Na véspera do Dia da Consciência Negra, João Freitas, 40, foi morto após desentendimento com funcionária do Carrefour. Investigação trata o crime como homicídio qualificado.
O Brasil acordou no Dia da Consciência Negra com a notícia da morte de um homem negro espancado por seguranças de um supermercado em Porto Alegre.
João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi morto na área externa de uma das unidades do Carrefour, após ser arrastado pelos dois homens brancos da área do caixas. A investigação trata o crime como homicídio qualificado.
Segundo o G1, os dois agressores, de 24 e 30 anos, foram presos em flagrante. Um deles é policial militar e foi levado para um presídio militar. Seus nomes não tinham sido divulgados até a publicação deste texto.
Segundo a Brigada Militar – a Polícia Militar do Rio Grande do Sul –, houve um desentendimento entre a vítima e uma funcionária do supermercado. Freitas teria ameaçado bater na funcionária, que chamou a segurança. A Polícia Civil informou que a vítima teria iniciado a briga após dar um soco no PM.
No vídeo que circula nas redes sociais, é possível apenas ver Freitas sendo derrubado no chão pelos dois homens e apanhando, inclusive quando já estava no chão.
Em nota, o Carrefour disse que “adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos neste ato criminoso” e que “romperá o contrato com a empresa que responde pelos seguranças que cometeram a agressão”.
“O funcionário que estava no comando da loja no momento do incidente será desligado. Em respeito à vítima, a loja será fechada. Entraremos em contato com a família do senhor João Alberto para dar o suporte necessário”, disse a empresa no comunicado.
O Carrefour afirmou ainda “lamentar profundamente o caso”. “Ao tomar conhecimento deste inexplicável episódio, iniciamos uma rigorosa apuração interna e, imediatamente, tomamos as providências cabíveis para que os responsáveis sejam punidos legalmente.”
Já a Brigada Militar disse que o policial militar envolvido é “temporário” e “não estava em serviço policial”. “Suas atribuições são restritas, conforme a legislação, à execução de serviços internos, atividades administrativas e videomonitoramento, e, ainda, mediante convênio ou instrumento congênere, guarda externa de estabelecimentos penais e de prédios públicos”, diz a nota.
“Imediatamente após ter sido acionada para atendimento de ocorrência em supermercado da Capital, a Brigada Militar foi ao local e prendeu todos os envolvidos, inclusive o PM temporário, cuja conduta fora do horário de trabalho será avaliada com todos os rigores da lei”, afirma o texto.
Combate ao racismo
As cenas de brutalidade repercutiram no meio político e jurídico. O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes chamou de bárbaro o homicídio e afirmou que o episódio “escancara a obrigação de sermos implacáveis no combate ao racismo estrutural, uma das piores chagas da sociedade”.
O ministro Gilmar Mendes também repudiou as agressões e reforçou que racismo é crime.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afirmou que o homicídio ’estarrece e escancara a necessidade de lutar contra o terrível racismo estrutural que corrói nossa sociedade”.
Os candidatos à Prefeitura de Porto Alegre também se manifestaram. Manuela d’Ávila (PC do B) defendeu um protesto em frente ao Carrefour marcado para esta sexta e disse que “o racismo que estrutura as relações de nossa sociedade precisa ser enfrentado de frente”.
Sebastião Melo (MDB) chamou o episódio de “absurdo” e “chocante” e disse que “medidas rigorosas devem ser tomadas imediatamente”.
Por outro lado, o vice-presidente Hamilton Mourão classificou como “lamentável” a morte de João Alberto Silveira Freitas, mas negou haver racismo no Brasil. “Para mim, no Brasil não existe racismo. Isso é uma coisa que querem importar aqui para o Brasil, não existe aqui”, disse ao chegar no Palácio do Planalto no início da tarde desta sexta-feira, de acordo com o jornal O Globo.
No entendimento do vice-presidente, o preconceito racial está presente nos Estados Unidos. “Eu digo para você com toda tranquilidade: não tem racismo. Eu digo isso para vocês porque eu morei nos Estados Unidos. Racismo tem lá. Eu morei dois anos nos Estados Unidos. Na minha escola, que eu morei lá, o pessoal de cor, ele andava separado. Eu nunca tinha visto isso aqui no Brasil”, completou.
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