Documento que envolvia PCC com site Intercept foi adulterado e referência a Moro é “projeto M” e não “Tokio”
Perito em computação confirmou que existe 95% de chances de falsificação na peça que acusa sem provas ligação da facção com o portal investigativo
O professor de computação forense da UFABC (Universidade Federal do ABC) e MBA (Master of Business Administration) da USP (Universidade de São Paulo), Mario Gazziro, disse que há 95% de possibilidade de que seja falso o documento sobre a acusação, sem provas, que relaciona o portal investigativo The Intercept Brasil à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) de São Paulo.
“Não me refiro apenas ao contorno em vermelho adicionado à edição, pois o padrão azul indica que o conteúdo dentro dessas linhas não é compatível com o padrão de artefatos de compressão do resto da imagem, demonstrando claramente (e com validade em tribunal) que esse conteúdo foi substituído ou editado“, afirmou Gazziro, em reportagem da Revista Fórum.
“As regiões em azul foram destacadas após aplicação de um filtro conhecido como analise ELA a 95% que destaca regiões as quais não seguem o mesmo padrão de artefatos de compressão do restante do documento, provando que aqueles trechos sofreram adulteração digital“, acrescentou o MBA.
“Resolvemos fazer a análise digital da imagem apresentada pelo site e encontramos grave indício de manipulação digital pela técnica ELA (error level analysis), usando o software forense chamado Sherloq (disponível no github)“, disse Gazziro.
A publicação reveladora diz ainda que foi o âncora da TV Record e jornalista da Jovem Pan em Curitiba (PR), Marc Sousa, quem divulgou o documento com as prováveis adulterações. Veja as imagens a seguir e leia mais na sequência:
“Armação”
A análise do estudioso foi revelada em um contexto no qual a Operação Sequaz, da Polícia Federal, que prendeu na última quarta-feira (22/3) suspeitos de integrar o PCC e planejar o assassinato do senador Sergio Moro (União Brasil-PR), que tentou associar a facção criminosa ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Juristas e internautas argumentaram sobre a hipótese de Moro ter feito armação para tentar desestabilizar o governo Lula. A palavra “armação” foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais.
The Intercept Brasil x Jovem Pan
O site investigativo The Intercept Brasil, que divulgou a série de reportagens Vaza Jato, revelando ao Brasil as mensagens via aplicativo Telegram, trocadas por Sergio Moro, o ex-procurador e hoje deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR), e outros membros da operação Lava Jato de Curitiba, recebeu questionário da rádio bolsonarista Jovem Pan sobre um suposto financiamento que o veículo receberia do PCC.
Em nota, o The Intercept Brasil criticou a emissora afirmando que “O jogo é sujo, nós sabemos. Nós repudiamos mais essa tentativa de criminalizar o nosso jornalismo e de associá-lo ao crime organizado. Não recuaremos” (Leia a íntegra aqui).
Nas publicações, o portal investigativo expôs a interferência de Moro na elaboração de denúncias, que deveriam ter sido feitas pelos promotores do Ministério Público Federal do Paraná.
A partir e então, o ex-juiz determinou a prisão de Lula tirando-o da corrida presidencial na eleição de 2018 para, no ano seguinte, ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL), cargo que chegou a ocupar, mas o deixou alegando tentativa de interferência do então governo na Polícia Federal, subordinada à pasta.
Em 2021, o Supremo Tribunal Federal declarou a suspeição de Moro nos processos contra Lula.
Em 2022, quando tentava candidatura ao Senado, Moro foi derrotado no TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral) por fraudar seu domicílio eleitoral. Após a decisão, ele foi candidato pelo Paraná.
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