sexta-feira, 30 de março de 2018

Medo e desconfiança definem relação da favela com a polícia

Entre os entrevistados, 16% disseram ter um amigo ou conhecido assassinado por agentes

Mônica
Mônica, viúva de Marielle, não esconde a revolta com a falta de respostas da polícia
PUBLICADO EM 30/03/18 - 03h00

SÃO PAULO. Medo e desconfiança são as duas palavras mais usadas por moradores de favelas do Rio de Janeiro para descrever seu sentimento em relação à Polícia Militar. É o que aponta um levantamento sobre as percepções de segurança pública com mais de 6.000 pessoas, que foram visitadas em suas casas entre setembro de 2015 e fevereiro de 2016. Os resultados foram apresentados na última quarta-feira.

A pesquisa é do Laboratório de Pobreza, Violência e Governança da Universidade de Stanford, instituição sediada dos Estados Unidos, e foi realizada em parceria com o Observatório de Favelas e a Redes da Maré, duas organizações da sociedade civil que atuam em comunidades do Rio. Foram entrevistados moradores da Cidade de Deus, Providência, Rocinha, Batan e Maré.

Entre os entrevistados, 16% relataram que um amigo, um conhecido ou um membro da família foi assassinado por um policial. Além disso, 20% já tiveram as suas casas invadidas por forças de segurança, já sofreram agressões e têm algum familiar que foi agredido por policiais.

Em relação ao crime, 15% relataram ter sofrido um assalto a mão armada, viram alguém assassinado por um criminoso ou tiveram suas casas invadidas por um bandido. “Muitas vezes a polícia está mais propensa a abusar dos direitos dos cidadãos do que os criminosos”, aponta o estudo.

Eles também foram perguntados sobre “qual é o sentimento que a maioria da comunidade tem demonstrado em relação aos policiais que atuam em sua favela” e lhes foram apresentadas várias opções de respostas, igualmente divididas entre palavras positivas e negativas, entre elas medo, respeito, desconfiança, admiração, simpatia, indiferença, desrespeito, indiferença e raiva. O entrevistado também poderia dizer qualquer outro sentimento que desejasse.

“Quando os residentes relacionam seus sentimentos com a polícia, eles costumavam usar uma linguagem negativa”, registra o estudo. Medo e desconfiança foram as palavras mais utilizadas.

O relatório também traça o perfil dos entrevistados. Metade deles vive com uma renda média de um a dois salários mínimos. Em relação à escolaridade, 29% completaram o ensino fundamental e 26% completaram o ensino médio. Apenas 3% tiveram acesso à universidade.

A UPP foi avaliada como positiva para a comunidade apenas por 31% dos entrevistados, enquanto 22% consideram a experiência negativa. Para 23%, houve melhora na relação entre comunidade e policiais, mas para 27% essa interação não melhorou.
‘Sangue nas mãos do governador’
A viúva de Marielle Franco, Monica Tereza Benício, afirmou que “haverá sangue nas mãos do governador até que a Policia Civil resolva a morte da vereadora”, ao discursar na cerimônia de reabertura da Biblioteca Parque de Manguinhos.

A unidade foi rebatizada com o nome de Marielle, assassinada há 15 dias. O governador Luiz Fernando Pezão esteve presente na reinauguração.

“O Estado não faz mais do que sua obrigação reabrir (a Biblioteca Parque) porque é dever dele dar cultura para os povos favelados”, alfinetou Monica.

Quando o governador Luiz Fernando Pezão pegou o microfone para discursar foi recebido com vaias. “Retorno triste por esses dias que ficaram fechados”, disse o governador, logo consertado pela plateia. “Foi mais de um ano. Não foram dias, não”, disse alguém. “ Tenho muita indignação. Foi um ato covarde!”, disse a mãe de Marielle, Marinete da Silva.

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