Concerto
apresentado, na noite desta segunda-feira (30/11), teve ópera de Richard
Wagner, compositor antissemita admirado pelo Terceiro Reich. Presidente Jair
Bolsonaro esteve presente na cerimônia. FAB ainda não se manifestou sobre o
assunto.
Luana
Patriolino
postado em 29/11/2021 23:02 / atualizado em 29/11/2021 23:14
(crédito: Reprodução)
Presente
nas comemorações alusivas aos 80 Anos da Força Aérea Brasileira (FAB), o
presidente Jair Bolsonaro foi recepcionado, na noite desta segunda-feira
(30/11), com uma ópera do compositor alemão Richard Wagner (1813-1883). O
artista ficou conhecido pelo antissemitismo e foi exaltado pelo Terceiro Reich,
como símbolo de música nacionalista pelos nazistas. (Veja o vídeo abaixo)
Wagner
morreu antes da ascensão de Adolf Hitler ao poder na Alemanha, mas exerceu
forte influência sobre a doutrina nazista. Era um dos principais compositores
usado na propaganda nacional-socialista comandada pelo Führer. Não é a primeira
vez que o compositor alemão vira referência durante o governo do presidente
Jair Bolsonaro. O ex-secretário Nacional de Cultura, Roberto Alvim,
tinha Richard entre seus artistas prediletos.
A ópera
tocada no evento desta segunda-feira foi Os Mestres Cantores de
Nuremberg: Prelúdio. Como parte das comemorações alusivas aos 80 Anos da
FAB, foi realizado o Concerto de Estreia da Orquestra Sinfônica da Força Aérea
Brasileira. Transmitido pelo YouTube, o evento começou às 20h. Além do
presidente, outras autoridades estiveram presentes. Jair Bolsonaro não se
pronunciou na solenidade.
Em
janeiro do ano passado, o secretário nacional da Cultura Roberto Rego Pinheiro,
conhecido como Roberto Alvim, foi
exonerado após um discurso no qual usou frases semelhantes às usadas por Joseph
Goebbels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler durante o
governo nazista. Alvim também apresentou, ao fundo, uma música de Richard
Wagner.
O Correio entrou em contato com a FAB, mas até o momento não obteve resposta. O espaço permanece aberto para manifestação do órgão.
Quem foi Richard Wagner
Quem foi
Richard Wagner
Além do
talento para a música, o compositor Richard Wagner (1813-1883) ficou conhecido
pelo antissemitismo — uma das razões para ser reverenciado por
Hitler. O autor, que pertencia ao grupo conservador dos
"nacionalistas alemães", teria publicado nos anos 1850 e 1869 um
panfleto denominado "Sobre o Judaísmo na Música", no qual
menosprezava a produção artística de judeus contemporâneos a ele, como Giacomo
Meyerbeer e Mendelssohn-Bartholdy.
“As
composições de Richard Wagner eram sempre tocadas nos comícios do governo
nazista. Nos dias de hoje, os historiadores rotulam a idéia do ‘germanismo ariano’
dentro das obras do artista. A corrente wagneriana dos dias atuais está sempre
em aproximação com Hitler”, explica ao Correio o historiador
pela Universidade de Brasília (UnB) Jonas Carreira.
O
historiador Gustavo Glielmo destaca que em Israel, por exemplo, o compositor
ainda hoje causa mal-estar. “É de muito mau gosto tocar Richard Wagner em
Israel. Por esse mesmo motivo. Muitos músicos de renome já tiveram problemas
porque insistiram em tocar Richard Wagner no país”, afirma.
Glielmo ressalta que, apesar de ser exaltado, Wagner não pode ser considerado nazista, pois viveu muito antes do Terceiro Reich. “Richard é muito anterior ao nazismo. Ele morreu no século 19, e o nazismo é do século 20. Os nazistas encontraram alguma inspiração nele, mas ele não contribuiu em nada com o nazismo”, diz. “Richard Wagner era um antissemita declarado. Era um compositor admirado por Hitler, sem dúvida alguma. O músico era entendido pelo nazismo como parte das raízes culturais alemãs”, conclui.
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