Os números dos casos de Covid-19 em Governador Valadares preocupam. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, ontem (18) foram registradas mais três mortes e a cidade chegou ao número de 331 óbitos até o momento. Só no mês de novembro já são 32 mortes.
O resultado do aumento de casos e mortes foi a regressão de Valadares para a Onda Vermelha, no Programa Minas Consciente. O Diário do Rio Doce procurou um infectologista para falar a respeito dessa regressão e possível chegada de uma segunda onda da doença.
Flávio Guimarães da Fonseca é infectologista, virologista (especialidade que estuda os vírus e suas propriedades) e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele lembra que durante o período de flexibilização deu uma “sensação de que está tudo bem”, mas a pandemia ainda não foi controlada.
No boletim epidemiológico de Governador Valadares já são 9.544 casos confirmados, sendo 8.961 recuperados, 21 internados em ala, 27 internados em UTI, além de 204 em isolamento social. O número de casos suspeitos, que estão em investigação, é de 234.
Em relação à taxa de ocupação de UTI no SUS, o número é de 85,4%, enquanto nos hospitais particulares continua em 100%.
De acordo com o virologista, a flexibilização e desobediência do uso da máscara era tudo que o vírus Sars-coV2 precisava para se proliferar. “A explicação na verdade está dentro da própria circunstância. Quando o número de casos começa a cair e as fases de flexibilização elas avançam para abertura de locais, as pessoas começam a circular com mais frequência. Então o próprio fato das pessoas circularem em ambientes que antes estavam fechados, como bares e restaurantes, isso facilita para o vírus circular. Era tudo que o vírus precisava. Isso está ocorrendo em outros países também. O número de casos no Brasil não caiu o suficiente para garantir uma total segurança”, explicou.
Procurada pelo DRD, a Secretaria Municipal de Saúde se manifestou sobre os casos da Covid-19 em Valadares e inclusão do município na Onda Vermelha. A secretária Edna Gomes Leite pediu para a população continuar seguindo as recomendações dos órgãos de saúde para diminuir os indicadores. “Como foi anunciado pelo Estado, a nossa macrorregião Leste – na qual Governador Valadares está inserida – regredirá a partir deste sábado (21) para a onda vermelha, de acordo com o Plano Minas Consciente. Por isso precisamos continuar seguindo as recomendações dos órgãos de saúde para que consigamos melhorar os indicadores da cidade e assim termos flexibilizações. Todos podem e devem fazer sua parte”, disse.
“Brasil não saiu nem da primeira onda”
Flávio Guimarães da Fonseca ressalta que a segunda onda é uma certeza. Mas o Brasil ainda está enfrentando a primeira onda desde julho. “Essa questão é complexa. Os próprios cientistas têm dificuldades para explicar isso. Praticamente já está acontecendo a segunda onda no mundo, mas o Brasil ainda nem saiu da primeira onda. Na Europa teve uma diminuição quase que completa da curva, isso no Brasil não aconteceu, desacelerou por um tempo, mas ainda era um número alto de mortes por dia. Portanto o que pode acontecer é uma aceleração da primeira onda ainda no Brasil”, disse.
A chegada da vacina
A corrida por uma vacina contra a Covid-19 também foi comentada por Flávio. Entretanto ainda não existe nenhuma fórmula efetivamente aprovada para distribuição e também muitas dúvidas pairam sobre o tema. Afinal, o que podemos esperar das vacinas que estão sendo estudadas? “Com relação às vacinas a gente tem acompanhado na mídia as fases de cada uma. Os resultados preliminares que eu estou percebendo são muito bons, com taxas de eficácia acima de 90%, acima até da expectativa de alguns laboratórios. Hoje temos 12 vacinas na fase 3, então certamente teremos vacinas licenciadas em breve”, disse Flávio.
A grande pergunta é quando a vacina estará realmente disponível para a população? Flávio diz que não será tão simples assim.
“Há um desafio logístico enorme por vir. Primeiro por parte das produtoras de vacinas em geral de produzir uma demanda gigante de vacinas, pois é uma necessidade global, e, segundo, a própria logística interna de cada laboratório em distribuir essas vacinas. Mas a gente vai ter desafios. É quase que uma certeza que teremos uma vacina já em 2021, mas a distribuição dessa vacina será lenta diante dos desafios logísticos. Uma imunização em massa será demorada”, explicou.
Flávio Guimarães da Fonseca é infectologista, virologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
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