sábado, 21 de novembro de 2020

Brasil registra 85 assassinatos de candidatos em 2020, diz pesquisa

 Candidato Prefeitura de Armação de Búzios sofre atentado

Candidato Prefeitura de Armação de Búzios sofre atentado

Reprodução/Record TV Rio


Levantamento do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania revela ainda outras 119 agressões contra candidatos no país até 20 de novembro


Um levantamento elaborado pelo cientista político Pablo Nunes, coordenador do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, fundado pela Universidade Cândido Mendes, revelou que 85 candidatos nas eleições municipais de 2020 foram assassinados no Brasil até o último dia 20 de novembro. Os dados abrangem políticos que concorreram aos cargos de vereador, prefeitos e vice-prefeitos.

De acordo com o Pablo Nunes, doutor pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), houve outros 119 registros de agressões contra políticos que registraram candidaturas. O pesquisador também elaborou um mapa que consolida os casos de homicídios, tentativas e outras agressões violentas intencionais contra vereadores e prefeitos.

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Os assassinatos ou tentativas são praticados em praticamente todos os estados brasileiros, em cidades pequenas ou grandes centros. Recentemente, o candidato a vereador de Guarulhos, na Grande São Paulo, Ricardo Moura (PL)São Paulo, foi baleado enquanto fazia uma transmissão ao vivo pelo celular.

Em São Vicente, município da Baixada Santista, a candidata a prefeita da cidade Solange Freitas (PSDB) teve o carro atingido por tiros. A blindagem do veículo protegeu a política e equipe que a acompanhava.

Já o candidato à Prefeitura de Armação de Búzios (RJ) Tom Viana (PSL) foi vítima de um ataque a tiros em Cabo Frio, na região dos Lagos. O político, que é policial militar, não foi atingido porque o veículos era blindado. Segundo o depoimento da vítima, dois homens em uma moto emparelharam na estrada e efetuaram os disparos.

Motivações dos crimes

Pablo Nunes considera inviável elucidar os motivos de grande parte dos atentados em razão das deficiências verificadas nas investigações policiais de homicídios e da "alta impunidade nos crimes violentos" no país.

"[Em] muitos desses casos de mortes de políticos, a gente tem as informações que foram colocadas pela imprensa e algumas atualizações que também foram feitas por esses órgãos. Então, é muito difícil definir algumas das motivações", frisou.

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O especialista identificou muitos indícios na dinâmica dos crimes que o levam a suspeitar de casos de execução. "Essa dinâmica de dois homens em uma moto ou dois homens em um carro, que saltam desse veículo e efetuam disparos contra o político."

No entanto, o cientista político Pablo Nunes considera difícil atrelar os crimes aos mandantes ou definir se a motivação partiu de uma rixa local e relacionada à atividade política da vítima ou uma possível ligação com o crime organizado.

"É muito difícil fazer uma linha divisória entre o que é nitidamente uma motivação política ou motivação de crime organizado, porque essas fronteiras estão meio meio apagadas, opacas. Mas, sim, tem alguns casos em que há milícia e questões de tráfico envolvidos", avaliou.

Se a descoberta da motivação dos assassinatos é penosa para as autoridades policiais, a elucidação dos assassinatos também tem índices baixos. Poucos casos chegam a julgamento e os processos abertos podem se arrastar por até cinco anos.

"A gente tem casos, como o de um candidato a vereador em Patrocínio [MG] que foi morto enquanto estava em uma live na internet. Então, toda a dinâmica foi filmada e o autor foi rapidamente reconhecido. De certa forma, é uma investigação que vai ser mais fácil. Nos outros casos, que são a grande maioria, são a dinâmica de execução em que os criminosos rapidamente fogem da cena do crime e muitos deles não deixam rastro", complementou.

Perfil das vítimas

Segundo o estudo publicado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania, a maioria das vítimas é composta por homens — salvo poucos casos nos quais as mulheres foram alvo dos assassinos — com idade média de 49 anos. Também não foi possível fazer um recorte racial com a análise dos crimes, um dos pontos pretendidos pela pesquisa.

"Existem dois ou três casos de mulheres que foram mortas. No caso das mulheres, não é uma proporção significativa, porque a gente sabe que as mortes violentas no país se concentram na população masculina. Mas esse numero de 49 anos em média aponta para uma diferença dos homicídos no geral, pois o político, normalmente, tem um perfil mais velho do que a população em geral", explicou Nunes.

