Investigação aponta que policial também não deu chances de defesa à vítima
Desentendimento que acabou em morte ocorreu no Viaduto Oeste, no Complexo da Lagoinha — Foto: Alice Brito
A família do reboqueiro Anderson Cândido de Melo, de 48 anos, morto pelo delegado Rafael de Souza Horácio durante uma briga de trânsito na última terça-feira (26), em Belo Horizonte, terá de aguardar ao menos mais 30 dias para conhecer os desdobramentos da investigação do crime, comandada pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG). Este é o prazo estipulado para a prisão temporária decretada pela Justiça contra o investigado na sexta-feira (29), após conclusão do inquérito.
Na manhã deste sábado (30), o policial se entregou e foi encaminhado à Casa de Custódia da PCMG. Segundo o porta-voz da corporação, Saulo de Tarso Castro, o delegado foi indiciado pelo crime de homicídio duplamente qualificado – por motivo fútil e sem possibilidade de defesa da vítima.
Por ser considerado crime hediondo, a Polícia Civil terá 30 dias, prorrogáveis por mais 30, para concluir as investigações. Até lá, no entanto, o delegado não perde o cargo de delegado, e deve continuar a receber ⅓ do salário como funcionário público.
O porta-voz da Polícia Civil argumentou, em coletiva de imprensa, na tarde deste sábado, que o delegado não foi preso em flagrante no dia do crime apenas pelo fato de ter se apresentado esponteneamente. A corporação negou que a liberação inicial tenha ocorrido pelo fato de o policial ter alegado legítima defesa.
Relembre o caso
O desentendimento entre o reboqueiro Anderson Cândido de Melo e o delegado Rafael de Souza Horácio ocorreu no Viaduto Oeste, no Complexo da Lagoinha. Informações levantadas por O TEMPO com fontes no local dos disparos indicam que o delegado estava em uma viatura descaracterizada quando foi fechado pelo caminhão, o que deu início a uma discussão.
Após algum tempo, o policial teria fechado o reboque da vítima e efetuado o disparo, que atingiu o pescoço do homem. Ao perceber que tinha acertado o motorista, o próprio autor do disparo acionou a Polícia Civil e a perícia técnica compareceu ao local, fazendo os levantamentos iniciais na cena do crime.
Quando o veículo da vítima seria removido do local, familiares e amigos do homem baleado protestaram, momento em que um delegado explicou em voz alta que a primeira perícia já tinha sido feita e que uma nova perícia aconteceria em um segundo lugar, não especificado pelo policial.
Foi então que a filha dele pediu para entrar no caminhão apenas para pegar o telefone do homem, que estava em um compartimento em baixo do banco do passageiro, e uma blusa de frio. Nenhuma arma foi encontrada no caminhão, conforme constatado pela reportagem, que acompanhou a situação.
Quem é a vítima
Vizinhos de Anderson, ouvidos pela reportagem, contam que o reboqueiro era um trabalhador que se dedicava à família e à igreja. “Nunca teve nada errado com ele, ele era um homem evangélico que só vivia de luta”, contou uma amiga, que preferiu o anonimato.
Pai de quatro filhos (um menino e três meninas) e amoroso com todos eles, Melo era querido na vizinhança e também na comunidade da igreja. “Foi um choque (a morte) para todos, a pastora e o pastor estão na casa dele. Todos os filhos moravam com ele, a mulher dele está inconsolável”, revela a vizinha. Um amigo dele, que também pediu anonimato, desabafou que nunca havia visto tamanha “covardia”.
“Saracura (como era conhecido Anderson) era um ótimo mecânico, um excelente profissional no ramo de reboque e um amigo sem igual. Ninguém nunca viu Saracura numa mesa de jogo, ou numa mesa de bar. Era serviço e igreja”, detalhou.
(Com informações de Aline Diniz)
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