Confrontado por dados obtidos pela investigação, proprietário, que é negro, assumiu que criou a conta e enviou o pedido. Na mensagem, pedia que a entrega fosse feita por entregador branco.
Por Janaína Lopes, g1 RS
Mensagem racista foi enviada através de pedido feito via aplicativo — Foto: Reprodução / Polícia Civil
A Polícia Civil concluiu que a mensagem racista enviada em pedido de delivery a uma pastelaria em Campo Bom, na Região Metropolitana de Porto Alegre, era do próprio dono do estabelecimento, Gabriel Fernandes. O inquérito foi concluído nesta sexta-feira (17), com a denunciação do proprietário por falsa comunicação de crime.
Segundo o delegado responsável pela investigação do caso,
Rodrigo Câmara, a partir de análise e cruzamento de dados, os policiais civis
verificaram a autoria da mensagem.
O dono da pastelaria é negro e afirmou aos policiais que
simulou a mensagem por motivos pessoais, que não quis detalhar, conforme
Câmara. O caso era até então investigado como racismo ou injúria racial, porém
agora passa a ser tratado como falsa denunciação de crime.
"O proprietário do restaurante foi novamente intimado
para prestar declarações e, então, confrontado pela Polícia Civil a respeito
dos dados obtidos, disse que gostaria de se retratar, assumindo que ele próprio
criou a conta no aplicativo do iFood e encaminhou o pedido com a observação
discriminatória", conta o delegado.
O g1 entrou em contato com a pastelaria pedindo
posicionamento, e não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
O IFood, plataforma usada no pedido, informou, por meio de
nota, que segue à disposição das autoridades para colaborar com as
investigações, e que em caso de confirmação de violação dos termos de uso da
plataforma, serão tomadas as medidas cabíveis. A empresa não detalhou se
identificou a autoria do pedido.
O pedido
O caso aconteceu no dia 14 de novembro. Na nota que
acompanhava o pedido feito à pastelaria, estava escrito: "última vez veio
um motoboy negro, peço a gentileza que mande um branco, não gosto de pessoas
assim tocando a minha comida". O motoboy seria o próprio Gabriel, conforme
a empresa.
O restaurante fez o cancelamento e acionou a Polícia Civil.
O nome que assinava o pedido não correspondia a nenhum morador do prédio
indicado para a entrega. O número que seria do apartamento não existe.
O Ifood, plataforma de entregas usada para fazer o pedido,
informou ao g1 que a conta utilizada foi criada naquela mesma data, 14 de
novembro, com um único pedido realizado.
Outra proprietária do estabelecimento, Daniela Rodrigues,
enviou ao g1 prints que mostram o suposto diálogo com o autor da mensagem.
Dona de pastelaria compartilhou mensagens trocadas após
pedido supostamente forjado: 'Não compre mais aqui' — Foto: Reprodução
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