Casamento entre menores de 16 anos é parte cultura dos povos ciganos, mas inválido perante a lei brasileira. Suspeito de ter matado Hyara Flor é adolescente de 14 anos.
Por g1 BA e TV Bahia
18/07/2023
Caso Hyara Flor: antes de casamento que terminou em morte, adolescente teve outro noivado
O caso do feminicídio da adolescente Hyara Flor Santos
Alves, aos 14 anos, na cidade de Guaratinga, no extremo sul da Bahia, ganhou
mais um elemento revelado nesta semana pelo pai da vítima. A garota teve um
noivado anterior ao casamento que terminou com sua morte.
O suspeito do crime é outro jovem, também menor de idade,
com quem Hyara se casou. O casamento entre adolescentes é parte cultura dos
povos ciganos, mas é inválido perante a lei brasileira.
Caso Hyara Flor: Justiça decreta mandado de busca e
apreensão e internação contra suspeito
Em entrevista à reportagem da TV Bahia, Hiago Alves, pai de
Hyara, revelou o porquê de ter permitido o casamento da filha com o suspeito,
que teve mandados de busca e apreensão e de internação decretados pela Justiça
na segunda-feira (17).
Antes de ser noiva do suspeito, Hyara Flor teve um noivado
com outro homem, que não teve idade, nem nome revelados. O relacionamento foi
desfeito, o que não é bem visto na comunidade cigana. Por isso, a família
aceitou o novo pedido.
“Eles aproveitaram a fragilidade de minha filha ter
terminado um noivado. Ele já me pediu (a mão da filha) e eu disse: 'dou
tranquilo”. Ele (o pai do suspeito) aproveitou o momento, noivou minha filha
com filho dele, marcamos a data do casamento", contou o pai de Hyara.
Ele explicou que na comunidade, quando um noivado termina, é
importante que a mulher arranje um outro noivo para mostrar que “quem saiu
perdendo” foi o ex-pretendente. Além disso, Hiago contou que permitiu que a
filha se casasse com o adolescente porque confiava que o suspeito e a família
seriam pessoas corretas.
A família da vítima sustenta a versão de que ela foi morta
pelo próprio marido, a mando do pai dele. Seria uma vingança por causa de um
relacionamento extraconjugal entre a mãe do adolescente e um tio de Hyara. O
pai da garota disse que já sabia que o irmão tinha uma relação extraconjugal
com a mãe do suspeito.
Ainda segundo Hiago, a relação extraconjugal entre o irmão e
a sogra de Hyara já era conhecida pela comunidade cigana. Para ele, o fato da
família ter pedido o noivado da filha com o suspeito já demonstra que o crime
foi premeditado.
"O pai dele programou para matar minha filha para se
vingar de meu irmão. Eles já me pediram (a mão de Hyara) na intenção de vingar
o meu irmão com a minha filho”, disse.
Relembre o caso
Hyara Flor no dia do seu casamento — Foto: Redes sociais
Hyara Flor foi morta em 6 de julho, com um tiro. O crime
aconteceu 45 dias depois do casamento dela com outro adolescente de 14 anos.
O g1 teve acesso exclusivo ao laudo da necropsia, que aponta
que o tiro que atingiu a adolescente fez com que ela asfixiasse no próprio
sangue, até a morte.
Morta a tiros aos 14 anos, marido adolescente desaparecido,
suspeita de feminicídio: o que se sabe sobre a morte de garota na Bahia
TRADIÇÃO x LEI: Entenda por que casamento da adolescente
Hyara Flor era inválido, mesmo sendo cultural
A polícia acredita que marido de Hyara fugiu para o Espírito
Santo com a família. Segundo os delegados que investigam o caso, com os pedidos
decretados na segunda-feira, o suspeito é procurado em todo o país.
No domingo (16), o Fantástico divulgou com exclusividade,
imagens que mostram a movimentação do local onde Hyara Flor foi morta a tiro.
O laudo da perícia afirma que o tiro disparado contra a
jovem no dia 6 de julho foi feito por alguém a, no máximo, 25 centímetros de
distância. A bala entrou pelo pescoço e ficou alojada na vértebra cervical da
adolescente.
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