O maior parceiro comercial do Brasil foi o tema da palestra do Ciclo de Conferências Sobre a Nova Política Externa Brasileira - Diálogos com os Embaixadores
A segunda palestra do Ciclo de Conferências Sobre a Nova Política Externa Brasileira - Diálogos com os Embaixadores teve como tema As relações Brasil-China. O evento, realizado no dia 19/05, com transmissão via WEBTV FIEMG, teve como convidado o embaixador do Brasil na China, Paulo Estivallet.
O diplomata deu um panorama geral das relações entre os dois países, destacando que elas começaram em 1974, um período relativamente curto se comparado ao relacionamento do Brasil com os países da Europa e das Américas. “No período, de 2000 para cá, a China foi de 8º parceiro comercial do Brasil para o 1º, com uma larga vantagem sobre o segundo. Em 2021, asexportações para a China foram três vezes maiores do que as exportações para os EUA, nosso segundo parceiro”, explicou.
Segundo Estivallet, o crescimento das relações entre Brasil e China se deve à transformação interna chinesa. “Um bom parâmetro é comparar a China com o Japão, que é o nosso parceiro tradicional na Ásia. Quando começou o processo de abertura e reforma na China, em 1978, o PIB japonês era quatro vezes maior do que o PIB chinês e a renda per capita japonesa era 34 vezes maior do que a da China. No ano passado, em valores correntes, o PIB chinês foi três vezes maior do que o japonês e a renda per capita dos chineses alcançou ¼ da renda dos japoneses”, pontou.
A China, desde 2014, é a maior economia mundial em poder de compra e se estima que nos próximos cinco ou seis anos venha a ser a maior economia mundial em termos nominais. Quanto ao comércio, pouco antes do período de sua abertura e reforma, as exportações chinesas eram semelhantes às exportações brasileiras, com participação de cerca de 1% do comércio mundial e praticamente baseado em commodities.
“No caso do Brasil, tivemos um crescimento significativo do comércio exterior, mas o da China foi muito mais dinâmico, sendo que em 2020 o país respondeu por quase 15% das exportações mundiais. Isso criou uma série de desafios e o setor industrial conhece bem o impacto chinês em nossa concorrência em termos de preços e ajustes de produtos. Por outro lado, o Brasil se beneficiou muito da enorme demanda chinesa por commodities e produtos agrícolas”, afirmou.
Para o embaixador, o que aconteceu na China foi algo de proporções históricas. O país asiático responde por quase 20% da população mundial e manteve, nos últimos 40 anos, um crescimento médio de quase 10%. Mais de 800 milhões de pessoas superaram a linha da pobreza e o governo chinês considera que eliminou a pobreza extrema, apesar de ainda existirem desafios quanto ao desequilíbrio social, principalmente nas áreas rurais. “Não existem antecedentes históricos para isso”, ressaltou.
A China alcançou, em 2015, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e mantêm o compromisso de alcançar uma prosperidade média na próxima década. O país é também a única economia do G20 - grupo que reúne principais economias do mundo, que teve um crescimento razoável em 2020, na ordem de 2%. “Abaixo da estimativa inicial, mas um resultado bom se comparado com o restante do mundo”, afirmou.
Em 2021, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o PIB chinês cresça 8,4% e isso irá compensar o prejuízo do ano anterior, sendo que o crescimento estimado é de US$ 2 trilhões, que é maior do que a economia brasileira ou russa, por exemplo.
A China se tornou, nos últimos oito anos, uma grande investidora no exterior e começa a ter um papel de destaque em todas as regiões. Embora o estoque de investimento da China no Brasil seja menor do que o de investidores tradicionais, como os EUA e países da Europa, o fluxo foi maior vindo da China do que dos demais países e isso deve se manter ao longo do tempo. Estima-se um estoque de investimentos de 100 bilhões, sendo que 30 estão anunciados. A China considera que estes investimentos são muito bem sucedidos e colocam o nosso país como uma plataforma de integração com demais países da região.
O impacto da China no restante do mundo é natural e advém de sua dimensão, tanto populacional quanto econômica. É uma economia muito competitiva com subsidios cruzados, sobre os quais há muita dificuldade de averiguação nos fóruns internacionais. O processo de desindustrialização do Brasil e de outros países é consequência das condicionantes da economia chinesa mas em contra partida, existem os ganhos de preços dos produtos primários. O país asiático é hoje o maior emissor de gases de efeito estufa. “Qualquer acordo internacional que vise combater o aquecimento global precisa contar com a participação chinesa. Temos tido diálogos positivos com a China, que assumiu o compromisso de neutralidade carbônica em 2060 e diminuição de picos de emissão até o fim desta década”, disse. Entretanto, o embaixador salienta que, dado o ritmo de crescimento chinês, a missão tende a aumentar e é uma fonte de preocupação tanto para a China quanto para o mundo.
Por outro lado, explicou o embaixador, devido ao tamanho de sua economia, a China vem dando contribuições positivas no quesito ambiental. É o principal produtor de equipamentos para energia renovável, eólica e solar, que devido a sua escala de produção, fez com que os valores desses produtos caíssem. “Nos últimos anos a China foi, de longe, o principal investidor em energias renováveis no mundo”.