Impacto na democracia

Pablo Nunes vê a violência política como uma ferramenta nas disputais eleitorais no país e avalia que uma das suas consequêncas é o enfraquecimento do sistema democrático, pois tira a possibilidade de votar e ser votado que o cidadão possui.

"Quando você, por meio da violência, proíbe a pessoa de se colocar como candidato, você está colocando em xeque e impossibilitando que uma parcela da população tenha um representante dos seus interesses. A própria ideia da democracia é colocada em xeque", finalizou.

A delegada Raquel Kobashi Gallinati Lombardi, presidente do Sindpesp (Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), também vê os atentados contra candidatos com preocupação pelo abalo à democracia.

A policia explica que, ao se deparar com um crime de homicídio ou tentativa de homicídio, a Polícia Civil precisa considerar todas as variáveis ao iniciar a investigação. Apenas ao final das apurações, o delegado poderá indicar no inquérito policial, com base nas provas coletadas, se a motivação do crime foi política.

"De qualquer forma, um crime contra um candidato durante o período eleitoral fere também o processo democrático, porque interfere diretamente no processo de escolha das pessoas que assumirão o poder político e administrativo da cidade, do Estado ou até mesmo do país", enfatizou a delegada Raquel Gallinati Kobashi Lombardi.

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MG: Polícia procura homem que fez amigo cavar fossa e depois o matou

A Polícia Civil está há três anos procurando por José Maria Pinheiro Pedroso, de 56 anos. Ele é suspeito de matar “Luizinho da Bicicleta”, à época com 64 anos, em Contagem (MG). De acordo com as investigações, o objetivo do homem foi ficar com R$ 30 mil referente à venda de um imóvel da vítima. As informações são do jornal O Tempo.

 Crédito: Divulgação/ Polícia Civil

O corpo de “Luizinho da Bicicleta” foi encontrado em abril de 2017 em uma fossa de três metros que José Maria teria feito a vítima cavar. Conforme o delegado Anderson Resende Kopke, o crime teria ocorrido cerca de seis meses antes.

 

As investigações apontam que José Maria era conhecido na região como “faz tudo” e, entre as funções desempenhadas, negociava imóveis. Em novembro de 2016, ele vendeu uma casa de “Luizinho da Bicicleta”, mas não repassou o dinheiro

“A vítima considerava o José Maria um irmão. O autor contou com a colaboração de duas outras para cometer o crime afirmando que dividiria o valor do imóvel – R$ 10 mil para cada. Mas o José Maria enrolou os dois, criou uma situação de conflito e fugiu com o valor todo. Um dos presos confessou e o outro negou o caso”, detalhou o delegado.

 

Vítima pode ter sido enterrada viva

Na época do crime, a vítima foi atraída para uma chácara a pedido do amigo para furar uma fossa. Enquanto cavava, Pedroso e os dois comparsas, de 45 e 49 anos, começaram o jogar blocos de cimento contra o homem.

A polícia acredita que “Luizinho da Bicicleta” pode ter sido enterrado vivo. No entanto, a perícia não pode confirmar a informação já que o corpo foi encontrado em estado avançado de decomposição.

 

Ainda conforme as investigações, para justificar o sumiço da vítima, José Maria afirmou que vendeu um lote para ele em Esmeraldas (MG) e que ela teria ido morar lá. “A família de Luizinho mora no interior e não tinha informações dele”, afirmou o delegado. A descoberta de que o homem havia sido morto ocorreu após uma denúncia anônima.

A Polícia Civil informou que o autor do crime tem parentes na cidade de Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, mas até o momento ele não foi localizado.

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Frei David: 'os assassinos de João Alberto arruinaram nossa alegria'

Bruno Alfano

20 de novembro de 2020·4 minuto de leitura


Agência O Globo

RIO— Frei David, diretor executivo da Educafro, queria poder comemorar vitórias no Dia da Consciência Negra. Em vez disso, acordou com a notícia da morte de João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, que foi brutalmente espancado até a morte por dois seguranças brancos na saída de um supermercado da rede Carrefour, no bairro Passo D'Areia, em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul.

