terça-feira, 4 de julho de 2023

Morre o ex-prefeito de Ipatinga, Chico Ferramenta


Para compartilhar essa notícia use o link: https://www.diariodoaco.com.br/noticia/0108046-morre-o-exprefeito-de-ipatinga-chico-ferramenta

04 de julho, de 2023 | 12:34

 Morreu nesta terça-feira, o ex-prefeito de Ipatinga, Chico Ferramenta. A informação foi confirmada ao jornal Diário do Aço por pessoas próximas ao político. No começo da tarde, por meio de nota divulgada à imprensa, a assessoria de comunicação da esposa do político, a vereadora de Ipatinga, Cecília Ferramenta (PT), anunciou a perda. "Com profunda tristeza e pesar, que comunicamos o falecimento do nosso Chico Ferramenta, ocorrido nesta terça-feira (4 de julho), às 12h04, no Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga".


Desde o mês de março, o ex-prefeito e ex-deputado federal, de 64 anos, lutava para viver, com seguidas internações hospitalares. No dia 22 de junho, pela terceira vez em três meses, Chico retornou para o Hospital Márcio Cunha (HMC), devido a uma piora do padrão respiratório e da função renal. Essa semana, com baixa pressão arterial, sua partida deixou a todos apreensivos. Na manhã de hoje (4/7), ele não resistiu mais ao tratamento.

O último boletim médico divulgado pela família, no dia 23 de junho, dava detalhes sobre o quadro de saúde: “No momento paciente apresenta-se alerta, sem contato, mantendo estabilidade hemodinâmica, em ventilação mecânica por traqueostomia com melhora do padrão respiratório, sem sinais infecciosos. Porém observou-se piora da função renal, sendo indicado manutenção da internação hospitalar”.



Velório

No comunicado enviado à imprensa, a família de Chico informa que o velório será realizado no Ginásio do Centro Esportivo e Cultural 7 de Outubro, no bairro Veneza. "O sepultamento será no Cemitério Parque Nossa Senhora, em Ipatinga, por enquanto sem definição quanto ao horário".

Luto

A administração municipal de Ipatinga se manifestou sobre a morte do ex-prefeito Francisco Carlos Delfino. "Chico deixa um legado bastante significativo, reconhecido por atos marcantes de luta e dedicação à causa pública, sendo personalidade importante na trajetória do desenvolvimento de nossa cidade". O governo municipal se solidarizou com a família do político. "Neste momento de pesar, expressamos nossas condolências à família e amigos, compartilhando a dor pela perda deste homem público cujo protagonismo ajudou a escrever páginas de destaque de nossa história". Informou também que em função do ocorrido, "o Executivo decreta três dias de luto oficial, a partir desta data".

Meus sentimentos vereadora e a toda família. Irei decretar luto oficial de 3 dias em homenagem aos grandes serviços prestados por Chico em nossa cidade. Deus conforte vocês

Divulgação
Chico Ferramenta faleceu às 12h04 desta terça-feira

As seguidas internações hospitalares

Francisco Carlos Delfino, o Chico Ferramenta, foi internado pela primeira vez este ano no dia 18 de março, na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Municipal Eliane Martins (HMEM), para tratar uma pneumonia. No dia 6 de abril, foi transferido para o Hospital Márcio Cunha e recebeu alta hospitalar em 23 de maio, voltando para o conforto de seu lar.


No dia 5 de junho, o ex-prefeito foi internado novamente, desta vez na UTI da Unidade II. Na data em que completava duas semanas de internação, no dia 19 de junho, Chico foi liberado para voltar para casa. O retorno ao hospital, pela terceira vez, foi necessário no dia 22 de junho.

Íntegra da nota divulgada pela família

Com profunda tristeza e pesar, que comunicamos o falecimento do nosso Chico Ferramenta, ocorrido nesta terça-feira (4 de julho), às 12h04, no Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga. O velório será realizado no ginásio do Centro Esportivo e Cultural 7 de Outubro, no bairro Veneza. O sepultamento será no Cemitério Parque Nossa Senhora, em Ipatinga, por enquanto sem definição quanto ao horário.

Agradecemos a todos pelas orações e o eterno carinho para com o Chico.

Chico foi, acima de tudo, um Companheiro e Amigo!
Nossa eterna Gratidão!

Cecília, Frederico, Lucas e Wladimir


História política de Chico Ferramenta



A história política de Chico Ferramenta foi iniciada nas portarias da Usiminas, na década de 1980, e terminou com um legado político reconhecido até mesmo pelos mais ferrenhos adversários.

Assim pode ser resumida a trajetória de Chico Ferramenta, que passou por várias cidades, com a esposa, Cecília Ferramenta, até aportar em Ipatinga e construir, em pouco mais de três décadas, uma carreira vitoriosa na política, reconhecida em nível nacional.

Francisco Carlos Delfino e Maria Cecília Ferreira Delfino, ou simplesmente Chico Ferramenta e Cecília Ferramenta, somam nada menos que quatro mandatos à frente da Prefeitura Municipal de Ipatinga, três de deputado estadual e ainda um de deputado federal.

