Ele era o verdadeiro alvo dos traficantes que executaram os médicos por engano no Rio.
Por Fantástico
05/11/2023 21h54
PF e Ministério Público prendem chefes da milícia de Rio das
Pedras
Taillon e a família têm vários bens. Além de uma lancha e
casa em Angra dos Reis, casas e apartamentos de luxo no Rio de Janeiro.
Ao todo, foram 13 mandados de prisão. Taillon e o pai foram
presos na terça-feira (31). Dois policiais militares e um ex-sargento do
Exército, que trabalhavam como seguranças de Taillon, também foram presos em
flagrante. Além deles, outras 5 pessoas também foram presas.
No início de outubro, era Taillon o alvo procurado por
traficantes na orla da Barra da Tijuca. O ataque terminou com três médicos
mortos. As investigações apontaram que um dos médicos, Perseu Ribeiro Almeida,
foi confundido com Taillon e, por isso, assassinado.
A criação da milícia
A milícia de Rio das Pedras foi criada ainda nos anos 1980.
Em 1983, cerca de 20 mil pessoas viviam na comunidade. Hoje, o local virou
bairro e agora, cerca de 200 mil pessoas moram lá.
O nome de Dalmir, pai de Taillon, ganhou destaque nacional
em 2008 na CPI das Milícias como um dos chefes de Rio das Pedras. Em 2011, ele
foi expulso da PM por violar a ética e o dever policial. Em 2020, ele foi preso
numa operação contra as milícias e passou cumprir pena em prisão domiciliar.
Já Taillon foi preso, anteriormente, em dezembro de 2020
numa outra operação contra a milícia. Foi condenado a 8 anos e 4 meses por
participação na organização criminosa. Ficou preso até março deste ano, depois
passou para prisão domiciliar. E em setembro começou a cumprir a pena em
liberdade
A milícia, que no início dizia combater a violência, nunca
foi tão parecida com o tráfico. O terror impera e os moradores são reféns.
“A milícia de Rio das Pedras, ela nos últimos anos passou
por reformulações na composição dos seus integrantes. Antes se via uma milícia
que era integrada com agentes do estado ou ex-agentes do estado e hoje em dia a
gente vê a milícia integrada por integrantes de facções criminosas vinculados
ao tráfico de drogas”, diz Letícia Emili, subcoordenadora do Gaeco.
“Hoje a gente pode falar com muita clareza de narcomilícias.
Ela hoje já está num segundo momento, em que a gente já tem dados
investigativos concretos da sinergia com uma facção criminosa ligada ao
narcotráfico. Então hoje, praticamente para a gente é uma coisa só”, completa
Leandro Almada, superintendente da Polícia Federal no Rio.
Como funciona a milícia de Rio das Pedras
Imagens exclusivas mostram como o grupo criminoso age. Quem
não paga e não aceita as condições impostas pelos milicianos: é agredido ou
morto.
Uma delas mostra a brutalidade do grupo. Quem fica devendo
ou desrespeita à milícia pode ser torturado ou morto. Tudo é registrado pelos
próprios milicianos.
Outro vídeo foi feito depois de uma execução e enviado como
comprovação para os chefes da milícia - "Serviço feito. Acabou o
problema."
Um ex-morador de Rio das Pedras fugiu de lá depois que um
parente foi morto por discutir com um miliciano.
“ Foi uma coisa muito pesada, não dava para continuar. Foi
uma morte violenta e sem necessidade. Agora a vida não tem valor. Os moradores
são obrigados a pagar, pra morar. Independente de ter dinheiro ou não, tem que
pagar", relata.
Em outro áudio obtido pelo Fantástico, dois integrantes da
milícia falam sobre as cobranças de taxas.
“Você tem 90 moradores no condomínio.53 pagam. Você tem que
fazer um trabalho pra aumentar 3,4,5,10 por mês. Pra diminuir, não tem como. Ou
paga ou paga, filho. Quem não tá pagando, tem que começar a pagar.”
As taxas variam de R$ 50 a R$ 12 mil, as mais altas,
cobradas para alguns comerciantes. “É uma situação que chegou ao extremo. Uma
situação dessa daí se piorar, eu acho que vira guerra”, completa o ex-morador.
O Fantástico não conseguiu contato com a defesa dos presos
da operação.
“O que se deve hoje em dia combater e buscar desenvolver é
justamente sufocando, asfixiando o poderio econômico esses grupos criminosos.
Dessa forma se conseguirá avançar de fato no combate ao crime organizado”,
completa Letícia Emili.
“É importante que a gente faça as intervenções e dê a nossa contribuição da Polícia Federal nesse processo, para que a gente possa colocar aí um, tentar, colocar um ponto de inflexão nessa curva, porque o cenário é desafiador para todas as autoridades”, destaca Leandro Almada.
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