Professor conta que delegado foi armado até escola e deu voz de prisão a docente. Antes da agressão, professor teria dito que iria 'soltar fogos de artifício' com a possível saída do filho do policial da escola.
Por Poliana Casemiro e Isabela Camargo
04/07/2023
Professor Gabriel foi enforcado por delegado da PF — Foto:
Arquivo Pessoal
A Polícia Federal abriu um procedimento disciplinar para investigar a conduta do delegado Mário César Leal Júnior. Segundo relatos, o delegado foi armado até a escola do filho, agrediu e deu voz de prisão a um professor que discutiu com seu filho, um adolescente de 13 anos.
O caso ocorreu no Colégio Franciscano Nossa Senhora do Carmo
em Guaíra, no noroeste do Paraná, na última sexta-feira (30).
O blog teve acesso ao boletim de ocorrência que o delegado
registrou por injúria na Polícia Civil. Segundo o documento, o professor teria
dito que "soltaria fogos de artifício" com a saída do aluno da
escola.
O docente também teria chamado o aluno de “nazista, racista, xenofóbico e gordofóbico”. O delegado citou nomes de outros adolescentes que poderiam depor sobre a relação do professor com o aluno.
O blog entrou em contato com o delegado pai do adolescente. Ele disse
O blog entrou em contato com o delegado pai do adolescente.
Ele disse que vai aguardar a conclusão da investigação para se manifestar.
O blog também conversou com o professor Gabriel Rossi. Ele
admitiu que falou que comemoraria a saída do aluno, mas disse que o adolescente
retrucou com uma piada com o fato de o professor ser calvo. Rossi, então, diz
que chamou o aluno para uma conversa em particular – ele nega que tenha ocorrido
uma discussão.
O professor também negou ter chamado o filho do delegado de
nazista e disse que era alvo frequente de piadas do aluno.
“Eu já tinha visto ele fazer comentários de cunho
preconceituoso, machista, homofóbico, gordofóbico com os professores e que
todas essas coisas somavam à visão que eu tinha de comentários detestáveis que
ele fazia, inclusive eu disse para ele que em alguns momentos o vi fazer
brincadeiras de cunho nazista. Mas eu sei que o menino não é nazista”, conta
Gabriel.
O professor reforça que em nenhum momento a conversa teve
tom político ou que políticos tenham sido citados. Após a conversa, Gabriel diz
que seguiu o restante do dia de trabalho e na saída foi surpreendido pelo pai
do aluno.
“Ele começou a gritar que ele era o delegado e que eu estava
preso. Apertou o meu braço e puxou, eu tentei sair e foi quando ele me
enforcou, me jogou contra o carro dele e aí ele puxou a pistola e apontou na
minha cara”, conta.
Segundo o professor, as agressões só pararam quando o homem
disse que chamaria a Polícia Militar e Federal para conduzi-lo preso até a
delegacia, o que não ocorreu.
O blog acionou a PF sobre o caso, que disse que "está
ciente quanto aos fatos relatados e instaurou procedimento administrativo para
apuração do ocorrido".
Empregada que assassinou patrão buscou na web informações
sobre como matar
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Saiba mais
Sem registro do professor
O professor contou que chegou a ir à delegacia no mesmo momento
que Leal, mas que o delegado da unidade havia dito que estavam em greve e que
não poderia registrar o caso. “Eu fiquei muito temeroso porque eu vi ali um
abuso de poder”, disse.
Segundo Gabriel, o delegado disse que ele seria chamado para
o registro nesta semana, mas até esta terça-feira o professor não havia
conseguido registrar a agressão.
O blog procurou a Secretaria de Segurança Pública do Paraná,
mas não houve manifestação até a publicação da reportagem. O Ministério Público
Federal (MPF) informou que procurou o professor para prestar depoimento sobre o
caso.
Após a repercussão, o Ministro da Justiça, Flávio Dino,
publicou no Twitter que "as apurações administrativas serão procedidas na
Polícia Federal, visando ao esclarecimento dos fatos e cumprimento da
lei".
Dino diz que investiga caso de professor agredido por delegado da PF — Foto: Reprodução/Twitter
Testemunha
A cena ocorreu na saída da escola, na frente de pais e
alunos. Mãe de um aluno, Carla Conceição disse ao blog que chegava para buscar
a filha quando viu o professor ser agredido.
“O professor já estava sendo empurrado contra o carro, sendo
enforcado e, quando percebi isso, eu desci correndo do carro e fui chamar o
segurança”, conta. Ela relata que a cena assustou pais e alunos.
O que diz a escola
Em nota divulgada nas redes sociais, a escola disse que
“lamenta profundamente o episódio violento ocorrido nesta sexta-feira (30/06),
contra um de nossos professores, em frente ao Colégio. Tal agressão é
inadmissível. Reiteramos nosso apoio ao professor agredido e vale ressaltar que
nada justifica uma agressão, seja física, moral ou verbal, e será sempre um ato
repudiável, independentemente das razões que possam levar alguém a cometer tal
atitude.”
Gabriel está afastado das aulas, mas não por decisão da escola, por recomendação médica.



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