Ailton Barros, militar da reserva, e Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, foram presos mais cedo em operação sobre fraude em cartões de vacinação. Conversa sobre Marielle apareceu em meio a mensagens interceptadas, mas não tem relação com os fatos apurados nesta quarta nem com Bolsonaro.
Por Gustavo Garcia e Márcio Falcão, g1 e TV Globo — Brasília
03/05/2023 16h48
Atualizado há 13 horas
O militar da reserva Ailton Barros, que foi preso na operação da PF sobre fraudes em cartões de vacinação — Foto: Reprodução/TSE
O militar da reserva e ex-candidato a deputado estadual
Ailton Barros (PL-RJ) afirmou – em mensagem de áudio enviada ao tenente-coronel
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro – que sabe quem mandou matar
a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), em 2018.
Ailton Barros e Mauro Cid foram presos nesta quarta-feira
(3) na Operação Venire da Polícia Federal, que apura fraudes em cartões de
vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro e de pessoas de seu entorno.
A fala de Barros sobre Marielle apareceu em conversa dos
dois militares interceptada pela PF, mas não tem relação com a investigação a
respeito dos cartões de vacina nem com Bolsonaro.
De acordo com o que foi apurado pela PF, no dia 30 de
novembro de 2021, Ailton Barros e Mauro Cid trocaram várias mensagens de áudio.
As gravações foram transcritas pelos agentes da PF e
incluídas no ofício enviado pela corporação ao ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a operação desta quarta.
Segundo a PF, em um dos áudios, Ailton Barros comunicou a
Mauro Cid que o ex-vereador do Rio de Janeiro Marcello Siciliano teria
intermediado a inserção de dados falsos de vacinação nos sistemas do Ministério
da Saúde, em benefício de Gabriela Santiago Cid, esposa do ex-ajudante de
ordens de Bolsonaro.
De acordo com a investigação, como contrapartida pelo
sucesso da inserção dos dados falsos, Ailton Barros solicitou a Mauro Cid que
intermediasse um encontro de Siciliano com o cônsul dos Estados Unidos no
Brasil para resolver um problema relacionado ao visto de entrada de Sicilinao
no país norte-americano.
Ailton Barros relatou a Mauro Cid que Siciliano estava tendo
problemas com o visto em razão do envolvimento do nome do ex-vereador no caso
do assassinato da ex-vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
Siciliano chegou a ser investigado na época do crime. Mas,
depois de investigar, a polícia descartou a participação dele na morte da
vereadora.
Ailton Barros diz a Cid que Siciliano estava enfrentando o
problema de visto "injustamente", "de bucha", e argumenta
que ele não teria relação com a morte da ex-vereadora.
Ailton Barros enviou a seguinte mensagem de áudio, conforme
transcrição feita pela Polícia Federal:
"De repente, nem precisa falar com o cônsul. Na neurose
da cabeça dele [Siciliano], que ele já vem tentando resolver isso a bastante
tempo, manda e-mail e ninguém responde, entendeu? Então, ele partiu para a
direção do do cônsul, que ele entende que é quem dá a palavra final. Mas a
gente sabe que nem sempre é assim, né? Então quem resolva, quem resolva o
problema do garoto, entendeu? Que tá nessa história de bucha. Se não tivesse de
bucha, irmão, eu não pediria por ele, tá de bucha. Eu sei dessa história da
Marielle toda, irmão, sei quem mandou. Sei a p*** toda. Entendeu? ",
afirmou Ailton Barros.
Morte de Marielle
A vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes
foram assassinados há cinco anos, em março de 2018. A Delegacia de Homicídios
da Capital, o Ministério Público do Rio e, desde fevereiro, a Polícia Federal
tentam desvendar o crime.
As investigações foram marcadas por trocas de delegados e
promotores e poucos avanços. E, até hoje, ninguém esclareceu quem mandou matar
Marielle e qual a motivação da execução — uma das principais linhas de
investigação é que a motivação seja política.
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