Chico Ferramenta e Cecília Ferramenta nasceram em Bom Despacho, no mesmo ano: 1959 – ele no dia 8 de janeiro, e ela, no dia 26 de dezembro. Chico é filho de José Delfino Neto e Adélia Alves Delfino.

Chico Ferramenta passou os primeiros anos de vida em Bom Despacho, ao lado dos pais e dos seus irmãos. Antes de completar 18 anos de idade mudou-se para a capital mineira, onde concluiu, em 1978, o curso de Química na Escola Técnica de Belo Horizonte. Com o diploma nas mãos, e a informação de que uma siderúrgica de Ipatinga oferecida oportunidades para técnicos em várias especialidades, Chico Ferramenta veio para a cidade em 1979.

A escolha de Ipatinga para iniciar a carreira profissional teve uma influência decisiva: a do amigo Sebastião Ferreira Guedes. Eles se conheceram em BH e vieram, juntos, tentar a sorte quando Ipatinga começava a viver o seu segundo “boom” da siderurgia. Chico e Guedes foram também companheiros de república, e da Usiminas seguiram rumos opostos, mas sempre juntos na política, até hoje: enquanto Chico virou prefeito, Guedes tornou-se vereador, ambos com três mandatos.

Campeão de Xadrez

Antes de ser Ferramenta, Chico da Pesquisa era como os colegas de Usina o conheciam, numa alusão ao setor em que trabalhava, o Centro de Pesquisas. Em pouco tempo, conquistou o respeito e a admiração dos metalúrgicos. Fã de xadrez, e exímio jogador, foi pelo esporte que Chico começou a se tornar conhecido na empresa. Em 1982, sagrou-se campeão de xadrez na Olimpíada do Sesi (Serviço Social da Indústria), representando a Usiminas.

Admirador confesso do filósofo chinês e estrategista de guerra Sun Tzu, que viveu no século IV a.C. e deixou o tratado militar “A Arte da Guerra”, e do escritor mineiro Guimarães Rosa – de quem, aliás, sempre gostou de citar frases, seja em conversas informais ou no meio de um discurso político –, a política sindical logo entrou na vida de Chico Ferramenta. E da pior forma possível: com perseguições e demissão. Mas isso não o desanimou, afinal, como um personagem de Guimarães Rosa, ele compreendeu que o “real” não estava na saída nem na chegada – “ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”.

O Chico funcionário exemplar do Centro de Pesquisas logo virou Ferramenta, instrumento, mesmo, para uma histórica luta contra o peleguismo travestido de “sindicalismo de resultados” que por décadas comandou o Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga (Sindipa) e contra políticos conservadores que desde a emancipação comandavam a Prefeitura Municipal. Uma trajetória de dificuldades, mas também de conquistas, na qual sempre contou ao seu lado com a presença firme de Cecília.

Escolhido por um grupo de metalúrgicos dispostos a eleger uma direção sindical mais comprometida com os trabalhadores do que com a empresa, Chico Ferramenta entrou para o movimento sindical em 1985, como candidato da Chapa 1 à presidência do Sindipa. Entidades e setores dos movimentos popular e social, com a participação também decisiva de um grupo de padres franciscanos da Paróquia do bairro Bethânia – Eduardo, João, Jaime, Jacir, entre outros –, assumiram a luta da Chapa 1, e por muito pouco uma longa história de peleguismo não era encurtada.

Ganhou, mas não levou

Contra cinco adversários, a Chapa Ferramenta sagrou-se vencedora do primeiro turno das eleições do Sindipa de 1985. Ganhou, mas não levou. Na disputa do segundo turno, numa eleição em que as urnas ficavam dentro da Usina, “monitoradas” pela empresa, a Chapa 1 foi derrotada. Uma diferença pequena, mas suficiente para plantar uma semente que gerou uma frondosa árvore com frutos e sombra para todos.

Além da derrota na eleição sindical, Chico Ferramenta teve em seguida outra perda, a do emprego. O mesmo destino tiveram todos os seus companheiros de chapa, e muitos deles, sem espaço no mercado e “marcados” pela Usiminas, tiveram que mudar para outras cidades e buscarem empregos em outros segmentos. Chico decidiu continuar em Ipatinga, e teve que sobreviver por um período como funcionário de uma serralheria, mesma alternativa que coube a outros companheiros que decidiram resistir lutando.

Foi nessa época, a de maior dificuldade do casal, após a demissão da Usina, que nasceu o seu primeiro filho, Frederico, cuja gravidez não foi empecilho para Cecília acompanhar o marido em infindáveis reuniões noite adentro e em panfletagens e manifestações nas portarias da Usina. Os outros dois filhos de Chico e Cecília, Lucas e Wladimir, também nasceram em meio a campanhas eleitorais, sempre levados pela mãe e ajudados por uma grande quantidade de militantes “tias”.

Da usina para a Assembleia Legislativa

No ano seguinte à derrota da Chapa 1 na eleição do Sindipa, em 1986, sem recursos financeiros mas com o apoio de uma aguerrida militância e a simpatia de grande parte da população, Chico Ferramenta se lançou em outra eleição, para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Sua campanha se concentrou em Ipatinga e no Vale do Aço, e daqui ele partiu para se tornar um “fenômeno” na política mineira, primeiro como o segundo deputado estadual mais votado – atrás somente do tradicional José Laviola, já falecido –, por um partido então quase desconhecido, o PT.

