terça-feira, 25 de abril de 2023

Prefeito que se casou com adolescente foi alvo da PF e empregou parentes

 

Hissam Dehainik, 65, já foi alvo de investigações e tem hábito de empregar pessoas próximas

Imagem: Reprodução/Facebook

Pietra Carvalho e Stella Borges

Do UOL, em São Paulo

25/04/2023 13h03Atualizada em 25/04/2023 15h40

Prefeito de Araucária (PR), Hissam Hussein Dehaini (Cidadania) se tornou assunto nacional ao oficializar o casamento com uma adolescente de 16 anos e nomear a sogra como secretária municipal.

A família de Hissam

O idoso, de 65, já foi casado pelo menos outras duas vezes e tem filhos adultos — alguns deles, inclusive, ganharam cargos depois que o pai foi eleito.

Hissam empregou a então esposa, Cristiane, as filhas Ryam e Yasmim, o cunhado José Roberto e o genro Eduardo em cargos na administração durante seu primeiro mandato, que começou em 2017.

A família chegou a ser investigada em 2019, após uma denúncia por nepotismo, mas o STF decidiu não seguir com o caso.

Hissam e Cristiane, que tiveram quatro filhos juntos, ainda estavam casados quando ele foi eleito pela primeira vez. Já no segundo mandato o político tinha outra companheira, Aline, com quem oficializou a união em 7 de abril de 2020. Ela é assessora executiva do prefeito com salário de quase R$ 12 mil, segundo o Portal da Transparência.

Cristiane, que era secretária de Assistência Social, foi exonerada menos de duas semanas após o início do segundo mandato do ex-marido.

As filhas do prefeito permanecem em cargos. Yasmim é secretária de administração e Ryam chefia a pasta de gestão de pessoas. Ambas têm salário superior a R$ 20 mil. José Roberto, irmão de Cristiane, foi secretário do trabalho até janeiro de 2019.

A vice-prefeita Hilda Lukalski Seima (PSD) é ex-cunhada de Hissam e titular do cartório no qual o casal apresentou os documentos para oficializar a união. O casamento no Brasil é permitido a partir dos 16 anos, desde que haja permissão dos pais. A irmã de Hilda era casada com o prefeito e faleceu em um acidente de carro, em 2006.

A prefeitura de Araucária disse, em nota, que não comentaria sobre o casamento porque só se manifesta sobre atos praticados por seus agentes no exercício do cargo. Sobre a nomeação da sogra, o prefeito entendeu que a servidora "reúne condições necessárias para o exercício do cargo". As filhas do político também foram procuradas, mas não houve retorno.

O prefeito disse que o casal está feliz. "Ela me faz bem e eu faço bem a ela e juntos não estamos fazendo mal a ninguém", declarou ao jornal "O Popular" do Paraná.

Vida política

Ele perdeu a eleição para prefeito em 2012, mas foi eleito em 2016 com 52,49% dos votos — 37.206 votos — e reeleito em 2020 com 68,49% dos votos válidos — 47.613.

No segundo pleito, usava o slogan "Com trabalho é possível construir uma feliz cidade".

Chegou a se reunir com figuras de destaque no cenário político, como o agora senador Sergio Moro (União), em agosto de 2022, e o ex-presidente Michel Temer (MDB), em 2020.

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram Hissam manifestando apoio a Jair Bolsonaro (PL) em sua corrida pela reeleição, no ano passado. As postagens não estão em suas redes oficiais, segundo consulta feita na manhã de hoje.

Em 8 anos, o político teve salto de patrimônio e grau de instrução. Em 2012, ao se candidatar à prefeitura de Araucária pela primeira vez, Hissam declarou ao TSE que tinha apenas o ensino fundamental completo e bens no valor de R$ 1.417.550. Já na última eleição municipal, ele afirmou ter ensino médio completo e patrimônio de R$ 14 milhões.

Maior parte dos bens de Hissam está em imóveis, helicóptero e valor em espécie. Apesar de manter participações em empresas, os maiores valores na declaração pessoal do político à Justiça Eleitoral estão em apartamentos em Curitiba, de R$ 1,8 milhão e R$ 1,2 milhão, uma aeronave de R$ 3,4 milhões e R$ 2,9 milhões em dinheiro. Também foram declarados cinco veículos Audi cujos valores somados passam de R$ 800 mil.

Homem de negócios e alvo da PF

Antes de ganhar a primeira eleição municipal, Hissam se dedicava à administração de suas empresas. Nascido na capital de São Paulo, ele se mudou para Araucária no início dos anos 1980.

Sua carreira teria começado em 1982, com uma lanchonete. "O que eu tenho hoje é fruto do meu suor e não das lágrimas de ninguém", afirmou em entrevista ao jornal "O Popular" do Paraná.

Ele foi investigado por associação para o tráfico de drogas. Antes de se envolver com política, Hissam compareceu a uma CPI Nacional do Narcotráfico para prestar esclarecimentos, após ter o nome ligado ao tráfico de drogas no Sul do país.

Ele saiu preso do depoimento à CPI, em março de 2000, e ficou detido por 104 dias na Prisão Provisória do Ahú, em Curitiba. Segundo reportagem feita à época por um jornal local, ele foi indicado por um traficante condenado como sendo uma liderança do esquema.

O empresário foi inocentado pela Justiça em 2010. O juiz responsável afirmou que era "impossível atribuir ao empresário a prática de crime de associação". "Merece destaque ainda o fato de que o próprio Ministério Público, que havia acusado Hissam de associação para traficância, considerou, no decorrer do processo, que não haviam evidências que comprovassem o crime", detalhou a decisão.

Hissam já foi investigado por outros crimes. Ele foi preso novamente em 2007 pela Operação Metástase, da PF, que teve como alvo 25 suspeitos de participar de um esquema de fraudes em licitações da Funasa (Fundação Nacional de Saúde).

Em 2015, um juiz de Roraima, onde se concentrou boa parte do caso, aceitou a denúncia feita pelo MPF (Ministério Público Federal) contra o empresário, que se tornou réu. Ele seria um dos líderes da organização, que fraudava licitações em diversas áreas da Funasa. O político seria o organizador de um esquema de corrupção ligado à prestação de serviços de horas-voos de helicóptero, segundo o jornal O Popular. À época, sua defesa disse que ele nunca pagou valores indevidos.

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