É impossível olhar para os Estados Unidos e não perceber os antecedentes de um golpe no Brasil
Heloísa Griggs e Pedro Abramovay|20 jun 2022_17h24
Parecia que ela vinha do futuro. A deputada republicana Liz Cheney, filha do ex-vice-presidente de George W. Bush, Dick Cheney, relatava fatos sobre 6 de janeiro de 2021 em seu país. Mas era difícil não pensar que eram fatos sobre o nosso país após as eleições de 2022.
“Centenas de nossos compatriotas enfrentaram processos criminais. Muitos estão presos porque acreditaram no que Donald Trump estava dizendo sobre as eleições e atuaram a partir disso”, afirmou Liz Cheney sobre os mais de 861 norte-americanos que foram processados pela invasão do Capitólio.
“Eles vieram a Washington DC a pedido dele, marcharam para o Capitólio a pedido dele e centenas deles cercaram e invadiram o edifício no coração da nossa República constitucional”, completou.
As palavras fortes da deputada marcaram o segundo dia de sessões de testemunho no Congresso norte-americano sobre aquela verdadeira tentativa de golpe de Estado ocorrida em janeiro do ano passado.
Os testemunhos que se seguiram, a maioria de ex-auxiliares do ex-presidente Trump, não deixaram dúvidas: Trump sabia que ia perder as eleições, sabia que não havia indícios de fraudes no voto à distância nos Estados Unidos e, mesmo assim, usou as instituições da presidência para enganar seus apoiadores e levá-los a um dos maiores ataques já sofrido pela democracia norte-americana.
As semelhanças com o Brasil são amplas demais para que não tentemos aprender com o que ocorreu nos Estados Unidos.
Bolsonaro, como Trump, mente ao país sobre as suspeitas de fraudes nas urnas eletrônicas. As urnas eletrônicas são responsáveis por seis eleições de Bolsonaro, inclusive a que o levou à Presidência. Desde a implementação desse sistema de voto não houve qualquer evidência de fraude. Bolsonaro sabe disso. Bolsonaro também sabe, como Trump, que é provável que perca as eleições em um sistema sem fraude. E, como Trump, ele tenta buscar espaços na estrutura institucional do país que governa para que sua farsa possa ser um trampolim para o golpe.
Há apenas duas hipóteses quando um cenário como esse se apresenta. Que Bolsonaro tenha aprendido com os erros de Trump e tenha êxito onde o ex-presidente norte-americano fracassou, executando aqui o golpe que não foi possível nos Estados Unidos.
A outra é a de que Bolsonaro fracasse. Caso isso aconteça, as instituições brasileiras é que devem aprender com os erros dos Estados Unidos. Faz sentido que centenas de norte-americanos estejam presos por obedecerem ao presidente que tentava um golpe enquanto o golpista segue sem enfrentar a Justiça e preparando sua volta ao poder? Faz sentido que todos os que participaram ativamente de uma conspiração para tomar à força o Poder no país se escondam sob justificativas pouco críveis de que, apesar de continuar ao lado do presidente em momentos de atitudes abertamente ilegais e antidemocráticas por parte dele, estavam sempre o aconselhando a seguir o caminho da lei e da Constituição?
Quando há um golpe em planejamento – e é impossível olhar para os Estados Unidos e não perceber os antecedentes de um golpe no Brasil – existem apenas dois lados: o dos golpistas e o da Constituição. Militares, advogados públicos, membros dos Três Poderes que de alguma forma incitarem, consentirem ou mesmo se omitirem diante de um presidente que já pratica atos preparatórios de um golpe devem saber que, caso fracassem – e hão de fracassar – deverão ter um encontro com a Justiça de forma muito mais severa do que nos Estados Unidos.
Que o Brasil não cometa o erro de prender alguns cidadãos de verde e amarelo fazendo baderna em Brasília e deixar os mandantes de crimes contra a democracia tão à vontade quanto ficaram seus antecessores (e ídolos) que arruinaram o país de 1964 a 1985.
https://piaui.folha.uol.com.br/capitolio-verde-amarelo/
Ex-ministro de Bolsonaro oferecia passeio ao Titanic em submarino perdido
Agência Marcos Pontes retirou propaganda do ar na manhã
desta quarta-feira, 21 — anúncio tinha roteiro com a OceanGate
Por Kelly Miyashiro
Atualizado em 21 jun 2023, 15h35 - Publicado em 21 jun 2023,
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Marcos Pontes e Jair Bolsonaro (Carolina Antunes/Divulgação)
Marcos Pontes, ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações do governo de Jair Bolsonaro (PL), vendia através de sua empresa, Agência Marcos Pontes, viagens no Submarino Titan, da empresa OceanGate Expeditions, que está desaparecido no Oceano Atlântico desde domingo, 18, com cinco pessoas a bordo. No site da empresa era possível analisar um roteiro do passeio feito ao Titanic, navio naufragado desde 1912, mas o anúncio foi retirado do ar nesta quarta-feira, 21. Para saber o valor da aventura, era necessário preencher um formulário e entrar em contato. VEJA procurou o senador Marcos Pontes em seu gabinete, mas não obteve resposta até o momento.
“Durante sua viagem inaugural, de Southampton, Inglaterra, para New York City, Estados Unidos, no dia 15 de abril de 1912, o grande Titanic afundou, depois de uma colisão com um iceberg no Atlântico Norte. Das 2.223 pessoas a bordo, apenas 709 sobreviveram. Hoje o Titanic repousa no fundo do oceano e poucas pessoas no mundo podem ver de perto essa parte histórica, tranquila, intocada, a quase 4.000 metros de profundidade! Você pode ser uma delas! Esta é uma das mais incríveis aventuras que oferecemos: ver de perto o navio mais conhecido do mundo, o Titanic! Isso só é possível graças a um veículo especial usado para fins científicos e capaz de atingir grandes profundidades. Torne-se um especialista em missão e veja o Titanic de perto!”, dizia o anúncio.
O submarino desapareceu durante uma expedição ao Titanic iniciada na sexta-feira da semana passada, partindo do Canadá. O passeio até os destroços do navio levaria duas horas, mas o módulo perdeu comunicação após 1h45 de viagem, com um piloto e quatro passageiros a bordo. Entre os tripulantes estão o diretor-executivo da OceanGate, Stockton Rush, que pilotava o submarino; o empresário paquistanês Shahzada Dawood; Suleman Dawood, filho de Shahzada; o bilionário e explorador britânico Hamish Harding; e o ex-comandante da Marinha Francesa Paul-Henry Nargeolet, principal especialista no naufrágio do Titanic.
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