. A reportagem provocou uma onda de ofensas à Vera por parte de apoiadores do presidente nas redes sociais. A hashstag #VeraFakeNews chegou a ficar nos trending topics do Twitter, mesmo argumento usado hoje por Bolsonaro. O vídeo divulgado pelo presidente pelo WhatsApp, no entanto, faz uma clara menção às manifestações do dia 15.
“Ele foi chamado a lutar por nós. Ele comprou a briga por nós. Ele desafiou os poderosos por nós. Ele quase morreu por nós. Ele está enfrentando a esquerda corrupta e sanguinária por nós. Ele sofre calúnias e mentiras por fazer o melhor para nós. Ele é a nossa única esperança de dias cada vez melhores. Ele precisa de nosso apoio nas ruas. Dia 15.3 vamos mostrar a força da família brasileira. Vamos mostrar que apoiamos Bolsonaro e rejeitamos os inimigos do Brasil. Somos sim capazes, e temos um presidente trabalhador, incansável, cristão, patriota, capaz, justo, incorruptível. Dia 15/03, todos nas ruas apoiando Bolsonaro”, diz o texto que aparece na tela, entremeado por imagens de Bolsonaro sendo esfaqueado, no hospital e depois em aparições públicas. A divulgação do vídeo tem sido tratada como um endosso, por parte de Bolsonaro, às manifestações e gerou reações no mundo político e nas redes sociais.
Veja abaixo o posicionamento do Estado sobre as declarações do presidente:
“O Estado de São Paulo lamenta que o Presidente da República ataque a jornalista Vera Magalhães acusando-a de mentir por ter revelado que ele divulgou via WhatsApp dois vídeos conclamando a participação nas manifestações previstas para o próximo dia 15 de março. Ao agir assim, ignorando os fatos, endossa conteúdos falsos vinculados ao tema que circulam nas redes sociais, algumas com ameaças veladas ou não direcionadas a Vera Magalhães”.
“O Estado de São Paulo lamenta que o Presidente da República ataque a jornalista Vera Magalhães acusando-a de mentir por ter revelado que ele divulgou via WhatsApp dois vídeos conclamando a participação nas manifestações previstas para o próximo dia 15 de março. Ao agir assim, ignorando os fatos, endossa conteúdos falsos vinculados ao tema que circulam nas redes sociais, algumas com ameaças veladas ou não direcionadas a Vera Magalhães”.
Ataques contra a jornalista
Depois de divulgar em seu twitter que o presidente estava chamando pessoas via Whatsapp para a manifestação de 15 de março, usando um vídeo onde aparece como mártir do povo brasileiro, a jornalista Vera Magalhães passou a ser atacada por asseclas e seguidores do “mito”, sofrer ameaças e até ter seus dados pessoais divulgados, além de um perfil fake no Whatsapp criado com seu nome.
Depois de divulgar em seu twitter que o presidente estava chamando pessoas via Whatsapp para a manifestação de 15 de março, usando um vídeo onde aparece como mártir do povo brasileiro, a jornalista Vera Magalhães passou a ser atacada por asseclas e seguidores do “mito”, sofrer ameaças e até ter seus dados pessoais divulgados, além de um perfil fake no Whatsapp criado com seu nome.
Sou filha de juiz. Meu pai era juiz do tribunal do júri. Uma vez um bandido que ele condenou disse: “O senhor tem família”. Fomos com escolta para a escola por um tempo. Mas meu pai não recuou um milímetro. A gente sabe a matéria de que é feito. De onde viemos e para onde vamos.
6.750 pessoas estão falando sobre isso
“Segundo reportagem publicada no Estado de S. Paulo, foi criada uma conta falsa no Whatsapp em nome de Vera Magalhães, e mensagens fraudadas foram distribuídas em outras redes sociais. Também houve compartilhamento de uma cobrança de 2015 do colégio onde estudam os filhos da jornalista, colocando em risco a integridade física de sua família, além de expor assuntos de foro privado. A Abraji considera a exposição de dados pessoais uma forma de ameaça a jornalistas e um constrangimento à liberdade de imprensa.”, diz o texto.
Vera, neste momento difícil e de exposição, não se intimidou e publicou em seu perfil do Twitter, repleto de agradecimentos a quem está apoiando a apresentadora. “Sou filha de juiz (…), a gente sabe a matéria de que é feito, de onde viemos e para onde vamos”.
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