 

O caso ocorreu na noite desta quinta-feira (19). Ao GLOBO, Frei David afirmou que buscará a rede de supermercados para propor um programa de trainee para profissionais negros e também um pedido de desculpas. Ele também fez um apelo às pessoas que sofrem racismo:

 

— Denuncie fortemente. A Educafro se disponibiliza para conseguir advogados voluntários caso a pessoa não tenha. Pode telefonar para (11) 96173-6869 — afirma.

 

O Carrefour se manifestou sobre a morte de João Alberto na madrugada desta sexta-feira. Informou que os funcionários, contratados por uma empresa terceirizada, foram demitidos e "ao tomar conhecimento deste inexplicável episódio, iniciamos uma rigorosa apuração interna".

 

Como o senhor recebeu a notícia da morte de João Alberto?

 

Infelizmente esse caso é a ponta do iceberg. A grande maioria de casos de racismo não é denunciada. Esse é um ponto delicado. Faço um apelo para todo irmão ou irmã negra que sofra qualquer tipo de racismo em quaquer espaço: denuncie fortemente. A Educafro se disponibiliza para conseguir advogados voluntários caso a pessoa não tenha. Pode telefonar para (11) 96173-6869 que o número está disponível para pessoas que sofrem racismo em qualquer lugar do Brasil. Já temos 15 advogados disponíveis e, se precisar, a gente entra em contato com a Defensoria Pública e com o Ministério Público do estado. A última estratégia vai depender de cada caso e do potencial de garantia de respeito ao distanciamento. Seria fazer um protesto na frente da porta ou dentro dos espaços onde o negro está sendo vilipendiado.

 

Que ações a Educafro vai tomar em relação a esse caso de Porto Alegre?

 

Temos agora total convicção de que o grande problema do Carrefour é a irresponsabilidade da contratação, onde prioriza o menor preço e não a qualificação do treinamento dos seus funcionários. Queremos condenar a direção nacional do Carrefour porque o problema acontece nos quatro cantos do Brasil. Já estamos procurando contato com a direção da empresa para que ela reconheça o racismo estutural que o Carrefour tem contra o corpo negro. E faça o que foi feito pelo Magazine Luiza e pela Bayer, um programa de trainee para profissionais negros. Também queremos uma nota de desculpa, como a Nubank fez ao povo negro. Queremos que a empresa valorize a comunidade negra e respeite nossa cidadania.

 

Como será esse Dia da Consciência Negra para o senhor?

 

Nós queríamos tanto no Brasil poder celebra esse 20 de novembro a partir da vitória do STF concendendo à comunidade negra o direito de ter a verba eleitoral e o tempo de TV. Queria poder celebrar hoje essa realidade. Nós do movimento negro decidimos que dia 20 de novembro (Dia da Consciência Negra) é para celebrar nossas vitoiras. E o 13 de maio (data da assinatura da Lei Áurea) de denunciar a maldade do racismo estrutural contra nós. Mas infelizmente os assassinos de João Alberto arruinaram nosso dia de alegria. Eles nos fizeram chorar a morte de mais um irmão negro por uma violência descabida e irresponsável.

 

Leia a nota completa do Carrefour:

 

"Sobre a brutal morte do senhor João Alberto Silveira Freitas na loja em Porto Alegre, no bairro Passo D’Areia: O Carrefour informa que entrará com uma queixa-crime contra os responsáveis. Também romperá o contrato com a empresa que responde pelos seguranças que cometeram a agressão. O funcionário que estava no comando da loja no momento do incidente será desligado. Em respeito à vítima, a loja será fechada. Entraremos em contato com a família para dar o suporte necessário.

 

O Carrefour lamenta profundamente o caso. Ao tomar conhecimento deste inexplicável episódio, iniciamos uma rigorosa apuração interna e, imediatamente, tomamos as providências cabíveis para que os responsáveis sejam punidos legalmente.

 

Para nós, nenhum tipo de violência e intolerância é admissível e não aceitamos que situações como estas aconteçam. Estamos profundamente consternados com tudo que aconteceu e acompanharemos os desdobramentos do caso, oferecendo todo suporte para as autoridades locais."

https://br.noticias.yahoo.com/frei-david-os-assassinos-jo%C3%A3o-174521826.html

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