segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Após 'tubaína' e 'gripezinha', Bolsonaro muda discurso e critica uso político da COVID-19

 Em post nas redes sociais neste domingo, presidente recuou no negacionismo e exaltou a ciência


Durante a pandemia, Bolsonaro desrespeitou o isolamento social com frequência

(foto: Alan Santos/PR)
A desinformação mata mais até que o próprio vírus. O tempo e a ciência nos mostrarão que o uso político da COVID-19 por essa TV trouxe-nos mortes que poderiam ter sido evitadas”. As palavras, curiosamente, são do presidente da República, Jair Bolsonaro. A manifestação, publicada no perfil do Facebook do presidente neste domingo, demonstra uma mudança de postura se comparada ao discurso negacionista adotado por Bolsonaro no início da pandemia de COVID-19.












A doença, antes reduzida a “nao é isso tudo” e tratada como “gripezinha” por Bolsonaro mostrou ter potencial devastador. Neste domingo, o Brasil registrou um total de 3.035.422 casos de coronavírus, com 101.049 mortes.

Nas últimas 24 horas, o país contabilizou 23.010 novas ocorrências da doença e 572 óbitos. O total de recuperados no país é de 2.118.460.

O presidente que critica a “desinformação’, compartilhou, no dia 1º de abril um vídeo em que um homem alegava falsamente que a Ceasa de Minas Gerais estava desabastecida. Após grande repercussão, o presidente apagou o vídeo e chegou a assumir o erro.

Ainda em abril, numa tentativa de desmerecer a Organização Mundial de Saúde, Bolsonaro publicou uma lista de falsas “diretrizes para políticas educacionais” do órgão, em que aparecia recomendações sobre masturbação e relações homossexuais para crianças de 0 a 6 anos. No texto, o presidente dizia: “Essa é a OMS que muitos dizem que devo seguir no caso do coronavírus. Deveríamos então seguir também suas diretrizes para políticas educacionais?”. Poucos minutos após a postagem, o texto foi deletado.Chama a atenção também a crítica ao “uso político da COVID-19” e a afirmação sobre as verdades serem trazidas pelo “tempo” e pela “ciência”, ditas por quem demitiu dois médicos do comando do Ministério da Saúde e colocou no comando da pasta Eduardo Pazuello, militar sem experiencia em gestão de saúde pública.

Ademais, o próprio presidente foi um dos chefes de governo que mais politizou a doença, chegando a afirmar, em 19 de maio, que “quem for de direita toma cloroquina, quem for de esquerda toma Tubaína”.

Ainda sobre cloroquina e em ciência, causa estranheza que o Bolsonaro “defensor da ciência” seja o maior propagandista do medicamento, que como ele mesmo diz “mesmo não tendo ainda comprovação científica, salvou a minha vida”.

A cloroquina e a hidroxicloroquina, além de não terem eficácia comprovada, pode ter sérios efeitos colaterais, como arritmia cardíaca, complicações nos rins, comprometimento da saúde dos olhos, e ainda, dores abdominais, náusea, diarreia e vômito.

Em entrevista ao Estado de Minas, o infectologista Unaí Tupinambás, membro do Comitê de Enfrentamento à Epidemia da COVID-19 de Belo Horizonte, ao comentar a marca de 100 mil mortes no Brasil, repreendeu a postura diversas vezes negacionista de Bolsonaro.

A ciência, os trabalhadores da área de saúde, os sanitaristas, as universidades falam uma coisa e ele vai na contramão, desautorizando essas falas”, disse o médico.

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