Vereadora eleita quebrou o recorde de candidata mais votada para a Câmara Municipal da história de BH
Vereadora de Belo Horizonte eleita nesse domingo com 37.613 votos, número recorde para a cidade, a Professora Duda Salabert (PDT) faz jus ao nome de urna e coloca a educação como prioridade em sua causa a partir de 2021, ano em que tomará posse como parlamentar belo-horizontina. Além do impactante número ao fim da apuração, Duda também foi a primeira mulher trans eleita na história da capital mineira.
O Estado de Minas entrou em contato com Duda Salabert nesta segunda-feira e conversou com a vereadora recordista de votos na cidade. Entre os assuntos abordados, a também candidata ao Senado Federal em 2018 criticou o trabalho da atual legislatura, comentou sobre a nova composição do Legislativo, exaltando a presença das mulheres na Casa.
Duda, de 39 anos, respondeu também sobre o preconceito que sofre, até de futuros colegas também eleitos, e da relação com o governo de Alexandre Kalil (PSD), prefeito reeleito em primeiro turno nesse domingo. Veja, abaixo, a íntegra da conversa com a vereadora mais votada da história de BH:
Qual será sua principal causa na Câmara?
"É a educação. Belo Horizonte piorou na educação nos últimos dois anos segundo os números do Ideb, que mensura a qualidade de ensino municipal. A educação, já por natureza, tem que ser prioridade em qualquer sociedade. E quando BH decai nesse tema, se torna mais alarmante ainda o cenário. Sou professora há 20 anos e continuarei dando aula, sou professora e estou na política. Independente de qualquer cargo que possa ganhar, sempre vou continuar dando aula".
Como avalia o trabalho da atual legislatura da Câmara e o que acha que pode melhorar na discussão e na fiscalização?
"Primeiro, a última Câmara Municipal, sem a menor sombra de dúvidas, foi a pior da história de BH. Foi a pior, indiscutivelmente. Porque foi contra o DNA político da cidade, uma vez que BH é uma cidade progressista. Temos que lembrar que nossos últimos prefeitos todos estavam no campo progressista, como Patrus Ananias, Célio de Castro e o próprio Alexandre Kalil também. Além disso, os últimos vereadores escolheram como pauta principal para a cidade assuntos que causam histeria social, mas que não resultariam em melhorias do bem-estar da sociedade, como a Escola Sem Partido. Falta de fiscalização também, temos que lembrar que os culpados pelas enchentes que ocorreram em BH são os vereadores também, pois não fiscalizaram o Executivo, que não destinou o valor destinado no combate às enchentes. Isso é papel dos vereadores, são diretamente responsáveis pelas tragédias das enchentes. E também pela quantidade de pessoas com deficiência que tiveram as matrículas negadas nas escolas municipais. Poucos denunciaram isso, ou nenhum".
Como a senhora vê a nova Câmara de BH?
"Fiquei com lágrimas nos olhos e muito feliz pela vitória da Macaé (Evaristo). Se eu não tivesse votado em mim, votaria na Macaé. Ela é uma pessoa que entende muito de gestão educacional, foi secretária da educação do governo. Ela vai contribuir muito para BH, qualificar muito o debate na cidade. Quase não votei em mim para votar nela. A Macaé Evaristo é um patrimônio da educação em Belo Horizonte. É um patrimônio político de Belo Horizonte, que vai estar lá para ajudar na melhoria da educação de BH. Vi que parece que vai ter uma melhoria na qualidade do debate, diminuiu o fundamentalismo. E vi que há um ou outro resquício aí do bolsonarismo, mas vai estar muito isolado na Câmara e não vai conseguir avançar. Acho que o debate vai ser bem qualificado".
A Câmara de BH passou de 4 para 11 mulheres. Como avalia esse salto?
"É o principal ponto: uma Câmara com mais mulheres. Todos os espaços legislativos que têm mais mulheres, resultam na melhoria de políticas sociais. Isso é um dado científico. Vi que teve gente eleita que não defende a ciência, mas é minoria. Mas, como focamos na ciência, todos os estudos científicos que mensuram esse aspecto abordam que quanto mais mulheres eleitas, mais há avanço de política social. Nós podemos esperar de BH uma cidade que resgate essa aura de preocupação com a população mais pobre, com políticas afirmativas, isso é muito importante. É um ganho político, social e simbólico".
Nikolas Ferreira (PRTB), próximo mais votado, coloca-se como o nome bolsonarista da próxima legislatura e já falou que te considera como homem. Isso te incomoda em alguma maneira?
"A Câmara Municipal tem que ser um espaço da pluralidade, da diversidade. Quanto mais diverso for o Legislativo, melhor vai ser o debate e melhores projetos serão aprovados. A presença de pessoas conservadoras, de outro aspecto ideológico, é muito bem-vinda para o debate. Agora, o que não toleramos é violar as instituições brasileiras, especificamente falando das leis e da Constituição. Parabenizo pela vitória e, não sei se é conservador, mas a base do conservadorismo é o respeito às leis, e transfobia é crime inafiançável. Minha preocupação não vai ser se vai me tratar no masculino ou no feminino, minha preocupação vai ser só se ele vai apresentar projetos importantes para combater os deficits da cidade".
A senhora, a princípio, se coloca como base ou oposição ao governo?
"O Alexandre Kalil me ligou parabenizando e disse que torceu muito para minha vitória. Na conversa que tive com o Kalil, disse que temos nossas divergências políticas e afirmações também, e que como vivemos a maior crise econômica da história, não é momento de buscar o igual, mas sim o comum. O comum é o bem para a sociedade, e é isso que vamos trabalhar. Não me colocaria como oposição ou base, mas quero flutuar na Câmara e nisso quero resultar sempre no que é melhor para a sociedade, independente de quem assinou".
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