Queiroz fez 27 depósitos para Michelle Bolsonaro, a esposa do presidente, indica quebra de sigilo
Queiroz foi assessor do gabinete do senador Flávio Bolsonaro
na época em que este cumpria mandato de deputado estadual no Rio de Janeiro. O
filho zero um do presidente aparece como “líder” de suposta organização
criminosa em inquérito que investiga o esquema de rachadinha na Assembleia
Legislativa do Rio (Alerj), no qual assessores fantasmas repassavam parte de
seus salários para o chefe.
Entre as movimentações financeiras atípicas identificadas
pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) em 2018, também foi
identificado um depósito de 24.000 para Michelle Bolsonaro. A Crusoé apurou
nesta semana que, na verdade, a quebra de sigilo bancário de Queiroz indica
depósitos que somam 72.000 reais. A Folha confirmou essa movimentação, feita em
21 cheques de 2011 a 2016, e apurou que o repasse foi ainda maior. Isso porque
a esposa de Queiroz, Márcia Aguiar, fez seis depósitos na conta da atual
primeira-dama entre janeiro e junho de 2011 que somam 17.000 reais. Assim, o
total repassado foi de 89.000 reais.
Olhando com lupa para os depósitos, a esposa de Queiroz
repassou cinco cheques de 3.000 e um de 2.000 reais. Depois, entre outubro de
2011 e abril de 2013, Queiroz repassou mais 36.000 reais em 12 cheques de
3.000. Por fim, entre abril e dezembro de 2016 o ex-policial depositou mais
40.000 reais em 10 cheques de 4.000.
Sobre esse último montante, Jair Bolsonaro explicou ainda em
2018 que se tratava da devolução de um empréstimo. Porém, a quebra de sigilo,
que abrange a movimentação financeira de Queiroz de 2007 a 2018, não
identificou nenhum depósito feito pelo então deputado federal que comprove o
empréstimo. Há então três possibilidades: o alegado empréstimo ter sido feito a
partir de depósito em conta antes de 2007; o empréstimo ter sido feito depois
desse ano em dinheiro vivo; ou de inconsistência na versão do presidente.
Inquérito da rachadinha
A movimentação financeira de Queiroz gerou reportagens na
imprensa que levaram o ex-policial para o centro dos holofotes no final de
2018. Após ser submetido a uma cirurgia para a retirada de um câncer no
hospital Albert Einstein, em janeiro de 2019, o faz-tudo do clã Bolsonaro sumiu
dos radares das autoridades. No dia 18 de junho deste ano, o ex-assessor foi
preso preventivamente em uma casa em Atibaia, no interior de São Paulo,
pertencente ao advogado Frederick Wassef, que representava Jair e Flávio
Bolsonaro em processos e era muito próximo da família presidencial.
O inquérito sobre o chamado Caso Queiroz concluiu até agora
que ele era o operador financeiro do esquema de rachadinha do gabinete de
Flávio Bolsonaro. De acordo com o Ministério Público do Rio, Queiroz movimentou
quase três milhões de reais em sua conta bancária entre abril de 2007 e 17 de
dezembro de 2018. Desse montante, pouco mais de dois milhões vieram de centenas
de transferências bancárias e depósitos em espécie feitos por ao menos outros
11 assessores com quem o ex-policial tinha relação de parentesco, vizinhança ou
amizade. Segundo as investigações, o dinheiro era então repassado para Flávio
Bolsonaro através de outros depósitos ou pagamento de despesas pessoais. O MP
do Rio identificou mais de cem boletos de escola e plano de saúde pagos com
dinheiro em espécie, além de um depósito de 25.000 reais na conta bancária da
esposa de Flávio Bolsonaro.
Para além de seu papel como homem forte do gabinete na
Alerj, o inquérito também reforçou ainda mais o elo de Queiroz e da família
Bolsonaro com Adriano Magalhães da Nóbrega, o ex-capitão do Bope que liderava o
grupo miliciano Escritório do Crime, suspeito de envolvimento no assassinato da
vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes e que estava foragido
até ser morto em operação policial em fevereiro deste ano.
Porém, no mesmo mês da prisão de Queiroz, desembargadores da
3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro aceitaram, por dois
votos a um, o pedido de habeas corpus feito pela defesa de Flávio e concederam
foro especial para o senador. Com isso, o inquérito saiu das mãos dos
promotores do MP e do juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal, e seguiu
para o Órgão Especial do TJ, a segunda instância do Tribunal. Pouco depois, em
julho, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de
Noronha, determinou que Queiroz e sua esposa deveriam cumprir prisão
domiciliar.
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