Professora de dermatologia que participou da fase 3 do estudo do baricitinibe, droga aprovada pela Anvisa para tratamento da alopecia areata, doença autoimune que provoca queda capilar, diz que medicamento apresenta 'melhor perfil de segurança e eficácia'.
Por Fernando Evans, g1 Campinas e região
11/11/2023
Imagens de antes e depois de pacientes após 36 semanas de tratamento com o baricitinibe. — Foto: Universidade de Yale/Divulgação
O novo remédio aprovado pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) para tratamento da alopecia areata, doença autoimune que
provoca queda capilar, tem recomendação para uso contínuo e apresenta, segundo
uma professora de dermatologia da Unicamp, "menos eventos adversos"
que outros medicamentos disponíveis no mercado.
Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Renata
Magalhães explica que o baricitinibe, também conhecido pelo nome comercial de
Olumiant, apresenta "melhor perfil de segurança", com "menos
eventos adversos por ter mecanismo de ação diferente" dos medicamentos
atuais, como os corticoides e imunossupressores.
"A alopecia areata é difícil de tratar, com pacientes
que podem repilar espontaneamente, e outros mesmo com tratamento prolongado
podem não responder. É uma doençe de curso imprevisível, e a vinda de novos
mecanismos é muito bem-vinda", destaca.
A dermatologista explica que até o momento, os tratamentos
disponíveis para alopecia têm um bom resultado quanto se está usando o
medicamento, e quando para, há risco de perder. Por isso, a princípio, o
tratamento é de uso contínuo.
Avaliação individual
Ainda de acordo com Renata, que é professora de dermatologia
na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, um dos centros que
participou do estudo com 1,2 mil pacientes em todo o mundo, há inúmeros fatores
que podem interferir no tratamento, como o tempo de evolução da doença.
Nesse cenário, quanto mais recente a manifestação da
alopécia areata, melhores as chances de repilação (volta dos fios).
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A dermatologista destaca que há necessidade de avaliação
individual, mas em geral, pessoas mais idosas e com comorbidades, como doenças
cardiovasculares, colesterol alto e trombose, têm mais risco de eventos
adversos - além daqueles que tenham sensibilidlade a algum componente da
fórmula.
"Importante lembrar que ele interfere no sistema
imunológico, então pacientes com hepatite, tuberculose ou infecção bacteriana
ou viral, precisam tratar o episódio primeiro, e não devem tomar o remédio até
ter a situação controlada", explica.
Vale ressaltar que a condição alvo do tratamento é diferente da alopecia androgenética, a calvície que herdamos de nossos familiares.
Como se trata de uma nova indicação terapêutica, o
medicamento já está disponível. Em nota, a fabricante Eli Lilly do Brasil
informou ao g1 que a dosagem de 4 mg tem um preço máximo ao consumidor (PMC) de
R$ 5.648,25, sem impostos.
Estudos
De acordo com o FDA, a agência regulatória de saúde dos EUA,
que também aprovou a indicação do Olumiant para a alopecia areata, a eficácia e
a segurança do baricitinibe foi estudada em diversas pesquisas.
Um estudo chegou a comprovar pelo menos 80% de cobertura
capilar do couro cabeludo em pacientes após 36 semanas de tratamento (veja
imagem acima).
Outra pesquisa mostrou que 22% dos pacientes (de um total de
184) que receberam 2 miligramas do Olumiant e outros 35% (de um total de 281)
que receberam 4 miligramas alcançaram uma cobertura adequada do couro cabeludo.
Por outro lado, apenas 5% dos pacientes (de um total de 189) dessa mesma
pesquisa que receberam placebo (substâncias inertes) apresentaram o mesmo
resultado.
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cabelo crescer de volta
Com um ambulatório que atende casos relacionados a cabelos,
a Unicamp foi um dos centros escolhidos pela farmacêutica para participar da
fase 3 dos estudos, e o processo teve início antes mesmo da pandemia da
Covid-19.
Ao todo, foram selecionados nove participantes entre
pacientes que tinham critérios para inclusão no estudo - todo o protocolo,
padronizado entre todos os centros, foi voltado para maiores de 18 anos.
Renata Magalhães destaca que após o encerramento do estudo, pacientes que se beneficiaram pelo uso do baricitinibe foram convidados pelo laboratório para manter a aplicação, e quem não apresentou boas respostas ou não teve interesse, voltou aos demais tratamentos que a instituição oferece.
Outras aplicações
No Brasil, o Olumiant também é aprovado para o tratamento de
Covid-19 em certos adultos hospitalizados.
Além disso, o baricitinibe também já tem registro para o
tratamento de artrite reumatoide ativa moderada a grave e dermatite atópica
moderada a grave.
No início de 2022, a droga também foi aprovada como o primeiro medicamento para o tratamento da Covid-19 no Sistema Único de Saúde.
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