O comércio do Brasil com China, em 2019, superou US$ 100 bilhões, sendo superavitário para o nosso país. Nos últimos seis anos, o Brasil acumulou um superávit de mais US$120 bilhões. “Na primeira década do milênio, o aumento da demanda chinesa e o efeito em termos de intercâmbio sobre o comércio exterior brasileiro contribuiu para que o Brasil conseguisse sanar seu endividamento externo, o que aumentou nosso grau de independência e de autonomia econômica, graças à superação das periódicas crises cambiais que tínhamos”, esclareceu.
Os principais setores de investimentos da China no Brasil são petróleo, mineração e agricultura. A China investe também em serviços e na indústria manufatureira e as grandes estatais de energia do país asiático detêm, no Brasil, quase a metade de seu portfólio de investimentos no exterior e estão presentes em todas as áreas, na geração, distribuição e transmissão. Grandes empresas de serviços como de transportes e informática também estão presentes. “De maneira geral, os investidores chineses estão satisfeitos com os negócios realizados com o Brasil nos últimos anos e nos veem não apenas como fornecedores de matéria-prima e produtos agrícolas, como também um mercado dinâmico, com grande potencial e estabilidade para que as empresas chinesas possam se expandir e ter uma plataforma de interação com os demais países da região”.
A China e o Brasil são parceiro nos setores de ciência e tecnologia desde a década de 1980, quando foi lançado o programa de satélites remotos CBERS. Nos últimos anos, a China vem se destacando cada vez mais na área científica e superou os EUA em termos de concessão de patentes e publicação de artigos científicos e investe grande parte de seu PIB nessas áreas.
Na área de comércio, o Brasil é o 3º maior parceiro comercial da China no Ocidente, depois dos EUA e Alemanha e, em 2020, o 7º maior fornecedor da China e o 20º maior mercado de exportação do país asiático. “Nossa importância relativa é maior como fornecedor do que como mercado para exportações, que são concentradas em um número pequeno de produtos como soja, minério de ferro, petróleo e carnes”, contou. Os principais acordos bilaterais entre Brasil e China são: Tratado sobre transferência de pessoas condenadas, Memorando de Entendimento de cooperação entre autoridades de transportes, Plano de Ação na área da agricultura (2019-2023), Memorando de Entendimento sobre medicina tradicional, complementar e integrada, Memorando de Entendimento para cooperação no setor de serviços, Memorando de Entendimento sobre o fortalecimento da cooperação em assuntos relacionados a investimentos e Memorando de Cooperação sobre intercâmbio cultural e audiovisual.
Segundo o embaixador, o Brasil, como fornecedor de alimentos para a China, tende a se manter e expandir relações no futuro. A China tem, para alimentos, uma série de limitações ambientais. Juntamente com a Índia, o país produz commodities que são responsáveis por sua demanda interna. Entretanto, a maior parte das terras cultiváveis e recursos hídricos do país estão localizados no Leste da China, que é a parte chinesa que está passando por uma extensa urbanização. Destacou que a China continua como fonte potencial de investimentos com presença nos PPIs; como promissor Mercado para agronegócio especialmente para produtos de maior valor agregado, em função do aumento de renda da população e com a estratégia de entrada na América Latina tendo o Brasil como plataforma. Esclareceu que o acesso ao Mercado chinês para as empresas brasileiras é facilitado se for via sócios locais e, que Minas Gerais pode utilizar da diplomacia sub nacional na aproximação com algumas regiões como é o caso da Provincia irmã de Shangsu e da oportunidade da planta industrial da XCMG se transformer em uma zona industrial.
“A China é um ator necessário em qualquer entendimento que se faça em termos de governança, na área da economia, da segurança e de funcionamento de organizações internacionais e no tratamento de grandes questões que necessite ações multilaterais, como o combate à mudança climática”, finalizou o embaixador do Brasil na China, Paulo Estivallet.
O Ciclo de Conferências Sobre a Nova Política Externa Brasileira - Diálogos com os embaixadores é uma parceria entre a FIEMG e a Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) e tem como mediador Roberto Goidanich, presidente da FUNAG. A abertura do evento foi realizada por Flávio Roscoe, presidente da Federação mineira, que destacou que a China é um parceiro estratégico para o Brasil, que vem crescendo em relevância no quesito fluxo de comércio. “Acreditamos que, com o passar do tempo, essa relação irá se consolidara ainda mais”, afirmou ressaltando que as relações bilaterais do Brasil com a China e com EUA sejam as mais importantes da diplomacia brasileira. “Queremos não apenas comprar da China, como também abrir mercado de produtos industrializados para os chineses. É o grande desafio da indústria brasileira como todo”, ressaltou Roscoe.
O diretor Consultivo da FIEMG e presidente do Conselho de Política e Mercados Internacionais da FIEMG, Fabiano Nogueira, também participou da abertura e pontuou que as relações Brasil e China é de grande importância para o setor industrial de Minas Gerais. “A China tem sido uma grande investidora no Brasil, principalmente nas áreas de matérias-primas e insumos industriais, como energia e petróleo, dentre outros”, reforçou Nogueira.
Agenda – O embaixador do Brasil na Índia, André Corrêa do Lago é o próximo convidado do Ciclo de Conferências Sobre a Nova Política Externa Brasileira - Diálogos com os embaixadores, o evento será realizado no dia 26/05, às 9h. O tema será "As relações Brasil-Índia” e a palestra será transmitida via WEBTV FIEMG.
China: uma potência econômica, científica e histórica - FIEMG
Nenhum comentário:
Postar um comentário