Chico Ferramenta tinha 26 anos de idade quando conquistou um mandato de deputado estadual como o segundo mais votado de Minas Gerais em 1986. Uma vitória que chamou a atenção da imprensa nacional, mas que foi precedida de uma grande perda: a morte do seu pai, José Delfino, num acidente automobilístico perto de Bom Despacho, em plena campanha. Nesse dia, também viajava no carro um dos amigos antigos, da época de Usina, Eliel Miranda Tavares, que escapou ileso. E, mais uma vez, como no universo roseano, ele prosseguiu, com a certeza de que “Deus nos dá pessoas e coisas para aprendermos a alegria. Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos capazes da alegria sozinhos. Essa é a alegria que ele quer”.
Arquivo
Primeira posse como prefeito de Ipatinga, em 1988Primeira posse como prefeito de Ipatinga, em 1988

“Ipatinga tem conserto”

Durou apenas dois anos o primeiro mandato de deputado de Chico Ferramenta. Em 1988, lançou-se na disputa pela Prefeitura de Ipatinga e confirmou sua fama de vencedor. Com o slogan “Ipatinga tem Conserto”, o PT pôs fim à carreira do então prefeito Jamill Selim de Sales, o único que, como Ferramenta, conseguiu três mandatos.

Até hoje o primeiro mandato de prefeito de Chico Ferramenta (1989-1992) é lembrado como o de maior desenvolvimento da cidade, em todos os sentidos. Sob a gestão de Chico Ferramenta, Ipatinga tornou-se a primeira cidade de médio porte da América Latina a contar com os serviços de coleta e tratamento de esgoto.

Foram construídas várias escolas e Unidades de Saúde, e bairros que por muito tempo ficaram sem nenhuma infraestrutura ganharam urbanização e mais qualidade de vida.

Participação popular

Mais do que obras e programas sociais, um dos principais feitos dos governos de Chico foi a instituição da participação popular como “ferramenta” de governo. Acostumada a ver, até então, as decisões serem tomadas nos gabinetes, a população foi convidada a participar do debate sobre uma cidade melhor para todos. Foi aí que surgiu o Orçamento Participativo, que viria a se tornar um modelo para diversos municípios brasileiros.

Com Chico Ferramenta, a população ipatinguense se acostumou a discutir o presente e o futuro da cidade, e a indicar as suas prioridades. Antes de colocar o Orçamento Municipal em pauta, o então prefeito promoveu debates, em praças e em carrocerias de caminhões, para discutir temas sensíveis como o preço da passagem de ônibus e as tarifas de água e esgoto, movimento que, anos depois, levaria Ipatinga a se tornar a cidade da América Latina, com até 200 mil habitantes, a implantar um sistema de coleta e tratamento de esgoto.

No Congresso Municipal de Prioridades Orçamentárias (Compor), moradores de todos os bairros formavam um grande mosaico da cidade que, desde então, se colocou à frente em termos de participação popular. Na mesma época foram criados diversos Conselhos Municipais, dando visibilidade e voz a segmentos da população que por muito tempo ficaram à margem dessas discussões. Suspenso após o último governo de Chico Ferramenta, o Compor foi resgatado por Cecília.

Com grande aprovação popular, Chico Ferramenta encerrou o primeiro mandato de prefeito em 1992 e, de quebra, ainda elegeu o sucessor, o então vice-prefeito João Magno de Moura. Dois anos depois, Chico fez história novamente ao se tornar o primeiro deputado federal de Ipatinga. E, mais uma vez, o destino se repetiu: dois anos depois, em 1996, ele deixou a Câmara dos Deputados para voltar, pela segunda vez, ao comando da Prefeitura de Ipatinga.
Arquivo
Época das grandes campanhas: Lula, Maria da Conceição Souza (mãe do desenhista, jornalista e escritor Henfil) e Chico FerramentaÉpoca das grandes campanhas: Lula, Maria da Conceição Souza (mãe do desenhista, jornalista e escritor Henfil) e Chico Ferramenta

Eleição e reeleição

Infraestrutura e habitação foram duas áreas que mais se desenvolveram no mandato de Chico Ferramenta. Em sua gestão, Ipatinga tornou a chamar a atenção pelo arrojado programa de urbanização de vários bairros e a construção de milhares de casas através de mutirões e com a participação direta dos beneficiados.

O Parque Ipanema foi revitalizado e a cidade tornou-se referência também na área ambiental, com a implantação do primeiro aterro sanitário do Leste mineiro, que deu origem, depois, à primeira Central de Resíduos, que hoje atende a várias cidades.

Chico Ferramenta é também o único prefeito a conseguir, até hoje, a reeleição em Ipatinga. Isso ocorreu em 2000, o que permitiu a sequência do trabalho iniciado em 1997 e consolidar Ipatinga como modelo de administração pública, urbanismo, educação, habitação e saúde.

Nenhum comentário:

Postar um comentário