Paulo Henrique perdeu um dos olhos ao ser atingido com um murro no rosto em um bar na cidade de Brasileia. Ele disse que pretende voltar ao trabalho em breve.
Por Iryá Rodrigues, g1 AC — Rio Branco
15/11/2023
Ainda em processo de adaptação e se recuperando da lesão que sofreu, o professor Paulo Henrique da Costa Brito, de 21 anos, que perdeu um olho após ser vítima de agressão, voltou à Escola José Hassem Hall Filho, nesta terça-feira (14), em Epitaciolândia, interior do Acre. Um vídeo registrou o momento em que ele é cercado pelas crianças, que o abraçam em demonstração de carinho.
Desde que sofreu a agressão durante uma discussão em um bar
na cidade de Brasileia, no dia 3 de outubro desse ano, a rotina do jovem
professor mudou completamente. Passando por internação hospitalar, consultas,
exames e retornos médicos. E, somente essa semana, foi que ele conseguiu
retornar ao local de trabalho para rever os alunos e colegas.
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Quatro testemunhas já foram ouvidas pela Polícia Civil em
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Ele contou que tenta se readaptar à nova condição e que a
retomada, aos poucos, à sua rotina faz parte do tratamento. Brito relatou que
pretende voltar ao trabalho em breve.
“Fui ver os colegas, os alunos, foi o primeiro contato. Eu
confesso que eu tava bastante ansioso pra voltar. É uma coisa que eu nunca
tinha passado na minha vida, um trauma, que mexe, infelizmente, com o
psicológico. Então, eu estava muito nervoso, só que depois desse primeiro
contato, deu uma acalmada. E é ainda mais fácil quando tem pessoas que estão
ali do seu lado, prestando toda ajuda e palavras de conforto. Isso nesse
momento é muito importante. Faz parte do tratamento, até porque ficar parado,
sem ocupar a mente, é pior”, disse o professor.
Professor que perdeu olho após agressão no AC visita escola
que dava aula e é recebido por alunos — Foto: Reprodução
Na semana passada, o delegado responsável pela investigação
do caso, Erick Maciel, contou ao g1 que o inquérito deve ser concluído até o
dia 29 deste mês. Segundo ele, faltava a vítima fazer exame de corpo de delito,
considerado decisivo para determinar a gravidade das lesões, e também ser
ouvido na delegacia.
O delegado informou que já ouviu testemunhas e o empresário Adriano Vasconcelos Correa da Silva, de 47 anos, apontado como responsável pela agressão. O g1 não conseguiu com a defesa do empresário.
Paulo Henrique [à esquerda] foi agredido pelo empresário
Adriano [à direita] — Foto: Arquivo pessoal
Conforme o professor, o exame foi feito na quarta-feira (8)
no Instituto Médico Legal (IML) de Rio Branco e ele também foi até a Delegacia
de Flagrantes na capital para prestar seu depoimento sobre o caso.
Brito falou sobre o processo de recuperação. “Graças a Deus
está sendo um processo rápido de cicatrização, ainda continuo me adaptando
porque é uma coisa que só vivenciando para poder atender. Quanto às lesões,
infelizmente, é irreversível. Se trata de um membro do corpo que foi amputado e
que não tem como voltar ao que era antes. O melhor que posso fazer é me
adaptar. Vou precisar fazer a reconstrução dos canais lacrimais, que foram
dilacerados no golpe. É uma cirurgia que não é feita aqui no Acre, então
estamos dando entrada pelo TFD [Tratamento Fora de Domicílio].”
Marcas para o resto da vida
Poucos dias após o caso, Brito contou que lembra apenas de
alguns flashs do momento da agressão. O agressor estava com um copo de vidro na
mão que quebrou no rosto da vítima.
A agressão foi ao lado de uma viatura da Polícia Militar e
registrada por câmeras de segurança. Paulo contou que teve cortes profundos no
olho e precisou retirar o globo ocular esquerdo, perdendo a visão.
Professor mediador de crianças atípicas, ele definiu o
suspeito como bárbaro e disse não entender o motivo da violência. No dia do
acontecido, ele tinha acabado de sair do trabalho, quando resolveu parar no bar
para tomar um chopp com amigos.
Paulo Henrique da Costa Brito, de 21 anos, foi gravemente
ferido perdeu a visão do olho esquerdo — Foto: Arquivo pessoal
“Chegou um hippie vendendo os artesanatos dele quando a
equipe do bar chegou expulsando o rapaz e eu vendo aquilo me incomodei e pedi
para a equipe do bar não tratar ele daquela forma. Chamei o rapaz para sentar
na minha mesa, tanto que o hippie foi lá, sentou, ainda tomou uma cerveja
comigo e aí enquanto a gente estava tomando uma cerveja, eu, sinceramente não
lembro dessa história de cuspe, mas fiquei sabendo que teve um cuspe, que
disseram que esse foi o pivô para o bate-boca entre minha mesa e o casal que
estava do lado, tanto que é o que está explícito na imagem”, disse.
O professor relembrou que nesse momento houve um
desentendimento entre ele e um casal que estava incomodado com a presença do
hippie. Segundo ele, não conhece o andarilho, apenas de vista, mas que o fato
de como estavam tratando ele o incomodou.
Protesto
O caso gerou indignação em Epitaciolândia, onde Brito reside,
e moradores fizeram um protesto por conta da agressão. Com cartazes e gritos de
ordem, familiares e amigos dele se juntaram aos moradores para pedir justiça.
O agressor, identificado como o empresário Adriano
Vasconcelos Correa da Silva, de 47 anos, foi preso em flagrante, passou por
audiência de custódia um dia após o caso e foi solto após pagar R$ 10 mil de
fiança.
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