O gesto foi visto como uma "afronta" à soberania nacional e viola até mesmo os princípios de independência. O constrangimento foi ainda maior depois que a reação do governo americano foi, ao ouvir o pedido, de simplesmente mudar de assunto.
Uma das interpretações na chancelaria é de que Bolsonaro
tentou se apresentar ao presidente americano, tal como era perante o
ex-presidente Donald Trump, como a melhor escolha para os interesses
norte-americanos na região.
Isso inclui privatizações, assinatura de acordos de defesa como a parceria na Otan e compra de equipamentos militares, além de uma promessa de alinhamento. Isso, claro, desde que os americanos o apoiem.
Dentro do governo americano, há um reconhecimento de que Bolsonaro já provou ao governo Trump de que pode ser um aliado fiel em diferentes temas e organizações internacionais. Mas, para isso, precisa da chancela de Biden.
Diante de um comportamento como o de Bolsonaro, os americanos ficam diante de um dilema: defender a democracia brasileira ou seus próprios interesses.
Isso, porém, não retira o constrangimento da declaração pouco comum. Internamente, o Itamaraty já vinha criando um sistema pelo qual evitava marcar reuniões bilaterais entre Bolsonaro e líderes estrangeiros, às margens de eventos e cúpulas.
A meta era a de implementar uma estratégia de "controle de danos", mantendo alguma credibilidade da política externa, construída ao longo de décadas.
Já nas primeiras semanas do governo Bolsonaro, os riscos dos encontros bilaterais já começaram a ficar evidentes dentro do Itamaraty. Ainda em janeiro de 2019, em Davos, o presidente chegou a fazer uma piada que beirou à indiscrição diante do então primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe. Depois de alguns segundos de silêncio, o líder asiático riu. E todos respiraram aliviados.
Meses depois, num encontro num corredor da ONU [Organização das Nações Unidas], em Nova Iorque, Bolsonaro teria declarado seu apoio pelo então presidente americano, Trump.
O mais recente episódio que causou um constrangimento no governo foi quando, diante de Vladimir Putin, Bolsonaro disse que o Brasil se solidarizava com os russos. Dias antes da pior guerra em décadas começar, ele ainda insinuou que sua gestão teria levado Moscou a retirar parte das tropas.
No dia seguinte, ele voltou a causar um mal-estar ao afirmar, ao lado do húngaro Viktor Orban, que seu governo era guiado pelo lema "Deus, pátria e família", um slogan fascista.
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