Troca de mensagens encontrada no celular do auxiliar de Bolsonaro mostra um militar da reserva afirmando a Mauro Cid saber quem foi o mandante da morte da vereadora do Psol
Por Maria Cristina Fernandes, Valor — São Paulo
03/05/2023 17h14
Atualizado há um dia
Uma pista para o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes aparece numa das trocas de mensagens do celular do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, coronel Mauro Cid, preso hoje em operação da Polícia Federal. A operação desta quarta-feira não tem relação com o caso Marielle, mas sim com uma suspeita de fraude nas carteiras de vacinação de Bolsonaro, da filha dele e de Mauro Cid e da família dele.
Numa mensagem enviada a Cid, o advogado e militar da reserva Ailton Gonçalves Moraes Barros, que tentava conseguir o registro falso da carteira de vacinação para a esposa do coronel, Gabriela Ribeiro Cid, pede a intervenção do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro para resolver uma pendência de um ex-vereador do Rio, Marcelo Siciliano, no consulado do Rio.
Ailton Moraes Barros também foi preso hoje na operação da PF por envolvimento com a fraude nas carteiras de vacinação. Siciliano foi alvo de ação de busca e apreensão nesta quarta-feira e é apontado pela PF como responsável pela adulteração da carteira de vacinação de Gabriela Cid, mulher de Mauro Cid.
O tom da conversa entre Mauro Cid e Moraes Barros flagrada pelos investigadores é de uma troca de favores. Em determinado momento, Moraes Barros situa o problema do ex-vereador. Acusado de ser o mandante da morte de Marielle, Marcelo Siciliano havia passado a acusar o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio, Domingos Brazão.
Nessa troca de acusações, segundo Moraes, sobrou para Siciliano, que teve a vida “acabada pela imprensa” e pela polícia que teria pedido a suspensão do visto americano enquanto estivesse sendo investigado.
Ailton Gonçalves Moraes Barros afirma a Mauro Cid: "[Marcelo Siciliano] está nessa história de bucha. Se não tivesse de bucha, irmão, eu não pediria por ele, tá de bucha. Eu sei dessa história de Marielle, toda irmão. Sei quem mandou. Sei a p... toda. Entendeu? Está de bucha nessa parada aí."
As mensagens são citadas na decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que autorizou a operação da Polícia Federal hoje.
Veja os trechos em que Mauro Cid e Ailton Moraes Barros tratam de um favor para Marcelo Siciliano:
Mensagens trocadas entre Mauro Cid, então ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, e o militar reformado Ailton Moraes Barros. Cid e Barros foram presos em operação da Polícia Federal que investiga esquema de fraude de carteiras de vacinação. As conversas constam da decisão judicial que autorizou a operação da PF, proferida pelo ministro do STF Alexandre de Moraes — Foto: Reprodução
A morte de Marielle Franco
Na noite de 14 de março de 2018 a então vereadora do Psol Marielle Franco, de 38 anos, e Anderson Gomes, que trabalhava como motorista dela, foram mortos em um atentado ao carro em que trafegavam, no Rio de Janeiro. O veículo foi atingido por 13 tiros. Até hoje, as investigações não apontaram o mandante do crime.
O então presidente Jair Bolsonaro e o ajudante de ordens dele, Mauro Cid — Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo
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