Uma investigação jornalística de sete meses revela que estabelecimentos na Grande São Paulo são semelhantes aos antigos manicômios — e que outros são ainda piores.
Por Fantástico
26/11/2023
Sem saber o que fazer com os dependentes de drogas, muitas famílias recorrem a internações em comunidades terapêuticas. Elas, em teoria, deveriam funcionar como casas de apoio, mas muitas não têm licença para funcionar nem estrutura de acolhimento.
Uma investigação jornalística de sete meses revela que
vários desses lugares na Grande São Paulo são semelhantes aos antigos
manicômios — e que outros são ainda piores. Há agressões, tortura e até uma
denúncia de assassinato.
Em uma das unidades da Comunidade Terapêutica Kairós, por
exemplo, imagens mostram um homem sendo agredido por sete pessoas. Em outra
unidade, este ano, dois internos morreram (assista na reportagem em vídeo
acima).
Uma paciente falou ao Fantástico sobre a violência que
sofreu na Kairós e como foi enganada à primeira vista.
“Eu estava com dependência de medicação, e a minha prima
procurou uma pela internet, porque a Kairós é realmente muito bonita pelas
fotos”, disse a mulher, que não quis se identificar.
Entre dezembro e março deste ano, ela ficou na unidade
feminina da Kairós, em Juquitiba — contra a própria vontade.
As comunidades terapêuticas são entidades privadas que
oferecem acolhimento para dependentes de drogas — muitas cobram pelo serviço.
“Do portão para dentro, as coisas mudam. Lá é um sistema de
cadeia”, relata.
Métodos de punição
A paciente contou sobre um local na unidade conhecido como
“buraco”: “Ele serve para deixar as meninas de castigo”.
Outro método de castigo conhecido pelos internos é a
“parede”: “Tem que ficar o tempo todo olhando para a parede”, diz a mulher.
Segundo a paciente, além da violência física, as agressões
psicológicas também eram constantes. “Dentro da Kairós, ou você entra no
sistema, ou você vai tomar gogó”. O “gogó”, citado pela entrevistada, é um
golpe conhecido com mata-leão.
“Geralmente, eles [os gogós] são dados na frente de todo
mundo, que é para todo mundo ver”, conta a interna.
A Kairós feminina, onde a mulher ouvida pelo Fantástico diz
ter sido torturada, segue aberta, em processo de regularização. A reportagem
foi até o local, mas a dona se recusou a dar entrevista ou enviar qualquer
posicionamento.
Já sobre a violência contra o homem agredido por sete
pessoas, o advogado do dono da Kairós disse que os envolvidos foram
identificados, os funcionários demitidos e os nomes repassados para a polícia.
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